COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas  – V2|N20|Semana 20 (16/05 a 22/05) 

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4] Beatriz Panciera [5] Giuliano Polli [6]

Até o dia 22/05, o Brasil notificou 16,08 milhões de casos e 449,06 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 65,84 mil novos casos e 1,92 mil novas mortes por dia 7.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 16/05 e encerrada em 22/05 – semana epidemiológica de número 20, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.  

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana) 

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.   

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 22/05, foram notificados 343,08 mil casos e 10,01 mil mortes, no DRS Campinas – letalidade de 2,92%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC8), foram 241,28 mil casos e 7,30 mil óbitos até o momento – letalidade de 3,03%. Por fim, o município de Campinas registrou 82,68 mil casos até o momento, com 3,26 mil óbitos – letalidade de 3,95% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.  

Nesta semana, 15 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos, indicando um aumento de número de novos casos generalizado no Estado de São Paulo em relação à semana passada. Contudo, as novas mortes apresentaram taxas decrescentes em 9 dos 17 departamentos do Estado. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os novos casos aumentaram significativamente, mas o número de novos óbitos teve uma redução também significativa, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2.

Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas 

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas 

Foram registrados, nesta semana, 10,50 mil casos no DRS-Campinas (variação de 22,23%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 6,80 mil foram registrados na RMC (var. 21,26%) e 1,99 mil em Campinas (var. 24,83%). Foram 209 mortes no DRS-Campinas (var. -23,44%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 136 ocorreram na RMC (var. -19,53%) e 62 em Campinas (var. -13,89%). 

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios. 

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho  

Neste momento, os municípios com maior incidência são Paulínia, Holambra e Piracaia, com 11.445,49, 10.384,32 e 9.769,08 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. É válido lembrar que a incidência é fortemente influenciada pela amplitude da testagem em cada município. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% daqueles com maiores taxas de incidência, no estado de São Paulo, com corte em 8.965 casos por 100 mil habitantes. 

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho 

Além disso, Jundiaí, Campinas e Santa Bárbara continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 278,61, 277,58 e 269,14 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% daqueles com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 254 mortes por 100 mil habitantes.  

Análise dos especialistas 

Dando continuidade ao que foi decretado pelo Governo do Estado no dia 09/04/2021, todos os departamentos regionais de saúde estão em fase de transição, da fase vermelha para a laranja do Plano São Paulo, desde o dia 18/04/2021. Na semana do dia 08/05, o Governo do Estado anunciou mais duas semanas de fase de transição, que se estenderia até dia 23/05. Com o fim desse período, o Governo do Estado anunciou mais uma semana de fase de transição até o dia 1o de junho. Nessa semana, a única mudança foi que os estabelecimentos poderão operar com mais 10% da capacidade, com ocupação máxima de 40%. A partir do dia 01/06, as atividades comerciais e serviços gerais poderão operar entre as 6h e 22h, com, no máximo, 60% da capacidade. O toque de recolher foi redefinido das 22h às 5h, com manutenção da obrigação de teletrabalho para todas as atividades administrativas e recomendação de escalonamento na entrada e saída da indústria, serviços e comércio, na maior parte do estado.

Da perspectiva da saúde, depois de sucessivas flexibilizações dentro da fase de transição do Plano São Paulo, houve aumento expressivo da circulação de pessoas, com o Ministério da Saúde totalmente desmoralizado pelas falas e atitudes do Presidente da República, no sentido de promover desinformação e estimular o contágio entre as pessoas. A vacinação ainda continua sem força para frear novos aumentos de casos. Como resultado disso, houve no Estado de São Paulo um aumento significativo, de quase 8%, no número de novas internações por SRAG 9. No DRS-Campinas, esse aumento foi ainda mais alarmante. Foram 1.531 novas internações na última semana contra 1.284 na semana anterior, um aumento de quase 20%. Depois de um breve “respiro” na ocupação de leitos intensivos em Campinas, as taxas voltaram a se aproximar dos 100%; e voltamos também a ter fila para um leito intensivo, com 13 pacientes aguardando no dia 21/0510.   

No último boletim epidemiológico da Prefeitura de Campinas, divulgado em 21/05², é possível notar claramente uma tendência de aumento nos atendimentos a sintomáticos respiratórios nos serviços de Pronto Atendimento e Centros de Saúde do município, a partir da semana epidemiológica 17, no início de maio, cerca de duas semanas após a entrada na fase de transição.  

O índice de isolamento social também apresentou queda expressiva após o avanço para essa fase. O cenário que se desenha parece deixar claro o “efeito dominó” provocado pela diminuição das restrições em uma população pouco vacinada e com baixa adesão às medidas de prevenção, gerando aumento de circulação de pessoas, aumento de circulação do vírus, aumento de procura por atendimentos, aumento nas internações, aumento de casos e aumento de óbitos.  

De fato, é um desafio para os municípios equacionar essa questão. O Governo Federal segue jogando contra, e as decisões do Plano São Paulo pelo Governo do Estado parecem desconectadas dos indicadores e mais direcionadas para atender às pressões de setores econômicos para flexibilizações precoces, transferindo a pressão para a adoção ou não de medidas mais restritivas exclusivamente para os municípios, lembrando que não existem critérios descritos que orientem a manutenção da fase de transição ou retorno a fases mais restritivas. 

No último dia 21/05, houve um evento da Frente Nacional de Prefeitos11 em que foram apresentados alguns indicadores precoces de evolução da epidemia utilizados pela Prefeitura de Campinas para se antecipar ao Estado a adoção de algumas medidas restritivas. A monitorização do número de atendimento a sintomáticos respiratórios apontou variação no número e na taxa de positividade de testes diagnósticos para COVID-19 e proporção de internações entre todas as notificações de síndromes respiratórias. Certamente são indicadores mais precoces do que a notificação de casos e óbitos confirmados. Seria extremamente positivo se tais indicadores fossem disponibilizados em tempo real para que pudessem ser acessados por toda a população, podendo utilizar, inclusive, a excelente plataforma em Power BI, já disponibilizada no site. Esperamos que todos os municípios, pelo menos os da nossa região, adotem tais indicadores, a fim de possibilitar uma abordagem regionalizada mais ágil da epidemia, com a implementação de medidas mais restritivas em tempo oportuno. 

O aumento de 20% nas internações no DRS-Campinas na última semana é realmente assustador. Aguardemos os próximos passos do Governo do Estado e das prefeituras. Esperamos que não haja hesitação para adotar medidas mais restritivas oportunamente.

Do ponto de vista econômico e social, a taxa de desemprego alta e crescente (14,4%), combinada com o ritmo lento da vacinação e o recrudescimento dos casos, preocupa pela provável necessidade da implementação de novas medidas de distanciamento físico. Uma nova onda de casos pode reverter a relativa positividade dos indicadores econômicos regionais e nacionais no 1T/2021.   

Após surpresa positiva dos dados em fevereiro/21, os dados de março/21 apontam para queda na atividade industrial (-2,4%), de serviços (-4,0%) e de comércio (-0,6%), para economia nacional.  Para o comércio, em particular, a queda foi relativamente baixa, uma vez que se esperava que o grave cenário sanitário e as necessárias medidas de contenção da pandemia causassem impactos mais substanciais na atividade. De todo modo, segundo a Carta de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o PIB brasileiro deve ter sofrido queda de -0,5% no 1T/2021, e deve crescer 3% no ano, o que significa decrescimento dinâmico, descontando-se a herança estatística de 2020, desafiando a sustentabilidade da retomada regional.  

A reativação do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) deve ter impacto positivo para o 2T/2021, apesar do atraso e da redução significativa nos montantes previstos para manutenção dos programas.  

É preciso ressaltar que o BEm, apesar de forte impacto negativo na manutenção dos níveis de renda, mostrou-se eficaz na estabilização da taxa de desemprego – em níveis altos, é fato — no ano passado. Para salários mais baixos, próximos ao salário-mínimo, o impacto na renda individual é pequeno ou nulo, mas, para salários maiores, os impactos negativos nos rendimentos são consideráveis. Em 2020, na RMC, foram efetuados aproximadamente 500 mil acordos de flexibilização (28% da mão de obra formal regional), sendo 60% dos acordos para suspensão total ou 70% de redução dos salários e da carga horária.  

Em relação ao emprego, os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre dez/2020 e fev./2021, estimam uma taxa de desocupação recorde no Brasil de 14,4% (alta de 0.3 pontos percentuais), patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. No entanto, na RMC, de acordo com dados do Observatório PUC-Campinas, a criação de novos postos de trabalho tem dado sinais de alta – foram 5,3 mil vagas em março/2021, com saldo positivo de 23,7 mil postos no 1T/2021. Também, os dados do setor externo seguem em forte alta com aumentos de 57,2 % nas exportações e 18,2% nas importações do mês de abril de 2021, em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento das exportações e importações foi generalizado, porém, proporcionalmente mais marcado para produtos de média-alta e alta complexidade, categorias que concentram a maior parte do volume das transações da RMC. 

Em relação aos preços, o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 31,1% em 12 meses, em março/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. O IPCA acumulado de 12 meses atingiu 6,10% em março/21, puxado, sobretudo, pelo aumento continuado do preço da gasolina, quando o centro da meta de inflação para o ano de 2021 é de 3,75%.   

Por fim, as expectativas de retomada para boa parte dos analistas estão bastante ancoradas no avanço e eficácia da vacinação. Até o momento, no DRS-Campinas, aproximadamente 21,8% (var. semanal de +4,1 p.p.) da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto 11,2% (var. semanal de +1,4 p.p.)  recebeu a segunda dose. Seguimos afirmando que, sem medidas realmente efetivas de proteção da renda e do emprego e sem a aceleração na taxa de vacinação, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser desnecessariamente lenta. No contexto em que a vacinação permanece lenta, diante das recentes flexibilizações das medidas de distanciamento social, infectologistas e epidemiologistas já aventam a possibilidade de uma “terceira onda”, afetando negativamente a expectativa dos agentes econômicos em relação a 2021.  

ANEXOS

Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Graduanda em Administração pela PUC-Campinas e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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