COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N31|Semana 50 (06/12 a 12/12)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 12/12, o Brasil notificou 6,9 milhões de casos e 181,4 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 43,2 mil novos casos e 642 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 06/12 e encerrada em 12/12 – semana epidemiológica de número 50, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 12/12, foram notificados 139,6 mil casos e 3,9 mil mortes na região de Campinas – letalidade de 2,84%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC)[1], foram 103,0 mil casos e 3,0 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,93%. Por fim, o município de Campinas registrou 39,5 mil casos até o momento, com 1.412 óbitos – letalidade de 3,57% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Em linhas gerais, 12 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram queda, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 6.064 casos (-2,57%); RMC, 4,5 mil casos (-4,31%); e Campinas, 1.299 casos (-16,73%%). Em relação à semana passada, as novas mortes tiveram queda no DRS-Campinas, 73 óbitos (-2,66%); na RMC, 57 (+1,78%); e Campinas com 16 mortes (-33,33%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis

 verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28- 06-a-04-07/).[1]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 830 e 1.006 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Itupeva são os municípios com maior incidência, todos com mais de 3.700 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 11 dos 42 municípios do DRS-Campinas e nove dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 3.173 casos por 100 mil habitantes.  

Além disso, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 110 e 120 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Indaiatuba são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 120 e 108, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 85 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com o último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 30/11, todos os departamentos regionais de saúde estão na fase amarela. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo Plano de Flexibilização do Estado.

Da perspectiva da saúde, de acordo com informações da fundação SEADE[7], novas internações seguem em aumento na DRS-Campinas, mas em ritmo menor do que nas últimas semanas. Ao longo da semana epidemiológica 50 (até 12/12), foram 763 internações, 2% maior que as 748 da semana anterior. O aumento da semana 49 (até 05/12) em relação à semana 48 (até 28/11) havia sido de 22%. Não temos acesso a exatamente esse indicador para o município de Campinas, mas é divulgado o número de indivíduos internados em leitos de UTI destinados a pacientes suspeitos e confirmados para COVID-19, no município de Campinas[8]. No dia 11/12 (último dado disponibilizado), eram 163 indivíduos internados, enquanto no dia 04/12 eram 124 internados, representando um aumento de cerca de 30%. Vale ressaltar que o aumento da disponibilidade de leitos no período foi importante e oportuno, visto que no dia 04/12 eram 160 leitos disponíveis e no dia 11/12 eram 193. Ainda assim houve aumento da taxa de ocupação, de 78% para 84%.

De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Campinas[9], o número de atendimentos de sintomáticos respiratórios em unidades básicas de saúde e de pronto atendimento tem se mantido praticamente estável nas últimas semanas (entre as semanas 46 e 49), mas em um patamar elevado, acima de 4.200 atendimentos semanais, enquanto no mês de outubro esses valores ficavam em torno de 2.000 atendimentos. Ainda não estão disponíveis os dados finalizados da semana 50.

O registro de casos no município de Campinas apontou leve redução em relação à semana anterior e valores praticamente estáveis na RMC, sugerindo que há uma possibilidade de a velocidade de aumento dos casos ter diminuído entre o fim de novembro e início de dezembro. Devemos aguardar, portanto, a divulgação das curvas organizadas por data de início de sintomas para ter essa percepção mais clara.

De qualquer forma, o fato é que há uma circulação intensa do vírus na cidade e na região neste momento, certamente maior do que nos meses de setembro e outubro, e a proximidade das festividades do fim do ano gera grande preocupação.

Muita informação tem circulado no sentido de conscientizar a população de que neste ano as festividades e as reuniões das famílias não deverão ocorrer da mesma forma que nos anos anteriores. Não será possível reunir toda a família em um mesmo ambiente. O mais recomendável seria que apenas as pessoas que já moram na mesma casa se reunissem, ou agregar algumas poucas pessoas a mais, mas sempre adotando o máximo cuidado nesses momentos, realizando o encontro em local bem ventilado, se possível em área aberta ao ar livre, respeitando sempre o distanciamento físico, utilização de máscaras e cuidados com a higiene de mãos e superfícies.

Do ponto de vista econômico e social, os efeitos da primeira onda ainda estão presentes no contexto econômico e social, e vivemos um momento de alerta em relação a uma segunda onda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas regrediu no Plano São Paulo, assim como todos os demais departamentos que estão, neste momento, na fase amarela. Neste momento, podem funcionar praticamente todas as atividades econômicas, mas com restrições de capacidade (30% a 40%) e horários reduzidos. Nesta semana, o governo estadual decretou que bares e restaurantes deverão fechar às 20h e shoppings terão horário estendido de funcionamento, de 10 para 12 horas por dia.

O fato é que, diante do novo contexto da pandemia, com piora dos indicadores, pode ser necessário recuar ainda mais no grau de abertura dos negócios, o que pode ser dramático para a atividade econômica no contexto de austeridade fiscal imposta pelo governo federal. Até o momento, o este não anunciou o que vai fazer com Auxílio Emergencial e com o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. 

O PIB do 3T/2020, divulgado há poucos dias, frustrou parcialmente as expectativas do mercado, apresentando crescimento de 7,7% em relação ao 2T/2020, o qual apresentou um decrescimento recorde da atividade econômica (-9,6%). Embora o governo veja com otimismo o crescimento, certamente bem-vindo, é preciso ter cautela ao projetar a velocidade da retomada do crescimento no médio e longo prazos. Quando se analisa o crescimento entre janeiro e setembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, observa-se uma queda de 5% do PIB. 

Os dados do mercado de trabalho preocupam e indicam a dificuldade de uma retomada que dependa do consumo das famílias, sobretudo diante da possibilidade do fim ou redução dos programas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego) camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões. Em outubro/2020, 17,6 milhões de trabalhadores estavam com rendimento menor do que o normalmente recebido e aproximadamente 33,1% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, agora mostra os efeitos da redução promovida pelo governo federal, atingindo R$ 688,00. Esse efeito certamente vai ser sentido pelo comércio da RMC, e no resultado das vendas de final de ano. Regiões mais pobres certamente devem verificar quedas mais abruptas das vendas.

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada/sustentabilidade da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastante altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. A manutenção do consumo das famílias vai depender, criticamente, da continuidade do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim da vigência das reduções de carga horária, salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos em manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como ocorria antes da crise sanitária.  O setor externo, até o momento, dá sinais de recuperação, sobretudo pelo crescimento do volume de exportações para países que melhor controlaram a pandemia, embora esses países tenham um viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. Além disso, a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos vai afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC destinam-se aos Estados Unidos).

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos, diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 24,25% em 12 meses, até novembro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final (IPCA) em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta.

Por outro lado, o governo federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O “orçamento de guerra”, que permitiu a ampliação de R$ 577,55 bilhões no orçamento de R$ 3,6 trilhões para 2020, acaba no próximo 31 de dezembro. Sem a revogação do teto dos gastos, os programas de preservação da renda e do emprego ficam sem previsão de orçamento, de forma que a viabilidade fiscal deles vai depender, novamente, de outras medidas extraordinárias como um novo “orçamento de guerra”. O que podemos afirmar é que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico e social atual, os efeitos de uma possível segunda onda da pandemia serão devastadores para a economia brasileira e, consequentemente, para a economia regional.   

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] https://www.seade.gov.br/coronavirus/

[8] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/noticias

[9] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/boletim-epidemiologico




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


Estudo Anterior

Próximo Estudo

Boletim Observatório

Assine nosso boletim e receba no seu e-mail atualizações semanais