Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas Fevereiro / 2020

Responsável:

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este informativo apresenta e discute, em linhas gerais, os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de janeiro/2020. Os dados utilizados nas análises são da base do Ministério da Economia[1].

Além da apresentação dos dados da balança comercial, agregados e desagregados por município, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC, a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Média Lab[2].

Este informativo inclui alguns dados sobre os impactos do novo coronavírus (covid-19) na balança comercial da RMC com a China.

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. Houve decrescimento de -13,55% nas exportações e -3,75% nas importações da RMC, resultando em queda de -0,07% no déficit regional, na comparação entre janeiro/2020 e janeiro/2019.
  2. Houve queda na exportação de polímeros de propileno (plásticos, média-média complexidade) e partes e acessórios de veículos (média-alta). Houve aumento das exportações de medicamentos (média-alta) e algodão não cardado (baixa).
  3. Houve queda na importação de aparelhos telefônicos (média-alta) e circuitos eletrônicos integrados (média-alta). Enquanto isso, houve crescimento nas compras de agroquímicos (média-média) e partes e acessórios para veículos (média-alta).
  4. No primeiro mês de 2020, a RMC importou 1,09 bilhão de dólares, enquanto exportou menos de um quarto deste valor, 268,53 milhões de dólares. Como resultado, acumulou déficits comerciais no montante de 828,79 milhões de dólares.
  5. Os dados sugerem maior atividade econômica, no acumulado do ano, para segmentos da indústria química, farmoquímica e agroquímica, mas indicam desaquecimento em segmentos da indústria automobilística e eletrônica.
  6. O efeito do coronavírus na atividade econômica chinesa reduziu as importações da China e aumentou  as exportações.

Em suma, o déficit comercial da RMC continua em expansão. Para o desenvolvimento econômico sustentado, é desejável a redução da dependência externa, e o aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial e Complexidade em janeiro/2020

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de janeiro entre 2010 e 2020.

Tabela 1 – Balança Comercial da RMC para o mês de janeiro de 2010 a 2020, valores em milhões de USD/FOB.

Período Valor Exp. % Exp. SP Valor Imp. % Imp. SP Saldo RMC Saldo SP
Jan/10 292,73 8,73 742,37 16,52 -449,64 -1139,75
Jan/11 334,87 9,51 973,49 17,11 -638,62 -2171,32
Jan/12 359,16 8,64 945,99 14,91 -586,83 -2189,92
Jan/13 376,94 8,31 1157,14 15,88 -780,21 -2753,26
Jan/14 306,86 7,47 1225,92 15,85 -919,06 -3627,81
Jan/15 243,01 6,98 1014,55 17,79 -771,55 -2224,60
Jan/16 224,65 7,84 835,38 21,02 -610,74 -1108,73
Jan/17 314,67 7,54 861,03 19,68 -546,36 -201,18
Jan/18 365,21 8,02 1020,80 19,79 -655,59 -603,20
Jan/19 310,63 8,29 1140,04 21,98 -829,41 -1441,13
Jan/20 268,53 8,15 1097,32 21,68 -828,79 -1766,28

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia.

A partir dos dados daTabela 1, é possível verificar que as exportações de Jan/2020 – 268,53 milhões de dólares – apresentaram decrescimento de -13,55% em relação ao mesmo período de 2019.  Este é o terceiro pior desempenho das exportações para o mês de janeiro em 10 anos. Por outro lado, a participação nas exportações do estado de São Paulo (8,15%) manteve-se nos patamares históricos mais altos, indicando que, apesar da queda nas exportações, a RMC manteve sua participação relativa nas exportações do estado. As importações totalizaram 1,09 bilhão de dólares, no mesmo período, um decrescimento de -3,75% em comparação a janeiro de 2019. A participação da RMC nas importações do estado (21,68%) foi a segunda maior da década. O saldo da balança comercial ficou praticamente estável em relação a janeiro/2019, com pequena queda de 0,07% do déficit comercial. É preciso destacar que, no período, o déficit comercial da RMC representou aproximadamente 47% do déficit comercial de todo o estado de São Paulo.

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de janeiro de 2020, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[3], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.

Tabela 2 – Grau de Complexidade das Exportações – comparação entre janeiro/2020 e janeiro/2019, valores em milhões de USD.

*Exclusive serviços de bordo e demais produtos sem classificação.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia e Observatório da Complexidade Econômica.

Considerando-se as categorias de maior participação no volume das exportações regionais, a queda de -13,55% nas exportações está relacionada à queda considerável no valor exportado de produtos das categorias de média-alta complexidade (-19,28%) e média-média [P1] [PO2] complexidade (-17,69%). Os principais produtos relacionados à queda nas exportações de média-alta foram peças e acessórios para veículos motorizados (-23,25%), papel, cartão e pasta de celulose revestida (-1,05%) e veículos automotores (-70,91%). O decrescimento só não foi maior devido ao aumento das exportações de medicamentos (+12,82%) e partes de motores de combustão interna (+27,52%).

O decrescimento na categoria de média-média complexidade (-17,69%) deu-se, sobretudo, pela queda das vendas externas de polímeros de propileno ou outras olefinas (-37,77%), pneus (-3,37%) e polímeros de etileno (-31,85%). O aumento das exportações de inseticidas, fungicidas, herbicidas (+26,44%) contrabalanceou positivamente as exportações de média-média complexidade.

Em relação à alta complexidade (-22,5%), houve queda na exportação de cermets e suas obras (-60,68%), compensada pelo aumento das exportações de equipamentos para análises físicas e químicas (+11,90%) e máquina para centros de usinagem (+21,34%). O aumento das exportações de baixa complexidade (234,8%) deu-se, sobretudo, pelo aumento das exportações de algodão não cardado nem penteado (+236%), como também ocorreu em meses anteriores. Por fim, o crescimento da categoria de média-baixa complexidade (+17,88%) deu-se, sobretudo, pelas exportações de farelo e óleo de soja, que não foram realizadas em janeiro de 2019.  Esse aumento foi contrabalanceado pela queda de -40,56% nas exportações de óleos de petróleo bruto.

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês janeiro de 2020, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados.

Tabela 3 – Grau de Complexidade das Importações – comparação entre janeiro/2020 e janeiro/2019, valores em milhões de USD.

*Exclusive produtos sem classificação.

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia

Nota-se que o decrescimento de -3,75% nas importações resulta de decrescimento em todas as categorias de complexidade, exceto a categoria de média-média complexidade.

Partindo-se das categorias de maior representatividade, no grupo de média-alta complexidade (-5,00%), houve queda na importação de telefones e partes (-1,97%), circuitos eletrônicos integrados (-33,99%) e compostos heterocíclicos de nitrogênio (-18,80%). A queda foi parcialmente compensada pelo aumento das importações e partes e acessórios de veículos automotores (+5,53%) e partes e acessórios para máquinas de escritório (+28,62%).

Para a categoria de média-média complexidade (4,46%), destaca-se o aumento das importações de inseticidas, fungicidas e herbicidas (+9,71%), polímeros de cloreto de Vinila (PVC) (+4,83%) e misturas de fertilizantes em pacotes com menos de 10 kg (+148%). Não houve grandes quedas nas importações desta categoria, destacando-se apenas a diminuição na importação de compostos heterocíclicos com heteroátomos de oxigênio (-5,05%) e outras chapas, folhas, películas, tiras e lâminas, de plástico não alveolar (-4,03%).

A queda das compras externas da categoria de produtos de média-baixa complexidade (-20,69%) deu-se, sobretudo, pela queda nas importações de fertilizantes químicos ou minerais nitrogenados (-61,43%). A queda foi parcialmente compensada pelo aumento na importação de sementes, frutos e esporos (+25,80%), bem como cebolas, chalotas, alho, alho-poró, etc. (frescos ou refrigerados) (+39,30%).

A queda das importações de baixa complexidade (-25,32%) está associada à diminuição das compras externas de borracha natural (-27,30%) e sementes oleaginosas (-3,6%). Por fim, o decrescimento nas importações de produtos da alta complexidade (-32,29%) deu-se pela queda da importação de equipamentos para análises físicas e químicas (-49,05%), placas de ferramentas, pontas, etc., carboneto de metal sintetizado, cermet (-9,15%), centros de usinagem (-14,34%), entre outros.

A Tabela 4 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para janeiro de 2020.

Tabela 4 – Balança Comercial dos Municípios da RMC – 2020, valores em milhões de USD/FOB.

Município Valor Exportado % EXP. RMC Valor Importado % IMP. RMC Saldo
PAULÍNIA 67,25 25,04 257,31 23,45 -190,06
CAMPINAS 62,37 23,23 232,15 21,16 -169,78
SUMARÉ 28,89 10,76 113,29 10,32 -84,40
INDAIATUBA 23,97 8,93 98,45 8,97 -74,48
VINHEDO 19,54 7,27 51,51 4,69 -31,97
AMERICANA 13,88 5,17 27,34 2,49 -13,45
COSMÓPOLIS 9,57 3,56 10,54 0,96 -0,98
ITATIBA 7,83 2,92 27,78 2,53 -19,95
MONTE MOR 7,35 2,74 11,99 1,09 -4,64
VALINHOS 6,67 2,48 24,41 2,22 -17,74
NOVA ODESSA 5,48 2,04 7,08 0,65 -1,60
SANTA BÁRBARA D’OESTE 4,83 1,80 9,46 0,86 -4,63
HORTOLÂNDIA 3,28 1,22 77,88 7,10 -74,60
JAGUARIÚNA 2,11 0,79 133,26 12,14 -131,15
PEDREIRA 2,00 0,74 0,74 0,07 1,26
ARTUR NOGUEIRA 1,83 0,68 5,15 0,47 -3,33
SANTO ANTÔNIO DE POSSE 1,01 0,38 3,36 0,31 -2,35
MORUNGABA 0,60 0,22 1,71 0,16 -1,11
ENGENHEIRO COELHO 0,05 0,02 0,09 0,01 -0,04
HOLAMBRA 0,01 0,00 3,81 0,35 -3,80

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia.

 Nota-se que para o mês de janeiro, as exportações de Paulínia superaram as exportações de Campinas. Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional. Vale destacar que, embora com participação pouco expressiva na balança regional, o único município com saldo positivo em janeiro é Pedreira.

Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nestes municípios.  Estes municípios são sedes de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.

Balança Comercial China – RMC janeiro/2020 e coronavírus

A atividade comercial entre a China e a RMC é bastante intensa, já que o país é um grande fornecedor para a indústria regional. Do lado da importação, a China é o principal parceiro comercial (aprox. 23% das importações regionais), vendendo para as empresas industriais da RMC, sobretudo, telefones, circuitos integrados, partes e acessórios de máquinas de escritório e componentes químicos (por exemplo, compostos heterocíclicos de nitrogênio).  Na exportação, a China não tem participação expressiva (aprox. 3%), comprando da RMC polímeros de etileno e propileno, circuitos eletrônicos integrados, algodão não cardado e medicamentos.

A comparação entre os dados de janeiro/19 e janeiro/20 revela que houve queda na importação (-12,82%), dada a queda nas compras de vários produtos chineses, incluindo telefones, circuitos eletrônicos integrados e alguns compostos químicos. Houve, no entanto, aumento da importação de partes e acessórios de máquinas de escritório.

Na exportação, houve aumento de +22,12% no período. Por um lado, houve queda nas vendas de produtos como polímeros de etileno (plásticos), circuitos eletrônicos integrados. Por outro, houve aumento explosivo das vendas de algodão e de medicamentos, muito possivelmente devido à demanda impulsionada pelo aumento dos casos de infecção pelo coronavírus. A Tabela 5 resume essas informações e apresenta as variações percentuais no período.

Tabela 5 – Variações na Balança Comercial com a China Jan/19 vs. Jan/20 – valores em milhões de dólares FOB.

Importação
Valor Imp. (Jan/19) Valor Imp. (Jan/20) Var. 19/20
Telefonia 58,85 50,33 -14,48%
Partes e Acessórios Máq. Escritório 23,19 29,90 28,93%
Circuitos Eletrônicos 19,13 8,54 -55,37%
Compostos Heterocíclicos Nitrogênio 20,22 12,95 -35,97%
Exportação
Valor Exp. (Jan/19) Valor Exp. (Jan/20) Var. 19/20
Polímeros de Etileno 2,45 0,70 -71,40%
Circuitos Eletrônicos 0,74 0,03 -95,29%
Algodão não cardado 0,70 2,64 279,19%
Medicamentos 0,0004 2,93 777077,98%

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados do Ministério da Economia.


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.media.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.media.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original.


 [P1]Não seria só, “média”, conforme nota de rodapé 3?

Sim. Por favor alterar. [PO2]


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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