Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas

Volume 2| N.15 | 2/2019

Responsável:

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Equipe:

Pedro Henrique Fidelis

Pedro Batista de Sousa

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este informativo apresenta e discute em linhas gerais os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de set/2019. Os dados utilizados nas análises são da base do Ministério da Economia[1].


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior


Além da apresentação dos dados da balança comercial, agregados e desagregados por município, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Média Lab[1].


[1] https://atlas.media.mit.edu/en/resources/about/


Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. Houve decrescimento de 19,36% nas exportações da RMC, enquanto as importações cresceram 6,74%, resultando em aumento de 23,83% no déficit regional, em ago/2019.
  2. Houve aumento da exportação de inseticidas, fungicidas e herbicidas (média-média complexidade); peças para motores de ignição por combustão interna (média-alta); e bombas de ar e vácuo, compressores, ventiladores de ventilação (média-alta). Enquanto isso, houve queda na exportação de medicamentos (média-alta) e partes e acessórios para veículos motorizados (média-alta).
  3. Do lado das importações, destaca-se o crescimento das compras externas de Circuitos eletrônicos integrados e micromontagens (média-alta), aparelhos elétricos para telefonia, telegrafia (média-alta) e heterocíclicos de nitrogênio, ácido nucleico (média-alta).
  4. No acumulado do ano, a RMC importou 10,1 bilhões de dólares, enquanto exportou aproximadamente um terço deste valor, 3,3 bilhões de dólares. Como resultado, acumulou déficits comerciais no montante de 6,8 bilhões de dólares.
  5. Os dados sugerem maior atividade econômica, no acumulado do ano, para segmentos da indústria química, farmoquímica e agroquímica, mas indicam desaquecimento em segmentos da indústria automobilística, eletrônica e de telefonia.

Em suma, o déficit comercial da RMC continua em expansão. Para o desenvolvimento econômico sustentado, é desejável a redução da dependência externa, e o aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial e Complexidade em setembro/2019

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de setembro entre 2009 e 2019.

Tabela 1 – Balança Comercial da RMC para o mês de setembro entre 2009 e 2019, valores em milhões de USD/FOB.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia.
 

A partir dos dados da Tabela 1, é possível verificar que as exportações de setembro/2019 – 365,17 milhões de dólares – apresentaram decrescimento de 19,36% em relação ao mesmo período de 2018, configurando-se  como o terceiro resultado mais baixo da década. Por outro lado, a participação nas exportações do estado (8,79%)  foi a terceira maior da série histórica, indicando que a RMC aumentou, ainda, sua participação nas exportações do estado. As importações totalizaram 1,2 bilhão de dólares, um crescimento de 6,74% em comparação ao mesmo período de 2018. A participação da RMC nas importações do Estado (24,47%) foi a segunda maior da década. Houve crescimento de 23,83% no déficit da balança comercial regional. É preciso destacar que enquanto o déficit regional chegou a 856,62 milhões de dólares, o Estado de São Paulo contabilizou déficit de 838,34 milhões de dólares no mês de agosto. Em outras palavras, sem o déficit da RMC, o Estado de São Paulo teria tido um superávit de 18,28 milhões de dólares.

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de setembro de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[1], portanto, com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.


[1] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.media.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.


Tabela 2 – Grau de Complexidade das Exportações – comparação entre setembro/2019 e setembro/2018, valores em milhões de USD.

*Exclusive serviços de bordo e demais produtos sem classificação.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia e Observatório da Complexidade Econômica.
 

Considerando-se as categorias de maior participação no volume das exportações regionais, houve queda considerável no valor exportado de produtos das categorias de média-alta complexidade (-28,10%) e média-média complexidade (-13,73%). Os principais produtos relacionados à queda nas exportações de média-alta foram medicamentos (-11,03%) e peças e acessórios para veículos motorizados (-23,58%). O decrescimento só não foi maior devido ao aumento das exportações de peças para motores de ignição por combustão interna (1,60%) e bombas de ar ou de vácuo, compressores, ventiladores, e similares (+115,26%). O decrescimento na categoria de média-média complexidade (-13,73%) deu-se, sobretudo, pela queda das vendas externas de polímeros de propileno ou outras olefinas (-1,60%), assim como máquinas para construção civil (-52,17%) e polímeros de etileno (-27,69%). O decrescimento foi contrabalanceado pelo aumento nas exportações de inseticidas, fungicidas, herbicidas (+34,99%),  pneus novos (+2,70%) e preparação de carne, miudezas ou sangue (+1,49%).

Em relação à alta complexidade, houve decrescimento de (-44,90%) no volume exportado regional. Os principais produtos relacionados a essa queda foram equipamentos para análises físicas e químicas (-44,47%) e centros de usinagem  (-51,27%).

O aumento das exportações de baixa complexidade (49,09%) deu-se pelo aumento das exportações de algodão não cardado nem penteado (+69,54%). Por fim, o crescimento da categoria de média-baixa complexidade (+135,87%) deu-se, sobretudo, pelo aumento das vendas externas de bagaço de óleo de soja e outros resíduos sólidos (+22682,48%), óleos de petróleo, betuminosos, destilados, exceto petróleo bruto (+2679,04%) e álcool etílico (+39,96%).

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês setembro de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados.

Tabela 3 – Grau de Complexidade das Importações – comparação entre setembro/2019 e setembro/2018, valores em milhões de USD.

*Exclusive produtos sem classificação.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia

Nota-se que houve decrescimento do valor importado das categorias de baixa e média-média complexidade, enquanto as categorias de média-baixa, média-alta e alta  apresentaram aumento.

Considerando-se as categorias de maior peso no total das importações, na categoria de média-alta complexidade (variação de +15,05%), houve aumento na importação de circuitos eletrônicos integrados e microconjuntos (+2,99%), aparelhos elétricos para telefonia por linha, telegrafia (+13,83) e heterocíclicos de nitrogênio (+85,32%). Vale destacar que o aumento só não foi maior, pois  houve queda na importação de compostos heterocíclicos (-3,00%) e medicamentos (-0,39%). Para a categoria de média-média complexidade (variação de -11,87%), destaca-se a redução das importações de inseticidas, fungidas e herbicidas (-22,04%), tubos de ferro ou aço (-17,53%) e agente ativo de superfície orgânico (exceto sabão) (-9,44%).

O aumento nas importações de produtos de média-baixa complexidade (+5,56%) deu-se pelo aumento nas importações de fertilizantes minerais ou químicos, nitrogenados (+36,35%) e sucos de vegetais e pectina (+178,33%). O aumento só não foi maior, pois houve queda das importações de sementes, frutos e esporos, para sementeira (-26,44%).

Por fim, a queda nas importações de produtos de baixa complexidade (-20,59%) está associada à diminuição nas importações de borracha natural (-0,70%) e sementes e frutos oleaginosos (-86,61). Enquanto isso, o crescimento nas importações de produtos da alta complexidade (10,26%) deu-se pelo aumento na importação de equipamento para análises físicas e químicas (6,36) e placas de ferramentas, pontas, etc., carboneto de metal sinterizado, cermet (13,03%).

Balança Comercial e Complexidade no Acumulado do ano de 2019

A Tabela 4 apresenta os dados da balança comercial da RMC, desagregados para os nove primeiros meses (janeiro a setembro) do ano de 2019.

Tabela 4 – Balança Comercial Regional 2019 – valores em milhões de USD/FOB.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia e Observatório de Complexidade Econômica.
 

Em 2019, a RMC já importou 10,1 bilhões de dólares, enquanto exportou 3,3 bilhões, o que representa aproximadamente 1/3 do valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit comercial regional de 6,8 bilhões de dólares, superando o déficit comercial do Estado de São Paulo, que foi de 6,1 bilhões.

A Tabela 5 apresenta os principais produtos exportados em 2019.

Tabela 5  – Principais produtos exportados pela RMC em 2019 – Valores em milhões de USD/FOB

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia
 

Os produtos listados na Tabela 5 totalizam aproximadamente 50% das exportações totais do acumulado do ano. De modo geral, houve aumento das exportações de 8 dos 15 produtos mais exportados da RMC, em relação ao mesmo período do ano passado. Nota-se que as exportações do complexo automotivo (automóveis e peças, capítulo 87) continuam em queda, com destaque para automóveis de passageiros (-52,73%), em parte pela crise econômica no principal mercado de destino desses produtos, a Argentina. Destaca-se também a queda das exportações de plásticos (polímeros de etileno e propileno), importante setor da RMC.

No geral, os dados acumulados confirmam a tendência de aumento nas exportações de agroquímicos. Houve alta, também, nas exportações de medicamentos, pneus, bombas de ar ou vácuo, bombas para líquidos, conservados de carne e polímeros de propileno. 

A Tabela 6 apresenta os principais produtos importados, em 2019, pela RMC.

Tabela 6  – Principais produtos importados pela RMC em 2019 – Valores em milhões de USD/FOB

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia e Observatório de Complexidade Econômica.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam aproximadamente 55% das importações realizadas pela RMC em 2019. Destaca-se o crescimento expressivo das importações de inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros; compostos heterocíclicos de nitrogênio, ácido nucleico e seus sais e outros compostos de heterocíclicos (insumos da indústria química e farmacêutica); outros compostos orgânicos e inorgânicos; máquinas de processamentos automático; sangue, antissoros, vacinas, toxinas e culturas; e medicamentos e antibióticos. Houve queda mais acentuada na importação de circuitos eletrônicos integrados; aparelhos elétricos para telefonia e telegrafia; peças e acessórios para veículos; peças e acessórios para máquinas de escritórios; peças para motores de ignição por combustão; borracha sintética; e eixos, manivelas, engrenagens, polias, etc.

Assumindo que a importação de insumos pode caracterizar maior ou menor atividade econômica nos setores relacionados, os dados apontam para crescimento na atividade de segmentos da indústria química e farmoquímica, enquanto reforça as previsões de desaquecimento em segmentos dos setores de eletrônica, de telefonia e automobilístico.

A Tabela 7 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para o ano de 2019.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia.

 Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional. Vale destacar que, embora com participação pouco expressiva na balança regional, os únicos municípios com saldos positivos de comércio são Cosmópolis, Santo Antônio de Posse, Pedreira e Engenheiro Coelho.

Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nestes municípios.  Estes são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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