Covid-19 na Região de Campinas

Equipe:
[1] Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador)
[2] André Giglio Bueno
[3] Felipe Pedroso de Lima [4] Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos

Informativo Covid-19 Campinas – V1|N04| Semana 23 (31/05 a 06/06)

A publicação dos números da pandemia tornou-se ainda mais importante após mudanças na divulgação dos dados do Ministério da Saúde, que acabaram por dificultar o acesso à informação por parte da população. A alteração ocorreu no momento em que o Brasil notificou 692 mil casos e 30,2 mil mortes pela covid-19, com 19 mil casos notificados entre os dias 7 e 8 de junho. Os números colocam o país no segundo lugar do ranking mundial da covid-19, mesmo diante da considerável subnotificação.

Entre outros motivos, o contexto motivou o Observatório da PUC-Campinas a ampliar o escopo das análises, incluindo os municípios do Departamento Regional de Saúde de Campinas (DRS-Campinas), e dados mais gerais sobre os demais Departamentos de Saúde do Estado de São Paulo, nas notas técnicas semanais. Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 31/05 e

encerrada em 06/06 – semana epidemiológica de número 23, para as autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A título de comparação, a Tabela 1 apresenta os números de casos e óbitos acumulados, bem como de novos casos e óbitos na semana de referência para os dezoito Departamentos Regionais de Saúde do Estado de São Paulo, com destaque para as estatísticas da Região Metropolitana de Campinas.  

O DRS-Campinas é, no momento, o terceiro em número de casos e óbitos, atrás apenas da Grande São Paulo e da Baixada Santista. Contabilizaram-se 2.286 novos casos e 93 novos óbitos em relação à semana epidemiológica anterior, evidenciando que a situação se agrava de maneira acelerada. A Região Metropolitana de Campinas (RMC[5]), por sua vez, notificou 4.562 casos e 186 óbitos, até o momento. Foram 1.447 novos casos e 48 novas mortes, crescimento de 75,8% dos casos e 26,3% dos óbitos em relação à semana epidemiológica anterior.


Infelizmente, esta é a pior semana epidemiológica da RMC desde o início da pandemia, como mostra a Figura 1

Como mostram as Figuras 2 e 3, a  incidência de casos e mortes por 100 mil habitantes também aumentou consideravelmente em relação aos níveis  verificados no último informativo divulgado pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-metropolitana-de-campinas-2/).

Neste momento, os municípios com menores incidências de casos são Pinhalzinho e Pedreira, com 13,5 e 17,18 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Jundiaí, Paulínia e Campinas são os municípios com maiores números relativos de casos notificados, todos com mais de 221 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 12 dos 42 municípios integrantes da DRS-Campinas e 4 dos 20 municípios da RMC estão  entre os 25% de maior incidência por 100 mil habitantes – corte em 145 casos por 100 mil habitantes.  

A partir dos mapas, verifica-se a manutenção da não linearidade entre o número de casos e mortes por 100 mil habitantes, como também ocorre no território nacional. Nota-se que 13 dos 42 municípios do DRS-Campinas e 5[7] dos 20 municípios da RMC ainda não declararam mortes pela covid-19.  Na outra ponta, Jarinu e Jundiaí figuram entre os piores do DRS-Campinas, com 26,8 e 19,9 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Indaiatuba, Campinas e Hortolândia são, neste momento, os municípios com as piores taxas de óbito por 100 mil habitantes. Indaiatuba e Campinas estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios paulistas com maiores taxas de morte a cada 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela implementação das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo. O DRS-Campinas foi classificado, inicialmente, na fase 2. Portanto, os prefeitos desses municípios puderam/podem autorizar, por meio de decretos, o funcionamento com restrições das imobiliárias, concessionárias, escritórios, comércio e shopping centers.

O aumento de casos verificado nos dados ocorreu após a publicação do decreto estadual (N.64.994/20). A maior parte dos municípios da RMC já implementaram medidas de relaxamento do isolamento, desde o dia 01/06/2020.  Mais especificamente, Americana, Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Barbara d’Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo permitiram a reabertura do comércio e outras atividades autorizadas pelo decreto estadual. Apenas Campinas e Cosmópolis não reabriram o comércio no mesmo período.

Do ponto de vista da saúde, observa-se, portanto, que o momento de início das reaberturas ocorre em meio a um aumento acelerado no número de casos e óbitos, de modo que os potenciais impactos de tais medidas de flexibilização causam grande preocupação. Entretanto, para aumentar a precisão das análises acerca deste impacto deve-se levar em conta algumas informações sobre a dinâmica da doença. Sabe-se que o período de incubação médio (período entre o contágio e o início dos sintomas) fica em torno de cinco a seis dias, podendo se estender até cerca de doze dias. O tempo entre o início dos primeiros sintomas e aparecimento de sintomas mais graves, como a falta de ar, é de sete a dez dias. Em geral, as internações hospitalares ocorrem neste momento. Se houver necessidade de internação em terapia intensiva e ventilação mecânica, a internação pode se prolongar mais de três semanas, podendo o desfecho ser a recuperação e alta ou o óbito. Dessa forma, indicadores com incidência de internação por covid-19 e incidência de óbitos estão sujeitos a toda essa cadeia de intervalos, de modo que os dados atuais refletem situações em que a transmissão ocorreu há cerca de duas semanas e há três ou mais semanas, respectivamente. Da mesma forma, o aumento de transmissão que se espera que ocorra com o aumento de circulação de pessoas a partir desta semana não será imediato e deverá ser percebido em duas a três semanas, podendo ainda haver alguma variação adicional na contagem de casos novos por alterações nas estratégias de testagem, com ampliação do diagnóstico de casos leves em algumas populações.

Do ponto de vista econômico e social, os impactos das medidas de isolamento já são visíveis na queda da atividade industrial e na redução dos postos de trabalho. No primeiro trimestre de 2020, alguns setores da indústria de transformação lograram crescimento ou mesmo estabilidade da produção física, o que segurou o emprego industrial regional. No entanto, os dados de abril já apontam para forte queda no emprego regional – ver estudos do Observatório PUC-Campinas, disponíveis em https://observatorio.puc-campinas.edu.br. Certamente, a situação no comércio e nos demais serviços é ainda mais dramática do que na indústria de transformação. Neste sentido, embora o agravamento da crise econômica demande soluções estratégicas combinadas com medidas de assistência social para os mais vulneráveis, a falta de articulação entre as prefeituras que compõem os polos econômicos regionais, entre outras questões que tornam os níveis de isolamento social abaixo do esperado, vão atrasar o retorno seguro às atividades econômicas. Sem articulação, decisões tomadas no âmbito municipal terão grandes impactos na contenção ou avanço da pandemia nos demais municípios, podendo, inclusive, sobrecarregar o sistema de saúde que também funciona de forma integrada.

O recorte no nível dos Departamentos Regionais de Saúde não condiz, necessariamente, com a dinâmica de integração econômica regional dos municípios. Na Região Metropolitana de Campinas, por exemplo, é possível que a flexibilização nos municípios do entorno de Campinas esteja contribuindo de forma expressiva para o aumento de casos notificados no município.

[1] Professor extensionista e economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br
[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/ Hospital e Maternidade Celso Pierro
[3] Graduando em Geografia e extensionista da PUC-Campinas (mapas)
[4] Graduando em Economia e extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)
[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.
[6] Dados para os demais municípios da Regional de Saúde, incluindo Engenheiro Coelho, em anexo. Dados para os demais municípios poderão ser organizados a pedido de gestores e órgãos de comunicação, através do e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br
[7] Alguns jornais divulgaram mortes no município de Morungaba, mas os dados oficiais não contabilizaram tais mortes até o momento.



Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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