COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas  – V2|N33|Semana 33 (15/08 a 21/08) 

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Jacqueline dos Santos Oliveira [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4] Beatriz Panciera [5] Giuliano Polli [6]

Até o dia 21/08, o Brasil notificou 20,5 milhões de casos e 206,3 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 82,0 mil novos casos e 0,7 mil novas mortes por dia 7.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 15/08 e encerrada em 21/08 – semana epidemiológica de número 33, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana) 

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.   

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 21/08, foram notificados 476,3 mil casos e 13,8 mil mortes, no DRS-Campinas – letalidade de 2,91%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC8), foram 331,5 mil casos e 10,1 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,05%. Por fim, o município de Campinas registrou 107,8 mil casos até o momento, com 4,2 mil óbitos – letalidade de 3,96% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.  

Nesta semana, 13 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos em relação ao número de novos casos no Estado de São Paulo na semana passada. As novas mortes apresentaram taxas crescentes em 9 dos 17 departamentos do Estado. Em relação à semana anterior, o ritmo de avanço da pandemia continua desacelerando no DRS-Campinas, o número de novos casos e de novas mortes seguem diminuindo, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2.

Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas 

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas 

Foram registrados, nesta semana, 5,7 mil casos no DRS-Campinas (variação de -28,72%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes casos, 3,8 mil foram registrados na RMC (var. -25,22%) e 1,2 mil em Campinas (var. -20,12%). Foram 166 mortes no DRS-Campinas (var. -20,95%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 146 ocorreram na RMC (var. 6,57%) e 53 em Campinas (var. -18,46%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios. 

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho  

Neste momento, os municípios com maior incidência são Paulínia, Holambra e Santo Antônio de Posse, com 14.677,7, 13.930,8 e 13.781,8 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. É válido lembrar que a incidência é fortemente influenciada pela amplitude da testagem em cada município. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de incidência, no estado de São Paulo, com corte em 12.989 casos por 100 mil habitantes. 

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho 

Além disso, Santa Bárbara d’Oeste, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 412,7, 373,9 e 363,4 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 364 mortes por 100 mil habitantes.  

Análise dos especialistas

Dando continuidade ao que foi decretado pelo Governo do Estado no dia 07/07/2021, todos os departamentos regionais de saúde, que estavam em fase de transição do Plano São Paulo, não têm mais restrições de horários e capacidade desde o dia 17/08. Por parte do Governo do Estado, restam apenas as regras do protocolo de higienização, utilização de máscaras e distanciamento de no mínimo 1 metro em ambientes públicos. Cabem às prefeituras dos municípios determinar qualquer regra ou restrição de acordo com as necessidades da região, como são os exemplos de Bauru e São Carlos, que adiaram a flexibilização total das restrições. Eventos com público em pé, como shows e torcidas em estádios estão previstos para retorno no mês de novembro.

Do ponto de vista da saúde, dados da fundação SEADE9 evidenciaram queda de 12,7% nas novas internações em UTI COVID no DRS-Campinas. Foram 731 internações contra 837 na semana anterior. Felizmente, a pressão sobre o sistema segue em diminuição. No dia 20/08, a ocupação dos leitos públicos de UTI-COVID era de 70%10.

Em relação à campanha de vacinação, no dia 20/08, o município chegou a 65,3% da população imunizada com a primeira dose e 30,6% da população completamente imunizada (2 doses ou dose única) 11. Cerca de 14% dos indivíduos acima de 18 anos ainda não receberam nenhuma dose de vacina. 

Apesar do cenário favorável desenhado pelos números da evolução da pandemia na região, a preocupação com impacto da introdução da variante é grande. Nos últimos meses viemos assistindo a diversos exemplos externos do que pode ocorrer com a substituição da variante circulante pela Delta. E, mais recentemente, os números da cidade do Rio de Janeiro12 já parecem adiantar o que possivelmente ocorrerá no resto do país. Inicialmente, uma grande elevação nos casos e, posteriormente, a depender da cobertura vacinal com duas doses de cada local, aumento de hospitalizações e óbitos.  

De acordo com a Rede Genômica Fiocruz13, dados atualizados em 17/08, apontam que 55% das últimas amostras sequenciadas do estado de São Paulo correspondem à variante delta. No dia 10/08, esse número era de 39%. São dados muito preocupantes, pois podemos vir a enfrentar situação semelhante à de outros países em algumas semanas.  

De forma lamentável (mas pouco surpreendente), o Governo de São Paulo tomou a decisão de dissolver o Centro de Contingência com 21 especialistas e criar um Comitê com nove membros para aconselhar o governo14. Apesar de o governador colocar a melhora da situação epidemiológica do estado como justificativa para esta ação, aparentemente o real motivo foi a discordância de parte dos especialistas em relação aos caminhos escolhidos pelo governo para conduzir a reabertura das atividades econômicas. No dia 20/08, foi publicada uma entrevista do Professor Marcos Boulos15, integrante do extinto Centro de Contingência, deixando claro o posicionamento de parte do grupo: “O médico infectologista Marcos Boulos disse hoje, em entrevista ao UOL News, que o governo de São Paulo estava “ignorando” a opinião médica dos membros do Centro de Contingência do Coronavírus (…) Ex-membro do comitê, Boulos declarou que o centro estava “incomodando o governador” por indicar ações contrárias às flexibilizações anunciadas pelo político para o estado”. Boulos afirmou ainda que “A previsão é que nós tenhamos um aumento de casos agora com a variante delta. Então, essa abertura é inoportuna. Para qualquer economia que abra e tenha que fechar outra vez depois que ele arruma todo o seu organismo para começar a trabalhar e tem que retroagir é muito ruim. (…) A parte econômica é um reflexo de uma guerra [sanitária] não resolvida. Não adianta se você investir na economia se você não resolver o problema de saúde”. 

No dia 17/08, imediatamente após o anúncio do governo do estado sobre a dissolução do Centro de Contingência e extinção das medidas restritivas no estado, a Diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia publicou uma nota16 reforçando a preocupação da instituição com as flexibilizações justamente em um momento de franca disseminação da variante delta no país e cobertura vacinal completa ainda muito baixa. A nota traz também exemplos das situações vividas em outros países para justificar a necessidade de maior cautela do governo do estado. 

Entretanto, a fala do Dr. João Gabbardo, na entrevista coletiva de 20/0817, deixou claro o entendimento do estado sobre o momento atual: “nosso planejamento não é feito em função do aparecimento ou do percentual alto de casos da variante Delta e sim se essa variante está ocasionando alguma alteração nos indicadores do Estado de São Paulo”. Ou seja, a realidade que está posta em outros países ou mesmo no Rio de Janeiro, aparentemente, não é suficiente para que as ações do Estado de São Paulo sejam tomadas com mais cautela. As ações de combate a uma epidemia, ainda mais quando se trata de uma epidemia por doença de transmissão pessoa a pessoa com alta transmissibilidade, devem ser oportunas, ou seja, há um momento adequado para implantar determinadas ações. O atraso nesse caso pode custar vidas. Gabbardo coloca que seria inadequado tecer comparações com outros países, pois em vários deles medidas de controle como o uso de máscaras e a liberação para eventos com aglomerações haviam sido flexibilizadas antes do aumento de casos, algo que não havia ocorrido em São Paulo. Entretanto, não há dúvida de que uma parte da população paulista segue não utilizando máscaras de forma adequada e aglomerações seguem ocorrendo, a despeito das recomendações e fiscalizações. Logo, apoiar as ações de flexibilização neste argumento deixa clara a transferência quase total da responsabilidade de contenção da transmissão para as ações individuais das pessoas. Seria o equivalente a imaginar que: como observamos uma boa adesão da população às recomendações para evitar aglomerações e utilizar de forma adequada máscaras de boa qualidade passaremos “ilesos” à chegada e ao estabelecimento da variante Delta. O detalhe é que, infelizmente, como colocado acima, as aglomerações seguem ocorrendo, e o uso de máscaras, de maneira geral, ainda está longe do que seria o adequado. É uma estratégia bastante arriscada e se ela, por fim, se demonstrar equivocada, muitas mortes evitáveis terão ocorrido.  

Em um artigo de opinião intitulado “Euforia de ‘fim de guerra’ com a Covid é incompreensível”, publicado no dia 17/08 na Folha de São Paulo18, alguns dos integrantes do extinto Centro de Contingência clamam por mais cautela: “É urgente e imperativo que os riscos da variante delta entrem no discurso de nossas autoridades de saúde. A cada dia ela se dissemina mais pelo Brasil. Diante de aumentos de casos e mortes ou da sobrecarga sobre o sistema de saúde, precisamos estar prontos para, infelizmente, retroceder, em tempo oportuno, às medidas restritivas.” 

Para complementar a discussão, dois fatos merecem destaque pela grande preocupação que geram. Voltou a aumentar a proporção de idosos, sobretudo acima de 70 anos, entre hospitalizações e óbitos no Brasil. Certamente isso deve-se, em parte, ao avanço da vacinação para pessoas mais jovens. Mas o outro fato que merece preocupação e também explica, em parte, o dado anterior é a documentação da menor efetividade das vacinas em populações mais idosas, sobretudo acima de 80 anos. Em estudo brasileiro publicado recentemente11 foi observado que a efetividade do esquema com duas doses da vacina Coronavac para idosos acima de 80 anos foi de 38,9% para hospitalizações e de 44% para óbito, enquanto esses valores para pessoas de 70 a 74 anos foram de 66,7% e 83,9%, respectivamente. Vale ressaltar que o estudo foi realizado em um contexto de predominância da circulação da variante Gama. Apesar de praticamente todas as vacinas em uso no Brasil continuarem com uma boa proteção contra a variante Delta, alguma redução de efetividade pode ocorrer, sobretudo durante o período em que apenas uma dose de vacina tiver sido aplicada. É natural que pessoas mais idosas tenham resposta inferior a vacinas de uma maneira geral. Além disso, como essas faixas etárias foram priorizadas na campanha de vacinação, atualmente para muitas pessoas já se passou mais de 6 meses da vacinação, o que pode também influenciar na efetividade da vacina. Sendo assim, uma discussão tem ganhado destaque no Brasil e no mundo: 3ª dose de vacina. Em outros países essa estratégia já foi iniciada. No Brasil ainda não há um posicionamento do Ministério da Saúde. 

O fato é que algo precisa ser feito ante esse complexo cenário de extinção quase completa de medidas restritivas e clima de “a pandemia acabou”, baixa cobertura vacinal completa (duas doses ou dose única da Janssen) e disseminação da variante Delta. Já há tempos não esperamos nada do governo federal (a fala do Ministro da Saúde contra obrigatoriedade de máscaras19 é triste, mas não surpreende) e na última semana o governo estadual deu claras demonstrações de que fechou os olhos para uma possibilidade de piora do cenário nas próximas semanas e não pretende voltar atrás na extinção das medidas restritivas no Estado de São Paulo (por exemplo, durante entrevista coletiva sobre o GP de Fórmula 1 em São Paulo, foi apontado que há “0%” de risco de cancelamento do evento20). 

Sendo assim, segue a recomendação para reforçar os cuidados individuais para a prevenção da infecção pelo vírus Sars-Cov-2: evitar aglomerações, permanecer o menor tempo possível em ambientes mal ventilados, manter distanciamento físico de outras pessoas, utilizar máscaras de boa qualidade e higiene das mãos após contato com outras pessoas e com superfícies.

Do ponto de vista econômico e social, apesar de ainda positivos, os indicadores de atividade e de emprego dão sinais de desaceleração para economia regional e nacional. Preocupa o aumento dos preços num contexto ainda de elevada taxa de desemprego, e a ameaça da disseminação da variante delta no Brasil. No momento, a confiança e o desempenho das pequenas indústrias continuam positivos, ao mesmo tempo que o número de vacinados tem atingido patamares mais elevados.  

O IBC-Br, uma prévia do PIB, teve alta de 0,12%, enquanto a alta do primeiro trimestre foi de 1,63%. Para os serviços, setor de atividade mais importante na RMC, os indicadores de atividade do IBGE apontam para alta de 1,7% em julho/2021, em comparação com o mês anterior. Porém, houve estagnação na atividade industrial – segundo setor mais importante para região — e queda de 1,7% na atividade do comércio. Apesar da desaceleração, o saldo do emprego ainda é bastante positivo na região, com 38,06 mil vagas até junho/2021, de acordo com os dados do novo Caged. O Índice de Desempenho das Pequenas Indústrias (IDPI – CNI) exibiu melhora tanto em relação ao primeiro como em relação ao segundo trimestre de 2021 – o índice atingiu 46,5 pontos no 2T/21, 43,9 no 1T/21 e 34,1 no 2T/20, quando os efeitos da crise sanitária se mostraram mais graves.  No entanto, o alto custo das matérias-primas prejudicam a retomada deste segmento.  

Em relação aos preços, O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, continua em alta, atingindo 35,75% em 12 meses, em junho/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. O IPCA, acumulado de 12 meses, atingiu 8,35% em junho/21, quando o centro da meta de inflação para o ano é de 3,75%.  A subida do IPCA foi puxada, sobretudo, pelo aumento da energia elétrica, mas os alimentos, gás de cozinha e combustíveis continuam em alta, comprometendo a renda, sobretudo, dos mais pobres. O aumento recente da taxa básica de juros, para 5,25%, buscando conter o aumento dos preços, deve segurar ainda mais a recuperação da atividade econômica.   Atualmente, no DRS-Campinas, aproximadamente 67,5% da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto 27,2% receberam a segunda dose ou a vacina de dose única. A ameaça da variante delta, no entanto, já tem causado preocupações visíveis nos mercados financeiros, piorando as expectativas de crescimento da demanda por bens e serviços no mundo.

ANEXOS

Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduanda em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Graduanda em Administração pela PUC-Campinas e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[6] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[7] Dados do Ministério da Saúde

[8] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[9] – https://www.seade.gov.br/coronavirus/#

[10] – https://covid-19.campinas.sp.gov.br/epidemiologico/diario 

[11] –https://www.campinas.sp.gov.br/noticias-integra.php?id=41120 

[12] –https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/boletim_covid_2021-semanas_31-32-red_1.pdf

[13] –http://www.genomahcov.fiocruz.br/dashboard/


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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