Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas

N.13 – Edição 2/2019

PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Equipe:

Pedro Henrique Fidelis

Pedro Batista de Sousa

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este informativo apresenta e discute em linhas gerais os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de jul/2019. Os dados utilizados nas análises são da base do Ministério da Economia[1].


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

Além da apresentação dos dados da balança comercial, agregados e desagregados por município, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Média Lab[1].


[1] https://atlas.media.mit.edu/en/resources/about/

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. Houve crescimento de 14,56% nas exportações da RMC, enquanto as importações cresceram 11,24%, resultando em aumento de 9,87% no déficit regional, em jul/2019.
  2. Houve aumento da exportação de medicamentos (média-alta complexidade); pneus novos (média-média); e inseticida, fungicida, herbicida (média-média); enquanto houve queda na exportação de automóveis de passageiros (média-alta) e peças de tratores e veículos especiais (média-alta).
  3. Do lado das importações, destaca-se o expressivo crescimento das compras externas de inseticidas, fungicidas, herbicidas e similares (média-média); e heterocíclicos de nitrogênio e ácido nucleico (média-alta).
  4. No acumulado do ano, a RMC importou 7,7 bilhões de dólares, enquanto exportou aproximadamente um terço deste valor, totalizando 2,5 bilhões de dólares. Como resultado, acumulou déficits comerciais no montante de 5,2 bilhões de dólares.
  5. Os dados sugerem maior atividade econômica, no acumulado do ano, para atividades de segmentos da indústria química, farmoquímica e agricultura, mas indicam desaquecimento em segmentos da indústria automobilística, eletrônica e de telefonia.

Em suma, o déficit comercial da RMC continua em expansão. Para o desenvolvimento econômico sustentado, é desejável a redução da dependência externa e o aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial e Complexidade em julho/2019

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de julho entre 2009 e 2019.

A partir dos dados da Tabela 1, é possível verificar que as exportações de julho/2019 – 393,35 milhões de dólares – apresentaram crescimento de 14,56% em relação ao mesmo período de 2018, configurando-se como o melhor resultado em 5 anos. Em relação à participação nas exportações do estado (8,15%),  foi a terceira maior da série histórica, indicando que a RMC aumentou, ainda, sua participação nas exportações do estado. As importações totalizaram 1,3 bilhão de dólares, um crescimento de 11,24% em comparação ao mesmo período de 2018. A participação da RMC nas importações do estado (23,84%) foi a maior da década. Houve crescimento de 9,87% no déficit da balança comercial regional. É preciso destacar que enquanto o déficit regional chegou a 913,88 milhões de dólares, o Estado de São Paulo contabilizou déficit de 654,53 milhões de dólares no mês de julho. Em outras palavras, sem o déficit da RMC, o estado de São Paulo teria tido um superávit de 259,35 milhões de dólares.

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de julho de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[1], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.


[1] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.media.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.

Considerando-se as categorias de maior participação no volume das exportações regionais, houve aumento considerável no valor exportado de produtos das categorias de média-alta complexidade (+8,47%) e média-média complexidade (+28,18%) . Os principais produtos relacionados ao aumento nas exportações de média-alta foram medicamentos (+18,32%), e peças e acessórios para veículos motorizados (+17,61%). O crescimento só não foi maior devido à queda das exportações de peças para motores de ignição por combustão interna (-28,94%) e automóveis de passageiros (-28,94%). O crescimento na categoria de média-média complexidade (+28,18%) deu-se, sobretudo, pelo aumento das vendas externas de pneus novos (+82,89%), polímeros de propileno e outras olefinas (+32,12%); e inseticidas, fungicidas e herbicidas (+38,36%). O crescimento foi contrabalanceado pela queda nas exportações de preparados ou conservados de carne, miudezas e sangue (-7,55%), e fio e cabo isolados e cabo de fibra ótica (-37,70%).

Em relação à média-alta complexidade, houve decrescimento de (-39,20%) no volume exportado regional. Os principais produtos relacionados a esta queda foram equipamentos para análises físicas e químicas (-26,84%) e centros de usinagem  (-66,85%). O decrescimento das exportações desta categoria só não foi maior devido aos aumentos das vendas de placas de ferramentas, pontas, etc., metal duro sinterizado, cermet (+323,39%).

O expressivo aumento das exportações de baixa complexidade (956,56%) deu-se pelo aumento das exportações de sementes e frutos oleaginosos (+26720%). Por fim, o crescimento da categoria de média-baixa complexidade (+85,22%) deu-se, sobretudo, pelo aumento das vendas externas de óleos de petróleo, betuminosos, destilados (+322,74%) − exceto petróleo bruto −; e açúcar sólido de cana (+119,11%).

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês julho de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados.

Nota-se que houve crescimento do valor importado de todas as categorias de complexidade, exceto na categoria de baixa, que apresentou queda de -27,29%.

Considerando-se as categorias de maior peso no total das importações, para a categoria de média-alta complexidade (+6,50%), houve  aumento da importação de heterocíclicos e ácidos nucleicos (+142,17%); sangues, antissoros, vacinas, toxinas e culturas (+341,98%); e peças e acessórios para máquinas de escritório (+18,79%). Vale destacar que o aumento só não foi maior, pois houve queda na importação de peças e acessórios para veículos motorizados (-30,46%) e circuitos integrados eletrônicos (-16,29%). Para a categoria de média-média complexidade (+25,80%), destaca-se o aumento das importações de inseticidas, fungicidas e herbicidas (+62,66%), preparações alimentícias para animais (+43,83%), e carbonatos (ind. Química) (+239,79%).

A expansão nas importações de produtos de média-baixa complexidade (5,80%) deu-se pelo aumento nas importações de ligas de ferro (+52,81%), óleos de petróleo, betuminosos, destilados, exceto petróleo bruto (+21,55%), e do aumento expressivo na importação de peixes, gordura de mamíferos marinhos ou óleos não quimicamente modificados (+2.637,08% ou 1,1 milhão de dólares).

Por fim, a queda nas importações de produtos de baixa complexidade (-27,29%) está associada à diminuição nas importações de borracha natural (-61,28%); enquanto o crescimento nas importações de produtos de alta complexidade (+7,49%) deu-se pelas importações de equipamento para análises físicas e químicas (+24,18%); e centros e máquinas de usinagem (+46,23%).

Balança Comercial e Complexidade no Acumulado do ano de 2019

A Tabela 4 apresenta os dados da balança comercial da RMC, desagregados para os setes primeiros meses (janeiro a julho) do ano de 2019.

Em 2019, a RMC já importou 7,7 bilhões de dólares, enquanto exportou 2,5 bilhões, o que representa aproximadamente 1/3 do valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit comercial regional de 5,2 bilhões de dólares, superando o déficit comercial do estado de São Paulo, que foi de 3,9 bilhões.

A Tabela 5 apresenta os principais produtos exportados em 2019.

Os produtos listados na Tabela 5 totalizam aproximadamente 50% das exportações totais do acumulado do ano. De modo geral, houve aumento das exportações de 9 dos 15 produtos mais exportados da RMC, em relação ao mesmo período do ano passado. Nota-se que as exportações do complexo automotivo (automóveis e peças, capítulo 87) continuam em queda, com destaque para automóveis de passageiros (-47,97%), em parte pela crise econômica no principal mercado de destino desses produtos, a Argentina. Destaca-se também a queda das exportações de plásticos (polímeros de etileno e propileno).

No geral, os dados acumulados confirmam a tendência de aumento nas exportações de agroquímicos. Houve alta, também, nas exportações de medicamentos, pneus, bombas de ar ou vácuo, bombas para líquidos, conservados de carne, máquinas para construção civil. 

A Tabela 6 apresenta os principais produtos importados, em 2019, pela RMC.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam aproximadamente 55% das importações realizadas pela RMC em 2019. Destaca-se o crescimento expressivo das importações de inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros; compostos heterocíclicos de nitrogênio, ácido nucleico e seus sais e outros compostos de heterocíclicos (insumos da indústria química e farmacêutica); outros compostos orgânicos e inorgânicos; máquinas de processamentos automático; sangue, antissoros, vacinas, toxinas e culturas; e medicamentos e antibióticos. Houve queda mais acentuada na importação de circuitos eletrônicos integrados; aparelhos elétricos para telefonia e telegrafia; peças e acessórios para veículos; peças e acessórios para máquinas de escritórios; peças para motores de ignição por combustão; borracha sintética; e eixos, manivelas, engrenagens, polias, etc.

Assumindo que a importação de insumos pode caracterizar maior ou menor atividade econômica nos setores relacionados, os dados apontam para crescimento na atividade de segmentos da indústria química e farmoquímica, enquanto reforça as previsões de desaquecimento em segmentos dos setores de eletrônica, de telefonia e automobilístico.

A Tabela 7 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para o ano de 2019.

 Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional. Vale destacar que, embora com valores menores, os únicos municípios com saldos positivos são Cosmópolis, Santo Antônio de Posse, Pedreira e Engenheiro Coelho.

Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nestes municípios. Estes são sede de grandes multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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