Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas

Volume 3| N.05 | Maio-2020

Responsável:
Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira
Assistente:
Pedro Henrique Fidelis

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.
Este informativo apresenta e discute os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de abril/2020. Os dados utilizados nas análises são da base do Ministério da Economia . Além dos dados quantitativos, agregados e desagregados por município, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Média Lab .
Dentre as informações analisadas, destacam-se:
i) A queda de -39,18% nas exportações e de -21,02% nas importações da RMC, resultando em queda de -11,06% no déficit regional, para o mês de abril.
ii) A participação nas exportações do Estado caíram para o patamar de 5,2%, o pior em 10 anos.
iii) As quedas generalizadas nas exportações, com destaque para medicamentos, polímeros de propileno ou outras olefinas e pneus.
iv) As quedas generalizadas das importações com destaque para agroquímicos, aparelhos telefônicos, partes e acessórios para veículos e circuitos eletrônicos integrados.
v) Aumento das transações comerciais de produtos de mais baixa complexidade (ex. soja).
vi) Desde janeiro, as importações somaram 3,86 bilhões de dólares, enquanto as exportações representam um terço deste valor, 1,11 bilhão de dólares.
vii) No acumulado do ano, há sinais de queda de atividade para todos os segmentos da indústria, entre eles as indústrias química, farmoquímica, agroquímica, de aparelhos telefônicos, de eletrônicos e automobilística.
viii) Exportações e importações caíram drasticamente em relação a praticamente todos os parceiros comerciais.

Em suma, para além dos problemas estruturais do déficit comercial regional causados pela dependência da importação de insumos externos industriais, a conjuntura evidencia que a RMC passa pela pior crise externa da história recente. No acumulado do ano, o estado de São Paulo registrou queda de 19% nas exportações e de 4,4% nas importações. No Brasil, houve queda de 4,4% nas exportações e de 0,4% nas importações.

Balança Comercial de Abril

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de abril entre 2010 e 2020.

A partir dos dados da Tabela 1, é possível verificar que as exportações de abril/2020 – 239,25 milhões dólares – apresentaram decrescimento de -39,18% em relação ao mesmo período de 2019. Este é o pior desempenho das exportações para o mês de abril em 10 anos. Por outro lado, a participação nas exportações do estado de São Paulo (5,28%) corresponde ao pior nos patamares históricos, indicando que a RMC perdeu participação relativa nas exportações do estado. As importações totalizaram 876,84 milhões de dólares, no mesmo período, um decrescimento de -21,02% em comparação a abril de 2019. A participação da RMC nas importações do estado (20,74%) foi a terceira maior da década. O saldo da balança comercial, -637,59 milhões de dólares, teve redução de -11,06%. É preciso destacar que, no período, o déficit comercial da RMC foi mais que 1/3 do saldo de todo o estado de São Paulo.
As principais quedas nas exportações foram medicamentos (-31,42%), agroquímicos (-18,02%), polímeros de propileno (-47,18%), pneus (-39,74%), peças para motores de ignição por combustão interna (-40,79%), peças e acessórios para veículos (-56,50%). A queda nas exportações só não foi maior devido ao aumento das exportações de papel (+25,13%), fenóis, álcoois fenólicos (+4,53%), circuitos eletrônicos integrados (+239,76%) e álcoois acíclicos (+82,44%).
Nas importações, as principais quedas foram de agroquímicos (-7,99%), aparelhos elétricos (-43,76%), peças e acessórios para veículos (-24,82%), circuitos eletrônicos integrados (-61,75%), compostos heterocíclicos (-4,24%), compostos de heterocíclicos (hetero ácido nitrogênio) (-34,95%). A queda nas importações só não foi maior devido ao aumento das importações de outros compostos orgânicos e inorgânicos (+33,43%), máquinas de processamento automático (+0,55%), compostos de função nitrila (+107,49%), antissoros e vacina (+124,94%), compostos de organo-enxofre (+54,90%).
A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de abril, agregadas de acordo com o grau de complexidade dos produtos. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas , portanto com maiores níveis de produtividade e renda. Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.

Houve queda em três categorias: média-alta (-41,60%), alta (-37,70%) e média-baixa (-32,65%). No entanto, houve alta na categoria de baixa complexidade (+143,15%).
A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês abril de 2020, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados.

Houve quedas nas importações de todas as categorias de complexidade: média-alta (-28,02%), alta (-9,81%), média-baixa (-16,02%) e baixa (-1,72%).

Balança Comercial de Janeiro-Abril

A Tabela 4 traz os dados da balança comercial da RMC para os quatro primeiros meses de 2020.

Em 2020, as importações atingiram a marca dos 3,86 bilhões de dólares, enquanto as exportações somaram 1,11 bilhão, isto é, 3,48 vezes menos do que o valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit comercial regional de 2,75 bilhões de dólares.
A Tabela 5 traz os principais produtos exportados em 2020.

Os produtos da Tabela 5, totalizam aproximadamente 38,54% das exportações totais do acumulado do ano. Houve queda em todos principais produtos de exportação, exceto soja (óleo e outros resíduos), em relação ao mesmo período do ano passado.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam aproximadamente 46,56% das importações realizadas pela RMC em 2020. Houve queda nas importações em todos os produtos da lista, exceto compostos heterocíclicos, peças e acessórios para máquinas de escritório, outros compostos orgânicos e inorgânicos, antissoros e vacina. Neste sentido, a indústria química e farmoquímica (agroquímicos, compostos heterocíclicos, outros compostos orgânicos e inorgânicos e antissoros e vacinas), segue em alta. Fora da indústria química, houve queda na importação de aparelhos telefônicos, e produtos relacionados a indústria automobilística.

Via de regra, a queda nas importações destes insumos representa desaquecimento das atividades a frente na cadeia produtiva, assim como o aumento das importações representa aquecimento.  Neste sentido, houve queda nas atividades da indústria automobilística, sempre em relação ao mesmo período do ano passado. 

A Tabela 7 traz as exportações para os 10 principais destinos da RMC, acumulado para os meses de 2020, bem como a variação das exportações por destino em relação ao mesmo período do ano passado.

O valor das exportações caiu expressivamente para todos os principais parceiros, exceto os Países Baixos. Tais quedas resultam, claramente, do desaquecimento da economia global, diante da crise do Corona vírus.

A Tabela 8 traz os dados para as 10 principais origens das importações da RMC, acumulado para os meses de 2020, bem como a variação das importações por origem em relação ao mesmo período de 2019.

A queda generalizada das importações, com exceção da advinda de Hong Kong, também indicam efeitos de desaceleração da economia global pela crise sanitária atual.
A Tabela 9 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para fevereiro de 2020.

Nota-se que as exportações de Paulínia superaram as exportações de Campinas. Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional. Vale destacar que, embora com participação pouco expressiva na balança regional, os únicos municípios com saldo positivo em abril é Cosmópolis, Santo Antônio de Posse e Pedreira.
Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nestes municípios. Estes municípios são sedes de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.



Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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