COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas  – V2|N19|Semana 19 (09/05 a 15/05) 

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4] Beatriz Panciera [5] Giuliano Polli [6] 

Até o dia 15/05, o Brasil notificou 15,5 milhões de casos e 434,7 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 62,9 mil novos casos e 1,9 mil novas mortes por dia 7.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 09/05 e encerrada em 15/05 – semana epidemiológica de número 19, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.  

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana) 

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.   

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 15/05, foram notificados 332,5 mil casos e 9,8 mil mortes, no DRS-Campinas – letalidade de 2,95%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC8), foram 234,4 mil casos e 7,1 mil óbitos até o momento – letalidade de 3,06%. Por fim, o município de Campinas registrou 80,6 mil casos até o momento, com 3,2 mil óbitos – letalidade de 3,97% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.   Nesta semana, 12 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos, indicando um aumento de número de novos casos generalizado no Estado de São Paulo em relação à semana passada. Contudo, as novas mortes apresentaram taxas decrescentes em 11 dos 17 departamentos do Estado.  Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os novos casos continuaram reduzindo e o número de novos óbitos teve uma redução bastante significativa, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2.

Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas 

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas 

Foram registrados, nesta semana, 8,5 mil casos no DRS-Campinas (variação de -1,64%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 5,6 mil foram registrados na RMC (var. -2,40%) e 1,5 mil em Campinas (var. -17,78%). Foram 273 mortes no DRS-Campinas (var. -28,16%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 169 ocorreram na RMC (var. -11,05%) e 72 em Campinas (var. -24,21%). 

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios. 

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho  

Neste momento, os municípios com maior incidência são Paulínia, Holambra e Piracaia, com 11.239,8, 10.025,5 e 9.491,3 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. É válido lembrar que a incidência é fortemente influenciada pela amplitude da testagem em cada município. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% daqueles com as maiores taxas de incidência, no estado de São Paulo, com corte em 8.678 casos por 100 mil habitantes. 

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho 

Além disso, Campinas, Jundiaí e Santa Bárbara continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 272,3, 270,5 e 265,4 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% daqueles com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 243 mortes por 100 mil habitantes.  

Análise dos especialistas 

Dando continuidade ao que foi decretado pelo Governo do Estado no dia 09/04/2021, todos os departamentos regionais de saúde estão em fase de transição, da fase vermelha para a laranja do Plano São Paulo, desde o dia 18/04/2021. Na semana do dia 08/05, o Governo do Estado anunciou mais duas semanas de fase de transição, que se estenderá até dia 23/05, não havendo mudanças em suas regras em relação à semana passada. Desse modo, o funcionamento de restaurantes continua entre 6h e 21h, com capacidade máxima de 30% do local; da mesma forma, comércios, centros religiosos e igrejas, teatros, academia e salões de beleza têm o mesmo horário de funcionamento, com capacidade máxima de 30% do ambiente. Parques estaduais e municipais podem funcionar das 6h às 18h. O toque de recolher mantém-se das 21h às 5h, com manutenção da obrigação de teletrabalho para todas as atividades administrativas e recomendação de escalonamento na entrada e saída da indústria, serviços e comércio, na maior parte do estado.

Na contramão do resto do Estado, o município de Batatais decretou lockdown desde 15/05. A medida permanecerá em vigor até o último dia do mês, 31/05, e conta com uma peculiaridade, a proibição de compra e venda de bebidas alcoólicas, com o propósito de evitar aglomerações. Os supermercados, padarias e similares funcionarão até o dia 17/05, a partir de então apenas pelo sistema delivery. Segundo a Prefeitura, o lockdown é necessário devido ao agravamento da pandemia na cidade, superlotando o Hospital da Santa Casa.

Da perspectiva da saúde, novas internações no estado de São Paulo aumentaram 2,7% em relação à semana anterior. Na RMC, houve redução de 2,2%9. Ou seja, fica claro o cenário de estabilidade em patamares elevados. No pior momento da epidemia no ano passado, no mês de julho, chegamos a ter 1.220 novas internações em uma semana. Nesta última semana, foram 1.284 novas internações. A ocupação de leitos intensivos do SUS municipal segue elevada, ainda que tenha se descolado da proximidade dos 100% que perdurava meses, chegando a 90,6% no dia 14/05.

No mês de maio, não foram disponibilizados ainda novos boletins epidemiológicos10 pela Prefeitura de Campinas, que contêm informações acerca da procura de pacientes sintomáticos respiratórios (potencialmente infectados pelo vírus Sars-Cov-2) a unidades básicas de saúde e unidades de pronto atendimento do município, com dados semanais. Estes vinham sendo um bom indicador de evolução da epidemia, já que, a priori, é um dado que anteciparia a tendência de novas internações e óbitos.

Apesar da recente chegada do imunizante da Pfizer ao Brasil, o país sofre com a escassez de doses, que atrapalha o ritmo de vacinação e torna pouco provável uma ampla cobertura vacinal no curto prazo. É possível que esse ritmo diminua mais nos próximos dias, devido à dificuldade de obtenção de insumos para a fabricação das vacinas11.

Na última atualização do Plano São Paulo, houve a manutenção da atual fase de transição até o próximo dia 23/05. Como não há descrição dos parâmetros utilizados pelo plano para saída ou manutenção desta fase, aguardemos as próximas coletivas para verificar quais serão as novas orientações. O fato é que, desde a saída da fase emergencial, na segunda semana de abril, com aumento das flexibilizações, a grande desaceleração de novas internações que tivemos entre o fim de março e início de abril deu lugar a uma estabilização em patamares muito elevados. Houve, portanto, uma clara mudança de padrão em relação ao período em que os números motivaram as reaberturas.

Devido à baixa cobertura vacinal da população como um todo, baixa adesão da população às medidas de prevenção, manutenção da estratégia de comunicação do governo federal em propagar o contrário do que deve ser feito, a preocupação com novo aumento de casos é muito grande.

Do ponto de vista econômico e social, a taxa de desemprego alta e crescente (14,4%), combinada com a drástica redução e atrasos na liberação dos auxílios federais, para atenuar os impactos negativos da crise sanitária, preocupa pelos possíveis impactos na queda da demanda agregada nacional (falta de demanda no sistema econômico). No entanto, os indicadores de atividade nacional (IBGE) e os dados de emprego e do setor externo da RMC dão sinais de impacto negativo menor do que o esperado na economia nacional, e sinais de recuperação da economia regional no 1T/2021.   

Na última semana, foi divulgado o índice de volume de vendas do comércio (PMC/IBGE), que aponta para queda de -0,6% na atividade nacional do setor. Apesar de queda, o número é positivo, uma vez que se esperava que o grave cenário sanitário e as necessárias medidas de contenção da pandemia causassem impactos mais substanciais na atividade do comércio. De todo modo, segundo a Carta de Conjuntura do IPEA 1, o PIB brasileiro deve ter sofrido queda de -0,5% no 1T/2021, e deve crescer 3% no ano, o que significa decrescimento dinâmico descontando-se a herança estatística de 2020, desafiando a sustentabilidade da retomada regional.  

A reativação do Programa de Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) deve ter impacto positivo para o 2T/2021, apesar do atraso e da redução significativa nos montantes previstos para manutenção dos programas.  

É preciso ressaltar que o BEm, apesar de forte impacto negativo na manutenção dos níveis de renda, mostrou-se eficaz na estabilização da taxa de desemprego – em níveis altos, é fato — no ano passado. Para salários mais baixos, próximos ao salário mínimo, o impacto na renda individual é pequeno ou nulo, mas para salários maiores, os impactos negativos nos rendimentos são consideráveis. No ano passado, estima-se que o BEm (MP936) tenha causado, isoladamente, queda de 6,6% na massa salarial regional, e atingido 228,7 mil trabalhadores na RMC, isto é, 25% da força de trabalho formal regional.  

Em relação ao emprego, os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre dez/2020 a fev/2021, estimam uma taxa de desocupação recorde no Brasil de 14,4% (alta de 0.3 pontos percentuais), patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. No entanto, na RMC, de acordo com dados do Observatório PUC-Campinas, a criação de novos postos de trabalho tem dado sinais de alta – foram 5,3 mil vagas em março/2021, com saldo positivo de 23,7 mil postos no 1T/2021. Também, os dados do setor externo seguem em forte alta com aumentos de 57,2 % nas exportações e 18,2% nas importações do mês de abril de 2021, em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento das exportações e importações foi generalizado, porém, proporcionalmente mais marcado para produtos de média-alta e alta complexidade, categorias que concentram a maior parte do volume das transações da RMC. 

Em relação aos preços, O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 31,1% em 12 meses, em março/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. O IPCA acumulado de 12 meses atingiu 6,10% em março/21, puxado, sobretudo, pelo aumento continuado do preço da gasolina, quando o centro da meta de inflação para o ano de 2021 é de 3,75%.   

Por fim, as expectativas de retomada para boa parte dos analistas estão bastante ancoradas no avanço e eficácia da vacinação. Até o momento, no DRS-Campinas, aproximadamente 17,7% (var. semanal de +2.2 p.p.) da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto 9,8% (var. semanal de +0.1 p.p.)  recebeu a segunda dose. Seguimos afirmando que, sem medidas realmente efetivas de proteção da renda e do emprego e sem a aceleração na taxa de vacinação, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser desnecessariamente lenta. No contexto em que a vacinação permanece lenta, ante as recentes flexibilizações das medidas de distanciamento social, infectologistas e epidemiologistas já aventam a possibilidade de uma “terceira onda”, afetando negativamente a expectativa dos analistas econômicos em relação a 2021.

ANEXOS

Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Graduanda em Administração pela PUC-Campinas e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[6] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[7] Dados do Ministério da Saúde


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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