COVID-19 na Região de Campinas V1|N10|Semana 29 (12/07 a 18/07)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 18/07, o Brasil notificou 2,07 milhões de casos e 78,7 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 33,5 mil novos casos e 1,04 mil novas mortes por dia. Infelizmente, embora as mortes por milhão figurem entre as mais baixas, o país ainda é o primeiro no ranking mundial da Covid-19, em relação à taxa de crescimento diária do número de mortos.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 12/07 e encerrada em 18/07 – semana epidemiológica de número 29, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo, com destaque para a Região Metropolitana de Campinas.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de novas mortes e casos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até o momento, foram notificados 36,2 mil casos e 1,4 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,8%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[5]) foram 26 mil casos e 930 óbitos, até o momento – letalidade de 3,5%. Por fim, o município de Campinas registrou 12,8 mil casos até o momento, com 538 óbitos – letalidade de 4,1%.

Tabela 1 – Casos e Óbitos nos Departamentos Regionais de Saúde do Estado de São Paulo

Em linhas gerais, à exceção de Taubaté, todos os Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. Além disto, destaca-se o DRS da Baixada Santista, que apresentou a maior queda no número de novos casos.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia aumentou no DRS-Campinas, os casos e mortes cresceram a ritmo menor, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

Figura 1. Curva Epidemiológica Região de Campinas

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 5,1 mil casos (-22,8%); RMC, 3,9 mil casos (-28,9%); e Campinas, 1,5 mil casos (-32,1%). Em relação à semana passada, as novas mortes aumentaram, contabilizando, no DRS-Campinas, 215 (1,4%) óbitos; na RMC, 164 (6,4%); e em Campinas, 92 (12,1%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Pedreira e Pedra Bela, com 116 e 134 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Campinas são os municípios com maiores incidências, todos com mais de 1096 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 12 dos 42 municípios do DRS-Campinas e oito[7] dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 657 casos por 100 mil habitantes.  

Figura 3. Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Até o momento, 9 dos 42 municípios do DRS-Campinas e um[8] dos 20 municípios da RMC não declararam mortes pela Covid-19. Por outro lado, Jundiaí e Jarinu continuam entre os piores municípios do DRS-Campinas, com 61 e 57 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas, Nova Odessa, Engenheiro Coelho e Indaiatuba são, neste momento, os municípios com os piores coeficientes de mortalidade – 45, 34, 29 e 28 respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Estes municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de morte a cada 100 mil habitantes, no estado de São Paulo.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo. O DRS-Campinas foi reclassificado para fase vermelha, ou fase 1, desde o dia 03/07. Portanto, somente as atividades classificadas como essenciais poderão funcionar enquanto perdurar a restrição.

De acordo com o último relatório do Governo do estado, publicado no dia 17/07, as regiões de Campinas, Ribeirão Preto, Franca e Araçatuba estão na fase vermelha. A Baixada Santista e a Grande São Paulo progrediram para a faixa amarela, e os demais departamentos estão na fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de abertura do estado.

Da perspectiva da saúde, nessa última semana foi possível observar uma diminuição significativa no número de casos novos em toda região. A região metropolitana de Campinas, que vinha, até o momento, sempre com números crescentes de casos novos, teve nesta última semana sua primeira diminuição, muito impactada certamente pela desaceleração no aumento de casos na cidade de Campinas. Observando a média móvel de casos novos no município Campinas é possível verificar a existência de um “platô”, na faixa dos 300 casos diários, com uma tendência de diminuição dessa média nesta última semana epidemiológica. Aproveitando o termo utilizado pelo secretário de saúde de Campinas, a situação parece ter “parado de piorar”. Não devemos, obviamente, falar em melhora da situação ainda com um número tão elevado de casos novos diários e alta demanda por leitos intensivos. As taxas de ocupação tanto de leitos SUS como de leitos privados seguem ainda acima de 80% (em torno de 90% considerando somente os leitos SUS) e a curva de óbitos segue ainda em ascensão, refletindo o histórico natural da doença, que determina um tempo prolongado entre a internação do paciente com um quadro grave e o seu desfecho, óbito ou alta. Esse tempo tem sido em média de cerca de 15 dias nos hospitais de Campinas. Caso o número de casos novos siga nessa tendência de estabilização e queda, é possível que nas próximas notas possamos verificar também uma diminuição também nos óbitos. A decisão pela permanência da região na fase vermelha do plano estadual foi bastante acertada e pode contribuir para que essa tendência de diminuição dos casos novos na região se estabeleça de fato. Seguimos observando.

Do ponto de vista econômico e social, o agravamento da crise econômica demanda soluções estratégicas combinadas com medidas de assistência social para os mais vulneráveis, para que possamos mitigar os efeitos dramáticos sobre a renda e o emprego. Porém, a falta de articulação entre as prefeituras que compõem os polos econômicos regionais e outras questões que tornam os níveis de isolamento social abaixo do esperado vão certamente atrasar o retorno seguro às atividades econômicas. Caso o número de novos casos continue decrescendo nas próximas semanas, será possível pensar nova reabertura com a implementação de protocolos mais eficientes para o funcionamento das atividades econômicas. Esse momento é completamente distinto do verificado na última tentativa de abertura do comércio na região.

Em relação aos indicadores da atividade econômica, a produção industrial brasileira teve aumento de 7% na comparação entre maio/2020 e abril/2020, de acordo com os dados do IBGE, após tombo de 18,8% em abril. Em relação a maio/2019, a queda foi de 21,9% em maio/2020. O comércio cresceu 13,9% na comparação entre abril e maio/2020, porém registou queda de 7,2% em relação ao maio/2019.

É preciso, no entanto, ter cautela sobre o otimismo desses indicadores, haja vista a dependência do cenário econômico ante a evolução da pandemia e a incerteza sobre a mesma. Os últimos dados da PNAD Covid-19 mostram que a taxa de desocupação vem crescendo e atingiu 13,1% na última semana de junho. Em São Paulo, 28,8% dos domicílios receberam auxílio emergencial no mês de maio.  O nível de ocupação em maio esteve em aproximadamente 50% da população economicamente ativa[9]. A relativa baixa taxa de desocupação é resultado, sobretudo, do desalento e da redução de carga horária e salários que disfarçam a desocupação. Uma interpretação mais realista dos indicadores aponta, como já esperado, que a pandemiaterá efeitos mais duradouros sobre a atividade econômica. Em outras palavras, a possível lentidão na recuperação da renda e da confiança deverá atrasar a retomada econômica, impactando todos os setores de atividade, mesmo após o surgimento de uma vacina ou algum tratamento mais eficaz contra a doença. No entanto, os afastamentos ou redução de carga e salários poderão acelerar em algum grau a recuperação, a depender da força do efeito da queda nos rendimentos.

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo. 


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] São esses: Paulínia, Campinas, Valinhos, Monte-Mor, Vinhedo e Sumaré, que entrou para o grupo dos municípios de maior incidência esta semana.

[8] Holambra, após a primeira morte em Santo Antônio de Posse.

[9] Dados disponíveis em https://covid19.ibge.gov.br/pnad-covid/.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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