Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas, V.2, N.3, 2019

PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

ALUNOS ORIENTADOS:

Pedro Henrique Fidelis

Pedro Batista de Sousa

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este informativo apresenta e discute, em linhas gerais, os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de março/2019. Os dados utilizados nas análises são da base de dados do extinto Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços[1], atualmente incorporado ao Ministério da Economia.

Além dos dados da balança comercial agregados e desagregados por municípios, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC, a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos (PCI, sigla em inglês), calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Média Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. Em relação a março de 2018, houve queda de 13,29% nas exportações da RMC, enquanto as importações cresceram 6,52%, resultando em aumento de 23,10% no déficit comercial regional.
  2. Em relação ao mesmo período, e considerando-se os principais produtos da pauta comercial, houve aumento da exportação de veículos de passageiros (média-alta complexidade), medicamentos (média-alta) e inseticidas, fungicidas, herbicidas (média-média), enquanto houve queda na exportação de partes e acessórios de tratores e veículos especiais (média-alta), partes de motores à combustão, e pneus. Do lado das importações, destaca-se o expressivo crescimento das compras externas de inseticidas, fungicidas, herbicidas e similares (média-média) e de aparelhos telefônicos (média-alta). As importações de circuitos eletrônicos integrados (média-alta) e peças de tratores e veículos especiais (média-alta) tiveram quedas consideráveis.
  3. No acumulado do ano, a RMC importou 3,03 bilhões de dólares, enquanto exportou aproximadamente um terço deste valor (1,01 bilhão), acumulando déficit comercial no montante de 2,01 bilhões de dólares.

Em suma, o déficit comercial da RMC contínua em expansão no início do ano de 2019. Para o desenvolvimento econômico sustentado, é desejável a redução da dependência externa e o aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial e Complexidade em Março/2019

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de março entre 2009 e 2019.

A partir dos dados da Tabela 1, é possível verificar que as exportações de março/2019 – 368,89 milhões de dólares – apresentaram queda de 13,29% em relação ao mesmo período de 2018, e a participação nas exportações do estado foi de 7,68%. As importações totalizaram 994,76 milhões de dólares. A participação da RMC nas importações do estado (21,87%) foi a maior da década. Nota-se que as importações cresceram 6,52%, em relação a março de 2018, resultando no crescimento de 23,10% no déficit da balança comercial regional. É preciso destacar que enquanto o déficit regional chegou a 625,86 milhões de dólares, o superávit do estado de São Paulo foi de 253,61 milhões. Em outras palavras, sem o déficit da RMC, o estado de São Paulo teria um superávit de 879,47 milhões de dólares.

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês março de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[3], portanto, com maiores níveis de produtividade e renda. Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários.

Nota-se que a queda do valor exportado esteve ligada ao decrescimento das exportações de produtos de quase todas as categorias de complexidade – a categoria de baixa complexidade teve crescimento de 728,18%, e a de alta complexidade cresceu 6,83%.

 Considerando-se as categorias de maior participação na composição da pauta de exportação regional, destaca-se a queda no valor exportado da categoria de média-média complexidade (-22,75%). Dentre os principais produtos dentro desta categoria estão pneus (-34,54%), polímeros de etileno (-33,17%) e polímeros de propileno e outras olefinas (-15,45%).

A categoria de média-alta complexidade teve queda de 6,79%.  Os principais produtos relacionados à queda dos valores exportados nesta categoria foram de peças de tratores e veículos especiais (-32,27%), e partes de motores de propulsão (-23,49%). Por outro lado, a queda no valor exportado da categoria de média-alta complexidade foi amortecida pelo aumento das exportações de medicamentos (33,94%).

O aumento na categoria de alta complexidade deu-se, sobretudo, pelo expressivo aumento das vendas externas de equipamento para análises físicas e químicas (21,56%) e placas de ferramentas, pontas etc (17,13%). Por fim, o crescimento da categoria de baixa-complexidade deu-se pelo expressivo aumento das exportações de borracha natural e gomas, que passou de pouco mais de mil dólares, em março de 2018, para 281 mil dólares em março de 2019.

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês março de 2019, agregadas de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados.

Nota-se que o crescimento das importações deu-se, sobretudo, pelo crescimento de 71,42% no valor importado da categoria média-média complexidade. Dentre os produtos desta categoria, destaca-se o aumento das importações de inseticidas, fungicidas e herbicidas (532,48%), outras chapas, folhas, películas de plástico (18,48%) e compostos heterocíclicos de heteroátomos de oxigênio (18,62%).

A queda nas importações de produtos de média-alta complexidade deu-se pela queda nas compras de circuitos eletrônicos integrados (-3,38%) e peças de tratores e veículos especiais (-15,31%), e foi fortemente amortecida pelo aumento das importações de compostos heterocíclicos de heteroátomos de nitrogênio (200%).

O aumento das importações de alta complexidade deu-se pelo aumento expressivo nas importações de plaquetas, varetas, pontas de carbonetos metálicos sinterizados ou de ceramais para ferramentas (26,24%) e equipamentos para análise físico-química (4,51%). Por fim, a queda na categoria de baixa complexidade está ligada à redução da importação de borracha natural (-75,96%), consequência da queda na exportação de pneus verificada anteriormente.

Balança Comercial e Complexidade no Acumulado do ano de 2019

A Tabela 4 apresenta os dados da balança comercial da RMC, desagregados para os três primeiros meses do ano de 2019.

Em 2019, a RMC já importou 3,03 bilhões de dólares, enquanto exportou 1,01 bilhão – isto é, aproximadamente 1/3 do valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit comercial regional de 2,01 bilhões de dólares, superando o déficit comercial do estado de São Paulo que foi de 1,11 bilhão.

A Tabela 5 apresenta os principais produtos exportados em 2019.

Os produtos listados na Tabela 5 totalizam mais de 51% das exportações totais do ano. De maneira geral, houve queda nas exportações de 10 dos 15 produtos mais exportados pela RMC. Em relação às exportações do capítulo 87, automóveis seguem em alta, mas houve variação negativa para peças de tratores de veículos especiais em relação a março do ano passado (-26,00%).  Destaca-se também o crescimento das exportações de inseticidas, bombas de ar ou vácuo, compressores e ventiladores, e óleos de petróleo, betuminosos, destilados (exceto petróleo bruto). Dentre as principais quedas, destaca-se, também, a queda nas exportações de peças para motores de ignição.  

A Tabela 6 apresenta os principais produtos importados, em 2019, pela RMC.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam mais de 53% das importações realizadas pela RMC em 2019. Destaca-se o crescimento expressivo das importações de inseticidas, fungicidas, herbicidas e outros, compostos heterocíclicos de heteroátomos de nitrogênio, máquinas de processamento automático, ácido nucleico e seus sais, outros compostos orgânicos e inorgânicos e medicamentos. Houve queda mais acentuada na importação de peças de tratores e veículos especiais, partes de máquinas de escritório, sangue preparado para uso terapêutico, profilático ou diagnóstico, e parte de motores de propulsão (aviação e embarcações).

A Tabela 7 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para o ano de 2019.

 Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional.

 Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação realizado pelas empresas localizadas nestes municípios. Estes são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes, e exportam pequenos volumes de produtos acabados.


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.média.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.média.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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