COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N16|Semana 35 (23/08 a 29/08)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 29/08, o Brasil notificou 3,8 milhões de casos e 120,4 mil mortes pela covid-19, com uma taxa absoluta média de 37,6 mil novos casos e 887 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 23/08 e encerrada em 29/08 – semana epidemiológica de número 35, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do Estado de São Paulo. 

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 23/08, foram notificados 85,9 mil casos e 2,6 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,14%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]) foram 63,9 mil casos e 1,9 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,07%. Por fim, o município de Campinas registrou 26,9 mil casos até o momento, com 1.016 óbitos – letalidade de 3,77% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.


Em linhas gerais, 9 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do Estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes decresceram a ritmo maior, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas, em termos de novos casos, foi de 6,3 mil casos (+2,04%); RMC, 4,5 mil casos (+1,53%); e Campinas, 1,6 mil casos (-2,44%). Em relação à semana passada, as novas mortes decresceram no DRS-Campinas, totalizando 159 óbitos (-12,64%); na RMC, 135 (-10,0%); já em Campinas houve um decréscimo, 66 (-13,15%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Serra Negra, com 450 e 513 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Itupeva são os municípios com maior incidência, todos com mais de 2.100 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 14 dos 42 municípios do DRS-Campinas e 12 dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 1716,1 casos por 100 mil habitantes. 

Até o momento, 5 dos 42 municípios do DRS-Campinas não declararam mortes pela covid-19. Por outro lado, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 88 e 86 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Paulínia são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 86 e 65, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 48 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.

A reclassificação do DRS de Campinas para a fase “amarela” permitiu que os municípios da região reabrissem o comércio e demais atividades previstas. De acordo com último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 14/08, apenas as regiões de Franca e Registro estão na fase vermelha. Os demais departamentos estão na fase amarela, com exceção dos DRS de Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Barretos e as regiões norte e oeste da Grande São Paulo, as quais continuam na fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo Plano de Flexibilização do Estado.

Da perspectiva da saúde, os números indicam nova queda no registro de óbitos na região e no município de Campinas e estabilidade no registro de casos novos, indicando que a queda expressivamente elevada observada na semana anterior possivelmente ocorreu por alguma inconsistência no registro de casos. Independentemente desse fato, a questão é que a desaceleração da epidemia na região fica cada vez mais clara. Taxas de ocupação de leitos intensivos destinados a pacientes com covid-19 seguem em queda também. No dia 29/08, eram 263 pacientes internados, representando uma taxa de 68,8%. Começa-se a discutir o redirecionamento dos leitos para outras patologias.

É sempre importante reforçar que muito provavelmente essa desaceleração “por si só” não nos levará ao fim da epidemia. Sem uma vacina segura, eficaz e amplamente disponível, é bem possível que sairemos de um cenário epidêmico para um cenário endêmico da doença, no qual as incertezas acerca do comportamento do nosso sistema imunológico, principalmente no sentido de duração e qualidade da “imunidade”, nos trazem grande insegurança, alimentada ainda mais pela recente documentação de casos de reinfecção pelo mundo, ainda que pareça ser um evento raro. Um possível cenário endêmico nos obriga necessariamente a conviver com a doença. As experiências de todos os brasileiros com essa situação nos últimos seis meses nos mostram o quão desafiador pode ser esse cenário. Trata-se, de fato, de um novo modo de viver, em que, para todas as atividades do dia a dia, deveremos sempre lembrar que o vírus pode estar presente e que devemos sempre ter a máxima atenção com as medidas para evitar a infecção.

Do ponto de vista econômico e social, esta foi a terceira semana de “fase amarela” para o Departamento Regional de Saúde de Campinas. Neste momento, podem funcionar, com restrições, bares e restaurantes, salões de beleza, academias, escritórios, cursos livres, aulas práticas de autoescolas, além do relaxamento das restrições ligadas à fase anterior para o comércio e shoppings. A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, está baseada na eficácia dos protocolos na contenção da crise sanitária. Porém, a recuperação econômica, infelizmente, vai depender de outros fatores para além das reaberturas.

Em relação à atividade econômica nacional, como já apontada na semana anterior, houve aumento da atividade na comparação entre maio e julho/2020 – indústria (+8,9%), comércio (+8,0%) e serviços (5,0%). No entanto, a comparação com os meses entre janeiro-julho do ano passado mostra que a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do coronavírus – indústria (-10,9%), comércio varejista (-3,1%) e serviços (-8,3%). 

Por outro lado, os dados do mercado de trabalho preocupam, já que contrastam com os resultados relativamente positivos na recuperação da atividade econômica nacional. Após ter atingido o pior patamar desde maio, 13,7% na última semana de julho/2020, a taxa fechou a primeira semana de maio em 13,3%. Embora o número possa parecer baixo ante a dimensão da crise, as reduções de carga e salários, bem como o desalento, camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 18,3 milhões de pessoas não procuram trabalho devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 30,1% dos trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido em junho de 2020. Nesse mesmo mês, aproximadamente 35% dos domicílios paulistas receberam o auxílio emergencial, média de R$ 896,00 por domicílio.

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender, em boa medida, da retomada da capacidade de consumo das famílias e da política de gastos públicos. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses.

Como um complicador, a novidade da semana é o aumento da preocupação com um possível movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta[7] em alguns setores importantes de insumos como aço, plástico, entre outros. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos, e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, embora ainda sem grandes reflexos para o consumidor final. O IGP-M, (Índice Geral de Preços do Mercado), por outro lado, calculado pela FGV, atingiu 13,02% em 12 meses, até agosto 2020.  Esse índice captura aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Neste contexto, a retomada da demanda interna, seja via consumo das famílias, seja via  gasto do governo, deverá ser acompanhada de políticas de mitigação do aumento dos custos de insumo, como, por exemplo, a valorização do real em relação ao dólar

ANEXOS


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] Ver  https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/pandemia-distorce-custos-da-industria-e-cria-ambiente-para-alta-da-inflacao.shtml


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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