COVID-19 na Região de Campinas V1|N11|Semana 30 (19/07 a 25/07)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 25/07, o Brasil notificou 2,3 milhões de casos e 86,4 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 45,6 mil novos casos e 1,09 mil novas mortes por dia. Infelizmente, embora as mortes por milhão figurem entre as mais baixas, o país ainda é o primeiro no ranking mundial da Covid-19, em relação à taxa de crescimento diária do número de mortos.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 19/07 e encerrada em 25/07 – semana epidemiológica de número 30, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de novas mortes e casos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 25/07, foram notificados 44,8 mil casos e 1,6 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,5%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[5]) foram 32,7 mil casos e 1,1 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,4%. Por fim, o município de Campinas registrou 15,6 mil casos até o momento, com 634 óbitos – letalidade de 4,0% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

Tabela 1 – Casos e Óbitos nos Departamentos Regionais de Saúde do Estado de São Paulo

Em linhas gerais, todos os Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendado desde 02/07 mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes cresceram a ritmo maior, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

Figura 1. Curva Epidemiológica Região de Campinas

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 8,5 mil casos +65%); RMC, 6,6 mil casos (+68%); e Campinas, 2,7 mil casos (+84%). Em relação à semana passada, as novas mortes aumentaram, contabilizando, no DRS-Campinas, 250 (+16%) óbitos; na RMC, 197 (+20%); e em Campinas, 96 (+4,3%). Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos  últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Monte Alegre do Sul e Pedreira, com 180 e 182 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Itupeva são os municípios com maior incidência, todos com mais de 1.400 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 13 dos 42 municípios do DRS-Campinas e dez dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 847 casos por 100 mil habitantes.  

Figura 3.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Até o momento, 8 dos 42 municípios do DRS-Campinas e um[8] dos 20 municípios da RMC não declararam mortes pela Covid-19.  Por outro lado, Jundiaí e Cabreúva continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 67 e 64 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Engenheiro Coelho são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 53 e 43 respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 28 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo. No entanto, nesta semana que se inicia, a reclassificação do DRS de Campinas para a fase “laranja” permitiu que os municípios da região reabrissem o comércio e demais atividades previstas.

De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 24/07, as regiões de Franca, Ribeirão Preto e Piracicaba estão na fase vermelha. A Baixada Santista, a Grande São Paulo e Araraquara estão na fase amarela. Os demais departamentos estão na fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do estado.

Da perspectiva da saúde, nesta última semana houve aumento expressivo no número de novas confirmações de casos na região metropolitana de Campinas. Entretanto, há algumas considerações a serem feitas para melhor entender esses números. Nas coletivas de imprensa da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo foi apontada a ocorrência de instabilidades no sistema de notificação de casos leves (E-SUS / síndromes gripais) em nível federal, de modo que muitos casos que deveriam ter sido registrados na semana epidemiológica anterior ficaram “represados” e acabaram sendo divulgados de uma vez.  Até o dia 23/07 as médias móveis dos últimos 7 dias vinham, automaticamente, aplicando uma correção nos dados de modo que o número de casos novos diários vinha se mantendo entre 600 e 700 casos (semelhantes à semana anterior). Entretanto, nos dias 24 e 25/07 houve um registro de um número ainda alto de casos, fazendo a média móvel de fato se elevar para mais de 900 casos diários. Há outras variáveis a serem colocadas nessa equação. Houve uma discreta mudança no critério de definição para as síndromes gripais, foram incluídas a perda do olfato e a perda do paladar como sintomas que podem compor a síndrome e permitir a definição de caso. Mais importante, foram ampliados os critérios para a realização de coleta de testes diagnósticos para as síndromes gripais. No início da epidemia, apenas os casos graves eram investigados. Posteriormente, houve ampliação para síndromes gripais em pacientes com alto risco para complicações, até chegar, recentemente, à testagem universal que, sem dúvida, é o melhor cenário possível para entender com mais precisão o comportamento da epidemia. Dessa forma, é bastante provável que essa mudança trará alguma dificuldade na interpretação das curvas de casos novos, visto que ampliação de testagem permitirá maior detecção de casos e proporcionará aumento das notificações de casos novos.

A análise ganha mais qualidade, com dados mais confiáveis, mas ganha uma pouco mais de complexidade. É importante que continuemos muito atentos às curvas de novos óbitos, dados sobre novas internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), bem como as taxas de ocupação dos leitos hospitalares destinados a pacientes com Covid-19, uma vez que esses dados não sofrerão interferência dessa ampliação de testagem e podem ser utilizados para comparações mais confiáveis. Apesar desse aumento no número de casos novos nesta última semana, as taxas de ocupação seguem estáveis, mas ainda elevadas no município de Campinas, cerca de 90% para os leitos SUS e 80% para a rede privada. Ou seja, a pressão sobre o Sistema de Saúde continua grande. Devido à redução da taxa de ocupação de leitos UTI COVID da DRS 07 (Campinas) para 78,3% na última avaliação do Plano São Paulo, foi possível a reclassificação da região para a fase laranja (limiar é de 80%), possibilitando algumas medidas de flexibilização.

Observemos atentamente os dados das próximas semanas, quando, além dos impactos da ampliação de testagem para as síndromes gripais, poderemos verificar o comportamento das curvas com as medidas de flexibilização.Do ponto de vista econômico e social, a novidade é a abertura do comércio e outras atividades permitas na fase “laranja”. Os dados da atividade econômica realmente preocupam, ainda que tenha havido alta na produção industrial e do comércio de acordo com os últimos dados do IBGE[9]. Porém, a falta de articulação entre as prefeituras que compõem os polos econômicos regionais, e outras questões que tornam os níveis de isolamento social abaixo do esperado, podem jogar os comerciantes em uma rotina de aberturas e fechamentos que dificultam muito o planejamento e a gestão de estoques.

É importante ressaltar que essa abertura vem em momento distinto do verificado na última tentativa de abertura do comércio, apesar de incertezas em relação às razões do aumento dos casos e ainda à alta taxa de ocupação dos leitos hospitalares.  

Reforçamos que o otimismo em relação aos últimos dados da indústria e do comércio é, inicialmente, precoce.  Os últimos dados da PNAD Covid-19 mostram que a taxa de desocupação vem crescendo e atingiu 13,6% na primeira semana de julho, em São Paulo. Agora são 33,4% dos domicílios recebendo o auxílio emergencial no estado. A relativa baixa taxa de desocupação é resultado, sobretudo, do desalento e da redução de carga horária e salários que disfarçam a desocupação.

Nesse sentido, preocupa muito a capacidade da economia se recuperar rapidamente, sobretudo pela redução da renda e do emprego que temos verificado. Em outras palavras, a possível lentidão na recuperação da renda e da confiança deverá atrasar a retomada econômica, impactando todos os setores de atividade, mesmo após o surgimento de uma vacina ou algum tratamento mais eficaz contra a doença. No entanto, os afastamentos ou redução de carga e salários poderão acelerar em algum grau a recuperação, a depender da força do efeito da queda nos rendimentos.

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo. 

ANEXO – 2 Curva de novos casos e mortes nos DRS-São Paulo – Interior


[1] Professor extensionista e economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/ Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Dados desagregados para Região Metropolitana de Campinas  e Municípios do DRS-Campinas disponíveis em https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

[7] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[8] Apenas Holambra, após o registro da primeira morte em Santo Antônio de Posse.

[9] Em relação aos indicadores da atividade econômica, a produção industrial brasileira teve aumento de 7% na comparação entre maio/2020 e abril/2020, de acordo com os dados do IBGE, após tombo de 18,8% em abril. Em relação a maio/2019, a queda foi de 21,9% em maio/2020. O comércio cresceu 13,9% na comparação entre abril e maio/2020, porém registrou queda de 7,2% em relação ao maio/2019.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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