Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas

Volume. 3| N.10 | outubro-2020 

Responsável:

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Assistente:

Pedro Henrique Fidelis

Sumário Executivo

Este informativo apresenta e discute os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de setembro/2020. Os dados utilizados nas análises são da base do Ministério da Economia[1]. Além dos dados quantitativos, agregados e desagregados por município, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Média Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. queda de -26,14% nas exportações e -7,97% nas importações da RMC, resultando em queda de -1,17% no déficit regional, para o mês de setembro;
  2. participação nas exportações do Estado, que caíram para o patamar de 7,19%, o pior em 10 anos para o mês de setembro;
  3. quedas generalizadas nas exportações, com destaque para agroquímicos, pneus, peças para motores de ignição por combustão interna, peças e acessórios para veículos e polímeros de propileno;
  4. aumento de 101,08% nas exportações de automóveis no mês de setembro,  que vem, nos últimos três meses, apresentando recuperação;
  5. quedas generalizadas das importações com destaque para circuitos eletrônicos integrados, aparelhos elétricos, compostos heterocíclicos de nitrogênio, peças e acessórios para veículos e compostos heterocíclicos;
  6. aumento das transações comerciais de produtos de mais baixa complexidade (ex. algodão);
  7.  desde janeiro, as importações somaram 8,92 bilhões de dólares, enquanto as exportações representam aproximadamente um terço desse valor, 2,48 bilhões de dólares;
  8. no acumulado do ano, há sinais de queda de atividade para maioria dos segmentos da indústria, com destaque para indústria de aparelhos telefônicos, eletrônicos e automobilística;
  9. queda drástica das exportações e importações em relação a praticamente todos os parceiros comerciais, exceto China (exportação), Índia (importação) e Reino Unido (importação).

Em suma, para além dos problemas estruturais do déficit comercial regional causados pela dependência da importação de insumos externos industriais, a conjuntura evidencia que a RMC passa pela pior crise externa da história recente. No acumulado do ano, o estado de São Paulo registrou queda de 17,0% nas exportações e 15,8% nas importações. No Brasil, houve queda de 7,7% nas exportações e de 14,4% nas importações.

Balança Comercial setembro

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de setembro entre 2010 e 2020.


A partir dos dados daTabela 1, é possível verificar que as exportações de setembro/2020 – 302,59 milhões dólares – apresentaram decrescimento de -26,14% em relação ao mesmo período de 2019. Este é o pior desempenho das exportações para o mês de agosto em 10 anos. Além disso, a participação nas exportações do estado de São Paulo, de 7,19%, corresponde ao pior nos patamares históricos, indicando que a RMC perdeu participação relativa nas exportações do estado. As importações totalizaram 1.126,34 milhões de dólares, no mesmo período, um decrescimento de -7,97% em comparação a setembro de 2019. A participação da RMC nas importações do estado, de 27,32%, foi a maior da década. O saldo da balança comercial, -823,75 milhões de dólares, teve queda de -1,17%. É preciso destacar que, com os movimentos de queda relativa das exportações e aumento da participação nas importações estaduais, a RMC impediu que o superávit estadual fosse maior, no período.

As principais quedas nas exportações foram de agroquímicos (-19,05%), pneus (-4,48%), peças para motores de ignição por combustão interna (-21,74%), peças e acessórios para veículos (-48,59%), polímeros de propileno (-57,05%). A queda nas exportações só não foi maior devido ao aumento das exportações de medicamentos (+9,60%), automóveis (+101,08%), centrifugadores, incluindo secadores centrífugos, máquinas e aparelhos para filtrar ou purificar líquidos ou gases (+4,64%), agentes orgânicos de superfície (exceto sabões), preparações tensoativas, preparações para lavagem e limpeza (+61,62%).

Nas importações, as principais quedas foram de circuitos eletrônicos integrados (-13,40%), aparelhos elétricos (-11,94%), compostos heterocíclicos de nitrogênio (-27,31%), peças e acessórios para veículos (-42,81%) e compostos heterocíclicos (-12,61%). A queda nas importações só não foi maior devido ao aumento das importações de agroquímicos (+45,27%), máquinas automáticas para processamento de dados e suas unidades (+17,21%),  peças e acessórios para máquinas de escritório (1,04%), compostos organo-enxofre (+41,25%), compostos de função carboxiamida e compostos de função amida de ácido carbônico (+71,38%). A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de setembro, agregados de acordo com o grau de complexidade dos produtos. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[1], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.

Houve queda nas exportações em todas as categorias: baixa complexidade, -27,38%; média-baixa, -26,99%; média-alta, -19,85%; e alta complexidade, -37,96%.

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês setembro de 2020, agregados de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados.

Houve queda nas importações em três categorias: baixa complexidade, -70,75%; média-baixa, -26,30%; e alta complexidade, -22,47%. No entanto, houve aumento na categoria de média-alta complexidade, +2,74%.

Balança Comercial janeiro-setembro

A Tabela 4 traz os dados da balança comercial da RMC para os nove primeiros meses de 2020.

Em 2020, as importações atingiram a marca dos 8,92 bilhões de dólares, enquanto as exportações somaram 2,48 bilhões, isto é, 3,6 vezes menor do que o valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit comercial regional de 6,44 bilhões de dólares maior que o déficit estadual, de -3,86 bilhões de dólares. O estado de São Paulo teria logrado um superávit se não fosse pelo déficit da RMC.

A Tabela 5 traz os principais produtos exportados em 2020.

Os produtos da Tabela 5 totalizam aproximadamente 38,19% das exportações totais do acumulado do ano. Houve queda em todos os principais produtos de exportação, exceto algodão, em relação ao mesmo período do ano passado.

A Tabela 6 traz os principais produtos exportados em 2020.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam aproximadamente 52,09% das importações realizadas pela RMC em 2020. Houve queda nas importações em seis dos produtos da lista. Esses produtos são, sobretudo, da indústria química e farmoquímica, eletrônica e automobilística. No entanto, destaca-se que alguns segmentos da indústria química seguem em alta, como agroquímicos, compostos heterocíclicos e outros compostos orgânicos e inorgânicos.

Geralmente, a queda nas importações desses insumos representa desaquecimento das atividades à frente na cadeia produtiva, assim como o aumento das importações representa aquecimento.  Nestse sentido, houve queda nas atividades de quase todos os setores, exceto alguns segmentos da indústria química.

A Tabela 7 traz as exportações para os 10 principais destinos da RMC, acumulado para os meses de 2020, bem como a variação das exportações por destino em relação ao mesmo período do ano passado.

O valor das exportações caiu expressivamente para todos os principais parceiros, exceto a China. Tais quedas resultam, claramente, do desaquecimento da economia global, diante da crise do coronavírus.

A Tabela 8 traz os dados para as 10 principais origens das importações da RMC, acumulado para os meses de 2020, bem como a variação das importações por origem em relação ao mesmo período de 2019.

A queda das importações em quase todos os principais parceiros também indica efeitos de desaceleração da economia global pela crise sanitária atual. No entanto, houve aumento nas importações apenas da Índia e Reino Unido.

A Tabela 9 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para setembro de 2020.



[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.média.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.média.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original.




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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