COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N24|Semana 43 (18/10 a 24/10)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 24/10, o Brasil notificou 5,3 milhões de casos e 156,9 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 22,3 mil novos casos e 491 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 18/10 e encerrada em 24/10 – semana epidemiológica de número 43, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 24/10, foram notificados 113,98 mil casos e 3,6 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,16%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 84,2 mil casos e 2,7 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,22%. Por fim, o município de Campinas registrou 33,4 mil casos até o momento, com 1.307 óbitos – letalidade de 3,91% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .


Em linhas gerais, 8 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram queda, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 2.338 mil casos (-12,79%); RMC, 1,71 mil casos (-16,44%); e Campinas, 568 casos (+2,89%). Em relação à semana passada, as novas mortes diminuíram no DRS-Campinas, 50 óbitos (-29,57%); na RMC, 43 (-14,00%), já em Campinas houve um aumento, 20 (+11,11%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Serra Negra, com 760 e 790 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Santo Antônio de Posse são os municípios com maior incidência, todos com mais de 3.200 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 8 dos 42 municípios do DRS-Campinas e nove dos 7 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 2.585 casos por 100 mil habitantes.  

Além disso, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 102 e 111 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Engenheiro Coelho são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 111 e 102, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 72 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 09/10, os Departamentos Regionais de Saúde de Campinas, Sorocaba, Piracicaba, Grande São Paulo e Taubaté avançaram para a fase verde. Os demais mantiveram-se na fase amarela, com exceção do DRS-Barretos que retrocedeu para fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo Plano de Flexibilização do Estado.

Da perspectiva da saúde, apesar da pequena variação no registro de casos e óbitos em Campinas, a tendência de queda segue consistente. A última estimativa do R efetivo em Campinas era de 0,82, em 12/10/2020[1], abaixo de 1, compatível, portanto, com esse declínio progressivo do registro de casos. Apesar de pequenas variações entre municípios, a tendência na região é a mesma.

Ressaltamos, entretanto, que o momento não é de relaxamento com as medidas de prevenção. O cenário da epidemia na Europa atualmente é bastante assustador, visto que não somente o número de casos, mas também o número diário de óbitos vem aumentando em países como Espanha, França, Bélgica e Inglaterra[2]. Não é possível prever se passaremos ou não por uma situação semelhante em algumas semanas, de modo que a única ferramenta que temos para diminuir o risco de uma “segunda onda” são as medidas comprovadamente eficazes para reduzir a circulação do vírus, essencialmente evitar aglomerações, rigor máximo com o distanciamento físico, utilização adequada de máscaras e cuidados com higienização de mãos e superfícies.

Do ponto de vista econômico e social, a pandemia ainda prejudica a atividade econômica e as oportunidades de geração de renda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas está, neste momento, na terceira semana da fase verde do Plano São Paulo. Neste momento, podem funcionar, com menos restrições de capacidade, praticamente todas as atividades econômicas, à exceção de grandes eventos. A mudança mais expressiva na progressão para a fase verde é o aumento de 40% do limite de ocupações de bares, restaurantes e academias, para 60%. A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, parece estar baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária.

Os últimos dados das pesquisas de atividade econômica apontam que, em agosto, o índice de produção industrial cresceu 3,2%; comércio, 3,4%; e serviços, 2,9%. No entanto, a comparação com os meses entre janeiro e agosto do ano passado indicam que a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do coronavírus – indústria (-8,6%), comércio varejista (-0,9%) e serviços (-9,0%). 

Os dados do mercado de trabalho preocupam e indicam a dificuldade de uma retomada que dependa do consumo das famílias, sobretudo com o fim ou redução dos programas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 21,8 milhões (27%) de trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido no mesmo período. O número de pessoas que não procuram emprego por conta da pandemia voltou a cair, o que, num contexto de baixa oferta de vagas, “aumenta” o número de desempregados, isto é, pessoas que procuram, porém não encontram emprego. Em agosto/2020, aproximadamente 34,8% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, dá os primeiros sinais de redução, atingindo R$894,00.

As projeções para o PIB brasileiro no terceiro trimestre (3T/2020) são positivas. Tudo indica que a economia se aproxima, portanto, de uma queda mais próxima dos cenários menos pessimistas para 2020. O IBRE/FGV projeta um crescimento de 5,8% para o 3T/2020, em relação ao trimestre anterior, mas um decrescimento de 5,5% em relação ao 3T/2019. Apesar da “boa” notícia, é importante frisar que estamos recuperando níveis de atividade do pré-crise que já eram considerados ruins. Além disso, os efeitos de médio e longo prazo da crise sanitária podem dificultar ainda mais a retomada, de fato, da economia brasileira e regional. 

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. A retomada do consumo das famílias vai depender, criticamente, da manutenção do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim das reduções de carga horária e salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos na manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como ocorria antes da crise sanitária.  O setor externo tem mostrado sinais de recuperação, sobretudo nos países que melhor controlaram a pandemia, gerando um viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. No entanto, é importante ressaltar que as exportações representam aproximadamente 14% do PIB brasileiro, isto é, parecem pouco suficientes para puxar taxas de crescimento significativas da produção nacional no curto prazo. Como complicador, há o aumento da preocupação com um possível movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 17,94% em 12 meses, até setembro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento (IPCA), sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Por outro lado, o governo federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos.




[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] https://covid19br.github.io/municipios.html?aba=aba3&uf=SP&mun=Campinas&q=dia#

[8] https://ourworldindata.org/coronavirus/country/france?country=BRA~BEL~FRA~ESP~GBR




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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