Proteção social à população idosa diante da pandemia da Covid-19 na Região Metropolitana de Campinas

Elaboração técnica:

Dr. Cristiano Monteiro da Silva – Docente Extensionista da PUC-Campinas

Alunos extensionistas:

Guilherme de Menezes Carloni
Gabriela leal Paes
Gabriela Martos de Oliveira
Laura di Lacio Aboud
Luana Bueno Ortolan
Luana Nicole Gulicz Vial
Nathalia Falsetti
Pedro Henrique de Carolis Sodre
Rafaela Afonso Santos
Rozelelpane Eliazama Bernardo Silva
Tiago Casagrande Ferrari

Introdução

A crise social relacionada à pandemia da Covid-19 pode ser encarada como um momento especial para se ampliarem as medidas de proteção aos grupos de pessoas em situação de riscos de vulnerabilidade social. Vê-se que a população idosa está enfrentando as piores condições neste momento tão difícil da sociabilidade brasileira. A saúde da pessoa idosa está sendo afetada por conta das emoções negativas derivadas da ausência de interação com os entes queridos, ademais que a Covid-19 acomete muito a pessoa idosa. Diante desse contexto, tanto o poder público como a institucionalidade privada precisam ampliar as ações e políticas de proteção social e defesa da vida dos idosos. 

Este trabalho direciona o pensamento para as relações entre o declínio do índice de isolamento social e os riscos de vulnerabilidade da população idosa vivenciadas em cidades da Região Metropolitana de Campinas. Cabe observar que o índice de isolamento social transparece a mobilidade dos grupos de pessoas. Neste primeiro momento, vê-se que são intensas as mobilidades dos adultos entre 30 e 50 anos, em função de suas formalidades com as atividades de trabalho. Porém, em função da anunciada abertura dos sistemas de Serviços e Comércio, provável é que muito em breve se verá a mobilidade social dos jovens e o maior volume de adultos, o que, por sua vez, constituirá um fator dinâmico ainda mais forte e impactante sobre os riscos de vulnerabilidade das pessoas idosas

O procedimento metodológico apreende os números de casos e óbitos decorrentes da pandemia da Covid-19, por meio de uma leitura interativa envolvendo os aspectos do desenvolvimento social da Região Metropolitana de Campinas. Tendo essa premissa, o passo seguinte se volta para a análise implícita de dados expressivos dos fatores emergentes desse processo social.

A estrutura do texto contempla o esforço analítico e exploratório de dados, na primeira parte, sucedido por uma exposição de noções sobre esse fenômeno, no sentido de pôr em discussão algumas ações e políticas públicas favoráveis à proteção social e à defesa da vida dos idosos.

  1. Situação de casos e óbitos da Covid-19

Os gráficos desta parte do estudo mostram a situação de casos e óbitos da Covid-19, em alguns municípios da Região Metropolitana de Campinas, no período que marca a última semana de junho deste ano.

O município de Campinas chegou ao final do mês de junho com o maior número de casos, seguido por Sumaré. Contudo, o aumento percentual de casos da cidade de Santa Bárbara d’Oeste foi o mais expressivo, em torno de 55%. Logo após aparecem Indaiatuba (48%), Sumaré (40%) e Hortolândia (39%). Como se nota, a região foi marcada por um aumento considerável do número de casos e óbitos, nessa última semana de junho.

Gráfico 1 – Número de casos da Covid-19 em cidades da Região Metropolitana de Campinas

FONTE: SEADE (2020)

O gráfico 2 desvela a situação do número de óbitos da Covid-19, na mesma localidade e período de tempo relatada no último parágrafo. Nota-se que as cidades Vinhedo e Valinhos aparecem com a variabilidade mais expressiva desse triste fato do problema social.

Gráfico 2 – Número de óbitos da Covid-19 em cidades da Região Metropolitana de Campinas

FONTE: SEADE (2020)

O gráfico 3 mostra um tipo de razão entre os óbitos e o número de casos da Covid-19. A cidade de Indaiatuba enfrenta uma taxa de letalidade por volta de 7,7%, que desvia um pouco da referência média nessas cidades.  

Gráfico 3 – Letalidade da Covid-19 em cidades da Região Metropolitana de Campinas

FONTE: SEADE (2020)

O último gráfico desta primeira parte serve mais para aludir ao declínio do índice de isolamento social em cidades da Região Metropolitana de Campinas. Nota-se que essa mediação está perdendo a sua efetividade perante os grupos de pessoas residentes nessa mencionada localidade. Isso ocorre porque o indicador se situava por volta de 70%, na fase inicial deste problema social, em meados de março, e agora se vê em torno de 50%. Cabe salientar que a anunciada decisão de flexibilização das atividades de trabalho logo reduzirá ainda mais esse indicador.

Gráfico 4 – Taxa de isolamento social em cidades da Região Metropolitana de Campinas

FONTE: SEADE (2020)

Em síntese, o declínio do isolamento social vem produzindo o aumento do número de casos e óbitos derivados da pandemia da Covid-19, ademais que o crescimento do número de casos ligados a Santa Bárbara d’Oeste expressa o que se pode chamar de interiorização desse problema social.

  1. Situação da população idosa

Sabe-se que o número de óbitos acometendo os Idosos, no período de março a julho deste ano, infelizmente, é maior do que o ocorrido no mesmo período do ano passado, muito em função da pandemia da Covid-19. Esse ponto de vista é substanciado pelos dados de casos e óbitos da Covid-19 levando-se em conta o atributo da faixa etária das pessoas acometidas pela doença. Vê-se facilmente que a taxa de letalidade entre os idosos é demasiadamente mais alta do que o ocorrido com a população de jovens e adultos.[1]

            O gráfico 5 permite a leitura sobre a situação de Campinas.  O número de casos da Covid-19 se concentra na faixa etária entre 30 e 59 anos, mais forte para a faixa etária de 30 a 39 anos, nesse caso, em torno de 24,70%.

Gráfico 5 – Distribuição do número de casos da Covid-19 por faixa etária na cidade de Campinas

FONTE: SEADE (2020)

Por outro lado, o número de óbitos se concentra nas faixas etárias que caracterizam a população idosa, ou seja, acima de 60 anos. A faixa etária de 70 a 79 anos com o percentual de 27,60%, depois a população com a idade de 80 a 89 anos.

Gráfico 6 – Óbitos derivado da Covid-19 por faixa etária na cidade de Campinas

FONTE: SEADE (2020)

Os dois seguintes gráficos dão conta da situação de Indaiatuba. O primeiro revela o número de casos. Logo se vê a expressividade da faixa etária entre 30 e 59 anos. Porém o ponto diferencial da situação anterior é o alto número de óbitos dos Idosos na faixa etária de 60 a 69 anos, em torno de 36%, seguido pelo resultado de 21,1% relacionados à faixa etária de 70 a 79 anos.

Gráfico 7 – Distribuição do número de casos da Covid-19 por faixa etária na cidade de Indaiatuba

FONTE: SEADE (2020)

Gráfico 8 – Óbitos derivados da Covid-19 por faixa etária na cidade de Indaiatuba

FONTE: SEADE (2020)

Os gráficos 9 e 10 alinham-se à situação do município de Americana. As pessoas que estão dentro da faixa etária de 30 a 59 anos concentram os casos de Covid-19. A faixa etária de 60 a 69 anos aparece com a infeliz estatística de óbitos na ordem de 34,8%, seguida pela faixa de 70 a 89 anos.

Gráfico 9   – Distribuição do número de casos da Covid-19 por faixa etária na cidade de Americana

FONTE: SEADE (2020)

Gráfico 10 – Óbitos derivados da Covid-19 por faixa etária na cidade de Americana

FONTE: SEADE (2020)

Em Hortolândia, a distribuição de casos da Covid-19 manifesta um percentual de jovens, na faixa etária de 20 a 29 anos, um pouco acima dos demais municípios. Além disso, diz-se que a letalidade na faixa etária de 50 a 59 anos está na ordem de 19,20%, e supera o mencionado padrão de referência.

Gráfico 11   – Distribuição do número de casos da Covid-19 por faixa etária na cidade de Hortolândia

FONTE: SEADE (2020)

Gráfico 12 – Óbitos derivados da Covid-19 por faixa etária na cidade de Hortolândia

FONTE: SEADE (2020)

Por último, cabe observar que a participação da população idosa nas cidades da Região Metropolitana de Campinas cada vez é mais expressiva. O gráfico 14 evidencia que a faixa etária de 60 anos e Mais representa uma população estimada em torno de 475.700 pessoas. A população idosa representa algo em torno de 15% do conjunto populacional da Região Metropolitana de Campinas.

Gráfico 14 – Distribuição da população idosa na Região Metropolitana de Campinas (2020)

Fonte: SEADE/AGEMCAMP (2020)

Os indicadores sociais revelam que essa população idosa, em sua maior parte, reside em domicílio junto com pessoas jovens e adultas, mais forte para os territórios de alto nível de riscos de vulnerabilidade social.

Noções gerais

À primeira vista, a mobilidade social das pessoas economicamente ativas elevou os riscos de vulnerabilidade da população idosa. Deduz-se isso levando-se em consideração que a faixa etária de 30 a 50 anos concentra o maior número de casos da Covid-19 em cidades da Região Metropolitana de Campinas. Sendo assim, de novo se pode deduzir que a queda da taxa de isolamento social, em razão da flexibilização das atividades do Comércio e Serviços privados e públicos, na medida em que possibilitará a maior interação social dos jovens e adultos, logo será mais uma força impactante sobre as condições da vida social e os riscos de vulneralidade social das pessoas idosas.

A taxa de letalidade mais alta está vinculada à população idosa em cidades da Região Metropolitana de Campinas. Deduz-se logicamente que isso vem acontecendo por conta dos riscos à saúde humana da pessoa idosa, sim! Porém, outro ponto, de natureza social, é levantado neste trabalho. O atraso histórico na produção de moradias particulares para as novas gerações de pessoas, em outras palavras, o fato de muitos jovens e adultos residirem com as pessoas idosas, faz-se como um problema social que agrava a situação da pandemia de Covid-19, em total desfavor dos Idosos. Cabe salientar que a questão está na composição da moradia familiar. Neste âmbito prevalece a interação entre as pessoas economicamente ativas, neste caso, jovens e adultos, e as pessoas idosas.

Este estudo posiciona-se de forma propositiva com ações sociais e políticas públicas. É necessária a construção de uma ciência de dados no sentido de uma análise implícita e a atribuição classificadora dessa população idosa, em termos específicos, o olhar georreferenciado da moradia familiar, a vinculação social com pessoas economicamente ativas, enfim, muitos são os atributos classificadores que podem sair deste processo analítico.  Esses dados podem ser extraídos dos bancos do Cadastro Único, os dados primários das Secretarias Municipais de Saúde, além da possibilidade da coleta e processamento de forma não estruturada.

O Setor Público e a institucionalidade constituída em torno do sistema regional de proteção social, além das importantes ações e políticas públicas em curso, no sentido de ampliar esses alcances, poderiam adotar algumas medidas como, por exemplo:

  • a contratação emergencial de profissionais categorizados como “Cuidadores de Idosos”. Diga-se de passagem, esse plano que envolve a mobilização de profissionais poderia assegurar a geração de empregos e o poder aquisitivo das famílias. Portanto, um serviço especializado que seria responsabilizado pelo contato direto com as famílias caracterizadas por esse discutido risco de vulnerabilidade social dos Idosos;
  • a adoção de trabalho Home Office para os jovens e adultos economicamente ativos que residem com pessoas idosas também se apresenta como uma solução capaz de dirimir o problema em pauta. Diante do contexto das recentes decisões de flexibilização das atividades do Comércio e Serviços, o que por sua vez colocará novos efeitos dinâmicos sobre os riscos de vulnerabilidade a pessoa idosa, tal medida precisa ser refletida e adotada; 
  • o acompanhamento digital da taxa de isolamento social das pessoas jovens e adultas que residem com idosos, sendo que esse acompanhamento também poderia servir a coleta e processamento de dados não estruturados, tendo em vista a boa ciência em torno do problema social da pandemia de Covid-19.

Referências bibliográficas

AGEMCAMP. Observatório Metropolitano de Indicadores da RMC. Disponível em: http://www.agemcamp.sp.gov.br. Acesso em: 29/06/2020.

JANNUZZI, Paulo Martinho. Indicadores Sociais no Brasil. São Paulo: Editora Alínea. 2009.

SEADE. Boletim do Coronavírus. Disponível em: https://www.seade.gov.br/coronavirus/. Acesso em: 29/06/2020.  

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DE SÃO PAULO. Indicadores da saúde. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/ses/perfil/profissional-da-saude/informacoes-de-saude-/tabnet-ses-indicadores-de-saude.Acesso em: 29/06/2020.

[1] Os gráficos desta parte do trabalho que versam sobre a situação de acometimento dos idosos incorporam o acumulado de casos e óbitos até 29/06.


Prof. Dr. Cristiano Monteiro da Silva

Pós Doutorado em Economia (2013,UNICAMP). Doutorado em Ciências Sociais (2010/PUC-SP), áreas de concentração: relações internacionais e ciência política. Mestrado em Economia (2002/PUC-SP). Graduação em Economia (2000/USF). Pós-graduação em Ciências de Dados. Pós-graduação em Marketing. Pós-graduação em Políticas Publicas. Inúmeros cursos de curta duração: linguagem R, gestão de vendas, marketing digital, finanças corporativas, gestão de custos, contabilidade básica e econometria aplicada, matemática, educação, gestão de negócios. Docente Extensionista da PUC/Campinas; Faculdades de Direito e Ciências Econômicas. (Fonte: Currículo Lattes).


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