Nº 2 – Maio/2019
PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):
Profa. Dra. Eliane Navarro Rosandiski
Introdução
O segmento de Turismo pertence ao setor de Serviços e tem como característica ser intensivo em mão de obra. A estruturação dessas atividades, além de abrir um grande número de oportunidades de geração de trabalho e renda, possibilita a criação de um conjunto de negócios que valorizam a economia local, seja pelo aspecto histórico, cultural ou qualquer outro traço distintivo do território no qual a atividade se desenvolve.
O potencial turístico de uma determinada localidade pode e deve ser explorado como estratégia de desenvolvimento local. Pode-se dizer que, diante dos benefícios locais desse tipo de atividade econômica, para a população e para as finanças locais, esta estratégia pode ser fomentada pelo poder público. Logo, políticas públicas devem ser formuladas para este segmento.
Este estudo tem como objetivo discutir as possibilidades de incentivo às atividades do segmento de Turismo na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Mais especificamente, este estudo tem como objetivo mapear as especificidades deste segmento na RMC e mostrar quais elementos poderiam ser considerados para a formulação de uma política pública de desenvolvimento com ênfase nesta atividade.
Para cumprir este objetivo, este estudo está divido em três partes. Na primeira parte, será feita uma recuperação do conceito de turismo e serão elencadas as atrações da RMC. Na segunda, um mapeamento do volume de emprego gerado na RMC e dos empreendimentos na RMC, com alguns indicadores. Por fim, na terceira, a partir dos indicadores, será feita uma breve discussão quanto à compreensão da atividade turística e quanto aos benefícios de construir estratégias que integrem os diferentes potenciais turísticos da RMC. Construir uma estratégia de suporte integrada se constitui num desafio, visto que cada município apresenta uma vocação.
1. Conceituação do Turismo e o potencial da RMC
Antes de apresentar o potencial do setor de Turismo na RMC, é necessário apresentar alguns conceitos que ajudam na compreensão das características da economia do turismo, visto que tal atividade econômica apresenta grande potencial de geração de trabalho e renda, bem como impulsiona o desenvolvimento local.
1.1 Conceitos
Turista – indivíduo ou grupo de indivíduos que se desloca do seu lugar de origem (moradia) para realizar viagem superior a 24 horas. Este conceito, por ser mais formal e mais restrito, deixa de incluir um grupo importante de pessoas que consomem serviços típicos do turismo, mas não realizam o pernoite.
Tipos de turismo – mostra quais são os eventos capazes de mobilizar o indivíduo a consumir um serviço associado ao turismo. Seguem os mais relevantes:
- Cultural
- Eventos
- Negócios
- Religioso
- Rural /Ecológico
A partir dessa conceituação, percebe-se que a economia do turismo é definida a partir da perspectiva da demanda, ou seja, organiza-se em torno do consumo dos visitantes. Isso permite inferir que um conjunto importante de segmentos são impactados pela movimentação desses indivíduos. Dentre eles destacam-se:
- Hotéis
- Restaurantes
- Transportes (terrestre, aéreo, marítimo)
- Agências de viagens
- Aluguéis de veículos
1.2 Atrativos da RMC
1.2.1 Aspectos históricos e breve caracterização dos municípios da RMC
Visando compreender o desenvolvimento político, econômico e, principalmente, cultural da Região Metropolitana de Campinas, deve-se voltar à análise dos aspectos históricos para consolidar essa compreensão mais aprofundada.
Antes de mais nada, devemos considerar que a constituição do território paulista é obra centenária. Segundo Pellicciotta (2010), o papel das ferrovias foi decisivo para o desenvolvimento da região campineira, que, seguindo a expansão cafeeira, facilitou, de imediato, a questão do transporte, devido à rápida interiorização da produção. Dessa forma, o sistema ferroviário acelerou a penetração e transformação de vastas áreas de campo e mata em novas áreas de lavoura, criação e industrialização, potencializando o desenvolvimento.
A autora também destaca a importância da migração dessa época, em especial dos italianos. Essa diversificação étnica é um traço brasileiro perceptível até os dias de hoje.
Atualmente, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) é composta por 20 municípios[1]. Observa-se que 17 cidades da RMC estão no Mapa do Turismo Brasileiro, do triênio 2017-2018. Os municípios estão subdivididos em Regiões Turísticas, sendo elas:
- Bem-Viver: Campinas, Americana, Hortolândia, Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré;
- Circuito das Frutas: Itatiba, Morungaba, Valinhos, Vinhedo e Indaiatuba;
- Águas e Flores: Holambra, Jaguariúna e Pedreira; e
- Trilhos e Trilhas da Baixa Mogiana: Artur Nogueira, Engenheiro Coelho, Cosmópolis e Paulínia.
Destes municípios, se destacam Holambra, que possui o título de Estância Turística; Morungaba, que possui o título de Estância Climática; e Pedreira, que conseguiu oficialmente se tornar Município de Interesse Turístico[2] (MIT).
Com relação aos principais segmentos do turismo nos municípios da RMC, destacam-se o Rural, seguido pelo Turismo de Negócios e Cultural, Eventos e pelo Turismo Histórico, Gastronômico e Religioso.
De forma bem sucinta, cabe uma apresentação de alguns pontos turísticos encontrados nos municípios da RMC.
Americana: a cidade de Americana é referência no turismo regional paulista, sobretudo por sua vocação comercial, pela tradicional festa do Peão, além de passeios históricos, culturais e ecológicos. O Jardim Botânico de Americana e Zoo Americana são excelentes opções de passeios para quem gosta de passeios próximos à natureza. O Zoológico possui cerca de 500 animais e recebe em média 500 mil visitantes por ano.
[1] Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d’Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.
[2] Título concebido pelo Governo do Estado de São Paulo a cidades que possuem o turismo como atividade econômica, recebendo estes recursos anuais do governo estadual para investimentos na infraestrutura do setor.
O Jardim Botânico possui 8.500 mudas de espécies arbóreas e atrai famílias e público interessado em atividades físicas. Nesse parque ecológico, é possível ainda encontrar o Observatório Astronômico Municipal.
Artur Nogueira: o município conta com uma variedade de eventos que atraem diversos turistas. Dentre as opções, destaca-se uma vasta opção de pesqueiros, sítios, feiras. A cidade atrai turistas também para o famoso Encontro Nacional de Motociclistas de Artur Nogueira.
Campinas: o município conta com uma ampla oferta de atrativos turísticos, que vão desde uma rede hoteleira bem estruturada para o Turismo de negócios e cultural, até importante base de serviços de apoio, como centro de compras, serviços de alimentação, além de abrigar o Aeroporto de Viracopos. Além disso, neste município, estão os distritos de Sousas e Joaquim Egídio, cujo destaque é sua extensão rural e seu grande potencial de desenvolvimento, visto que pode ser fonte para atividades agrícolas, turísticas e de geração de emprego e renda. Os distritos apresentam uma estrutura fundiária com mais de 45 mil fazendas, de modo que a atividade econômica principal é a agropecuária, sua paisagem natural é composta por matas remanescentes da Mata Atlântica e por importantes mananciais hídricos (Rio Jaguari e Atibaia). Por conta de relevos acidentados e por uma aptidão rural, a urbanização alcança a região de forma mais lenta, tornando o espaço um diferencial na RMC. O Programa de Turismo Sustentável (PTS) da Associação de Proteção Ambiental (APA) se baseia justamente no desenvolvimento do turismo local, fato que enfatiza a participação da comunidade na tomada de decisão.
Cosmópolis: aregião recebeu importantes imigrantes de diversas nacionalidades e teve seu crescimento baseado na agricultura e num plano de colonização em torno da estrada de ferro. No fim do século XIX, foi inaugurada uma importante usina de cana-de-açúcar. Tais elementos históricos se constituem num importante atrativo do turismo histórico.
Engenheiro Coelho: com clima característico do interior, Engenheiro Coelho oferece opções de turismo rural e cultural religioso. Os turistas podem visitar a “Fazendinha” que é um mini zoológico, com atrativos para passeios em família. Além disso, conta com famosos pesqueiros, que oferecem desde a pescaria até a gastronomia característica. No que tange ao turismo religioso, dispõe do Museu de Arqueologia Bíblica, que expõe coleções de achados arqueológicos relacionados ao mundo bíblico. Além deste, conta também com o Centro de Pesquisas especializado da escritora Ellen G. White, importante escritora Adventista, com um vasto acervo de objetos pessoais e fotos.
Holambra: conhecida pela diversidade de suas flores, plantas ornamentais, fortes traços provenientes da colonização holandesa e pela gastronomia local, o município é considerado como um pedacinho da Holanda no Brasil. A principal atividade econômica do município é praticamente toda voltada para o cultivo de flores e exportação de plantas. O cultivo destas faz com que o turismo seja expressivo no local, sobretudo em eventos como a Expoflora. Além do título de cidade das Flores, existem outras atividades que despertam interesse dos turistas, seja pela arquitetura e gastronomia, seja pelo artesanato e cultura.
Hortolândia: o município conta com uma vasta opção de parques que atrai visitações, e as opções turísticas estão relacionadas a atividades ecológicas e socioambientais.
Indaiatuba: a cidade conta com diversas atrações, incluindo parques, museus e sítios. Dentre eles, destaque para o Parque Ecológico que corta a cidade em 80% de sua totalidade que, além de contar com bosques, jardins, quadras, lagos e teatro, é também sede de muitos eventos culturais, como carnaval. Dentro do Parque Ecológico está localizado também o Parque Temático, interessante sobretudo para crianças, uma vez que conta com uma diversidade de brinquedos e esculturas de animais gigantes. Há também o Bosque do Saber, que oferece diversas atividades ligadas à ecologia, além de trilhas. O município conta ainda com dois Museus, sendo eles o Casarão Pau Preto − que abriga uma variedade de objetos que contam a história do município − e o Museu Ferroviário – que, além da exposição de locomotiva e os acervos históricos, é palco para dois importantes eventos da cidade: São João na Estação e Natal na Estação. Como parte do Polo Turístico do Circuito das Frutas do Estado, o município conta com dois Sítios importantes, o Sítio Bela Vista, que comercializa acerola orgânica, e o Sítio São José, que cultiva e comercializa morango, café e milho.
Itatiba: a cidade de Itatiba apresenta interessantes opções para visitação, a começar pelo Zoo Parque, que é um zoológico particular inserido, em sua grande parte, em um fragmento da Mata Atlântica; além abrigar cerca de 1.000 animais, há ainda trilhas e belíssimas paisagens. O município conta ainda com parques, como o Parque da Juventude, que possui trilha ecológica, quadras, lago e espaço para crianças, além de ser sede das principais festas da cidade, como o Carnaval, Festa do Caqui, São Pedro, San Gennaro e o aniversário da cidade. Outro parque tradicional é o Parque Ferraz Costa, que oferece vasta opção de lazer, além de contar com o Planetário Municipal “Prof. Benedito Rela”, que é ideal para os amantes do espaço. O município conta também com o Museu Histórico Municipal de Itatiba “Padre Lima” e com a Fazenda Nossa Senhora Conceição, que se dedica ao turismo rural e cultural, sobretudo no que tange à história do ciclo do café, da imigração e da escravidão.
Jaguariúna: o município, famoso pelo tradicional Rodeio, que atrai inúmeros turistas, oferece opções diversas para o lazer e a cultura. A começar pelo tradicional passeio de Maria Fumaça, que possui objetivo histórico, cultural e recreativo, contando com diversos monitores que apresentam a história do trem e do café; além deste passeio, outro importante ponto turístico é a antiga Estação da CIA Mogiana, que abriga o Centro Cultural Prof. Ulysses da Rocha Cavalcanti, a FEART – Feira de Arte e Artesanato e o Botequim da Estação, e é espaço para inúmeros visitantes. Além das opções acima relatadas, o Naga Cable Park, localizado no município, se destaca por ser o único da América Latina a possuir cinco torres para praticar diversos esportes aquáticos.
Monte Mor: por volta de 1820, foi construída uma capela para Nossa Senhora do Patrocínio que deu origem ao povoado. A cultura do café permaneceu como importante atividade até 1929. Tais elementos históricos podem ser explorados.
Morungaba: a estância climática oferece opções de lazer para os turistas com belíssimas paisagens das colinas aos pés da Serra das Cabras. O Cruzeiro é um dos pontos turísticos, localizado em um dos morros da Serra das Cabras, que possui, além da paisagem, um monumento de cruz e figuras religiosas. A cidade também é conhecida pela criação de cavalos nos centros equestres do Parque Ecológico Pedro Mineiro, parque este que conta com uma reserva ambiental com mananciais, mata nativa, cachoeiras e trilhas. Além dos supracitados, Morungaba também atrai turistas pela variedade de compotas, geleias e temperos produzidos no município.
Nova Odessa: o município é conhecido por sua característica de preocupação com o meio ambiente, sendo considerado como “Paraíso Verde” e possui muitos pontos turísticos ligados à ecologia. A começar pelo Parque Ecológico Isidoro Bordon, que, além da área verde, possui diversas espécies de animais. O Instituto de Zootecnia também é um ponto turístico importante da cidade, conhecido por suas pesquisas científicas.
Paulínia: entre os principais pontos turísticos do município, destacam-se os mais visitados: minipantanal, parque ecológico e o Jardim Botânico Adelelmo Piva Júnior, que preserva animais e vegetação em seu habitat natural. Além disso, outros pontos como a fonte Cidade Feliz, a pista de bicicross, museu histórico, teatro e os parques Zeca Malavazzi e Brasil 500 atraem muitos turistas. Os eventos mais famosos, como Folia dos Reis e Carnaval, também são atrativos locais.
Pedreira: a principal atração de Pedreira é o turismo de compras, uma vez que possui uma variedade de lojas de fábricas dos mais variados produtos, sobretudo porcelanas, artesanatos e artigos de decoração. Entretanto, existem outros pontos turísticos, tais como: Complexo Turístico do Morro de Cristo, que é voltado ao turismo religioso, que retrata construções de Jerusalém, estações da via-sacra e uma praça em homenagem a Nossa Senhora de Aparecida. A cidade conta ainda com praças, jardins e bosques arborizados, onde são ofertados pesca esportiva e cursos de Educação Ambiental. O município possui também atividades voltadas ao turismo rural, com a Associação de Agroturismo de Pedreira e Região, que visa unir propriedades voltadas para essas atividades, agregando valor aos seus produtos, resgatando questões históricas e culturais e ofertando inúmeras atividades.
Santa Bárbara d’Oeste: a cidade se destaca no cenário turístico da região devido ao forte turismo de negócios do município, possuindo também fortes atrativos turísticos acerca da imigração norte-americana no Brasil – como o Cemitério do Campo, Museu da Imigração e o Centro de Documentação Histórica (CEDOC). Entretanto, a cidade atrai também o turismo de eventos, de aventura e o religioso. No quesito eventos, destaca-se o espetáculo Via Crucis, encenação da Paixão de Cristo, a Festa da Linguiça, Virada Cultural Paulista e a ReVirada Cultural, eventos que atraem muitos visitantes. Devido à vasta área rural, a cidade atrai ainda muitos turistas que buscam o contato com a natureza e outras atividades, como o ciclismo.
Santo Antônio da Posse: o potencial da região pode ser encontrado em sua produção de flores e plantas ornamentais e sua história de imigração de origem italiana, libanesa e portuguesa.
Sumaré: o município possui opções turísticas em quatro segmentos, a começar pelo Turismo Rural. Encontra-se no município inúmeras áreas de preservação ambiental, onde são oferecidas atividades ecológicas, palestras, visitas a assentamentos rurais e recreações em pesqueiros. Destaque para o Horto Florestal e a Represa do Marcelo Pedronni. No segmento de turismo Religioso e Eventos, dois lugares são atrações, a começar pela Estância Árvore da Vida, maior centro de Convenções da América Latina. A Fazenda Vaughan é também outro lugar de retiro religioso, além de atrair pessoas que se interessem pelo turismo pedagógico e histórico. Sumaré também se caracteriza pelo intenso fluxo de empresários ligados às empresas de grande porte instaladas no município e região. Destaca-se também no Turismo de Negócios, podendo os visitantes contar com uma gama de hotéis e restaurantes com excelente infraestrutura.
Valinhos: o município de Valinhos é um destino muito procurado por quem se interessa por atrações rurais, como fazendas, sítios etc. Neste quesito, têm-se como exemplos o Camping Macuco Lazer e Parque Aquático, com opções de trilhas, piscinas e pesca; o Sítio Kusakariba, produtor de goiaba, seriguelas, compotas e doces, aberto para visitação; Chácara Boa Esperança, onde está localizada a Adega Tio Mário, que produz vinhos, figo, uvas e licores, e é aberta também para visitação. Valinhos possui também eventos que atrai à cidade muitos turistas, como a famosa Festa do Figo, a Feira do Artesanato, a Estação das Artes e a Exposição de Carros Antigos. Dentre outros, Valinhos conta também com Museus, como o Museu da Arte e o Museu Municipal Fotógrafo Haroldo Ângelo Pazinatto, além do Observatório Abraão de Moraes, que possui noites de observação abertas ao público.
Vinhedo: a principal atração turística de Vinhedo é a tradicional Festa da Uva, evento histórico que gira em torno do principal produto da cidade. Existem outros passeios, entretanto, que atraem a visitação e o interesse de demais turistas, sendo eles: passeios culturais pelo município, passando por pontos conhecidos, como o Memorial do Imigrante, Parque Municipal Jayme Ferragut, Represa João Gasparini e o Mosteiro de São Bento; Passeios Rurais, com fazendas produtoras de uvas, adegas e pousadas.
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Esta diversidade de atrativos encontrados nos municípios mostra o potencial da RMC. As especificidades dessa oferta dizem respeito não apenas ao turismo tradicional hoteleiro, mas também às atividades capazes de atrair o viajante de 1 dia, que movimenta as cidades e que tem como foco a sustentabilidade ambiental. Por isso, evidencia-se a importância de construção de roteiros que articulem as atividades de modo a potencializar os atrativos encontrados nos municípios.
Como será visto a seguir, os indicadores de geração de trabalho e renda já confirmam a importância desta atividade na estrutura econômica da RMC.
2. Indicadores da atividade de Turismo na RMC
É possível avaliar o impacto da Economia do Turismo no mercado de trabalho da RMC, tomando como referência a metodologia construída pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012) para classificar as atividades econômicas do Turismo[1]. Segundo essa metodologia, a partir dos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), observa-se que, em 2017, a RMC possuía um estoque de 52.225 empregos formais nessas atividades.
Este volume representava 5,3% do emprego gerado na RMC, 7,7% do volume de emprego na Economia do Turismo do Estado de São Paulo e 2,3% na do Brasil.
Entre 2010 e 2017, a expansão do emprego foi de 16%. No entanto, apesar do bom desempenho de 2017, como pode ser observado no Gráfico 1, o melhor resultado da série foi observado no ano de 2015, com a marca de mais de 53 mil postos de trabalho na Economia do Turismo na RMC.
Gráfico 1 – Evolução do emprego gerado pela Economia do Turismo na RMC
[1] Neste estudo são definidos os produtos do turismo e os setores econômicos que oferecem.
O detalhamento das características do mercado de trabalho da Economia do Turismo por faixa etária mostra que essa atividade absorve empregados na faixa de 30 a 39 anos e jovens de 18 a 24 anos. Por escolaridade, chama atenção a grande capacidade dessas atividades incorporarem pessoas com escolaridade compatível com o ensino médio.
Gráfico 2 – Evolução do emprego por faixa etária gerado pela Economia do Turismo na RMC
Gráfico 3 – Evolução do emprego por faixa de escolaridade gerado pela Economia do Turismo na RMC
Tabela 1 – Indicadores da Economia do Turismo na RMC em 2017
A distribuição do emprego gerado pela Economia do Turismo, dentre os municípios da RMC, mostra que quase 60% do emprego formal é gerado em Campinas, seguida por Indaiatuba, Americana, Valinhos e Vinhedo. Porém, a economia do Turismo é responsável por 7,7% do emprego gerado no município de Campinas; 5,7% do emprego de Valinhos; e 4,8% de Vinhedo.
Apesar de representar 5,3% do emprego gerado na RMC, a massa salarial gerada pela economia corresponde a aproximadamente 3,5% do total da massa salarial na Região.
Do ponto de vista da remuneração, em 2017, a remuneração média paga aos empregados na Economia do Turismo era de R$ 2.356,92, o que equivale a 73% do valor médio das remunerações pagas na RMC.
Gráfico 4 – Participação dos segmentos que compõem a Economia do Turismo na RMC em 2017
Dentre as atividades econômicas que compõem a Economia do Turismo, 67% do emprego eram gerados nas atividades de Alojamento e Alimentação; e 20%, nos serviços de Transporte. Cabe destacar a participação de 7% dos serviços de artes, cultura e recreação na Economia do Turismo.
Quadro 1. Principais ocupações geradas na Economia do Turismo na RMC
Diante desta composição setorial, por ocupação, destacam-se os postos de trabalho exercidos em serviços de hotelaria e alimentação: 42% do emprego é gerado nestes postos de trabalho. Porém, os impactos dessas atividades sobre o setor de transportes, manutenção, direção, gerência e vendas também devem ser considerados.
Quadro 2 – Distribuição do emprego na Economia do Turismo por porte de empresa
RMC – 2017
Um outro elemento importante na caracterização da Economia do Turismo diz respeito ao peso dos pequenos estabelecimentos. Cerca de 12% da oferta de serviços são compostos por empreendedores individuais e 48% por microempresários de 1 a 4 empregados. Dessas empresas, 83% se concentram no segmento de alojamento e alimentação (ver quadros 2 e 3).
Quadro 3 – Distribuição dos estabelecimentos na Economia do Turismo por segmento
RMC – 2017
Por fim, cabe um comentário sobre a taxa de ocupação do setor hoteleiro no município de Campinas. Quando comparado aos dados de 2017, as informações disponíveis até setembro de 2018 apontam para uma ligeira ampliação da rede hoteleira. Contudo evidencia-se um comportamento sazonal de baixa ocupação nos meses de janeiro e dezembro nos hotéis de Campinas.
Gráfico 5 – Taxa de ocupação do setor hoteleiro no município de Campinas
3. Oportunidades
Quando se trata da Economia do Turismo na RMC, dois aspectos devem ser destacados. O primeiro deles diz respeito à sua capacidade de geração de emprego, em especial em posto de trabalho de nível médio, cujo processo de capacitação e treinamento pode ser rápido e efetivo, se inserido numa estratégia de suporte ao desenvolvimento do setor. Além disso, a Economia do Turismo apresenta fortes conexões com outras atividades, capazes de gerar fortes efeitos encadeadores na dinâmica local. Atividades de manutenção e preservação de patrimônio, atividades culturais e de lazer e comércio podem ser estimuladas por uma ação mais estratégica focada na Economia do Turismo. Municípios de menor porte tendem a ser muito beneficiados por essa dinâmica aceleradora.
O segundo aspecto importante diz respeito ao potencial da RMC como atrativo de turistas, não apenas o turismo de negócios e eventos, mas também o turismo de lazer. Como visto, a Região dispõe de excelentes recursos naturais e estruturais, contudo tais recursos não foram trabalhados para que se transformassem em produtos turísticos.
Diante disso, pode-se inferir que uma ação coerente e planificada, pública ou privada, seja capaz de:
- inserir a RMC no contexto nacional do turismo; e
- gerar resultados significativos, quer no campo social, quer no campo econômico, para os diferentes setores impactados diretamente por essas ações.
Esta ação passa por diferentes estágios, que envolvem a mobilização dos atores/representantes dos municípios que compõem a RMC para:
- a identificação das potencialidades locais;
- a criação/articulação de roteiros intermunicipais;
- a construção de um calendário regional de eventos;
- o suporte à divulgação de eventos; e
- o incentivo à recuperação e manutenção dos polos atrativos.
Por fim, vale lembrar que as atividades ligadas ao turismo rural possuem um grande potencial de inclusão da população ligada à agricultura familiar, pois, ao mesmo tempo que incentivam o turismo e a educação ambiental, são capazes de promover uma atividade agrícola para o atendimento à comunidade urbana local. Dessa forma, políticas públicas de incentivo e fomento a tais atividades se constituem num importante fator de inclusão e geração de trabalho e renda.
4. Referências bibliográficas
BEZERRA, M.M.O. Estratégias de desenvolvimento do turismo: em busca de uma tipologia. In: Economia e Sociedade, Campinas, v. 15, n. 2 (27), p. 347-374, ago. 2006.
EMBRAPA. Atlas Escolar da Região Metropolitana de Campinas. Editora técnica: Cristina Criscuolo, Brasília, DF: Embrapa 2016.
IBGE. Economia do Turismo: uma perspectiva macroeconômica 2003-2009. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Rio de Janeiro, 2012.
MARCELLINO, N.C. Espaços e equipamentos de lazer em região metropolitana: o caso da RMC – Região Metropolitana de Campinas. Curitiba, PR: OPUS, 2007.
PELLICCIOTTA, M. Patrimônio em movimento: considerações sobre o mundo rural paulista. Resgate – Vol. XVIII, nr. 20, p. 54-70, jul./dez. 2010 .
ROSA, L. G; MENDES, A.A. Características da Rede Hoteleira no Município de Campinas-SP para o Suprimento da Demanda do Turismo de Negócios. V SEMINÁRIO DE PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL – SeminTUR Turismo: Inovações da Pesquisa na América Latina Universidade de Caxias do Sul – UCS, Caxias do Sul, RS, Brasil, 27 e 28 de junho de 2008.
Sites consultados:
CAGED e RAIS: http://pdet.mte.gov.br/acesso-online-as-bases-de-dados