Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas, V.1, N.3, 2018

PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade. Neste sentido, este informativo apresenta e discute, em linhas gerais, os principais dados da balança comercial da RMC para os meses de janeiro a setembro de 2018. Os dados utilizados nas análises são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços[1].

Além da apresentação dos dados da balança comercial agregados e desagregados por municípios, apresenta-se, também, a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Econômica de Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Media Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  1. A RMC exportou mais de 3,48 bilhões de USD, enquanto importou mais de 9,51 bilhões de USD, entre janeiro e setembro de 2018.
  2. A comparação entre setembro de 2017 e 2018 mostra que as exportações da RMC cresceram aproximadamente 11,03%, enquanto as importações apresentaram queda de 7,90%, reduzindo o deficit da balança comercial em 17,17%.
  3. Cidades que abrigam empresas da indústria de máquinas de processamento e celulares continuam a gerar maiores deficits comerciais, enquanto aquelas que são sede de empresas da indústria automobilística geraram resultados comerciais mais equilibrados.
  4. Em relação a 2017, houve aumento nas exportações de veículos (31,32%), medicamentos (8,48%), autopeças (12,19%) e partes de motores (16,15%), dentre outros. Houve queda nas exportações de polímeros de propileno e outras olefinas (-14,85%), pneus (-4,37%), polímeros de etileno (-14,85%), dentre outros.
  5. Em relação a 2017, houve aumento nas importações de circuitos eletrônicos integrado (6,05%), autopeças (5,06%), máquinas de processamento automático (49,46%) dentre outros. Houve queda na importação de aparelhos telefônicos (-5,47%), defensivos agrícolas (-6,70%), dentre outros.
  6. Em relação a setembro de 2017, houve diminuição das exportações de produtos de média-baixa (-63,11%), embora esta categoria tenha pouca representatividade nas exportações da RMC. Houve aumento importante das exportações de produtos de média-alta complexidade (18,59%), face à alta representatividade desta categoria para as exportações da RMC.
  7. Em relação a setembro de 2017, houve diminuição das importações de produtos de média-baixa (-12,44), média-média (-9,54%) e média-lata (-7,21%) – importantes em termos de valor das importações. Houve aumento expressivo das importações de produtos de alta complexidade (43,73%) e aumento significativo das importações de produtos de baixa complexidade (14,85%), embora essas categorias tenham pouca representatividade na pauta de importação.

Em suma, o deficit da balança comercial continua crescente, embora o mês de setembro apresente decrescimento histórico do deficit comercial em relação a setembro de 2017. Para o mesmo período, as exportações avançaram em direção a produtos de baixa, média-alta e alta complexidade, em detrimento de produtos de média-baixa – lembrando que mais de 90% das exportações são de produtos considerados de média-média e média-alta complexidade. As importações decresceram, porém, as importações de produtos de baixa e de alta complexidade cresceram, em detrimento de produtos de média-baixa, média-média e média-alta complexidade – produtos de média-média e média-alta complexidade representem mais de 90% das importações.

Para o desenvolvimento econômico sustentado, é desejável a redução da dependência externa, e aumento da competitividade externa (exportações), sobretudo em produtos de maior complexidade econômica. 

Balança Comercial dos Municípios da RMC

Tabela 1 mostra os dados da balança comercial para os municípios da RMC, acumulada para os meses entre janeiro e setembro de 2018.

A partir da Tabela 1, é possível verificar que a RMC exportou mais de 3,48 bilhões de USD, e importou mais de 9,51 bilhões de USD nos nove primeiros meses de 2018. Como resultado, o deficit acumulado da balança comercial já atingiu mais de 6,02 bilhões de USD, no mesmo período.

Como esperado, os municípios com maiores níveis de atividade econômica são os que mais transacionam com o setor externo. No entanto, dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), destacam-se pelos menores impactos no agravamento do deficit da balança comercial.

Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nestes municípios.  Estes municípios são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grande volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.

A Tabela 2 apresenta a variação percentual das exportações e importações municipais, comparando-se os meses de setembro/17 e setembro/18. A tabela apresenta também quais os principais produtos ligados ao crescimento ou decrescimento das exportações dos municípios no período. A área cinza da tabela refere-se a municípios e produtos que apresentaram decrescimento.

É possível observar que, em setembro de 2018, as exportações da RMC cresceram aproximadamente 5,20%, em relação a setembro de 2017, enquanto as importações cresceram mais de 9,46%, no mesmo período.

O destaque do crescimento das exportações fica, novamente, com Engenheiro Coelho (94,07%), que tem exportado volumes consideravelmente maiores de resíduos vegetais para alimentação animal e de frutas no período (produtos considerados menos complexos). Nova Odessa, Artur Nogueira, Valinhos e Campinas também se destacam pelo crescimento das exportações no período. Dentre os municípios que apresentaram maiores quedas nas exportações, destacam-se Cosmópolis (-30,32%), Jaguariúna (-28,87%) e Holambra (-20,63%). O caso de Cosmópolis está associado, sobretudo, à queda das exportações de medicamento e cana-de-açúcar. Em Jaguariúna, no entanto, houve queda expressiva de exportações de espelhos de vidro e aparelhos telefônicos.

Balança Comercial da RMC

A Tabela 3 apresenta os dados da balança comercial da RMC, desagregados para os nove primeiros meses do ano de 2018. A tabela traz, também, a participação relativa das exportações e importações da RMC nas atividades comerciais de São Paulo, e o saldo da balança comercial estadual para o mesmo período.

A partir dos dados da Tabela 3 é possível observar que tanto a participação nas exportações (8,97%) quanto nas importações estaduais (23,44%) foram as maiores do ano. Note que, em setembro, o saldo da balança comercial do estado foi positivo, 173,44 milhões de USD, enquanto o saldo da RMC foi negativo, totalizando 690,67 milhões de USD. Estes resultados negativos ocorreram a despeito das exportações de setembro terem atingido o maior valor mensal do ano, 453,23 milhões de USD.

A Tabela 4 mostra o resultado da balança comercial da RMC para o mês de setembro entre 2008-2018, apresentando, também, a participação das exportações e importações nos totais do estado e o saldo da balança comercial estadual para o mesmo período.

A partir dos dados da Tabela 4, é possível verificar que o resultado das exportações de setembro/2018 é um dos melhores da série desde 2008 – abaixo apenas das exportações de 2008 e 2011 – assim como a participação nas exportações do estado (8,97%) foi a terceira melhor da década para o mês de setembro – sendo superada apenas pela participação em 2008 e 2009.  A participação da RMC nas importações do estado (23,44%) foi a segunda maior da década, ficando abaixo apenas da participação em setembro de 2017.

Complexidade da Pauta da RMC

 A Tabela 5 mostra as exportações da RMC em setembro de 2017 e 2018, de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos exportados, bem como a variação das exportações de cada categoria no período. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[3], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos, e estão associados com demanda por mão de obra mais qualificada e maiores salários. É válido lembrar que as exportações cresceram mais de 11,03% no período considerado, isto é, na comparação entre setembro/2017 e setembro/2018.

De maneira geral, a Tabela 5 corrobora a característica estrutural da pauta de exportação da RMC, concentrada em produtos de média e média-alta complexidade (>90%). No entanto, a comparação de setembro para os anos de 2017 e 2018 revela algumas mudanças em relação às categorias de complexidade. Em relação a setembro/2017, houve expressiva queda na exportação de bens de média-baixa complexidade (-63,11%) e pequena queda na exportação de bens de média-média complexidade (-1,11%). Todas as outras categorias lograram aumento nas exportações. Dada a representatividade da exportação de bens de média-alta tecnologia (56,75% do total exportado), destaca-se o crescimento de 18,59% do valor exportado destes produtos em relação a setembro de 2017. Este resultado pode ser considerado positivo, e representa uma maior capacidade de produzir bens mais complexos.

A queda da exportação de produtos de média-baixa complexidade está associada à queda das exportações de sabões (-5,18%), cana-de-açúcar (-63,31%) e soja (-86,45%). Já o aumento das exportações de produtos de média-alta complexidade é um reflexo da continuidade do aumento das exportações de veículos (33,82%), medicamentos (8,48%), autopeças (12,19%) e partes de motores (16,15%). Dentre os produtos de alta complexidade, destaca-se o crescimento das exportações de instrumentos para análises físicas e químicas (5,29%), centros de usinagem, máquinas de sistema monostático e estações múltiplas para metais (21,73%) e o recorde de exportação de plaquetas, varetas, pontas e objetos semelhantes para ferramentas de carbonetos metálicos sinterizados ou de ceramais (1.227,65%).

A Tabela 6 mostra as importações de setembro para os anos de 2017 e 2018, de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados pela RMC. Como relatado acima, houve decrescimento das importações no período (-7,9%).

De maneira geral, a Tabela 6 também corrobora a característica estrutural da pauta de importação da RMC, concentrada em produtos de média e média-alta complexidade econômica (>90%). No entanto, junto ao decrescimento das importações no período, houve mudanças na composição da pauta de importação. Diferente do verificado na edição do Informativo que discute os dados de agosto, observam-se aumento na importação de produtos de baixa e de alta complexidade e diminuição na importação de produtos de média complexidade.

Dada a representatividade dos produtos de média-média e média-alta complexidade, destaca-se o decrescimento das importações em produtos destas classes. No caso dos produtos de média-média complexidade, houve queda nas importações de aparelhos telefônicos (-5,47%), defensivos agrícolas (-6,70%), produtos de barbear e outros cosméticos (-14,53%), entre outros.  Em relação a produtos de média-alta complexidade, houve queda na importação de compostos heterocíclicos de heteroátomos de nitrogênio (-1,54%) e borracha sintética (-6,47%). Embora produtos de alta complexidade tenham menor representatividade, o aumento expressivo das importações deste grupo é um reflexo do crescimento das importações de plaquetas, varetas, pontas e objetos semelhantes para ferramentas de carbonetos metálicos sinterizados ou de ceramais (38,58%).


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior

[2] https://atlas.media.mit.edu/en/resources/about/

[3] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.media.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original, a ser apresentada em estudo temático do Observatório da PUC-Campinas.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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