Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas, V.1, N.4, 2018

PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Nesse sentido, este informativo apresenta e discute em linhas gerais os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de outubro/2018 e para o acumulado do ano. Os dados utilizados nas análises são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços[1].

Além da apresentação dos dados da balança comercial agregados e desagregados por municípios, apresenta-se, também, a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Media Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. Em relação a outubro de 2017, as exportações da RMC cresceram 2,22%, enquanto as importações cresceram 8,20%, resultando em crescimento de 12,15% do déficit da balança comercial.
  2. Em relação a outubro de 2017, e considerando os principais produtos da pauta comercial, houve aumento considerável da exportação de agroquímicos (média-média complexidade) e veículos de passageiros (média-alta complexidade), enquanto houve queda na exportação de medicamentos (média-alta complexidade). Do lado das importações, destaca-se o crescimento das compras externas de agroquímicos e de partes e acessórios de tratores e veículos especiais (média-alta complexidade). As importações de circuitos eletrônicos integrados (média-alta complexidade) e telefones (média-média complexidade) tiveram queda.
  3. No acumulado do ano de 2018, a RMC já importou 10,7 bilhões de dólares, enquanto exportou pouco mais de um terço deste valor (3,93 bilhões), acumulando déficit comercial no montante de 6,72 bilhões de dólares.
  4. Em relação a 2017, as exportações de automóveis de passageiros, autopeças e medicamentos seguem em alta, enquanto a exportação de polímeros segue em queda. As importações de circuitos eletrônicos integrados e peças de tratores e veículos especiais seguem em alta, enquanto a importação de agroquímicos segue em queda.

Em suma, embora o mês de setembro tenha apresentado dados positivos para a balança comercial da RMC, o mês de outubro teve resultado mais condizente com o problema estrutural da dependência externa regional.

Para o desenvolvimento econômico sustentado, é desejável a redução da dependência externa e aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial e Complexidade em Outubro/2018

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de outubro (2008-2018).

A partir dos dados da Tabela 1, é possível verificar que as exportações de outubro/2018 – 451,05 milhões de dólares – totalizaram o maior valor desde 2013, embora a participação nas exportações do estado (8,01%) esteja em queda desde 2016. As importações totalizaram 1,2 bilhão, o maior valor para o mês de outubro desde 2015. A participação da RMC nas importações do estado (20,67%) foi a quarta maior da década. Note que o crescimento das exportações em relação a outubro do ano passado foi de (2,22%), enquanto as importações cresceram (8,20%) e o déficit comercial (12,15%).

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de outubro de 2017 e 2018, de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[3], portanto, com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.

Nota-se que o crescimento ínfimo de 2,22% nas exportações esteve ligado ao crescimento da exportação de produtos em todas as categorias de complexidade, exceto a categoria de baixa complexidade. Considerando-se categorias de maior participação nas exportações da RMC, destaca-se o crescimento das exportações de produtos de média-média complexidade (7,64%) e dos produtos de média-baixa (41,47%). Em setembro, houve decrescimento expressivo na exportação de bens de baixa complexidade, porém, verificou-se decrescimento pequeno (-1,11%) nas exportações de bens de média-média, categoria que teve crescimento considerável em outubro/2018.

Dentre os bens de média-baixa complexidade e de maior participação na pauta de exportação, destaca-se o aumento das exportações de sucos de fruta e vegetais (278%), álcool etílico (774%), óleos de petróleo – petroquímica − (1225%), dentre outros. Dentre os produtos de média-média complexidade, destaca-se o crescimento das exportações de agroquímicos (56%), máquinas de construção civil (92%), fios e cabos condutores (32%). Dentre os produtos de alta complexidade, é notável o crescimento das exportações de aparelhos e instrumentos para análise física e química (13%) e centros de usinagem, máquinas de sistema monostático e estações múltiplas para metais (102%), como também verificado em setembro/2018. Por fim, a queda nas exportações de produtos de baixa complexidade esteve ligada ao decrescimento das exportações de algodão (-46%), mandioca e outros tubérculos (-80%), e borracha natural (-93%).

A Tabela 3 mostra as importações da RMC de outubro de 2017 e 2018, de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos. Nota-se que o crescimento de 8,20% das importações em relação a outubro de 2017 deu-se em todas as categorias de bens, exceto em produtos de baixa complexidade.

Dadas as categorias de maior participação na pauta de importação, destaca-se o crescimento expressivo das importações de bens de média-alta complexidade (11,02%), ao contrário do verificado para o mês de setembro.  O crescimento das importações nesta categoria deu-se pelo aumento das compras externas de autopeças (7,61%) e produtos da indústria química, como compostos heterocíclicos de heteroátomos de nitrogênio (38,82%) e ácidos nucleicos e seus sais (140%). Dentre os produtos de média-baixa complexidade, verificou-se o crescimento das importações de produtos agrícolas, como fertilizantes químicos ou minerais à base de nitrogênio (138%) e sementes (37,87%). Também houve aumento nas importações de ferroligas (219%). Por fim, o aumento das importações de produtos de alta complexidade ocorreu, sobretudo, pelo crescimento das importações de plaquetas, varetas, pontas e objetos semelhantes para ferramentas de carbonetos metálicos sinterizados ou de ceramais (54%), como verificado na análise dos dados de setembro/2018.

Balança Comercial e Complexidade no Acumulado do Ano de 2018

A Tabela 4 apresenta os dados da balança comercial da RMC, desagregados para os dez primeiros meses do ano de 2018.

Até o momento a RMC já importou 10,07 bilhões de dólares, enquanto exportou aproximadamente um terço deste valor, 3,93 bilhões. O total das importações em outubro é o segundo maior do ano, ficando atrás apenas do total das importações mensais de agosto. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit comercial de 6,7 bilhões de dólares, na contramão dos resultados para o estado de São Paulo que acumulou superávits no montante de 4,13 bilhões de dólares no mesmo período. Isto significa que se não fosse pelas importações da RMC, o superávit do estado seria de 10,91 bilhões de dólares.

A Tabela 5 apresenta os principais produtos exportados no acumulado do ano de 2018.

Os produtos listados na Tabela 5 totalizam mais de 51% das exportações totais do ano de 2018 realizadas pela RMC. Nota-se que as exportações do complexo automotivo (automóveis e peças, capítulo 87) seguem em alta em relação ao ano passado.  Destaca-se também o crescimento das exportações de medicamentos, parte de motores de propulsão, agroquímicos, máquinas para construção civil, aparelhos para regulação e controle automático, torneiras, válvulas e similares e turbinas. A exportação de polímeros, pneus, preparações de carnes e miudezas e motores e geradores elétricos, no entanto, tem apresentado queda.

A Tabela 6 apresenta os principais produtos importados no acumulado do ano de 2018, pela RMC.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam mais de 40% das exportações totais do ano de 2018 realizadas pela RMC. Nota-se crescimento da importação de partes e insumos elétricos (capítulo 85) e de medicamentos e insumos (capítulos 29 e 30). Apenas a importação de agroquímicos diminuiu em relação a 2017, dentre os principais produtos importados.

A Tabela 7 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, acumulada para os meses entre janeiro e outubro de 2018.

 Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional.

 Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nestes municípios.  Estes municípios são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grande volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.

A Tabela 8 apresenta a variação percentual das exportações e importações municipais, comparando-se os meses de setembro/17 e setembro/18. A tabela apresenta também quais os principais produtos ligados ao crescimento ou decrescimento das exportações dos municípios no período. A área cinza da tabela refere-se a municípios e produtos que apresentaram decrescimento.

O destaque do crescimento das exportações fica, novamente, com Engenheiro Coelho (134,12%), que tem exportado volumes consideravelmente maiores de resíduos vegetais para alimentação animal e suco de frutas em relação a 2017. Nova Odessa, Valinhos, Artur Nogueira, Hortolândia e Campinas também se destacam pelo crescimento das exportações no período. Dentre os municípios que apresentaram maiores quedas nas exportações, destacam-se Holambra (-30,44%), Cosmópolis (-27,94%) e Jaguariúna (-25,69%). O caso de Holambra está associado, sobretudo, ao decrescimento das exportações de bulbos, tubérculos e similares. Cosmópolis vem sofrendo queda nas exportações de medicamentos e cana-de-açúcar. Jaguariúna, no entanto, vem sofrendo queda nas exportações de espelhos de vidros e bombas de ar ou vácuo.


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.media.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.media.mit.edu/en/. Nossa classificação em cinco categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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