COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas – V1|N32|Semana 51 (13/12 a 19/12)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Dado o recesso acadêmico, o Observatório PUC-Campinas vai interromper a publicação das notas semanais nas próximas semanas epidemiológicas, retomando o trabalho no dia 11/01/2021. No entanto, o comportamento da pandemia na RMC e nos demais municípios paulistas, neste momento de alerta, poderá ser acompanhado pela plataforma interativa no site https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Até o dia 19/12, o Brasil notificou 7,2 milhões de casos e 186,3 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 47,5 mil novos casos e 747 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 13/12 e encerrada em 19/12 – semana epidemiológica de número 51, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 19/12, foram notificados 146,6 mil casos e 4,0 mil mortes na região de Campinas – letalidade de 2,77%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[5]), foram 108,0 mil casos e 3,0 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,84%. Por fim, o município de Campinas registrou 40,9 mil casos até o momento, com 1.429 óbitos – letalidade de 3,49% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

Em linhas gerais, 11 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram alta, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 6.920 casos (+14,11%); RMC, 5,5 mil casos (+20,27%); e Campinas, 1.392 casos (+7,15%%). Em relação à semana passada, as novas mortes tiveram alta no DRS-Campinas, com 93 óbitos (+34,78%); na RMC, 69 (+23,21%); e Campinas com 17 mortes (+6,25%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas . (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 830 e 1.006 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Indaiatuba e Jundiaí são os municípios com maior incidência, todos com mais de 4.000 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 11 dos 42 municípios do DRS-Campinas e nove dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 3.270 casos por 100 mil habitantes.  


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 830 e 1.006 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Indaiatuba e Jundiaí são os municípios com maior incidência, todos com mais de 4.000 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 11 dos 42 municípios do DRS-Campinas e nove dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 3.270 casos por 100 mil habitantes.  

Além disso, Indaiatuba e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 114 e 120 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Indaiatuba são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 120 e 114, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 87 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com o último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 30/11, todos os departamentos regionais de saúde estão na fase amarela. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo Plano de Flexibilização do Estado.

Da perspectiva da saúde, de acordo com informações da fundação SEADE¹, novas internações seguem em aumento no DRS-Campinas, mas em ritmo igual ao da última semana. Ao longo da semana epidemiológica 51 (até 19/12), foram 784 internações, 3% maior que as 763 da semana anterior. Não temos acesso a exatamente esse indicador para o município de Campinas, mas é divulgado o número de indivíduos internados em leitos de UTI destinados a pacientes suspeitos e confirmados para COVID-19, no município de Campinas². No dia 18/12 (último dado disponibilizado), eram 162 indivíduos internados, enquanto no dia 11/12 eram 163 internados, representando uma estabilidade nesse indicador. A disponibilidade de leitos no período foi de 193 para 214, com isso a taxa de ocupação desses leitos no município voltou a ficar abaixo de 80%, após mais de uma semana com valores sempre acima dos 80%.

De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pela Prefeitura de Campinas³, o número de atendimentos de sintomáticos respiratórios em unidades básicas de saúde e de pronto atendimento tem se mantido praticamente estável nas últimas semanas (entre as semanas 46 e 49), com um indício de queda na semana 50, mas ainda sem a finalização dos dados. Segue ainda, entretanto, em um patamar elevado de atendimentos, em torno de 4.000 atendimentos semanais, enquanto no mês de outubro esses valores ficaram em torno de 2.000 atendimentos.

O registro de casos no município de Campinas apontou leve aumento em relação à semana anterior e um aumento considerável, de cerca de 20%, na RMC. A curva de casos confirmados organizada por data de início dos sintomas, disponível no último boletim epidemiológico da Prefeitura de Campinas³, expõe claramente um cenário de aumento expressivo dos casos a partir da semana epidemiológica 45 (início de novembro). Desde o início do mês de novembro e agora durante o mês de dezembro, estamos observando, de fato, um aumento na intensidade de circulação do vírus e aumento da pressão sobre o sistema de saúde.

Além da regressão de fase (ainda que tardia) no Plano São Paulo, poucas ações mais “enérgicas” do poder público têm sido adotadas para frear essa situação. As ações de educação e conscientização da população por parte de prefeituras e estado são constantemente atrapalhadas por trágicas estratégias de comunicação do governo federal, propagando desinformação, inclusive do próprio Ministério da Saúde. Houve intensificação de medidas de fiscalização por parte da Prefeitura de Campinas para evitar aglomerações, mas não se discute em nenhum momento medidas mais drásticas para reduzir a circulação das pessoas. Alguns países da Europa já anunciaram o retorno de medidas restritivas para este período crítico de festividades de fim de ano. Por aqui, a aposta para evitar uma situação ainda pior no início de 2021 segue na esperança de que as pessoas entendam a gravidade da situação atual e passem a adotar com mais rigor a todas as medidas de prevenção.

Do ponto de vista econômico e social, os efeitos da primeira onda ainda estão presentes no contexto econômico e social, e vivemos um momento de alerta em relação a uma segunda onda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas regrediu no Plano São Paulo, assim como todos os demais departamentos que estão, neste momento, na fase amarela. Neste momento, podem funcionar praticamente todas as atividades econômicas, mas com restrições de capacidade (30% a 40%) e horários reduzidos. Nesta semana, o STF decidiu a favor da Lei Seca decretada no Estado de São Paulo, proibindo bares, restaurantes e conveniências de venderem bebidas alcoólicas após as 20 horas. Bares devem parar de receber clientes às 20 horas e restaurantes às 22 horas, embora os clientes que já estiverem no local possam terminar as refeições e bebidas até duas horas após esses horários.

O fato é que diante do novo contexto da pandemia, com piora dos indicadores, pode ser necessário recuar ainda mais no grau de abertura dos negócios, o que pode ser dramático para a atividade econômica no contexto de austeridade fiscal imposta pelo governo federal. Até o momento, este não anunciou o que vai fazer com o Auxílio Emergencial e com o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. 

O PIB do 3T/2020, divulgado há poucos dias, frustrou parcialmente as expectativas do mercado, apresentando crescimento de 7,7% em relação ao 2T/2020, o qual apresentou um decrescimento recorde da atividade econômica (-9,6%). Quando se analisa o crescimento entre janeiro e setembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, observa-se uma queda de 5% do PIB. 

Os dados da atividade para o mês de outubro mostram que a indústria cresceu 1,1%; o comércio, 0,9%; e serviços, 1,7%. No acumulado do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, a produção industrial e a atividade de serviços recuaram 6,3% e -8,7%, respectivamente; enquanto o comércio cresceu 0,9%. O crescimento do comércio está ligado ao pagamento do Auxílio Emergencial.

Alguns dados do mercado de trabalho seguem sem atualização na PNAD-COVID. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões. Em outubro/2020, 17,6 milhões de trabalhadores estavam com rendimento menor do que o normalmente recebido e aproximadamente 33,1% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, agora mostra os efeitos da redução promovida pelo governo federal, atingindo R$688,00. Esse efeito certamente vai ser sentido pelo comércio da RMC, e no resultado das vendas de final de ano. Regiões mais pobres certamente devem verificar quedas mais abruptas das vendas.

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada/sustentabilidade da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. A manutenção do consumo das famílias vai depender, criticamente, da continuidade do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim da vigência das reduções de carga horária, salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos em manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como ocorria antes da crise sanitária.  O setor externo, até o momento, dá sinais de recuperação, sobretudo pelo crescimento do volume de exportações para países que melhor controlaram a pandemia, embora esses países tenham um viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. Além disso, a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos vai afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC destinam-se aos Estados Unidos).

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto e com a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 24,25% em 12 meses, até novembro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final (IPCA) em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta.

Por outro lado, o governo federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O “orçamento de guerra”, que permitiu a ampliação de R$ 577,55 bilhões no orçamento de R$ 3,6 trilhões para 2020, acaba no próximo 31 de dezembro. Sem a revogação do teto dos gastos, os programas de preservação da renda e do emprego ficam sem previsão de orçamento, de forma que a viabilidade fiscal deles vai depender, novamente, de outras medidas extraordinárias como um novo “orçamento de guerra”. O que podemos afirmar é que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e, diante do cenário econômico e social atual, os efeitos de uma possível segunda onda da pandemia serão devastadores para economia brasileira e, consequentemente, para a economia regional.   



[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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