COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas  – V2|N24|Semana 24 (13/06 a 19/06) 

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4] Beatriz Panciera [5] Giuliano Polli [6]

Até o dia 19/06, o Brasil notificou 17,8 milhões de casos e 500,8 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 72,7 mil novos casos e 1,9 mil novas mortes por dia 7.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 13/06 e encerrada em 19/06 – semana epidemiológica de número 24, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana) 

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.   

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 19/06, foram notificados 387,3 mil casos e 11,2 mil mortes, no DRS-Campinas – letalidade de 2,90%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC8), foram 270,7 mil casos e 8,1 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,14%. Por fim, o município de Campinas registrou 90,4 mil casos até o momento, com 3,5 mil óbitos – letalidade de 3,97% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.  

Nesta semana, 16 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos, indicando um grande aumento no número de novos casos no Estado de São Paulo em relação à semana passada. As novas mortes apresentaram taxas crescentes em 9 dos 17 departamentos do Estado, com média de +2% de aumento. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava desacelerando no DRS-Campinas, os novos casos apresentaram um aumento considerável, mas o número de novos óbitos está crescendo lentamente, diferente da semana passada, em que o ritmo de avanço dos óbitos estava mais acelerado, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2.

Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas 

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas 

Foram registrados, nesta semana, 15,5 mil casos no DRS-Campinas (variação de 55,68%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 10,58 mil foram registrados na RMC (var. 55,45%) e 2,91 mil em Campinas (var. 65,40%). Foram 358 mortes no DRS-Campinas (var. 6,55%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 247 ocorreram na RMC (var. -1,20%) e 106 em Campinas (var. 6,00%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios. 

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho  

Neste momento, os municípios com maior incidência são Paulínia, Santo Antônio de Posse e Holambra, com 12503,21, 11724,80 e 11695,30 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. É válido lembrar que a incidência é fortemente influenciada pela amplitude da testagem em cada município. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% daqueles com maiores taxas de incidência, no estado de São Paulo, com corte em 10700 casos por 100 mil habitantes. 

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho 

Além disso, Jundiaí, Santa Bárbara d’Oeste e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 316,44, 315,76 e 305,14 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% daqueles com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 299 mortes por 100 mil habitantes.  

Análise dos especialistas 

Dando continuidade ao que foi decretado pelo Governo do Estado no dia 09/04/2021, todos os departamentos regionais de saúde estão em fase de transição, da fase vermelha para a laranja do Plano São Paulo, desde o dia 18/04/2021. O Governo, que chegou a anunciar uma flexibilização nas regras de combate à COVID-19 para o mês de junho, encontra-se pressionado pela recente piora no cenário da saúde. A fase atual do Plano SP, bastante prorrogada, se estenderá até o fim do mês de junho. O Governo decidirá nessa data se as medidas de combate à pandemia serão flexibilizadas, enrijecidas ou continuam as mesmas. Neste momento, o período da fase de transição representa 27% das mortes por COVID-19 desde o início da pandemia no estado de São Paulo. O Governo do Estado não deu sinal algum de enrijecimento nas regras de combate à pandemia, apenas prorrogações da situação atual, que não têm sido muito efetivas. Os estabelecimentos continuam podendo operar com ocupação máxima de 40% entre as 6h e 21h, com toque de recolher entre as 21h e 5h, e manutenção da obrigação de teletrabalho para todas as atividades administrativas e recomendação de escalonamento na entrada e saída da indústria, serviços e comércio, na maior parte do estado.

Do ponto de vista da saúde, diante do avanço da epidemia nas últimas semanas, a Prefeitura de Campinas passou a adotar novas medidas desde o último sábado, 19/069. O toque de recolher foi ampliado para iniciar às 19h, sendo proposta uma intensificação das fiscalizações para coibir aglomerações e proibição do consumo de bebidas alcoólicas em vias e espaços públicos. Parece que a adoção de medidas mais restritivas como aquelas presentes nas fases vermelha e emergencial do plano São Paulo definitivamente saíram do radar dos tomadores de decisão. Faz-se uma aposta perigosa de direcionar as ações restritivas às aglomerações noturnas, sobretudo festas clandestinas. Certamente são eventos com potencial de “superespalhamento”, mas, em uma situação de intensa circulação viral e grande sobrecarga do sistema de saúde, o direcionamento das ações a essas atividades pode não ser suficiente para conter o avanço da epidemia. Recentemente, houve circulação de notícia informando a ocorrência de alguns surtos em investigação pelo departamento de vigilância em saúde de Campinas, “O Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) de Campinas está investigando três surtos de covid-19 em um restaurante, uma loja de shopping e até mesmo em uma festa em família” 10. Infelizmente, a capacidade de fiscalização sempre estará aquém da demanda e situações do tipo continuarão ocorrendo. Apesar dos esforços de comunicação da Prefeitura, uma parte da população seguirá não respeitando as medidas de prevenção. Vale sempre ressaltar que a campanha de desinformação do governo federal continua e não se observa nenhum movimento do próprio Ministério da Saúde para ajudar nesse quesito. 

O ritmo de novas internações segue muito elevado no DRS-Campinas, ainda que tenha apresentado redução de cerca de 10% em relação à semana anterior11. Foram 1835 novas internações no período. Número de internados em UTI-COVID em Campinas fechou a semana 24 em 399 pacientes, com 32 em fila de espera12.   

Apesar de mais um bem-sucedido “dia D” de vacinação contra a COVID-19 em Campinas, neste dia 19/06, quando quase 28 mil pessoas foram vacinadas, o percentual de imunizados com 2 doses em Campinas, que era de 13,8% em 18/6 (de acordo com último boletim divulgado)13, segue muito abaixo do que seria o adequado para se atingir a imunidade coletiva.  

Não devemos, portanto, acreditar que os avanços na campanha de vacinação irão, a curto prazo, nos tirar da situação crítica enfrentada pela região hoje. Trata-se de uma boa expectativa de melhora da situação para o fim deste ano de 2021, caso o ritmo de fornecimento de vacinas aumente, conforme está previsto pelo Ministério da Saúde. Até lá o caminho é longo e as medidas não farmacológicas continuarão sendo extremamente necessárias, como pontuou a OMS em entrevista coletiva recente: “Todos os esforços para a vacina precisam ocorrer em conjunto com o reforço de medidas de saúde pública”15. 

Do ponto de vista econômico e social, a taxa de desemprego alta e crescente (14,7%, 1T/2021), combinada com o recrudescimento dos casos e mortes, preocupa pela provável necessidade da implementação de novas medidas de distanciamento físico. O aumento de casos e mortes podem reverter a relativa positividade dos indicadores econômicos regionais e nacionais do primeiro trimestre.   

Houve crescimento do PIB brasileiro no 1T/2021, de 1,2%. No entanto, a taxa de desemprego alta, reforçam a tese de ilusão contábil, causada pela reposição de estoques das empresas. Em outras palavras, as empresas não “investiram” na produção e, sim, na reposição de estoques, levando ao crescimento acima do esperado. Sem crescimento na demanda, o crescimento do 1T/2021 não deve se repetir no 2T/2021.  Por outro lado, o IBC-Br divulgado hoje, considerado uma prévia do PIB brasileiro mensal, mostra crescimento de 0,44% em abril, em relação a março/2021. Os índices de atividade do IBGE mostram queda na indústria em abril (-1,3%) e alta do comércio (+1,8%) e serviços (0,7%). Porém, os dados do setor externo da RMC continuam indicando que a economia regional segue se recuperando, com crescimento de 102,51% das exportações e 45,9% das importações. Em relação ao emprego, os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre jan/2020 e mar/2021, estimam uma taxa de desocupação recorde no Brasil de 14,7% (alta de 0.3 pontos percentuais), patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Na RMC, de acordo com dados do Observatório PUC-Campinas, a criação de novos postos de trabalho tem desacelerado desde abril – foram 5,3 mil vagas em março/2021, com saldo positivo de 23,7 mil postos no 1T/2021.  

Os efeitos do BEm sobre a renda e o emprego regional ainda são incertos. Em 2020, na RMC, foram efetuados aproximadamente 500 mil acordos de flexibilização (28% da mão de obra formal regional), sendo 60% dos acordos para suspensão total ou 70% de redução dos salários e da carga horária.  

Em relação aos preços, O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 37,04% em 12 meses, em maio/2021. Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. O IPCA acumulado de 12 meses atingiu 8,06% em maio/21, quando o centro da meta de inflação para o ano de 2021 é de 3,75%.  A subida do IPCA foi puxada, sobretudo, pelo aumento da energia elétrica.  

Por fim, as expectativas de retomada para boa parte dos analistas estão bastante ancoradas no avanço e eficácia da vacinação. Até o momento, no DRS-Campinas, aproximadamente 28,7% (var. semanal de +2,8 p.p.) da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto 12,3% (var. semanal de +0,4 p.p.)  recebeu a segunda dose. Seguimos afirmando que, sem medidas realmente efetivas de proteção da renda e do emprego e sem a aceleração na taxa de vacinação, a retomada da atividade econômica nacional e regional pode ser desnecessariamente lenta, apesar dos resultados positivos do primeiro trimestre.

ANEXOS

Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Graduanda em Administração pela PUC-Campinas e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[6] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[7] Dados do Ministério da Saúde

[8] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[9]  https://www.campinas.sp.gov.br/noticias-integra.php?id=40905 

[10]  https://www.acidadeon.com/campinas/cotidiano/coronavirus/NOT,0,0,1623910,covid-19-campinas-registra-surtos-em-loja-restaurante-e-festa-de-familia.aspx 

[11]  https://www.seade.gov.br/coronavirus/# 

[12] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/epidemiologico/diario 

[14] https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2021/06/19/no-4o-dia-d-de-vacinacao-contra-covid-19-campinas-imuniza-278-mil-moradores.ghtml 

[15] https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/06/18/as-vesperas-de-500-mil-mortos-oms-alerta-brasil-pandemia-nao-terminou.htm 


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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