COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N29|Semana 48 (22/11 a 28/11)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 28/11, o Brasil notificou 6,3 milhões de casos e 172,8 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 33,9 mil novos casos e 510 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 22/11 e encerrada em 28/11 – semana epidemiológica de número 48, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 28/11, foram notificados 127,4 mil casos e 3,8 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,00%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 93,7 mil casos e 2,9 mil óbitos até o momento – letalidade de 3,10%. Por fim, o município de Campinas registrou 36,6 mil casos até o momento, com 1.372 óbitos – letalidade de 3,74% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

Em linhas gerais, 16 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos tiveram quedas, entretanto as mortes tiveram aumento, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 2.961 casos (-17,24%); RMC, 2,0 mil casos (-14,64%) e Campinas, 784 casos (-18,67%). Em relação à semana passada, as novas mortes aumentaram no DRS-Campinas, com 51 óbitos (+8,51%); na RMC, 42 (+16,66%); e Campinas com 17 mortes (+30,76%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho.

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Monte Alegre do Sul, com 820 e 916 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Santo Antônio de Posse são os municípios com maior incidência, todos com mais de 3.400 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 9 dos 42 municípios do DRS-Campinas e oito dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 2.938 casos por 100 mil habitantes.  

Além disso, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 104 e 116 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Engenheiro Coelho são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 115 e 107, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 81 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 30/11, todos os departamentos regionais de saúde estão na fase amarela. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo Plano de Flexibilização do Estado.

Da perspectiva da saúde, chegando ao fim de novembro, podemos observar com mais clareza o comportamento dos dados ao longo do mês. Os dados desta última semana epidemiológica, encerrada em 28/11, apontaram redução no registro de casos novos tanto em Campinas como na RMC. Em relação às internações hospitalares por SRAG, o compilado dos dados divulgados (até 27/11) quase diariamente pela Prefeitura de Campinas indica que o número absoluto de pacientes internados em UTI segue aumentando, mas em ritmo menor do que na semana anterior. No dia 27/11, o número absoluto de indivíduos internados por SRAG em leitos intensivos da rede municipal era 30% maior do que na sexta-feira anterior. Nos hospitais privados, entretanto, o aumento foi menor, 2%. Esse movimento já levou diversos hospitais públicos e privados da região a “reconvocar” leitos que haviam sido desmobilizados para absorver com segurança essa demanda. O desafio é grande, sobretudo para hospitais públicos, visto que a demanda por internação por outras condições é muito superior ao início da epidemia.

Quanto à procura por atendimento de pacientes com sintomas respiratórios, os dados divulgados pela Prefeitura de Campinas em seu último boletim epidemiológico[1] apontaram ainda aumento de atendimentos em unidades básicas de saúde, mas redução nas unidades de pronto atendimento, na semana epidemiológica 47, em comparação à semana 46. Dados divulgados por representantes de hospitais privados de Campinas na 16ª edição do Fórum SMCC “Situação Atual Covid-19 em Campinas”[2] indicaram o mesmo movimento de aumento na demanda de atendimento desde o início do mês de novembro em suas unidades, com a informação adicional da faixa etária destes pacientes, que são, em sua grande maioria, jovens.

A curva organizada por data de início dos sintomas divulgada pelo último boletim epidemiológico da Prefeitura de Campinas¹ aponta claramente que houve, de fato, um aumento dos casos no início do mês de novembro. A evolução do número reprodutivo para COVID-19 em Campinas (R efetivo), divulgada pelo Observatório COVID-19BR[3], aponta que, em 01/11, a estimativa desse indicador era de 0,94; em 08/11, era 1,17; e, em 22/11, última estimativa disponível, de 0,90 (com intervalo de confiança entre 0,58 e 1,28). Lembrando que valores acima de 1 indicam progressão da epidemia e abaixo de 1 indicam desaceleração, percebe-se que esses dados são compatíveis, até o momento, com a evolução dos casos no mês de novembro. Vale ressaltar que esse indicador havia permanecido consistentemente abaixo de 1 por quase 5 meses, compatível também com o cenário de clara desaceleração da epidemia que tínhamos até o início de novembro. Enfim, seguimos sem conseguir classificar esse cenário como um aumento de casos pontual e limitado ou início de um novo aumento expressivo de casos, mas, independentemente dessa questão nominal, houve mudança de cenário e é preciso que as pessoas aumentem o rigor com as medidas de prevenção.

Parece claro que a progressão e somatório das medidas de flexibilização ao longo dos últimos meses, aliados ao “cansaço” da população com a situação, promoveram condições para que as pessoas passassem a relaxar com as medidas básicas de prevenção da transmissão, principalmente com relação às aglomerações. Reuniões privadas, idas a bares, restaurantes e academias provavelmente são as atividades de maior risco para disseminação do vírus[4].

Por fim, hoje, 30/11, houve uma reclassificação de todo o estado de São Paulo para a fase amarela do Plano São Paulo. Muitos questionamentos já vieram à tona devido ao momento em que essa reclassificação ocorre, justamente um dia após as eleições municipais. É fato que, nesse período de desaceleração da epidemia, o Plano São Paulo sofreu diversas “recalibragens” que, inegavelmente, dificultam atualizações mais ágeis e oportunas de classificação, por exemplo, ao “espaçar” o período de análise dos indicadores de variação de casos, internações e óbitos para períodos de 28 dias, em vez de 7 dias. Observando os dados do DRS-Campinas deste mês de novembro é possível verificar que o indicador relativo à variação semanal das internações permanece acima de 1 desde o dia 10/11, valor compatível com a fase laranja do plano, se fosse analisado isoladamente (vale a ressaltar que os indicadores são analisados sempre em conjunto e há pesos diferentes para definir a classificação final no Plano São Paulo). Hoje foi anunciado também que esse período de análise voltará a ser de 7 dias e não mais 28. Parece ser bastante adequado reorganizar as métricas do plano em um período de claro e consistente aumento de internações, mas fica o questionamento se essas ações não deveriam ter sido realizadas já há uma ou duas semanas.

Do ponto de vista econômico e social, os efeitos da primeira onda ainda estão presentes no contexto econômico e social, e vivemos um momento de alerta em relação a uma segunda onda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas retornou para fase amarela do Plano São Paulo. Neste momento, podem funcionar, com restrições de capacidade e horas de atividade, praticamente todas as atividades econômicas, à exceção de grandes eventos.

A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, esteve baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária, mas, diante do novo contexto, o recuo no grau de abertura dos negócios pode ser dramático para atividade econômica no contexto de austeridade fiscal imposta pelo Governo Federal.

Os últimos dados das pesquisas de atividade econômica apontam que, em setembro/2020, o índice de produção industrial cresceu 2,6%; comércio, 0,6%; e serviços, 1,8%, em relação a agosto/2020. No entanto, a comparação com os meses entre janeiro e setembro do ano passado indica que serviços e indústria ainda não recuperaram os níveis de atividade de 2019 – indústria (- 7,2%) e serviço (-8,8%). A atividade de comércio, entretanto, não apresentou variação em relação ao ano passado, indicando a recuperação dos patamares de 2019.  O IBC-Br, considerado uma prévia do PIB trimestral a ser divulgado pelo IBGE nas próximas semanas, teve alta de 9,47%, na comparação com o segundo trimestre. No entanto, o índice ainda está em queda de 3% na comparação com terceiro trimestre de 2019. 

O IBRE/FGV atualizou a projeção de crescimento para o 3T/2020, estimando um crescimento de 7,5% em relação ao trimestre anterior, mas um decrescimento de 4,4% em relação ao 3T/2019. Apesar da “boa” notícia, é importante frisar que estamos recuperando níveis de atividade do contexto pré-covid, em 2019, que já eram considerados ruins. Além disso, os efeitos de médio e longo prazo da crise sanitária podem dificultar a retomada, de fato, da economia brasileira e, inevitavelmente, da economia regional. 

Os dados do mercado de trabalho preocupam e indicam a dificuldade de uma retomada que dependa do consumo das famílias, sobretudo diante da possibilidade do fim ou redução dos programas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 19,7 milhões (27%) de trabalhadores estão com rendimento menor do que o normalmente recebido no mesmo período. Em setembro/2020, aproximadamente 34,3% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, dá os primeiros sinais de redução, atingindo R$894,00.

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada/sustentabilidade da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. A manutenção do consumo das famílias vai depender, criticamente, da continuidade do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim da vigência das reduções de carga horária, salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos em manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como ocorria antes da crise sanitária.  O setor externo, até o momento, dá sinais de recuperação, sobretudo pelo crescimento do volume de exportações para países que melhor controlaram a pandemia, embora esses países tenham um viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. Além disso, a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos vai afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC destinam-se aos Estados Unidos).

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 20,93% em 12 meses, até outubro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final (IPCA) em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta.

Por outro lado, o Governo Federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O “orçamento de guerra”, que permitiu a ampliação de R$ 577,55 bilhões no orçamento de R$3,6 trilhões para 2020, acaba em 31 de dezembro. Até o momento, o governo não definiu o que vai fazer com o Auxílio Emergencial e outros programas como o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (Bem). Sem a revogação do teto dos gastos, esses programas ficam sem previsão de orçamento, de forma que a viabilidade fiscal destes vai depender, novamente, de outras medidas extraordinárias como um novo “orçamento de guerra”. Na iminência de uma segunda onda, o que podemos afirmar é que, sem medidas de contenção, os efeitos econômicos e sociais serão devastadores para a economia brasileira e, consequentemente, para a economia regional.

ANEXOS ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.



[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/boletim-epidemiologico

[8] https://site.smcc.com.br/noticia/2020/11/27/smcc-retoma-forum-covid-19-e-hospitais-particulares-indicam-aumento-de-casos-de-sindrome-gripal/733

[9] https://covid19br.github.io/municipios.html?aba=aba3&uf=SP&mun=Campinas&q=dia#

[10] https://www.nature.com/articles/s41586-020-2923-3


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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