COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N34|Semana 02 (10/01 a 16/01)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 16/01, o Brasil notificou 8,4 milhões de casos e 209,8 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 54,1 mil novos casos e 952 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 10/01 e encerrada em 16/01 – semana epidemiológica de número 02, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 16/01, foram notificados 174,5 mil casos e 4,5 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 2,64%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]) foram 127,8 mil casos e 3,4 mil óbitos, até o momento – letalidade de 2,66%. Por fim, o município de Campinas registrou 47,5 mil casos até o momento, com 1.555 óbitos – letalidade de 3,27% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

Em linhas gerais, 14 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos. Em relação à semana anterior, os casos e mortes tiveram alta na Região de Campinas, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1


A variação do DRS-Campinas, em termos de novos casos, foi de 9.5 mil casos (+15,34%); RMC, 6,2 mil casos (+8,73%) e Campinas, 1.995 casos (-4,72%). Em relação à semana passada, as novas mortes tiveram alta no DRS-Campinas, 139 óbitos (+1,45%); na RMC, 98 (-10,90%), Campinas com 42 mortes (+10,52%). Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes divergem entre os municípios.

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 870 e 1.265 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Indaiatuba e Jundiaí são os municípios com maior incidência, todos com mais de 4.800 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 13 dos 42 municípios do DRS-Campinas e onze dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 3.798 casos por 100 mil habitantes.  

Além disso, Santa Bárbara d’Oeste e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 131 e 135 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 15/01/21, 10 dos 17 departamentos encontram-se na fase laranja; o DRS-Marília está na fase vermelha e os demais estão situados na fase amarela. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do estado.

Na perspectiva da saúde,  nesta segunda semana epidemiológica do ano de 2021, o estado de São Paulo atinge a triste marca recorde de 79.132 casos notificados em uma semana, superior aos 75.740 casos notificados na semana epidemiológica 33/2020, finalizada em 15/08/2020. Reflexo claro da diminuição progressiva da adesão às medidas de proteção pela população, desestímulo à adoção dessas medidas pelo governo federal e ministério da saúde e falta de medidas mais rígidas para redução da circulação de pessoas pelos governos locais. Tudo potencializado, obviamente, pela sequência de datas festivas no fim do ano e período de férias para uma parte da população. Locais com estrutura limitada e já sobrecarregada colapsaram e propiciaram as tristes cenas vistas por todos nesta última semana em Manaus-AM.

Tanto na RMC quanto no município de Campinas os números de notificações de novos casos e novos óbitos sofreram pouca variação em relação à semana anterior, permanecendo em patamares elevados, compatíveis com o momento da epidemia no estado. As novas internações de casos suspeitos e confirmados seguem crescendo, registrando aumento de 9% na DRS-Campinas em relação à semana anterior. No município de Campinas, o número absoluto de pacientes internados em leitos de UTI-COVID apresentou aumento de 4% em comparação à semana anterior. Vale ressaltar que no fim da semana passada a prefeitura de Campinas expandiu o número de leitos disponíveis no município com a contratação de leitos intensivos de hospitais privados. Ainda assim a taxa de ocupação geral desses leitos no município permaneceu acima de 80% no dia 15/01/2021, última data com divulgação dos dados. É interessante observar que esses números colocariam o município de Campinas na fase laranja do plano São Paulo (fase vermelha se não fossem alguns detalhes metodológicos) caso o município fosse avaliado isoladamente. A média de ocupação na semana em leitos SUS municipal foi de 87%, 96% SUS estadual (HC-Unicamp) e 78% para hospitais privados, totalizando 82% de média de ocupação no município nesta última semana[1].

O tão esperado anúncio de aprovação para uso emergencial das vacinas de Oxford/Astrazeneca/Fiocruz e do Instituto Butantan/Sinovac ocorrido ontem, 17/01/2021, certamente traz grande esperança para a redução da carga da doença no sistema de saúde com a redução do risco da ocorrência de casos que demandem atendimento médico e internação. O desafio da escassez de doses disponíveis no momento certamente vai dificultar a estratégia de vacinar de forma ágil e ampla pelo menos as populações prioritárias iniciais e a campanha de descrédito e de não vacinação conduzida pelo presidente da república pode atrapalhar a aplicação de uma estratégia de vacinação em larga escala em um momento seguinte. Sendo assim, os efeitos práticos da vacinação para a sociedade como um todo levarão certo tempo para aparecer, de modo que é essencial que as pessoas entendam a importância da adesão às medidas não farmacológicas para reduzir a circulação do vírus neste momento. A esperança e euforia com as boas notícias de ontem não podem fazer com que essas medidas sejam deixadas de lado.

Do ponto de vista econômico e social, não só os efeitos da primeira onda ainda estão presentes no contexto econômico e social, mas vivemos, também, um recrudescimento dos casos que pode demandar maior atenção ao distanciamento físico como prevenção. No DRS-Campinas, neste momento, podem funcionar praticamente todas as atividades econômicas, mas com restrições de capacidade (30% a 40%) e horários reduzidos.

Até o momento, o governo federal continua afirmando que não deve renovar o Auxílio Emergencial e o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. Muitos economistas e analistas de mercado veem na vacina a solução para destravar a atividade econômica. Nesse sentido, o Governo Federal tem demonstrado despreparo e certo desinteresse em prosseguir com um amplo programa de vacinação nacional. O estado de São Paulo, no entanto, iniciou a vacinação nesta data (18/01/2020), após aprovação de uso emergencial para duas vacinas, pela Anvisa.

Os últimos dados do PIB, referente ao 3T/2020, mostraram o crescimento de 7,7% em relação ao 2T/2020, quando houve um decrescimento recorde da atividade econômica (-9,6%). Quando se analisa o crescimento entre janeiro e setembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, observa-se uma queda de 5% do PIB.  A expectativa é que a economia brasileira feche o ano de 2020 com queda em torno de 5%.

Os últimos dados da pesquisa de atividade mostram que a indústria cresceu 1,2%, comércio -0,1% e serviços 2,6%, em novembro de 2020. No acumulado do ano, em comparação com o mesmo período de 2019, a produção industrial recuou -5,2%, a atividade de serviços recuou -7,6% e o comércio cresceu 1,2%.

Alguns dados do mercado de trabalho seguem sem atualização na PNAD-COVID. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões. Em novembro/2020, 19,6% dos trabalhadores estavam com rendimento menor do que o normalmente recebido e aproximadamente 32,1% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, atingiu R$558,00 em novembro de 2020, agora está sem previsão de continuidade.

Como temos reforçado, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada/sustentabilidade da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. O auxílio emergencial teve papel substancial para manutenção do consumo das famílias mais pobres e mais afetadas pela crise. O setor externo dava sinais de recuperação, sobretudo pelo crescimento do volume de exportações, embora com viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. Porém, a segunda onda, na Europa e nos Estados Unidos, deve afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC destinam-se aos Estados Unidos), até que a vacina passe a afetar os indicadores de controle da pandemia.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados e,  com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 23,14% em 12 meses, em dezembro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Por outro lado, o governo federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O “orçamento de guerra”, que permitiu a ampliação de R$577,55 bilhões no orçamento de R$3,6 trilhões para 2020, acabou no último 31 de dezembro. Sem a revogação do teto dos gastos, os programas de preservação da renda e do emprego ficam sem previsão de orçamento, de forma que a viabilidade fiscal deles dependeria, novamente, de outras medidas extraordinárias como um novo “orçamento de guerra”. O governo, no entanto, já tem sinalizado que não pretende dar continuidade a tais programas. Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico e social atual, os efeitos da pandemia podem ser devastadores para a economia brasileira e, consequentemente, para economia regional no primeiro trimestre. Felizmente, o início da vacinação, mérito do esforço dos cientistas e da gestão do governo estadual, é a luz no fim do túnel.


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/noticias


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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