Informativo Covid-19 Campinas – V1|N17|Semana 36 (30/08 a 05/09)
Equipe:
Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]
Até o dia 05/09, o Brasil notificou 4,12 milhões de casos e 126,2 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 39,5 mil novos casos e 820 novas mortes por dia.
Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 30/08 e encerrada em 05/09 – semana epidemiológica de número 36, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.
Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)
A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do Estado de São Paulo.
Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 05/09, foram notificados 91,5 mil casos e 2,8 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,12%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]) foram 67,9 mil casos e 2,1 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,09%. Por fim, o município de Campinas registrou 28,4 mil casos até o momento, com 1.071 óbitos – letalidade de 3,76% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .
Em linhas gerais, 10 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do Estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendado desde 02/07 mas ainda em implementação por alguns municípios do Estado.
Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes decresceram a ritmo maior, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1.
A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 5,8 mil casos (-6.46%); RMC, 4,08 mil casos (-10.50%) e Campinas, 1,5 mil casos (-8.48%). Em relação à semana passada, as novas mortes cresceram no DRS-Campinas, 166 óbitos (+4.40%); na RMC, 143 (+6.71%), já em Campinas houve um decréscimo, 55 (-16.67%).
Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]
Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Serra Negra, com 520 e 550 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Itupeva são os municípios com maior incidência, todos com mais de 2.500 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 14 dos 42 municípios do DRS-Campinas e doze dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 1.852,7 casos por 100 mil habitantes.
Até o momento, 3 dos 42 municípios do DRS-Campinas não declararam mortes pela Covid-19. Por outro lado, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 91,6 e 91,1 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.
Na RMC, Campinas e Santa Barbara D’Oeste são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 91 e 69 respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no Estado de São Paulo, com corte em 51 mortes por 100 mil habitantes.
Análise dos especialistas
As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do Estado de São Paulo.
A reclassificação do DRS de Campinas para a fase “amarela”, em 14/08, permitiu que os municípios da região reabrissem o comércio e demais atividades previstas. De acordo com último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 04/09, apenas as regiões de Franca e Ribeirão Preto estão na fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do Estado.
Da perspectiva da saúde, o município de Campinas, assim como a região metropolitana, segue num momento de desaceleração da epidemia, sendo que em Campinas a queda percentual da média móvel de óbitos nos últimos 14 dias é mais acentuada do que na região, refletindo, de fato, a heterogeneidade da epidemia entre os diversos municípios. Não é possível prever o comportamento dessa curva daqui para frente, se progrediremos com quedas acentuadas até um controle maior da epidemia ou se persistiremos com um número considerável de casos novos ainda por um período prolongado de tempo, em um cenário endêmico.
Nesse contexto, as flexibilizações previstas no plano São Paulo tendem a continuar ocorrendo nas próximas semanas e o dilema de permitir o retorno ou não de algumas atividades essenciais, como o setor de educação básica, vai se impondo de maneira mais dramática. São muitas as variáveis presentes no tema, mas as condições que têm sido discutidas para permitir uma volta segura das crianças às aulas são basicamente três pontos[1]: controle da epidemia (pautado em diversos indicadores, como número de reprodução efetivo (Rt) < 1 por pelo menos duas semanas, taxa de positividade inferior a 5% das amostras positivas para a COVID-19, pelo menos nas últimas duas semanas, considerando que a vigilância para casos suspeitos é abrangente, queda contínua na hospitalização e internação em UTI de casos confirmados e prováveis pelo menos nas duas últimas semanas, queda no número de óbitos entre os casos confirmados e prováveis pelo menos nas últimas três semanas, queda na excesso de óbitos estratificados por idade devido à pneumonia), capacidade de resposta do sistema de saúde para um eventual novo aumento de casos, estruturação da vigilância em saúde que permita a detecção em tempo oportuno de novos casos e a adoção também oportuna de medidas para quebrar cadeias de transmissão.
As flexibilizações em outros setores, por pressões econômicas e políticas ou por falta de capacidade de coordenação de resposta à epidemia do governo federal, acabaram “atropelando” essas recomendações, de modo que o modelo brasileiro de enfrentamento, ao invés de exigir um esforço de adesão de toda a população às restrições impostas pela pandemia de algumas semanas, está exigindo esse esforço por meses, algo que, aliado à péssima estratégia de comunicação do governo federal, praticamente inviabiliza o controle da epidemia de forma plena, transformando-a, de fato, em uma endemia de uma doença ainda sem vacina, sem tratamento específico e com uma letalidade considerável.
Dessa forma, é necessário, sim, encontrar formas seguras de retorno às atividades escolares. Adotar como único critério para a volta uma vacina segura e eficaz (que pode demorar mais do que o esperado ou que talvez não exista) não parece ser razoável. Não parece ser razoável, também, que, para tomar a decisão de retornar às atividades escolares, “atropelemos” também os critérios estipulados pela Organização Mundial de Saúde para prover um retorno o mais seguro possível.
Do ponto de vista econômico e social, a pandemia continua afetando a atividade econômica e as oportunidades de geração de renda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas está há um mês na “fase amarela”. Neste momento, podem funcionar, com restrições, bares e restaurantes, salões de beleza, academias, escritórios, cursos livres, aulas práticas de autoescolas, além do relaxamento das restrições ligadas à fase anterior para o comércio e shoppings. A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, está baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária. Porém, a recuperação econômica, infelizmente, vai depender de outros fatores para além das reaberturas.
Em relação à atividade econômica nacional, como já apontado na semana anterior, houve aumento da atividade na comparação entre maio e junho/2020 – indústria (+8,9%), comércio (+8,0%) e serviços (5,0%). No entanto, a comparação com os meses entre janeiro-julho do ano passado mostra que a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do Coronavírus – indústria (-10,9%), comércio varejista (-3,1%) e serviços (-8,3%). Os dados da indústria para julho/2020 saíram nessa semana, e mostram que a produção física segue em alta na comparação mês a mês, atingindo o aumento de 8,0%.
Por outro lado, o PIB do segundo trimestre caiu 9,7% na comparação com o primeiro trimestre, que já havia apresentado queda de 2,5%. Os dados do mercado de trabalho preocupam, já que contrastam com os resultados relativamente positivos na recuperação da atividade econômica nacional e podem indicar a fragilidade da retomada baseada no consumo das famílias. Na primeira semana de agosto, a taxa de desemprego apresentou alta, chegando a 13,6%. Além disso, as reduções de cargos e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 17,7 milhões de pessoas não procuram trabalho devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 30,1% dos trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido em julho de 2020. Nesse mesmo mês, aproximadamente 35% dos domicílios paulistas receberam o auxílio emergencial, média de R$ 896,00 por domicílio.
O número de pessoas que não procuram emprego por conta da pandemia tem diminuído, o que deve naturalmente aumentar o número de desempregados, isto é, pessoa que procura, porém não encontra emprego. O número de pessoas que deixaram de procurar emprego, isto é, os desalentados, chegou a 18,5 milhões de pessoas nas semanas anteriores. O número de famílias recebendo o auxílio emergencial, no entanto, sofreu aumentos nas últimas semanas — no Brasil são 44,1% dos domicílios recebendo o auxílio. A retomada do consumo das famílias vai depender criticamente da manutenção do auxílio emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim das reduções de cargos e salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos na manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões.
De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender, da retomada da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. O governo insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O setor externo tem mostrado sinais de recuperação, sobretudo nos países que melhor controlaram a pandemia, com viés para importação de commodities agrícolas e minerais. No entanto, importante ressaltar que as exportações representam aproximadamente 14% do PIB brasileiro, isto é, parece insuficiente para puxar taxas de crescimento significativas da produção nacional no curto prazo. Como complicador, o aumento da preocupação com um possível movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, entre outros. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já tendo reflexos para o consumidor final. O IGP-M, (Índice Geral de Preços do Mercado) calculado pela FGV, atingiu 13,02% em 12 meses, até agosto 2020. Esse índice captura aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Nesse contexto, a retomada da demanda interna, via consumo das famílias ou gasto do governo, deverá ser acompanhada de políticas de mitigação do aumento dos custos de insumo, como, por exemplo, a valorização do real em relação ao dólar.
ANEXOS ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.
[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br
[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro
[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)
[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)
[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.
[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.
[7] World Health Organization. (2020). Public health criteria to adjust public health and social measures in the context of COVID-19: annex to considerations in adjusting public health and social measures in the context of COVID-19, 12 May 2020. World Health Organization. https://apps.who.int/iris/handle/10665/332073. License: CC BY-NC-SA 3.0 IGO