Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas, V.2, N.2, 2019

PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este informativo apresenta e discute, em linhas gerais, os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de fevereiro/2019. Os dados utilizados nas análises são da base de dados do extinto Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços[1], atualmente incorporado ao Ministério da Economia.

Além da apresentação dos dados da balança comercial agregados e desagregados por municípios, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Media Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. Em relação a fevereiro de 2018, houve queda de 12,39% nas exportações da RMC, enquanto as importações cresceram 3,38%, resultando em aumento de 15,33% no déficit regional.
  2. Em relação ao mesmo período, e considerando-se os principais produtos da pauta comercial, houve aumento na exportação de veículos de passageiros (média-alta complexidade) e bombas de ar e vácuo, compressores e ventiladores (média-alta), enquanto houve queda na exportação de medicamentos (média-alta), partes e acessórios de tratores e veículos especiais, partes de motores à combustão, e pneus. Do lado das importações, destaca-se o expressivo crescimento das compras externas de inseticidas, fungicidas, herbicidas e similares (média-média). As importações de telefones (média-alta) e circuitos eletrônicos integrados (média-alta) tiveram quedas consideráveis.
  3. No acumulado do ano, a RMC importou 2,04 bilhões de dólares, enquanto exportou pouco menos de um terço deste valor (646,88 milhões), acumulando déficit comercial no montante de 1,39 bilhão de dólares.

Em suma, o déficit comercial da RMC continua em expansão no início do ano de 2019. Para o desenvolvimento econômico sustentado, são desejáveis a redução da dependência externa e o aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

A partir dos dados da Tabela 1, é possível verificar que as exportações de fevereiro/2019 – 336,51 milhões de dólares – apresentaram queda de 12,39% em relação ao mesmo período de 2018, e a participação nas exportações do estado (7,59%) é a terceira menor da série histórica. As importações totalizaram 667,19 milhões de dólares. A participação da RMC nas importações do estado (17,85%) foi a terceira maior da década. Nota-se que as importações cresceram 3,38%, em relação a fevereiro de 2018, resultando no crescimento de 15,83% no déficit da balança comercial regional. É preciso destacar que enquanto o déficit regional chegou 563,6 milhões de dólares, o déficit do estado de São Paulo foi de apenas 17,5 milhões de dólares. Em outras palavras, sem o déficit da RMC, o estado de São Paulo teria um superávit de 546,1 milhões de dólares.

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês fevereiro de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[3], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.

Nota-se que a queda do valor exportado esteve ligada ao decrescimento das exportações de produtos de todas as categorias de complexidade, exceto da categoria de baixa complexidade que teve crescimento de 0,78%.

 Considerando-se as categorias de maior participação na composição da pauta de exportação regional, destaca-se a queda no valor exportado da categoria de média-média complexidade – 16,07%. Dentre os principais produtos dentro desta categoria estão pneus (-18,38%), polímeros de etileno (-17,26%) e polímeros de propileno e outras olefinas (-33,40%). A categoria de média-alta complexidade teve queda de -6,70%.

Os principais produtos relacionados à queda dos valores exportados nesta categoria foram medicamentos (-25,06%), partes e acessórios de veículos automotores (-11,06%), e partes de motores à combustão (-19,27%).  Por outro lado, a queda no valor exportado da categoria de média-alta complexidade foi amortecida pelo aumento das exportações de veículos (11,14%) e bombas de ar ou de vácuo, compressores e ventiladores (62,39%).

A queda na categoria de alta complexidade deu-se, sobretudo, pela expressiva queda das vendas externas de equipamento para análises físicas e químicas (-34,62%) e centros de usinagem, máquinas de sistema monostático e máquinas de estações múltiplas, para trabalhar metais (-79,46%). Por fim, o crescimento da categoria de baixa-complexidade deu-se pelo aumento das exportações de algodão (16,13%) e pela ocorrência da exportação de sementes de frutos oleaginosos (272,7 mil dólares), provavelmente semente de algodão.

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês fevereiro de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados.

Nota-se que o crescimento das importações em fevereiro deu-se, sobretudo, pelo crescimento de 53,44% no valor importado da categoria média-média complexidade. Dentre os produtos desta categoria, destaca-se o aumento das importações de inseticidas, fungicidas e herbicidas (266%), ácidos carboxílicos (171%) e preparações para ração animal (54,05%).

A queda nas importações de produtos de média-alta complexidade deu-se pela queda nas importações de papel fotográfico (79,93%) e pela não importação de carimbos (incluindo datadores e numeradores) e veículos de passageiro. O aumento expressivo das importações de alta complexidade deu-se pelo aumento expressivo nas importações de equipamentos para análises físicas e químicas (172%), plaquetas, varetas e semelhantes para ferramentas de carbonetos metálicos ou ceramais (27,83%). Por fim, a queda na categoria de baixa complexidade está ligada à redução da importação de borracha natural (-49,10%), consequência da queda na exportação de pneus verificada anteriormente.

Balança Comercial e Complexidade no Acumulado do ano de 2019

A Tabela 4 apresenta os dados da Balança Comercial da RMC, desagregados para os dois primeiros meses do ano de 2019.

Em 2019, a RMC já importou 2,03 bilhões de dólares, enquanto exportou 646,88 milhões, o que representa aproximadamente 1/3 do valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit regional acumulado de 1,39 bilhão de dólares, superando o déficit comercial do estado de São Paulo que foi de 1,08 bilhão.

A Tabela 5 apresenta os principais produtos exportados em 2019.

Os produtos listados na Tabela 5 totalizam mais de 51% das exportações totais do ano. Nota-se que as exportações do complexo automotivo (automóveis e peças, capítulo 87) seguem em alta em relação ao mesmo período do ano passado.  Destaca-se também o crescimento das exportações de peças de veículos especiais, bombas de ar ou vácuo, compressores e ventiladores e aparelhos elétricos para motores de ignição. Dentre as principais quedas, destacam-se as variações nas exportações de medicamentos e pneus.

A Tabela 6 apresenta os principais produtos importados, em 2019, pela RMC.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam mais de 53% das importações realizadas pela RMC em 2019. Destaca-se o crescimento expressivo das importações de inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros, compostos heterocíclicos de heteroátomos de nitrogênio, máquinas de processamento automático, ácido nucleico e seus sais, outros compostos orgânicos e inorgânicos, medicamentos, e acumuladores e separadores elétricos. Houve queda mais acentuada na importação de peças de tratores e veículos especiais, partes de máquinas de escritório, sangue preparado para uso terapêutico, profilático ou diagnóstico, e parte de motores de propulsão (aviação e embarcações).

A Tabela 7 traz os dados da Balança Comercial para os municípios da RMC, para o ano de 2019.

Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional.

 Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nestes municípios.  Estes municípios são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.media.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.media.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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