COVID-19 na Região de Campinas – Informativo Covid-19 Campinas V1|N14|Semana 33 (09/08 a 15/08)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 15/08, o Brasil notificou 3,03 milhões de casos e 100,4 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 43,52 mil novos casos e 965 novas mortes por dia. Infelizmente, embora as mortes por milhão figurem entre as mais baixas, o país ainda é o primeiro no ranking mundial da Covid-19, em relação à taxa de crescimento diária do número de mortos.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 15/08, foram notificados 73,1 mil casos e 2,3 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,21%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[5]) foram 54,8 mil casos e 1,6 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,06%. Por fim, o município de Campinas registrou 23,5 mil casos até o momento, com 874 óbitos – letalidade de 3,7% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 09/08 e encerrada em 15/08 – semana epidemiológica de número 33, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Em linhas gerais, 9 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do Estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendado desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do Estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes cresceram a ritmo maior, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1.

  A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 9,9 mil casos (+9,65%); RMC, 7,5 mil casos (+5.53%) e Campinas, 2,9 mil casos (+14,26%). Em relação à semana passada, as novas mortes aumentaram no DRS-Campinas, 224 óbitos (-7,43%); na RMC, 176 (-13,30%). Já em Campinas houve um decréscimo, 77 (+2,66%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Monte Alegre do Sul, com 410 e 425 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Hortolândia são os municípios com maior incidência, todos com mais de 2.000 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 12 dos 42 municípios do DRS-Campinas e dez dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 1388.4 casos por 100 mil habitantes.

 Até o momento, 5 dos 42 municípios do DRS-Campinas não declararam mortes pela Covid-19.  Por outro lado, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 83 e 74 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Nova Odessa são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 74 e 58 respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no Estado de São Paulo, com corte em 41 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do Estado de São Paulo.

A reclassificação do DRS de Campinas para a fase “amarela” permitiu que os municípios da região reabrissem o comércio e demais atividades previstas. De acordo com último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 14/08, apenas as regiões de Franca e Registro estão na fase vermelha. Os demais departamentos estão na fase amarela, com exceção dos DRS de Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Barretos e as regiões norte e oeste da Grande São Paulo, as quais continuam na fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do estado.

Da perspectiva da saúde, a Região segue na fase amarela do plano São Paulo sem grandes variações dos indicadores. Estamos entrando na quarta semana após volta à fase laranja e na segunda semana após progressão à fase amarela. O pequeno aumento no registro de casos que vem sendo observado em Campinas e região é multifatorial. Testagem universal das síndromes gripais e algumas mudanças nos critérios para confirmação de casos podem justificar em boa parte esse aumento. Entretanto é possível também que a maior circulação de pessoas propiciada com a progressão da flexibilização já tenha algum papel. A média móvel dos últimos 7 dias em Campinas tem ficado na faixa de 400 casos registrados. No final de junho esse valor era cerca de 300. Apesar disso não houve aumento de internações e óbitos e a pressão sobre o sistema de saúde foi reduzida (taxas de ocupação de leitos COVID intensivos começam a se manter abaixo dos 80%). A média móvel do registro de óbitos está em 11 atualmente e taxas de ocupação em torno de 80%, ao passo que no final de junho essa média móvel era de 15 e as taxas de ocupação em torno de 90% (lembrando que chegamos a ficar por alguns dias com 100% dos leitos SUS municipais ocupados).

O número de reprodução efetivo calculado pelo Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas e publicado no último boletim epidemiológico [7] vinha permanecendo durante quase todo o mês de julho abaixo de 1 ( o que indicaria uma tendência de diminuição progressiva no número de casos novos). Mas os últimos cálculos já indicavam uma leve tendência de aumento no início de agosto, passando a ficar acima de 1.

Dessa forma, é essencial que as medidas para evitar o contágio sejam cada vez mais reforçadas. Vale lembrar que quanto maior for a flexibilização, mais precisaremos do entendimento e participação da população para não permitir um aumento expressivo do número casos, o que nos levaria de volta à situação caótica que vivemos no fim de junho, com aumento de internações, da pressão ao sistema de saúde e óbitos.

Do ponto de vista econômico e social, esta foi a primeira semana do DRS de Campinas na fase amarela. Neste momento, podem funcionar, com restrições, bares e restaurantes, salões de beleza, academias, escritórios, cursos livres, aulas práticas de autoescolas, além de relaxamento das restrições ligadas à fase anterior para o comércio e shoppings. A sustentabilidade dos avanços na flexibilização vai depender da eficácia dos protocolos na contenção da crise sanitária, mas a recuperação econômica, infelizmente, vai depender de outros fatores para além das reaberturas.

Em relação à atividade econômica nacional, com base nos dados liberados após a publicação do último balanço do Observatório PUC-Campinas, houve aumento da atividade na comparação entre maio e julho/2020 — indústria (+8,9%), comércio (+8,0%) e serviços (5,0%). No entanto, a comparação com os meses entre janeiro-julho do ano passado, mostra que a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do coronavírus – indústria (-10,9%), comércio varejista (-3,1%) e serviços (-8,3%). 

A alta na indústria de transformação foi ainda maior na comparação mês a mês, registrando 9,9%. Em relação aos principais setores de atividade na RMC, a boa notícia é que o setor de fabricação de veículos cresceu 70%, enquanto outros produtos químicos cresceram 7,1%; fabricação de máquinas e equipamentos, 10,6%; produtos de borracha e material plástico, 17,3%; e têxteis, 34,2%, na comparação mensal. Juntos, esses setores respondem por aproximadamente 57% da massa salarial da indústria de transformação regional.

Por outro lado, os dados do mercado de trabalho preocupam, já que contrastam com os resultados relativamente positivos na recuperação da atividade econômica nacional. Após aumento a partir do final de maio, a  taxa de desocupação chegou ao pior patamar desde a primeira semana de maio, atingindo 13,7% na última semana de julho/2020, para o Brasil. Embora o número possa parecer baixo frente à dimensão da crise, as reduções de carga e salários, bem como o desalento, camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 18,5 milhões de pessoas não procuram trabalho devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 35,9% dos trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido em junho de 2020. Nesse mesmo mês, aproximadamente 1/3 dos domicílios paulistas receberam o auxílio emergencial, média de R$881,00 por domicílio.

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender, em boa medida, da retomada da capacidade de consumo das famílias, sobretudo em um contexto de políticas econômicas avessas à ampliação do gasto público. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses.

ANEXOS

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo. 

ANEXO – 2 – Curva de novos casos e mortes nos DRS-São Paulo – Interior


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


Estudo Anterior

Próximo Estudo

Boletim Observatório

Assine nosso boletim e receba no seu e-mail atualizações semanais