COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas – V1|N19|Semana 38(13/09 a 19/09)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 19/09, o Brasil notificou 4,52 milhões de casos e 136,5 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 30,3 mil novos casos e 760 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 13/09 e encerrada em 19/09 – semana epidemiológica de número 38, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 13/09, foram notificados 99,4 mil casos e 3,1 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,64%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 73,5 mil casos e 2,3 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,15%. Por fim, o município de Campinas registrou 30,2 mil casos até o momento, com 1.182 óbitos – letalidade de 3,90% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

Em linhas gerais, 5 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes decresceram a ritmo maior, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 4,07 mil casos (+5,4%); RMC, 2,8 mil casos (+3,37%); e Campinas, 1.003 casos (+22,61%). Em relação à semana passada, as novas mortes cresceram no DRS-Campinas, com 149 óbitos (+21,13%); na RMC, 120 (+29,03%); e Campinas, 63 (+31,25).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Monte Alegre do Sul, com 710 e 722 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Itupeva são os municípios com maior incidência, todos com mais de 2.500 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 12 dos 42 municípios do DRS-Campinas e dez dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 2.123,9 casos por 100 mil habitantes.  

Até o momento, 3 dos 42 municípios do DRS-Campinas não declararam mortes pela Covid-19.  Por outro lado, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 97 e 100 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Santa Bárbara d’Oeste são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 100 e 84, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 57 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 11/09, todos os departamentos regionais de saúde se encontram na fase amarela. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do estado.

Da perspectiva da saúde, O aumento percentual significativo no registro de casos e óbitos no município de Campinas e na região, nesta última semana, faz as luzes de alerta piscarem com mais intensidade. Conforme vem sendo ressaltado nas últimas notas e por diversas autoridades, à medida que a flexibilização aumenta, a responsabilidade individual para seguir as recomendações também aumenta. E, se a adesão às medidas de controle diminui, a possibilidade de o número de casos aumentar fica mais clara. É possível, portanto, que os números da última semana estejam começando a refletir um movimento como esse. Passadas duas semanas do último feriado nacional, a falta de cuidado com as medidas básicas de proteção, escancarada em imagens vistas por todos em praias e bares, corrobora essa hipótese. É fácil imaginar também que essa falta de cuidado com as medidas de proteção pode ter aumentado em reuniões familiares e de amigos (não tão visíveis como as aglomerações em áreas “públicas”). Segundo o secretário de Saúde de Campinas, Dr. Cármino de Souza, conforme transmissão na última sexta-feira (18/09), houve aumento de procura por atendimentos na Rede Mário Gatti por pacientes com sintomas gripais e aumento na demanda por leitos de internação em enfermarias, essencialmente por pacientes jovens.

O número de reprodução é um indicador bastante utilizado em epidemiologia que, grosso modo, estima quantos casos secundários podem ocorrer a partir de um indivíduo doente, ou seja, para quantas pessoas, em média, um doente transmite a doença. Quando este valor está acima de 1, entende-se que a epidemia está em expansão; quando está igual a 1, estabilidade; e abaixo de 1, indicaria um declínio da epidemia.  De acordo com dados do site Observatório Covid-19 BR[1], o Número Reprodutivo Efetivo (Re) calculado para o município de Campinas, com dados atualizados em 18/09, era de 1,04 em 07/09, ou seja, após dois meses de valores quase sempre abaixo de 1, ultrapassamos essa linha, indicando uma chance de estarmos entrando em uma nova fase de aceleração da epidemia. O intervalo de confiança entre 0,64 e 1,5, entretanto, traz uma incerteza significativa sobre o dado, de modo que devemos ficar atentos às atualizações do indicador, sobretudo com as estimativas desta última semana epidemiológica.

Certamente, é pouco tempo de observação para identificar qualquer tendência, mas esses fatos nos colocam num patamar de preocupação superior ao das últimas semanas.

Do ponto de vista econômico e social, a pandemia continua afetando a atividade econômica e as oportunidades de geração de renda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas está, há mais de um mês, na “fase amarela”. Neste momento, podem funcionar, com restrições, bares e restaurantes, salões de beleza, academias, escritórios, cursos livres, aulas práticas de autoescolas, além do relaxamento das restrições ligadas à fase anterior para o comércio e shoppings. A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indicava, parecia estar baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária. Porém, um novo aumento das mortes por semana na região preocupa a sustentabilidade das reaberturas. Além disso, a recuperação econômica, infelizmente, vai depender de outros fatores para além das permissões para funcionamento dessas atividades.

Em relação à atividade econômica nacional, os dados de julho revelam que houve aumento da atividade na comparação entre junho e julho/2020 – indústria (+8,0%), comércio (+5,2%) e serviços (2,6%). No entanto, a comparação com os meses entre janeiro-julho do ano passado mostra que a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do coronavírus – indústria (-9,6%), comércio varejista (+1,4%) e serviços (-8,9%). 

Por outro lado, o PIB do segundo trimestre caiu 9,7% na comparação com o primeiro trimestre, que já havia apresentado queda de 2,5%. Os dados do mercado de trabalho preocupam, já que contrastam com os resultados relativamente positivos na recuperação da atividade econômica nacional e podem indicar a debilidade da aposta em uma retomada baseada no consumo das famílias. Na última semana de agosto, a taxa de desemprego apresentou alta, chegando a 14,3%, a maior desde o início da série da PNAD-Covid. Além disso, as reduções de cargos e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 16,3 milhões de pessoas não procuram trabalho devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 30,1% dos trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido no mesmo período. Em julho/2020, aproximadamente 35% dos domicílios paulistas receberam o auxílio emergencial, média de R$ 896,00 por domicílio.

O número de pessoas que não procuram emprego por conta da pandemia tem diminuído, o que deve naturalmente aumentar o número de desempregados, isto é, pessoa que procura, porém não encontra emprego. O número de pessoas que deixaram de procurar emprego, isto é, os desalentados, chegou a 18,5 milhões de pessoas nas semanas anteriores. O número de famílias recebendo o auxílio emergencial, no entanto, sofreu aumentos nas últimas semanas — no Brasil são 44,1% dos domicílios recebendo o auxílio. A retomada do consumo das famílias vai depender, criticamente, da manutenção do auxílio emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim das reduções de cargos e salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos na manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando. De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. O governo insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O setor externo tem mostrado sinais de recuperação, sobretudo nos países que melhor controlaram a pandemia, com viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. No entanto, importante ressaltar que as exportações representam aproximadamente 14% do PIB brasileiro, isto é, parecem pouco suficientes para puxar taxas de crescimento significativas da produção nacional no curto prazo. Como complicador, há o aumento da preocupação com um possível movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, entre outros. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já tendo reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 14,47% em 12 meses, até agosto 2020.  Esse índice captura aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Nesse contexto, a retomada da demanda interna, via consumo das famílias ou gasto do governo, deverá ser acompanhada de políticas de mitigação do aumento dos custos de insumo, como, por exemplo, a valorização do real em relação ao dólar.

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo. 


ANEXO – 2 Curva de novos casos e mortes nos DRS-São Paulo – Interior



[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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