Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas, V.1, N.2, 2018

DOCENTE  EXTENSIONISTA RESPONSÁVEL:

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este informativo apresenta e discute, em linhas gerais, os principais dados da balança comercial da RMC para os meses de janeiro a agosto de 2018. Os dados utilizados nas análises são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços[1].

Nesta edição, além da apresentação dos dados da balança comercial agregados e desagregados por municípios, será apresentada, também, a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC, a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Media Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. A RMC já exportou mais de 3,05 bilhões de USD, enquanto importou mais de 8,37 bilhões de USD, entre janeiro e agosto de 2018.
  2. A comparação entre agosto de 2017 e 2018 mostra que as exportações da RMC cresceram aproximadamente 5,81%, enquanto as importações continuam crescendo em ritmo mais acelerado,  13,13%.
  3.  O deficit da balança comercial, em agosto/2018, atingiu o seu maior valor no ano, superando o recorde de julho/2018, a despeito do recorde das exportações no ano.
  4. Cidades que abrigam empresas da indústria de máquinas de processamento e celulares geraram mais deficits no período, enquanto aquelas que são sede de empresas da indústria automobilística geraram resultados comerciais mais equilibrados.
  5. Houve aumento nas exportações de veículos (31,34%), medicamentos (10,92%), autopeças (11,49%) e partes de motores (20,09%). Houve queda nas exportações de soja (-86,39%), açúcar (-65,22%), outros resíduos de soja (-74,97%) e sabões e similares (-6,59%), entre 2017 e 2018.
  6. Houve aumento nas importações de sementes de soja (25,06%); ferroligas (430,88%); cebola, alho e similares (40,29%); fios, cabos e condutores (4,60%); produtos de plástico − chapas, folhas, películas e lâminas − (9,20%); e, de forma expressiva, de pneus novos (197,91%), entre 2017 e 2018.
  7. Em relação a agosto de 2017, houve diminuição das exportações de produtos de baixa (-21,18%), média-baixa (-122,97%) e alta (-28,60%) complexidade, e aumento de produtos de média (1,27%) e, sobretudo, de média-alta (15,06%) – padrão verificado também no Boletim anterior para o mês de julho/2018.
  8. Ainda em relação a agosto de 2017, houve diminuição das importações de produtos de baixa (-2,43%) e alta (-14,51%) complexidade, enquanto houve aumento expressivo das importações de produtos de média-baixa (95,75%), média (15,80%) e média-alta (10,37%) – padrão também verificado em julho/2018.

Em suma, o deficit da balança comercial continua se agravando e há sinais de maior concentração da pauta de exportação em produtos de média e média-alta tecnologia, em detrimento de produtos de alta complexidade. A pauta de importação tem dado sinais de concentração em produtos de média-baixa, média e média-alta complexidade, em detrimento de produtos de baixa e alta complexidade. Para o desenvolvimento econômico sustentado da RMC, seria desejável a redução da dependência externa, e aumento da competitividade externa, sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial dos Municípios da RMC

Tabela 1 mostra os dados da balança comercial para os municípios da RMC, acumulada para os meses entre janeiro e agosto de 2018.

A partir da Tabela 1, é possível verificar que, até o momento, a RMC exportou mais de 3,05 bilhões de USD, enquanto já importou mais de 8,37 bilhões de USD nos oito primeiros meses de 2018. Como resultado, o deficit da balança comercial acumulado no ano já atingiu mais de 5,31 bilhões de USD.

Como esperado, os municípios com maiores atividades econômicas são os que mais transacionaram com o setor externo. No entanto, dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex.: montadoras), destacam-se pelo baixo impacto que geraram no agravamento do deficit da RMC para o mês de agosto de 2018.

 Dentre os municípios que exportam menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, caracterizados por altos volumes de importação e baixos volumes de exportação.  Nota-se, no entanto, que estes municípios são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex.: computadores) e de aparelhos de telefonia (ex.: celulares), que importam grande volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados. Considerando-se os dados da série histórica para os municípios, verifica-se que a especialização produtiva dos municípios em diferentes setores industriais determina o tipo de inserção internacional do mesmo nas cadeias globais de valor. 

A Tabela 2 apresenta a variação percentual das exportações e importações municipais, comparando os meses de agosto/17 e agosto/18. É possível observar que, em agosto de 2018, em relação a agosto de 2017, as exportações da RMC cresceram aproximadamente 5,81%, enquanto as importações cresceram mais de 13,13%, no mesmo período. 

O destaque do crescimento das exportações fica, novamente, com Engenheiro Coelho (194,65%), que teve aumento expressivo na exportação de resíduos vegetais para alimentação animal e de frutas no período (produtos considerados menos complexos). É importante destacar que o município também exporta autopeças, que são produtos de maior complexidade econômica.  Artur Nogueira (43,11%) também se destaca no período pelo crescimento da exportação da fruticultura, enquanto Nova Odessa (39,55%) destaca-se pelo crescimento das exportações de partes de motores a combustão.  Dentre os municípios que apresentaram maiores quedas nas exportações, destacam-se Cosmópolis (-26,56%) e Jaguariúna (-28,01%). O caso de Cosmópolis está associado, sobretudo, à queda das exportações de açúcar de cana e de medicamentos. Em Jaguariúna, no entanto, houve queda expressiva de exportações de bombas de ar e de vácuo, compressores e similares, materiais de construção em plástico, espelhos (ex.: retrovisores, NCM 7009) e, também, das exportações de medicamentos.

Balança Comercial da RMC

A Tabela 3 apresenta os dados da balança comercial da RMC, desagregados para os oito primeiros meses do ano de 2018. A tabela traz, também, a participação relativa das exportações e importações da RMC nas atividades comerciais de São Paulo, e o saldo da balança comercial estadual para o mesmo período.

A partir dos dados da Tabela 3, é possível observar que a participação nas importações do estado foi bem maior do que a participação nas exportações, durante o ano de 2018, como vem ocorrendo na série histórica. Destaca-se que o deficit da balança comercial, em agosto, atingiu o seu maior valor no ano. Veja que, em agosto, o saldo da balança comercial do estado foi positivo, 588,27 milhões de USD, enquanto o saldo da RMC foi negativo, totalizando 832,23 milhões de USD. Estes resultados negativos ocorreram a despeito das exportações de agostos terem atingido o maior valor do ano, 463,90 milhões de USD.

A Tabela 4 mostra o resultado da balança comercial da RMC para o mês de agosto entre 2008-2018, apresentando, também, a participação das exportações e importações nos totais do estado e o saldo da balança comercial estadual para o mesmo período.  O Gráfico I apresenta os dados da balança comercial da RMC de maneira visual.

A partir dos dados da Tabela 4 e do Gráfico I, é possível verificar que o resultado das exportações de agosto/2018 é um dos melhores da série desde 2008 – abaixo apenas das exportações de agosto de 2008, 2011 e 2012 –, embora a participação nas exportações do estado (7,20%) tenha sido a segunda pior da década para o mês de agosto – superando apenas a participação de agosto de 2016.  A participação da RMC nas importações do estado, em agosto de 2018 (22,18%), foi a terceira maior da série de agosto, e tem se mostrado constante em torno de 22% nos últimos três anos.

Complexidade da Pauta da RMC

 A Tabela 5 mostra as exportações da RMC, em agosto de 2017 e 2018, de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados, bem como a variação das exportações de cada categoria no período. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[3], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.

De maneira geral, a  Tabela 5 corrobora a característica estrutural da pauta de exportação da RMC, concentrada em produtos de média e média-alta complexidade (>90%). No entanto, a comparação de agosto para os anos de 2017 e 2018 aponta para continuidade da mudança na composição da pauta, em relação às categorias de complexidade. Houve, novamente, diminuição da participação de produtos de baixa (-21,80%), média-baixa (-122,97%) e alta (-28,60%), e aumento de produtos de média (1,27%) e, sobretudo, de média-alta (15,06%) complexidade. Com a exceção da queda das exportações de produtos de alta complexidade, as demais mudanças indicam melhora na complexidade da pauta, mas não podem ser entendidas, ainda, como uma mudança estrutural ou permanente. No entanto, o mesmo padrão foi verificado em julho de 2018.

De maneira geral, a  Tabela 5 corrobora a característica estrutural da pauta de exportação da RMC, concentrada em produtos de média e média-alta complexidade (>90%). No entanto, a comparação de agosto para os anos de 2017 e 2018 aponta para continuidade da mudança na composição da pauta, em relação às categorias de complexidade. Houve, novamente, diminuição da participação de produtos de baixa (-21,80%), média-baixa (-122,97%) e alta (-28,60%), e aumento de produtos de média (1,27%) e, sobretudo, de média-alta (15,06%) complexidade. Com a exceção da queda das exportações de produtos de alta complexidade, as demais mudanças indicam melhora na complexidade da pauta, mas não podem ser entendidas, ainda, como uma mudança estrutural ou permanente. No entanto, o mesmo padrão foi verificado em julho de 2018.

As movimentações mais importantes em relação aos produtos considerados de média-alta complexidade, sempre se considerando a comparação entre os oito primeiros meses de 2017 e 2018, foram os aumentos das exportações de veículos (31,34%), medicamentos (10,92%), autopeças (11,49%) e partes de motores (20,09%). A queda de produtos de alta complexidade está associada, sobretudo, ao decrescimento das exportações de plaquetas, varetas, pontas e objetos semelhantes para ferramentas de carbonetos metálicos sinterizados ou ceramais. A queda na participação dos produtos de média-baixa complexidade está associada à redução das exportações de soja (-86,39%), açúcar (-65,22%), outros resíduos de soja (-74,97%), sabões e similares (-6,59%).

A Tabela 6 mostra as importações de julho para os anos de 2017 e 2018, de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados pela RMC.

De maneira geral, a Tabela 6 também corrobora a característica estrutural da pauta de importação da RMC, concentrada em produtos de média e média-alta complexidade econômica (>90%). No entanto, a comparação de agosto para os anos de 2017 e 2018 aponta para mudanças na composição da pauta de importação. As mudanças mais evidentes estão na diminuição da importação de produtos de baixa (-2,43%) e alta (-10,94%) complexidade.  Ao contrário do verificado na edição anterior do Boletim, as demais categorias não se mantiveram estáveis, tendo a participação de produtos de média-baixa complexidade crescido expressivamente (95,73%). Isto aponta para maior concentração na importação de produtos de média-baixa e média complexidade, mas não pode ser entendida, ainda, como uma mudança estrutural ou permanente.

De maneira geral, a Tabela 6 também corrobora a característica estrutural da pauta de importação da RMC, concentrada em produtos de média e média-alta complexidade econômica (>90%). No entanto, a comparação de agosto para os anos de 2017 e 2018 aponta para mudanças na composição da pauta de importação. As mudanças mais evidentes estão na diminuição da importação de produtos de baixa (-2,43%) e alta (-10,94%) complexidade.  Ao contrário do verificado na edição anterior do Boletim, as demais categorias não se mantiveram estáveis, tendo a participação de produtos de média-baixa complexidade crescido expressivamente (95,73%). Isto aponta para maior concentração na importação de produtos de média-baixa e média complexidade, mas não pode ser entendida, ainda, como uma mudança estrutural ou permanente.

Dentre os produtos mais importantes da pauta de importação que levaram ao crescimento da participação de produtos de média-baixa complexidade, sempre considerando a comparação entre os oito primeiros meses de 2017 e 2018, destaca-se o aumento das importações de sementes de soja (25,06%), ferroligas (430,88%), cebola, alho e similares (40,29%), entre outros.  Já as importações de média complexidade, aumentaram devido ao crescimento das importações de fios, cabos e condutores (4,60%), produtos de plástico (chapas, folhas, películas e lâminas) (9,20%) e, de forma expressiva, à importação de pneus novos, que cresceu 197,91% no período. Por fim, a queda da importação de produtos de alta complexidade está associada ao decrescimento das importações de centros de usinagem, máquinas de sistema monostático e estações múltiplas para trabalhar metais (-17,66%).


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.media.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.media.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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