COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N08|Semana 08 (21/02 a 27/02)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 27/02, o Brasil notificou 10,5 milhões de casos e 254,2 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 54 mil novos casos e  1,17 mil  novas mortes por dia [1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 21/02 e encerrada em 27/02 – semana epidemiológica de número 08, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 28/02, foram notificados 219,9 mil casos e 5,3 mil mortes, no DRS-Campinas – letalidade de 2,45%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 158,7 mil casos e 4,05 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,55%. Por fim, o município de Campinas registrou 56,1 mil casos até o momento, com 1,8 mil óbitos – letalidade de 3,21% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Em linhas gerais, apenas 2 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos, evidenciando o aumento generalizado e significativo dos casos no estado de São Paulo. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram alta nesta semana, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

Figura 1. Curva Epidemiológica Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 7,03 mil casos no DRS-Campinas (variação de 8,9%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 4,7 mil foram registrados na RMC (var. 0,04%) e 1,6 mil em Campinas (var. 9,64%). Foram 173 mortes no DRS-Campinas (var. 22,7%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Dessas mortes, 130 ocorreram na RMC (var. 16,7%) e 60 em Campinas (var. -22,45%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 1210 e 1525 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Holambra e Indaiatuba são os municípios com maior incidência, todos com mais de 6076 casos por 100 mil habitantes.

Figura 3.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 158 e 150 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 123 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

De acordo com 23º balanço do Governo do Estado, publicado no dia 26/02/21, o DRS-Campinas encontra-se, neste momento, na fase laranja do Plano São Paulo. No estado, 3 departamentos estão na fase amarela; 7, na vermelha; e 7, na laranja. 

Da perspectiva da saúde, é preciso reconhecer que o país se encontra no momento mais crítico desde o início da pandemia, e diversos estados reportam taxas de ocupação de leitos de UTI-COVID próximas a 100%, ou seja, na iminência de colapso do sistema de saúde.  Os números em Campinas não atingiram ainda os patamares do mês de julho (ainda o pior mês da epidemia em Campinas), mas pode ser que estejamos no caminho. O número de internações no DRS-Campinas aumentou 23% em relação à última semana, determinando uma sobrecarga grande ao sistema de saúde.

A taxa de ocupação de UTI-COVID em Campinas na última semana ficou todos os dias acima de 80%, mesmo com a abertura de novos leitos. Desde o início do mês de fevereiro, foram mais de 30 novos leitos intensivos.

Devido a esse aumento nas taxas de ocupação em Campinas e em outras cidades da região, o DRS-Campinas foi reclassificado para a fase laranja do Plano São Paulo. Além disso, foi instituído em todo o estado de São Paulo um “toque de restrição”, na tentativa de limitar a circulação de pessoas das 23h às 5h, com o objetivo de diminuir a ocorrência de aglomerações noturnas. Na ausência de força política para adotar medidas mais restritivas, como um lockdown, a opção do estado foi essa medida, cujo real impacto é questionável, visto que as aglomerações já eram proibidas há meses e as multas para os infratores ainda são muito brandas.

Com o ritmo moroso da vacinação no Brasil pela falta de vacinas e esforços insuficientes do Ministério da Saúde para a aquisição de mais imunizantes, as medidas não farmacológicas são a única saída no momento para frear o ritmo de novas infecções e internações. Medidas mais drásticas para a redução de circulação de pessoas já deveriam ter sido adotadas, assim como aumento da fiscalização e multas mais pesadas aos infratores.

Do ponto de vista econômico e social, reforçamos que, embora os movimentos de recuo na liberalização das atividades econômicas possam causar perdas imediatas aos comerciantes e prestadores de serviços, a queda da atividade econômica já encontra origens que vão muito além do fechamento temporário dos estabelecimentos.

As estimativas do Ibre-FGV apontam que a economia brasileira sofreu retração de 4,0% em 2020, com crescimento de 3,4% no 4° trimestre/20, em relação ao 3° trimestre/20, na série com ajuste sazonal. O consumo das famílias caiu 5,2% em relação a 2019. Com base nas estimativas, é possível verificar um deslocamento do consumo de serviços para o de bens duráveis. Os investimentos privados (Formação Bruta de Capital Fixo – FBCF) recuaram 2,9% (em relação a 2019), puxados, sobretudo, pela queda na compra de máquinas e equipamentos. No entanto, houve aumento de 14,5% na FBCF em dezembro, na comparação interanual, indicando possível retomada de alguns segmentos como máquinas agrícolas. Por fim, no setor externo, as exportações caíram 1,9%; e as importações, 10,3%, com viés para simplificação da pauta comercial, isto é, maior participação relativa de produtos agrícolas e minerais. A RMC fechou 2020 com queda de 22,2% das exportações, 9,9% das importações e 3,8% do saldo da balança comercial. Para uma região industrial, com alta dependência da importação de insumos, esses números indicam queda da atividade produtiva voltada para vendas externa e interna, em relação a 2019.

Houve, no entanto, mudança de posição do Executivo e do Congresso sobre a reativação do auxílio emergencial. Um novo auxílio viria por meio de novo “estado de calamidade” e atenderia cerca de 40 milhões de brasileiros, ante os 68 milhões de beneficiados em 2020.  

Ao mesmo tempo, tem se formado o consenso entre os analistas de mercado e os acadêmicos de que a vacina é a única solução definitiva para o fim das restrições impostas às atividades econômicas. Embora haja capacidade de produção local, a necessidade de importação de insumos farmacêuticos tem atrasado a vacinação no Brasil. Neste momento, aproximadamente 4% da população da RMC foi vacinada, de acordo com dados da Secretaria de Saúde de SP.

Os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre setembro e novembro de 2020, estimavam uma taxa de desemprego de 14,1%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 25,71% em 12 meses, em janeiro/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna sobretudo diante da persistência dos choques de oferta.

Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico, social e sanitário atual, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser lenta.

ANEXOS

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.



[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 01/03/2021)

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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