Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas, V.2, N.1, 2019

PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este informativo apresenta e discute, em linhas gerais, os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de janeiro/2019. Os dados utilizados nas análises são da base de dados do extinto Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços[1], que foi incorporado ao Ministério da Economia.

Além da apresentação dos dados da balança comercial agregados e desagregados por municípios, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Media Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. Em relação a janeiro de 2018, as exportações da RMC sofreram queda de 15,77%, enquanto as importações cresceram 11,94%, resultando em crescimento de 27,40% no déficit da balança comercial.
  2. Do lado das exportações, houve queda considerável nas exportações de produtos de média-alta complexidade (-17,15%), incluindo partes e acessórios de veículos, medicamentos e partes de motores de compressão e de explosão. Houve queda, também, das exportações de bens média-média complexidade (-10,05%), incluindo polímeros de etileno, pneus e máquinas de construção civil.
  3. Do lado das importações, destaca-se o aumento das compras externas de produtos de média-alta complexidade (77,20%) – incluindo circuitos eletrônicos integrados e compostos heterocíclicos de heteroátomos de nitrogênio.

Em suma, o mês de janeiro de 2019 pode ser caracterizado por uma piora quantitativa e qualitativa considerável da pauta de exportação da RMC, já que houve queda expressiva das exportações e redução no volume exportado de bens de maior complexidade em relação a janeiro de 2018. Simultaneamente, houve aumento expressivo das importações, sobretudo de bens de média-alta complexidade.

Para o desenvolvimento econômico sustentado, é desejável a redução da dependência externa, e aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial e Complexidade em Janeiro/2019

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de janeiro (2009-2019).

A partir dos dados da Tabela 1, é possível verificar que as exportações de janeiro/2019 – 307,62 milhões de dólares – apresentaram queda de 15,77% em relação ao mesmo período de 2018, e a participação nas exportações do estado (7,46%) foi a segunda mais baixa da série histórica. As importações totalizaram 1,14 bilhões de dólares (crescimento de 11,94% em relação a janeiro de 2018). A participação da RMC nas importações do estado (22,02%) foi a maior da série. Como resultado, houve crescimento expressivo do déficit da balança comercial (27,40%), sempre em relação a janeiro de 2018.

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC de janeiro de 2018 e janeiro de 2019, de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos. Bens considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[3], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários


Houve decrescimento considerável nas duas principais categorias de exportação − média-média (-10,05) e média-alta complexidade (-17,15%). Ao mesmo tempo, ocorreu aumento expressivo das exportações de média-baixa (44,13%) e decrescimento na categoria de alta complexidade (-62,46).  Em outras palavras, houve não só decrescimento do valor exportado, mas também piora qualitativa substancial das exportações no período.

Dentre os principais produtos de média-média complexidade, destaca-se a queda nas exportações de polímeros de etileno (-8,8%), pneus (-13,4%) e máquinas de construção civil (-7,8%). Dentre os produtos de média-alta, houve queda nas exportações de partes e acessórios de veículos (-32,24%), medicamentos (-49,25%) e partes de motores de compressão e de explosão (-37,2%). Por fim, a queda de produtos de alta-complexidade deveu-se à redução das exportações de equipamentos para análises físicas e químicas (-60,6%) e centros de usinagem, máquinas de sistema monostático e máquinas de estações múltiplas para trabalhar metais (-68,3%). Já o crescimento das exportações de produtos de média-baixa complexidade está ligado ao aumento das exportações de óleos de petróleo ou de minerais betuminosos (1.112%) e de óleos e outros produtos derivados da destilação de hulha (430%). O crescimento de produtos de baixa complexidade deveu-se ao aumento das exportações de algodão não cardado nem penteado (27,58%).

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mesmo período, de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos. Nota-se que o crescimento de 11,94% das importações em relação a janeiro de 2018 esteve ligado ao aumento da importação em todas as categorias de complexidade.

Dadas as categorias de maior participação na pauta de importação, destaca-se o crescimento expressivo das importações de bens de média-alta complexidade (77,20%). Nesta categoria houve o aumento das importações de circuitos eletrônicos integrados (8,5%) e compostos heterocíclicos de heteroátomos de nitrogênio (120%). Dentre os produtos de média-média complexidade, houve aumento nas importações de inseticidas, fungicidas, rodenticidas, herbicidas e outros (319%), fertilizantes químicos e minerais (294%), fios e cabos (incluídos os coaxais) (9%) e compostos heterocíclicos de heteroátomos de oxigênio (23,75%).

Balança Comercial dos Municípios da RMC – 2019

A Tabela 4 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para o mês de janeiro de 2019.

 Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional.

 Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nestes municípios.  Estes municípios são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.



[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.media.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.media.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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