Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas, V.2, N.4, 2019

PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

ALUNOS ORIENTADOS:

Pedro Henrique Fidelis

Pedro Batista de Sousa

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este informativo apresenta e discute em linhas gerais os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de abril/2019. Os dados utilizados nas análises são da base de dados do extinto Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços[1], atualmente incorporado ao Ministério da Economia.

Além dos dados da balança comercial agregados e desagregados por município, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Média Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. Em relação a abril de 2018, houve queda de 5,39% nas exportações da RMC, enquanto as importações cresceram 12,85%, resultando em aumento de 25,41% no déficit regional.
  2. Em relação ao mesmo período, e considerando-se os principais produtos da pauta comercial, houve aumento da exportação de inseticidas, fungicidas, herbicidas (média-média complexidade), assim como de equipamentos e dispositivos elétricos de ignição, motor de combustão interna (média-alta), enquanto houve queda na exportação de automóveis de passageiros (média-alta) e peças de tratores e veículos especiais (média-alta). Do lado das importações, destaca-se o expressivo crescimento das compras externas de inseticidas, fungicidas, herbicidas e similares (média-média), heterocíclicos de heteroátomo de nitrogênio e ácido nucleico (média-média). As importações de circuitos eletrônicos integrados (média-alta), telefones (média-alta) e peças e acessórios para veículos automotores (média-alta) tiveram quedas consideráveis.
  3. No acumulado do ano, a RMC importou 4,15 bilhões de dólares (crescimento de 8,76% comparado ao mesmo período de 2018), enquanto exportou pouco mais de um terço deste valor, 1,39 bilhão de dólares (retração de 11,58% comparado ao mesmo período de 2018). Como resultado, acumulou déficits comerciais no montante de 2,75 bilhões de dólares (aumento de 23,10% comparado ao mesmo período de 2018).

Em suma, o déficit comercial da RMC contínua em expansão no início do ano de 2019. O aumento das importações de agroquímicos pode representar um aumento na produção agrícola regional e nacional, bem como uma reorganização produtiva das empresas do setor que estão exportando mais a partir de suas plantas localizadas na RMC. O aumento das importações de heterocíclicos de nitrogênio e ácidos nucleicos também indica aumento de atividade da indústria farmacêutica. Já a queda nas importações de circuitos eletrônicos, aparelhos telefônicos, bem como de peças, partes e acessórios de veículos indica queda na atividade industrial desses setores.

Para o desenvolvimento econômico sustentado, é desejável a redução da dependência externa, e aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial e Complexidade em abril/2019

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de abril entre 2009 e 2019.

A partir dos dados da Tabela 1, é possível verificar que as exportações de abril/2019 – 380,01 milhões de dólares – apresentaram queda de (–5,4%) em relação ao mesmo período de 2018, e a participação nas exportações do estado (6,89%) é a terceira menor da série histórica. As importações totalizaram 1,11 bilhão de dólares. A participação da RMC nas importações do estado (21,58%) foi a maior da década. Nota-se que as importações cresceram 6,41%, em relação a abril de 2018, resultando no crescimento de 25,41% no déficit da balança comercial regional. É preciso destacar que enquanto o déficit regional chegou a 731,07 milhões de dólares, o superávit do estado de São Paulo foi de apenas 366,16 milhões. Em outras palavras, sem o déficit da RMC o estado de São Paulo teria um superávit de 1,09 bilhão de dólares.

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de abril de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[3], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.

Nota-se que a queda do valor exportado esteve ligada ao decrescimento das exportações de produtos de todas as categorias de complexidade, exceto da categoria de média-baixa complexidade que teve crescimento de 71,11%, puxado sobretudo pelo aumento de 1.455,01% das exportações de petróleo e derivados (gasolina, diesel, querosene, nafta e outros) e de 137,26% nas exportações de soja.

 Considerando-se as categorias de maior participação na composição da pauta de exportação regional, destaca-se a queda de 6,12% na categoria de produtos de média-alta complexidade. Os principais produtos relacionados à queda dos valores exportados nesta categoria foram veículos para transporte de pessoas (-52,98%), peças e acessórios para veículos (-24,42%), peças para motores de ignição por combustão interna (-7,92%).  Por outro lado, a queda no valor exportado da categoria de média-alta complexidade foi amortecida pelo aumento das exportações de medicamentos (71,19%), bem como de motores e geradores elétricos (163,95%).

A pequena queda na categoria de média-média complexidade (-0,43%) deu-se, sobretudo, pela queda das vendas externas do complexo de polímeros de etileno (ex. termoplásticos) (-13,59%) e máquinas para construção civil (-8,21%). Por outro lado, a queda no valor exportado na categoria de média-média complexidade foi amortizada pelo expressivo aumento das vendas externas de inseticidas, fungicidas, herbicidas etc. (varejo) (53,95%), pneus novos de borracha (4,67%) e polímeros de etileno (plástico simples) (24,47%).

 Por fim, a queda da categoria de baixa complexidade deu-se pela queda das exportações de borracha natural e gomas, em forma primária, chapas, etc. (-94,23%), enquanto a queda na categoria de alta complexidade deu-se pela redução das exportações de equipamento para análises físicas e químicas (-54,55%), centro de usinagem, máquina de transferência única/multi-estações (-18,73%) e placas de ferramentas, pontas, metal duro sintetizado (-69,32%).

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês de abril de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados.

Nota-se que o crescimento das importações em abril deu-se, sobretudo, pelo crescimento de 53,56% no valor importado da categoria média-média complexidade. Dentre os produtos desta categoria, destaca-se o aumento das importações de inseticidas, fungicidas e herbicidas (198,74%), compostos heterocíclicos de oxigênio (ex. produção de solventes) (180,94%), fio e cabo (incluindo condutores elétricos, cabos coaxais e fibra ótica) (13,23%) e carbonatos (ex. para produção de vidros e sabões) (606,34%).

A queda nas importações de produtos de média-baixa complexidade (-33,43%) deu-se pela queda nas importações de semente, frutas e esporos, para semear (-41,81%), ferro-ligas (-45,43%) e adubos minerais ou químicos nitrogenados (-80,73%). Também houve queda nas importações de produtos de baixa complexidade (-37,08%), devido à queda nas importações de borracha natural e gomas, em forma primária, chapas, etc. (-44,44%), e minérios de nióbio, tântalo, vanádio, zircônio e outros (-78,13).

O aumento expressivo das importações de alta complexidade deu-se pelo aumento das importações de equipamentos para análises físicas e químicas (74,34%). Por fim, a alta na categoria de média-alta complexidade (6,48%, está ligada ao aumento da importação de circuitos integrados eletrônicos e micromontagens (1,63%), aparelhos elétricos para telefonia, telegrafia (4,13%), peças e acessórios para veículos (12,10%) e heterocíclicos de nitrogênio e ácido nucleico (52,00%).

Balança Comercial e Complexidade no Acumulado do ano de 2019

A Tabela 4 apresenta os dados da balança comercial da RMC, desagregados para os quatro primeiros meses (janeiro a abril) do ano de 2019.

Em 2019, a RMC já importou 4,14 bilhões de dólares, enquanto exportou 1,39 bilhão, o que representa aproximadamente pouco menos de 1/3 do valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit regional acumulado de 2,75 bilhões de dólares, superando o déficit comercial do estado de São Paulo que foi de 1,27 bilhão.

A Tabela 5 apresenta os principais produtos exportados em 2019.

Os produtos listados na Tabela 5 totalizam mais de 51% das exportações totais do ano. De modo geral, houve queda das exportações de 11 dos 15 produtos mais exportados da RMC. Nota-se que as exportações do complexo automotivo (automóveis e peças, capítulo 87) tiveram queda em alguns produtos em relação ao mesmo período do ano passado, com destaque para automóveis de passageiros, dada a crise no principal mercado de destino desses produtos, a Argentina. Destaca-se também a queda das exportações de peças para motores de ignição por combustão, peças de tratores e veículos especiais e equipamento automático de regulação ou controle. Também houve aumento das exportações de bombas de ar ou vácuo, compressores e ventiladores e aparelhos elétricos para motores de ignição. Dentre as principais quedas, destacam-se as variações nas exportações de automóveis de passageiros.

A Tabela 6 apresenta os principais produtos importados em 2019 pela RMC.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam mais de 53% das importações realizadas pela RMC em 2019. Destaca-se o crescimento expressivo das importações de inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros; compostos heterocíclicos de nitrogênio, ácido nucleico e seus sais e outros compostos de heterocíclicos (insumos da indústria química e farmacêutica); outros compostos orgânicos e inorgânicos; máquinas de processamento automático; e medicamentos. Houve queda mais acentuada na importação de circuitos eletrônicos integrados; peças e acessórios para veículos; peças e acessórios para máquinas de escritórios; e peças para motores de ignição por combustão.

A Tabela 7 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para o ano de 2019.

Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional.

 Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação realizado pelas empresas localizadas nestes municípios.  Estes são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.média.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.média.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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