Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas

Volume. 3| no 07 | julho-2020 

Responsável:

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Assistente:

Pedro Henrique Fidelis

Sumário Executivo

Este informativo apresenta e discute os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de junho/2020. Os dados utilizados nas análises são da base do Ministério da Economia[1]. Além dos dados quantitativos, agregados e desagregados por município, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Média Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destaca-se:

  1. A queda -30,54% nas exportações e -6,88% nas importações da RMC, resultando aumento de +4,41% no déficit regional, para o mês de junho;
  2. A participação nas exportações do Estado caiu para o patamar de 5,57%, o pior em 10 anos.
  3. As quedas generalizadas nas exportações, com destaque para medicamentos, polímeros de propileno, peças para motores de ignição por combustão interna, carne preparada ou conservada, miudezas ou sangue, polímeros de etileno.
  4. As quedas generalizadas das importações com destaque para circuitos eletrônicos integrados, aparelhos elétricos, peças e acessórios para máquinas de escritório, máquinas de processamento automático de dados.
  5. Aumento das transações comerciais de produtos de mais baixa complexidade (ex. soja).
  6. Desde janeiro, as importações somaram 5,71 bilhões de dólares, enquanto as exportações representam um terço deste valor, 1,57 bilhões de dólares.
  7. No acumulado do ano, há sinais de queda de atividade para todos os segmentos da indústria, entre eles a indústria química, farmoquímica, agroquímica, aparelhos telefônicos, eletrônicos e automobilística.  
  8. Exportações e importações caíram drasticamente em relação a praticamente todos os parceiros comerciais.

Em suma, para além dos problemas estruturais do déficit comercial regional causados pela dependência da importação de insumos externos industriais, a conjuntura evidencia que a RMC passa pela pior crise externa da história recente. No acumulado do ano, o estado de São Paulo registrou queda de 20,6% nas exportações e 11,8% nas importações. No Brasil, houve queda de 7,1% nas exportações e aumento de 5,2% nas importações.

Balança Comercial junho

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para o mês de junho dos anos de 2010 a 2020.

Tabela 1 – Balança Comercial da RMC para os meses de junho (valores em milhões de USD/FOB).

Perí­odo Valor Exp. % Exp. SP Valor Imp. % Imp. SP Saldo RMC Saldo SP
jun/10 525,09 9,40% 1096,37 15,81% -571,28 -1346,36
jun/11 581,58 8,68% 1323,3 14,87% -741,73 -2199,06
jun/12 521,02 8,53% 1343,05 16,87% -822,03 -1848,71
jun/13 508,8 8,54% 1619,95 18,10% -1111,15 -2993,4
jun/14 451,37 7,95% 1625,92 17,90% -1174,54 -3407,06
jun/15 466,29 8,21% 1359,29 18,94% -893 -1497,47
jun/16 386,97 7,12% 1141,81 18,16% -754,84 -856,51
jun/17 468,46 7,95% 1291,59 23,05% -823,14 285,55
jun/18 368,36 5,79% 1066,31 20,21% -697,96 1085,31
jun/19 344,16 8,67% 1065,25 23,06% -721,09 -649,37
jun/20 239,03 5,57% 991,96 26,38% -752,93 533,45

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia.

A partir dos dados daTabela 1, é possível verificar que as exportações de junho/2020 – 239,03 milhões dólares – apresentaram decrescimento de -30,54% em relação ao mesmo período de 2019. Este é o pior desempenho das exportações para o mês de maio em 10 anos. Além disto, a participação nas exportações do estado de São Paulo (5,57%) é a pior nos patamares históricos, indicando que a RMC perdeu participação relativa nas exportações do estado. As importações totalizaram 991,96 milhões de dólares, no mesmo período, um decrescimento de -6,88% em comparação a maio de 2019. A participação da RMC nas importações do estado (26,38%) foi a maior da década. O saldo da balança comercial, -752,93 milhões de dólares, teve aumento de 4,41%. É preciso destacar que, com os movimentos de queda relativa das exportações e aumento da participação nas importações estaduais, a RMC impediu que o superávit estadual fosse maior, no período.

As principais quedas nas exportações aconteceram na área de medicamentos (-33,56%), polímeros de propileno  (-29,53%),  peças  para motores  de  ignição por  combustão  interna (-43,97%), carne preparada ou conservada, miudezas ou sangue (-21,53%), polímeros de etileno, em formas primárias (-49,51%). A queda nas exportações só não foi maior devido ao aumento das exportações de agroquímicos (+33,28%), papel (+45,16%), circuitos eletrônicos integrados (+729,84%) e sabonete (+100,05%).

Nas  importações, as   principais  quedas  foram  de  circuitos  eletrônicos  integrados (-29,24%), aparelhos  elétricos (-37,89%),  peças e  acessórios  para  máquinas  de  escritório (-17,51%), máquinas de processamento automático de dados (-33,38%), peças e acessórios para veículos (-54,90%). A queda nas importações só não foi maior devido ao aumento das importações de agroquímicos (+28,24%), compostos heterocíclicos de nitrogênio (+65,90%), ácidos nucleicos e seus sais (+14,00%), outros compostos orgânicos e inorgânicos (+48,12%), antissoros e vacina (+67,76%) e antibioticos (+58,40%). A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de junho, agregados de acordo com o grau de complexidade dos produtos. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[4], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados à demanda por mão-de-obra mais qualificada e maiores salários.

Houve queda nas exportações em três categorias: média-alta (-27,30%), alta (-46,27%) e baixa complexidade (-2,80%). No entanto, houve alta na categoria de média-baixa complexidade (+8,82%).

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês maio de 2020, agregados de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados.

Houve aumento nas importações em três categorias: média-baixa (+39,17%), alta (+2,46%) e baixa complexidade (+15,26%). No entanto, houve queda na categoria de média-alta complexidade (-14,35%).

Balança Comercial janeiro-junho

A  Tabela 4 traz os dados da balança comercial da RMC para os seis primeiros meses de 2020.

Em 2020, as importações atingiram a marca dos 5,71 bilhões de dólares, enquanto as exportações somaram 1,57 bilhão, isto é, 3,63 vezes menos do que o valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit comercial regional de 4,14 bilhões de dólares maior que o déficit estadual, de -2,86 bilhões de dólares. São Paulo teria logrado um superávit, não fosse o déficit da RMC.

Os produtos da Tabela 5, totalizam aproximadamente 36,74% das exportações totais do acumulado do ano. Houve queda em todos principais produtos de exportação, exceto soja (óleo e outros resíduos), em relação ao mesmo período do ano passado.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam aproximadamente 48,84% das importações realizadas pela RMC em 2020. Houve queda nas importações em todos os produtos da lista. Esses produtos são, sobretudo, da indústria química e farmoquímica (agroquímicos, compostos heterocíclicos, outros compostos orgânicos e inorgânicos e antissoros e vacinas). Fora da indústria química, houve queda na importação de aparelhos telefônicos, e produtos relacionados à indústria automobilística.

Por via de regra, a queda nas importações desses insumos representa desaquecimento das atividades à frente na cadeia produtiva, assim como o aumento das importações representa aquecimento.  Neste sentido, houve queda nas atividades da automobilística, sempre em relação ao mesmo período do ano passado.

A Tabela 7 traz as exportações para os 10 principais destinos da RMC, acumulado para os meses de 2020, bem como a variação das exportações por destino em relação ao mesmo período do ano passado.

O valor das exportações caiu expressivamente para todos os principais parceiros, exceto China e Países Baixos, grandes compradores de commodities agrícolas. Tais quedas resultam, claramente, do desaquecimento da economia global, diante da crise do Corona vírus.

A Tabela 8 traz os dados para as 10 principais origens das importações da RMC, acumulado para os meses de 2020, bem como a variação das importações por origem em relação ao mesmo período de 2019.

A queda praticamente  generalizada das importações, também indicam efeitos de desaceleração da economia global pela crise sanitária atual.    

A Tabela 9 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para maio de 2020.

Tabela 9 – Balança Comercial dos Munícipios da RMC 2020 (valores em milhões de

USD/FOB.)

Município Valor Exportado % Exp. RMC Valor Importado % Imp. RMC Saldo
PAULINIA 367,13 23,35% 1801,35 31,52% -1434,22
CAMPINAS 324 20,60% 1193,26 20,88% -869,26
INDAIATUBA 167,79 10,67% 496,88 8,69% -329,09
VINHEDO 139,76 8,89% 269,17 4,71% -129,41
SUMARÉ 130,43 8,29% 430,72 7,54% -300,29
AMERICANA 74,08 4,71% 133,44 2,33% -59,36
COSMÓPOLIS 65,29 4,15% 45,22 0,79% 20,07
ITATIBA 52,19 3,32% 126,27 2,21% -74,08
MONTE MOR 47,31 3,01% 59,4 1,04% -12,09
SANTO ANTONIO DE POSSE 40,38 2,57% 24,59 0,43% 15,79
VALINHOS 38,97 2,48% 160,27 2,80% -121,3
HORTOLÂNDIA 29,11 1,85% 355,17 6,21% -326,06
NOVA ODESSA 28 1,78% 34,61 0,61% -6,61
SANTA BARBARA D’OESTE 27,75 1,76% 55,58 0,97% -27,83
JAGUARIUNA 16,54 1,05% 478,57 8,37% -462,03
PEDREIRA 13,84 0,88% 2,85 0,05% 10,99
ARTUR NOGUEIRA 8,48 0,54% 23,89 0,42% -15,41
MORUNGABA 1,22 0,08% 5,07 0,09% -3,85
ENGENHEIRO COELHO 0,19 0,01% 0,5 0,01% -0,31
HOLAMBRA 0,13 0,01% 18,45 0,32% -18,32

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia.

Nota-se que as exportações de Paulínia superaram as exportações de Campinas. Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional. Vale destacar que, embora com participação pouco expressiva na balança regional, os únicos municípios com saldo positivo em junho são Cosmópolis, Santo Antônio de Posse e Pedreira.

Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nesses municípios.  Esses municípios são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.

[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.média.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.média.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original.

[4] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.média.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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