Os aspectos de vulnerabilidade agravantes da vivência social dos jovens em cidades da Região Metropolitana de Campinas

Docente extensionista

Dr. Cristiano Monteiro da Silva

Setembro 2022

 

 

Introdução

           

A sociabilidade em cidades da Região Metropolitana de Campinas está permeada por novas relações de dependência dos jovens diante dos agrupamentos das pessoas adultas e idosas. Em outras palavras, a estrutura etária da população nessas cidades segue mostrando redução dos indicadores de natalidade, fecundidade, consequentemente, a diminuição da participação relativa de jovens classificados pela faixa etária de 0 a 15 anos. Essa questão social fundamenta a construção reflexiva sobre os diversos sentidos da vida social na localidade regional de Campinas.

Este trabalho levanta um ponto deste campo analítico, segundo o qual a sociabilidade na localidade regional de Campinas, tão logo, estará mais dependente da inclusão dos jovens domiciliados em dimensões da vida social, por exemplo, a inclusão dos jovens em sistemas produtivos, educação, cultura, saúde, lazer e esporte, segurança, entre outros fatores influentes no viver social das famílias e pessoas. De que forma os fatores sistêmicos estão impactando o posicionamento dos jovens em cidades da Região Metropolitana de Campinas?

O objetivo central deste trabalho é analisar os aspectos marcantes da vulnerabilidade social envolta dos jovens domiciliados em cidades da Região Metropolitana de Campinas, no sentido de apoiar a construção diagnóstica dos candentes problemas sociais, bem como o propósito de despertar a atenção do poder decisório das instituições locais para a urgência da construção de ações solidárias e políticas públicas, especialmente, os sentidos dessas medidas que são aplicáveis ao viver social dos jovens.

O procedimento metodológico incorpora saberes advindos de trabalho colaborativo com instituições sociais da Região Metropolitana de Campinas, sendo que esse tipo de interação construtiva possibilita os saberes das questões sociais dessa localidade regional, além de muitos outros conhecimentos dotados de fatores específicos das sociabilidades nos planos dos municípios e territórios. O analítico de dados considera as publicações das fontes de pesquisas comprometidas com indicadores sociais, peculiarmente, a fonte SEADE (2022), por meio da qual se alcança os indicadores demográficos, ademais a fonte RAIS (2022) que possibilita a extração de dados dos sistemas produtivos locais, enfim, o CECAD (2022) que explicita os aspectos da vulnerabilidade social. A construção analítica baseia-se no exploratório descritivo de métricas das tendências centrais dos assuntos abordados nesse trabalho.

A estrutura do texto, incialmente, apresenta um indicador que permite a discussão sobre a participação relativa dos jovens na sociabilidade das cidades, posteriormente, a atenção voltada aos aspectos da vulnerabilidade social envolta dos jovens, seguida pela discussão dos indicadores da dimensão que se reconhece como inclusão socioprodutiva dos jovens, finalmente, o texto alerta para a necessidade da proteção social complexa para os diversos agrupamentos de pessoas, incluindo os jovens que estão em situação de rua nas cidades da Região Metropolitana de Campinas.

 

1) Relações de dependência dos jovens  

 

            Esta primeira parte do trabalho discute a participação relativa dos jovens perante o conjunto das pessoas adultas e idosas. O indicador é conhecido como razão de dependência dos jovens. Ele aponta o número de pessoas jovens classificadas pela faixa etária de 0 a 15 anos, perante a população adulta de 15 a 59 anos, obviamente, embora não esteja contido no cômputo desse indicador, esse resultado numérico também possibilita apreensões dos nexos entre a população de jovens e as vivências das pessoas idosas, isto é, a capacidade de trabalho social dos jovens possibilitando a construção de excedentes suficientes ao viver social de outros agrupamentos, incluindo as pessoas idosas.

 

O gráfico 1 mostra uma trajetória declinante da participação de jovens na sociabilidade das cidades da Região Metropolitana de Campinas. Em resumo, pode-se dizer que no início desta série, ano 2010, a vivência social contando com uma média de 31 jovens para 100 pessoas adultas, e a série termina com uma estimativa média de 25 jovens para 100 pessoas adultas, em 2030. Sem dúvida, uma estrutura etária da população que evidencia a diminuição da participação relativa dos jovens na sociabilidade das cidades da localidade regional de Campinas.

 

Gráfico 1 – Razão de dependência dos jovens em cidades da Região Metropolitana de Campinas

Fonte: SEADE (2022)

Deduz-se que a estrutura etária da população está caminhando para uma situação característica do envelhecimento humano. Diante dessa realidade, lógico é que a reprodução social demandará cada vez mais da produtividade do trabalho social derivado das pessoas com menos idade, o provável é que a reprodução social terá que valorar os sistemas públicos de seguridade associada as pessoas de faixa etária mais alta, especialmente, as pessoas idosas. Portanto, a situação social requer muitas análises estratégicas da condição vivente dos jovens, nos planos nacional, regional, municipal e territorial.

 

2) Caracterização da população em situação de vulnerabilidade social

 

            O gráfico 2 explicita uma questão social de alta significância para os assuntos envoltos das relações de dependência dos jovens. A estrutura etária da população, que aparece no CADÚNICO relativo as cidades da Região Metropolitana de Campinas, ou seja, das famílias e pessoas em situação de vulnerabilidade social domiciliadas nessa localidade regional, demonstra que a composição familiar possui alta participação de crianças e jovens, sendo mais representativa a participação da faixa etária de 7 a 15 anos. Em termos percentuais, essa faixa etária representa 22,87% do conjunto da população, acima dos percentuais das faixas etárias consideradas neste gráfico para expressar a população adulta. À primeira vista, a composição familiar que caminha com a liderança das pessoas das faixas etárias envolta dos 40 anos, tendo a integração familiar com filhas e filhos jovens.

 

Gráfico 2 – Estrutura etária da população inscrita no Cadastro Único na Região Metropolitana de Campinas (Julho/2022)

Fonte: CECAD (2022)

 

            Diante do exposto, este caminho reflexivo e crítico busca a leitura da relação entre a população de jovens que aparece no CADÚNICO e a população total de jovens domiciliada em cidades da Região Metropolitana de Campinas, levando em conta as faixas etárias. Convém ressaltar que se trata de estimativas dessa composição populacional. Chama muito atenção que a estrutura etária da população total demonstra pouca participação dos jovens e, principalmente, a atenção redobrada para o fato de que a faixa etária da população de 5 a 15 anos, que aparece no CADÚNICO, portanto, em situação de vulnerabilidade social, representa algo perto de 40% da população total dessa faixa etária, e a faixa etária de crianças de 0 a 4 anos envolta de 30%. Sem dúvida, uma questão social muito preocupante.

 

Gráfico 3 – Estimativa da proporção entre as faixas etárias da população inscrita no CADÚNICO e a população total da RMC (2022)

Fonte: CECAD (2022)

 

Pode-se acrescentar a essa observação que essas famílias que aparecem no CADÚNICO estão vivenciando situação de vulnerabilidade social, portanto, essa composição familiar também é implicante de outros agravos, por exemplo, deduz-se que essas famílias enfrentam o problema da insegurança familiar. Será que essas crianças e jovens estão alcançando a melhor nutrição para o seu desenvolvimento pessoal e social? Sem dúvida, mais uma questão social de alto relevo.

 

 

O gráfico 4 apoia apreensões sobre a escolaridade de jovens, classificados pela faixa etária de 7 a 17 anos, que aparecem no CADÚNICO das cidades da Região Metropolitana de Campinas. Convém destacar que um percentual alto da população de jovens encontra-se em situação de “sem instrução”. Em síntese, esse indicador de educação desvela os problemas de distorção idade série, violência contra jovens, na medida em que esses jovens não estão tendo o devido acesso ao sistema educacional, os problemas de aspectos qualitativos do desempenho escolar, entre outros aspectos da vulnerabilidade social vinculada a dimensão da educação e suas implicações ao viver social.

 

Gráfico 4 – Escolaridade dos jovens em situação de vulnerabilidade social na Região Metropolitana de Campinas (07 a 17 anos – Julho/2022)

Fonte: CECAD (2022)

 

Em síntese, a caracterização da população em situação de vulnerabilidade social mostra a baixa expressividade dos jovens diante da população total, a questão social que parte expressiva das crianças e jovens domiciliadas nas cidades da Região Metropolitana de Campinas encontra-se em situação de vulnerabilidade social e a leitura dos agravos do sistema educacional que assiste essa população de jovens que estão vivenciando a vulnerabilidade social.

 

  1. Inclusão socioprodutiva

 

Esta parte do texto apoia a construção analítica sobre a inclusão dos jovens em sistemas de trabalho instalados nas cidades da Região Metropolitana de Campinas. O foco da análise está na capacidade desses sistemas promoverem a empregabilidade e o padrão distributivo na forma de salários para o agrupamento de jovens. Dessa forma, deduz-se sobre a capacidade de autonomia dos jovens frente aos desafios do viver social.

O gráfico 5 apoia uma construção reflexiva acerca das relações entre os sistemas produtivos de alta densidade de empregos e a inclusão socioprodutiva de jovens classificados pela faixa etária de 15 a 29 anos. O indicador considerado no gráfico demonstra o percentual da população ocupada perante a população economicamente ativa dessa faixa etária, nos períodos de 2010 e 2020. O comércio varejista aparece com alta densidade de empregos de jovens, assim, em 2010, o percentual de 17,43% de jovens ocupados, depois, em 2020, subiu para 19,43%. Por um lado, muitos sistemas de trabalho social acompanharam esse pequeno crescimento da empregabilidade de jovens, por outro lado, os sistemas de trabalho com alta capacidade dinâmica regional manifestam queda na empregabilidade dos jovens.

 

Gráfico 5 – Razão entre população ocupada em setores produtivos e PEA considerando a faixa etária de 15 a 29 anos na RMC

Fonte: RAIS (2020)

 

Este esforço reflexivo sobre a empregabilidade formal dos jovens em setores econômicos da Região Metropolitana de Campinas abre a possibilidade de uma análise sobre o processo distributivo na forma dos salários. O gráfico 6 apresenta faixas salarias que compõem a estrutura do desempenho corporativo nesses setores econômicos. Convém salientar que a maior parte dos setores promove a empregabilidade agrupada entre 1 e 2 salários mínimos, seguida da faixa de 2 a 3 salários mínimos. Por fim, a observância que o alto poder aquisitivo aparece expressivo apenas no sistema do setor público.

 

 

Gráfico 6 – Faixas salariais dos empregos de jovens (18 a 29 anos) em setores econômicos da Região Metropolitana de Campinas (2020) (%)

Fonte: RAIS (2020)

 

Em síntese, os jovens que alcançam a empregabilidade em setores econômicos enfrentam uma situação contraditória de vivência social permeada por um padrão distributivo de salários pautado por baixo poder aquisitivo. Pode-se deduzir o quão isso se torna agravante para os diversos desafios da vivência social dos jovens.

 

  1. População em Situação de rua

 

Evidentemente, o estudo que substancia esse texto não cumpre o objetivo de um procedimento metodológico que confirma os nexos entre a situação social agravada dos jovens e a realidade que se manifesta por meio do crescimento da população em situação de rua de pessoas de diferentes faixas etárias, incluindo os jovens.

Gráfico 7 – População em situação de rua em cidades da Região Metropolitana de Campinas (Faixa etária – 2022)

Fonte: CECAD (2022)

 

No entanto, o procedimento metodológico, aplicado neste trabalho, considera a interação dinâmica com as instituições sociais, bem como, o analítico de dados complexos da sociabilidade na localidade regional de Campinas, sendo assim, permite o nível dedutivo que tal situação sistêmica agravada está levando as pessoas para a situação de rua, até mesmo a população de jovens.

 

Considerações finais

 

Este trabalho apoia o posicionamento do Observatório PUC-Campinas, no sentido da capacidade diagnóstica do desenvolvimento social na localidade regional de Campinas, mediado por trabalho colaborativo com as instituições locais. Os procedimentos analíticos nunca se distanciam dos aspectos contraditórios que se manifestam no processo social complexo das cidades da Região Metropolitana de Campinas. Contudo, o propósito central é apoiar a construção analítica que apoia o processo decisório comprometido com a agenda inclusiva do desenvolvimento social.

Os resultados elencados neste texto possibilitam apreensões sobre a vivência social dos jovens. O ponto principal é que está caindo a participação relativa dos jovens perante a população total, ou seja, a estrutura etária ficando envelhecida, sendo assim, o próximo período ficará mais dependente da capacidade laboriosa dos agrupamentos de pessoas jovens economicamente ativas, em suma, uma questão social que precisa ser levada em conta pelo poder decisório de ações e políticas públicas.

Acrescenta-se a esse problema social que boa parte dos jovens de 5 a 15 anos reside em famílias que estão vivenciando a situação de vulnerabilidade social. Essa realidade condiciona, sobremaneira, o posicionamento dos jovens. Os dados apresentados neste trabalho apontam os problemas associados as dimensões da educação, segurança alimentar, moradia, entre outros fatores de agravos sociais.

Por fim, a leitura que o sistêmico do trabalho está promovendo uma capacidade dinâmica de um padrão distributivo baseado em baixos salários aos jovens de 15 a 29 anos, por exemplo, os setores da indústria reduziram a empregabilidade formal e as faixas salariais.

Sem dúvida, a questão social clama por ações imediatas e estratégicas que considerem múltiplos fatores do problema complexo da vulnerabilidade associada aos jovens.

 

Referências bibliográficas

CECAD–Cadastro Único. Disponível em: https://cecad.cidadania.gov.br/tab_cad.php. Acesso em: 15 de setembro de 2022.

JANNUZZI, Paulo M. Indicadores sociais no Brasil. São Paulo: Alínea, 2012.

RAIS, MINISTÉRIO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA. Disponível em: http://www.ministériodotrabalho.gov.br. Acesso em: 10/09/2022.

SEADE. População dos municípios do Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.seade.gov.br/. Acesso em: 20/09/2022.

 

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