Estudo Temático: Exportadores e Importadores na Região Metropolitana de Campinas Maio – 2019

Nº 1 – Edição 2/2019

PROFESSOR EXTENSIONISTA (PUC-Campinas):

Paulo Ricardo da Silva Oliveira[1]

Equipe:

Pedro Henrique Fidelis

Pedro Batista de Sousa

[1] Economista; docente extensionista do Centro de Economia e Administração da PUC-Campinas.

Sumário Executivo

O Observatório PUC-Campinas tem como missão compartilhar com a comunidade interna e externa conhecimentos gerados a partir do acompanhamento de dados e indicadores que refletem a realidade socioeconômica da Região Metropolitana de Campinas (RMC).  Esta ação é importante, pois os primeiros passos para discussão e formulação de políticas de desenvolvimento regional passam, necessariamente, pela compreensão da realidade socioeconômica regional por parte dos diversos atores da sociedade.

Neste sentido, este estudo analisa o volume de empresas exportadoras e importadoras da RMC, por município e por setor de atividade. Para a análise, utilizaram-se dados do cadastro de empresas operando em comércio exterior da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia[1] (SECEX/ME).  De acordo com as normativas vigentes, as empresas brasileiras que buscam efetuar transações com empresas e outros tipos de organização com sede no exterior, deverão efetuar o Registro de Rastreamento de Atuação dos Intervenientes Aduaneiros (RADAR), para então obterem o Registro de Importadores e Exportadores (REI) que é feito de forma automática, após a primeira operação de exportação ou importação registrada no Sistema de Comércio Exterior (SISCOMEX).  Portanto, a empresa pode aparecer no cadastro de exportadores e/ou importadores simultaneamente. Para o ano de 2019, o número de empresas reflete o acumulado do ano até o mês de março.


[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior


Dentre as informações analisadas, destacam-se:

  • A RMC tem 1.814 empresas operando no comércio exterior.
  • O número de importadores (1.568) supera o número de exportadores (802) tanto no agregado como na maior parte dos municípios e setores de atividade.
  • Mais da metade dos importadores (64,5%) não exportam.
  • Menos de um terço das empresas cadastradas (30,6%) operam simultaneamente nas atividades de exportação e importação.
  • A indústria de transformação concentra 72,1% dos exportadores e 50,8% dos importadores da RMC.
  • Atividades de comércio varejista e por atacado, bem como de comércio e reparação de veículos concentram 42,1% dos importadores da RMC.
  • Pouco mais de 50% das empresas que só importam são dos setores de comércio.
  • Fabricação de produto têxtil, de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, assim como papel e celulose são os setores de maior importância relativa na região, em número de exportadores.

Este estudo está dividido em três seções, além desta introdução. A primeira seção apresenta e discute os cadastros a partir da perspectiva dos municípios e da participação no estado de São Paulo. A segunda seção apresenta e discute os mesmos dados a partir da perspectiva dos setores de atividade. Por fim, a última seção tece as considerações finais.

1.     Empresas Exportadoras e Importadoras na RMC

Nesta seção, apresentam-se os dados de cadastro de exportadores e importadores por município e por setor de atividade (CNAE 2.0 até 2 dígitos), com base nos dados do Ministério da Economia. A Tabela 1 traz o número de empresas exportadoras e importadoras nos municípios da RMC, agregados para os meses de janeiro a março de 2019.

Tabela 1 – Número de exportadores e importadores por município – março/2019

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia e Observatório da Complexidade Econômica.

Dado o período considerado, a RMC possui 1.568 importadores e 802 exportadores cadastrados na SECEX, em um universo de 1.814 empresas operando no comércio exterior da região. Esses números mostram que existe um número considerável de empresas operando exclusivamente na importação – produtos finais, partes, equipamentos, maquinários, entre outros. Mais precisamente, 64,5% dos importadores não participam de atividade exportadora, enquanto 69,3% dos exportadores combinam suas atividades com a importação de produtos. 

Em termos relativos, a RMC abriga 11,31% das empresas exportadoras e 10,77% das empresas importadoras do estado de São Paulo. Baseando-se nos dados dos informativos periódicos do Observatório PUC-Campinas, as exportações da RMC representaram 7,9% do total do estado de São Paulo, enquanto as importações representaram 21,9% em março de 2019. Portanto, há indícios de que o volume importado pelas empresas regionais é relativamente alto, quando se considera que o número de empresas importadoras é relativamente baixo.

 Este padrão repete-se também para os dados municipais. Isto é, o número de importadores supera o número de exportadores em quase todos os municípios da RMC, à exceção de Santo Antônio de Posse, que concentra exportadores, sobretudo, nos setores de comércio por atacado, exceto veículos automotores, motocicletas, fabricação de máquinas e equipamentos; e Morungaba, que tem o mesmo número de exportadores e importadores.

Além disso, é importante destacar que mais da metade das empresas que são exclusivamente importadoras (51,4% do grupo de exportadores exclusivos) são dos setores de comércio varejista e atacadista (CNAE 46 e 47).

 Dentre os municípios com maior número de operadores, destacam-se Campinas, Indaiatuba e Vinhedo – 48,4% do total de exportadores e 51,6% dos importadores da RMC. No entanto, alguns municípios com peso significativo na balança comercial regional não figuram entre os de maior número de empresas atuando no comércio exterior. Este é o caso, por exemplo, dos municípios de Paulínia, Sumaré e Jaguariúna, que concentram menos empresas, mas exportam e importam montantes significativos do total da balança comercial regional.

Esses dados, em conjunto com resultados de outros informativos e estudos do Observatório PUC-Campinas, reforçam o caráter estrutural do déficit comercial regional, porém de uma perspectiva microeconômica. Segundo estes estudos, a RMC não obtém superávits comerciais há pelo menos 20 anos. Obviamente, informações sobre os volumes exportados e importados por firma seriam necessárias para o melhor entendimento das características estruturais do déficit comercial a partir de uma análise das operações empresariais, mas esses dados não estão disponíveis.

1.     Setor de Atividade dos Exportadores e Importadores da RMC

Nesta seção, apresenta-se o perfil das empresas exportadoras e importadoras de acordo com os setores de atividade, discriminados tanto pela seção do CNAE 2.0 quanto pelo CNAE a 2 dígitos.

Tabela 2 traz o número de firmas exportadoras e importadoras da Região, desagregadas para as seções A, C e G, sempre se considerando os dados de 2019, agregados para os meses de janeiro a março. A seção A contém as atividades agrícolas; a seção G agrega as atividades de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas; e, por fim, a seção C agrega as atividades da indústria de transformação.

Tabela 2 Exportadores e Importadores por seção de atividade

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia.

Empresas cadastradas para essas seções compreendem 96,5% das exportadoras e 93,55% das importadoras regionais. Como esperado, dada a intensa atividade industrial da RMC, a seção C compreende o maior número de empresas cadastradas, correspondendo a 72,1% do total.

Relativamente, a RMC possui aproximadamente 8,1% das exportadoras e 5,4% das importadoras do estado de São Paulo na seção C; 2,5% das exportadoras e 4,5% das importadoras na seção G; e 0,25% das exportadoras e 0,06% das importadoras na seção A.  O maior percentual relativo de empresas da indústria de transformação do estado de São Paulo operando na RMC, quando comparado à participação de empresas das seções de agricultura e comércio, reforça a importância da indústria de transformação regional.

Destaca-se que o número de importadores na seção G é bastante alto em relação ao número de exportadores. Com 662 dos cadastros na importação, atividades de comércio e reparação de veículos agregam 42,1% dos importadores da região, enquanto importadores da indústria de transformação correspondem a 50,8%. Neste sentido, a ideia de que boa parte das importações da RMC é destinada ao uso industrial pode ser questionada a partir do número considerável de empresas do setor de comércio que operam em atividades de importação. Como agravante, a probabilidade de empresas da seção de comércio (C) serem importadoras exclusivas, isto é, não operarem como exportadoras é maior do que para empresas de outros setores.  

Em cada seção, podemos avaliar a composição de empresas desagregadas para o CNAE a 2 dígitos. Para o caso da Seção A (Agricultura, Pecuária, Produção Florestal e Aquicultura), a RMC tem empresas operando apenas no CNAE 01 (Agricultura, pecuária e serviços relacionados). São 18 exportadores (2,2% do total RMC) e 9 importadores (0,6% do total da RMC), cadastrados e ativos no período considerado.

A Tabela 3 traz o número de firmas exportadoras e importadoras em atividades da indústria de transformação – seção C.

Tabela 3– Número de Exportadores e Importadores por CNAE (seção C) em 2019

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia.


Empresas cadastradas nos CNAEs apresentados na tabela 3 totalizam 72,1% da quantidade de empresas exportadoras e 50,8% dos importadores da RMC. As atividades de fabricação de máquinas e equipamentos, fabricação de produtos químicos, fabricação de veículos e fabricação de produtos têxteis compreendem 52,5% dos exportadores e 52,1% dos importadores da indústria de transformação. Do ponto de vista do total exportado e importado, essas atividades estão ligadas a alguns dos principais produtos da pauta de exportação e importação da RMC – ex. veículos automotores, medicamentos, partes de veículos, polímeros de propileno e de etileno, máquinas de construção civil, entre outros.

Para a maior parte dos setores de atividade, o número de importadores supera o número de exportadores com exceção das atividades de fabricação de produtos de metal (exceto máquinas e equipamentos) e fabricação de produtos de madeira. Os setores de metalurgia, confecção de artigos de vestuários e acessórios e fabricação de produtos em couro possuem o mesmo número de operadores em exportação e importação, incluindo empresas que operam simultaneamente nas exportações e importações.

A Tabela 4 traz o número de firmas exportadoras e importadoras por CNAE a 2 dígitos da seção G, considerando-se os mesmos dados.

Tabela 4 – Número de Exportadores e Importadores por CNAE (seção C)

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia.
 

Os CNAEs listados na tabela 4 totalizam mais de 22,19% das empresas exportadoras e 42,16% das importadoras da RMC. Existem empresas cadastradas nas três divisões da seção G, porém há concentração nas atividades de comércio por atacado, exceto veículos automotores e motocicletas, que compreendem 74,7% das exportadoras e 68,2% das importadoras da seção. Outra atividade que se destaca pela quantidade de empresas importadoras é a do comércio varejista, que contém 25,7% dos importadores nesta seção. Como ressaltado anteriormente, empresas deste setor de atividade representam 54,3% dos importadores exclusivos.  

A Tabela 5, por fim, traz o número de firmas exportadoras e importadoras por setor de atividade da indústria de transformação, bem como a representatividade destes setores no total de empresas do estado de São Paulo. Este recorte se justifica pela importância relativa da indústria de transformação regional, como apontado anteriormente.

Nota-se que, do ponto de vista do número de exportadores, a RMC concentra quantidades relativamente altas de exportadores nas atividades de fabricação de produtos têxteis, fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, bem como fabricação de papel, celulose e produtos de papel. Estes setores poderiam ser, inicialmente, definidos como setores de maior competitividade internacional regional. Certamente, a melhor definição dos setores de maior competitividade externa depende da análise do montante exportado por essas empresas. 

Tabela 5 – Número de Exportadores e Importadores por CNAE e o percentual do estado de São Paulo – seções C

Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Ministério da Economia

Por fim, é importante destacar que, além das divisões apresentadas anteriormente, a categoria de atividades dos serviços de tecnologia da informação (CNAE 62) e a categoria de pesquisa e desenvolvimento científico (CNAE 72) possuem, respectivamente, 10 e 14 empresas importadoras, números expressivos quando comparadas às demais seções não apresentadas no estudo. Esses números podem indicar alta dependência externa desses setores de atividade.

Considerações Finais

Neste estudo temático, analisaram-se os dados do cadastro de exportadores e importadores da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) para o ano de 2019. Nota-se que a Região Metropolitana de Campinas concentra montante importante das empresas que operam em comércio exterior no estado de São Paulo. O número de empresas operando exclusivamente como importadora é relativamente alto, o que faz com o que o número de exportadores seja consideravelmente menor do que o número de importadores. Quando se analisam os setores de atividade, fica evidente a maior proporção de empresas da indústria de transformação, seja comparando-se com os demais setores de atividade na RMC, seja em relação ao número de empresas da indústria de transformação operando em comércio exterior no estado de São Paulo.

Dentre as atividades da indústria de transformação, destaca-se o elevado número de exportadores nos setores de fabricação de máquinas e equipamentos, fabricação de produtos químicos e fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias. No entanto, quando se analisa a participação dos setores no total de empresas no estado de São Paulo, nota-se que as atividades de fabricação de produtos têxteis, fabricação de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, bem como fabricação de papel, celulose e produtos de papel têm maior relevância na indústria de transformação regional.

Por fim, destaca-se o grande número de empresas dos setores de comércio por atacado e varejista que são cadastradas como importadoras. Nestes setores, há alto percentual de empresas que operam exclusivamente como importadoras. Este cenário traça uma perspectiva microeconômica preliminar sobre os fundamentos do déficit comercial estrutural da RMC.

Referências

OLIVEIRA, P. R. S. Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas. Observatório PUC-Campinas. Vol. 2, N. 4, abr-2019. Disponível em: https://www.puc-campinas.edu.br/observatorio-puc-campinas/.

OLIVEIRA, P. R. S. Estudo Temático: Estrutura e Evolução da Produção e do Comércio Exterior da Região Metropolitana de Campinas. Observatório PUC-Campinas. Vol. 1, N. 1, jun-2018. Disponível em: https://www.puc-campinas.edu.br/observatorio-puc-campinas/.

SECEX. Cadastro de Empresas Exportadoras e Importadoras. Disponível em: http://www.mdic.gov.br/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior/empresas-brasileiras-exportadoras-e-importadoras. Acesso em abr/2019.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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