Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas

Vol. 2| N. 12| Jul-2019

Responsável:

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Equipe:

Pedro Henrique Fidelis

Pedro Batista de Sousa

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este informativo apresenta e discute em linhas gerais os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de jun/2019. Os dados utilizados nas análises são da base do Ministério da Economia[1].


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior


Além da apresentação dos dados da balança comercial, agregados e desagregados por município, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Media Lab[1].


[1] https://atlas.media.mit.edu/en/resources/about/


Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. Houve decrescimento de 7,24% nas exportações da RMC, enquanto as importações decresceram 0,15%, resultando em aumento de 3,60% no déficit regional, em jun/2019.
  2. Houve aumento da exportação de medicamentos e bomba de vácuo, compressores, ventiladores, etc. (média-alta complexidade), enquanto houve queda na exportação de automóveis de passageiros (média-alta) e peças de tratores e veículos especiais (média-alta).
  3. Do lado das importações, destaca-se o expressivo crescimento das compras externas de inseticidas, fungicidas, herbicidas e similares (média-média), e heterocíclicos, apenas heteroátomo de nitrogênio, ácido nucleico (média-alta).
  4. No acumulado do ano, a RMC importou 6,4 bilhões de dólares, enquanto exportou aproximadamente um terço deste valor, 2,4 bilhões de dólares. Como resultado, acumulou déficits comerciais no montante de 4,3 bilhões de dólares.
  5. Os dados sugerem maior atividade econômica, no acumulado do ano, para atividades de segmentos da indústria química, farmoquímica e agricultura, mas indicam desaquecimento em segmentos da indústria automobilística, eletrônica e de telefonia.

Em suma, o déficit comercial da RMC contínua em expansão. Para o desenvolvimento econômico sustentado, é desejável a redução da dependência externa, e aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial e Complexidade em junho/2019

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de maio entre 2009 e 2019.

A partir dos dados da Tabela 1, é possível verificar que as exportações de junho/2019 – 341,68 milhões de dólares – apresentaram decrescimento de 7,24% em relação ao mesmo período de 2018,  mas na participação nas exportações do estado (7,96%) é a terceira maior da série histórica,  indicando que, ao mesmo tempo que as exportações caem em jun/19, a RMC aumenta sua participação nas exportações do estado. As importações totalizaram 1,06 bilhão de dólares,  mantendo-se praticamente constante em relação ao mesmo período do ano passado − decrescimento de 0,15%. A participação da RMC nas importações do estado (23,09%) foi a maior da década. Houve crescimento de 3,6% no déficit da balança comercial regional. É preciso destacar que enquanto o déficit regional chegou a 723,06 milhões de dólares, o estado de São Paulo contabilizou déficit de 321,60 milhões de dólares no mês de junho. Em outras palavras, sem o déficit da RMC, o estado de São Paulo teria tido um superávit de 401,46 milhões de dólares.

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de junho de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[1], portanto com maiores níveis de produtividade e renda. 


[1] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.media.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.


Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.

Considerando-se as categorias de maior participação na composição da pauta de exportação regional, destaca-se o decrescimento de -14,19% na categoria de produtos de média-alta complexidade. Os principais produtos relacionados à queda dos valores exportados nesta categoria foram peças de tratores e veículos especiais (-18,14%), peças para motores de ignição por combustão (-12,39%) e automóveis de passageiros (-78,98%). O decrescimento das exportações desta categoria só não foi maior devido aos aumentos das vendas de medicamentos (+101,39%).

Também houve queda no valor exportado de produtos das categorias de alta e média-alta complexidade. A queda da categoria de alta complexidade de (-50,44%) se deu sobretudo pela queda das exportações de equipamento para análises físicas e químicas (-44,99%).

O crescimento na categoria de média-média complexidade (+10,42%) deu-se, sobretudo, pelo aumento das vendas externas de polímeros de propileno ou outras olefinas (+35,42%), e inseticidas, fungicidas e herbicidas (+75,47%). O crescimento foi contrabalanceado pela queda nas exportações de pneus (-13,22%), e fio e cabos de fibra ótica (-34,06%).

 Por fim, o expressivo aumento das exportações de baixa complexidade (150,03%) deu-se pelo aumento das exportações de algodão  (+234%) e mandioca (+59,44%). E o crescimento da categoria de média-baixa complexidade (+24,37%) deu-se, sobretudo, pelo aumento das vendas externas de álcool etílico, não desnaturado (+247,93%). Houve, também, crescimento expressivo das exportações de óleos de petróleo, betuminosos e destilados (+2304%).

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês junho de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados.

Considerando-se as categorias de maior peso na pauta de importação, nota-se que houve queda do valor importado de todas as categorias de complexidade, exceto na categoria de média-média que apresentou crescimento expressivo. Foi o crescimento do valor importado desta última categoria que levou à estabilidade do valor importado.

Dentre os produtos da  categoria de média-média complexidade (+40,64%), destaca-se o aumento das importações de inseticidas, fungicidas e herbicidas (+141,11%), preparações alimentícias para animais (+22,34%) e carbonatos (ind. Química) (+1550%).

O decrescimento na categoria de média-alta complexidade (-9,21%) está ligado à queda da importação de circuitos eletrônicos integrados (-9,16%) e aparelhos telefônicos (-12,86%). O decrescimento das importações desta categoria só não foi maior devido aos aumentos das importações de heterocíclicos, de heteroátomo de nitrogênio e ácido nucleico (+122,13%).

O decrescimento nas importações de produtos de média-baixa complexidade (-15,24%) deu-se pela queda nas importações de ferroligas (-68,41%), peixes e gordura de mamíferos marinhos (-6,46%), e adubos minerais ou químicos, azotados (-89,12%). O decrescimento das importações desta categoria só não foi maior devido aos aumentos das compras externas de semente  (+5,67%) e enxofre  (+24,60%).

Por fim, a queda nas importações de produtos de baixa complexidade (-45,98%) está associada à diminuição nas importações de borracha natural (-66,64%), enquanto a queda nas importações de alta complexidade deu-se pelo decrescimento das importações de placas de ferramentas, pontas, etc., metal duro sintetizado, cermetes (-19,88%).

Balança Comercial e Complexidade no Acumulado do ano de 2019

A Tabela 4 apresenta os dados da balança comercial da RMC, desagregados para os seis primeiros meses (janeiro a junho) do ano de 2019.

Em 2019, a RMC já importou 6,4 bilhões de dólares, enquanto exportou 2,1 bilhões, o que representa aproximadamente 1/3 do valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit comercial regional de 4,3 bilhões de dólares, superando o déficit comercial do estado de São Paulo, que foi de 2,9 bilhões.

A Tabela 5 apresenta os principais produtos exportados em 2019.

Os produtos listados na Tabela 5 totalizam aproximadamente 50% das exportações totais do acumulado do ano. De modo geral, houve queda das exportações de 9 dos 15 produtos mais exportados da RMC, em relação ao mesmo período do ano passado. Nota-se que as exportações do complexo automotivo (automóveis e peças, capítulo 87) continuam em queda, com destaque para automóveis de passageiros, em parte pela crise econômica no principal mercado de destino desses produtos, a Argentina. Destaca-se também a queda das exportações de plásticos (polímeros de etileno e propileno).

No geral os dados acumulados confirmam a tendência de aumento nas exportações de agroquímicos. Houve alta, também, nas exportações de medicamentos, bombas de ar ou vácuo, bombas para líquidos, conservados de carne, máquinas para construção civil. 

A Tabela 6 apresenta os principais produtos importados, em 2019, pela RMC.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam aproximadamente 54% das importações realizadas pela RMC em 2019. Destaca-se o crescimento expressivo das importações de inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros; compostos heterocíclicos de nitrogênio, ácido nucleico e seus sais e outros compostos de heterocíclicos (insumos da indústria química e farmacêutica); outros compostos orgânicos e inorgânicos; sangue, antissoros, vacinas, toxinas e culturas; e medicamentos e antibióticos. Houve queda mais acentuada na importação de circuitos eletrônicos integrados; aparelhos telefônicos; peças e acessórios para veículos; peças e acessórios para máquinas de escritórios; peças para motores de ignição por combustão; e borracha sintética.

Assumindo-se que a importação de insumos pode caracterizar maior ou menor atividade econômica nos setores relacionados, os dados apontam para o crescimento na atividade de segmentos da indústria química e farmoquímica, enquanto reforçam as previsões de desaquecimento em segmentos dos setores de eletrônica, de telefonia e automobilístico.

A Tabela 7 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para o ano de 2019.

 Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional.

 Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação realizada pelas empresas localizadas nestes municípios.  Estes são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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