COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N27|Semana 44 (08/11 a 14/11)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 14/11, o Brasil notificou 5,8 milhões de casos e 165,6 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 27,9 mil novos casos e 484 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 08/11 e encerrada em 14/11 – semana epidemiológica de número 46, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 14/11, foram notificados 120,8 mil casos e 3,7 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,09%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 89,2 mil casos e 2,8 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,22%. Por fim, o município de Campinas registrou 34,9 mil casos até o momento, com 1.342 óbitos – letalidade de 3,84% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.


Em linhas gerais, todos os Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos tiveram um aumento nos casos e mortes, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 3.859 casos (+350,81%); RMC, 2,8 mil casos (+384,51%%); e Campinas, 764 casos (+255,34%). Em relação à semana passada, as novas mortes aumentaram no DRS-Campinas, com 57 óbitos (+159,09%); na RMC, 47 (+135,00%); já em Campinas manteve-se estável com 9 mortes (0,0%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[1]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Serra Negra, com 820 e 892 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Santo Antônio de Posse são os municípios com maior incidência, todos com mais de 3.400 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 9 dos 42 municípios do DRS-Campinas e oito dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 2.743 casos por 100 mil habitantes.  

Além disso, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 104 e 114 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Santa Bárbara d’Oeste são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 114 e 102, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 77 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 09/10, os Departamentos Regionais de Saúde de Campinas, Sorocaba, Piracicaba, Grande São Paulo e Taubaté avançaram para a fase verde. Os demais mantiveram-se na fase amarela, com exceção do DRS-Barretos que retrocedeu para fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo plano de flexibilização do estado.

Da perspectiva da saúde, entre os dias 06/11 e 09/11, não houve atualização dos dados sobre a COVID-19 no Estado de São Paulo, devido a problemas nos sistemas de informação do Ministério da Saúde, de acordo com informações oficiais do Governo do Estado de São Paulo. No dia 10/11, os dados “represados” foram divulgados, provocando distorções significativas nas curvas de casos e óbitos. Vale ressaltar que tanto a semana epidemiológica 45 (01/11 a 07/11) como a semana 46 (8/11 a 14/11) foram afetadas pela falha, assim como o cálculo da média móvel de 7 dias, que, até o dia 16/11 permanecerá bastante imprecisa pela inclusão, no período de cálculo, dos dias de falha ou do dia do retorno dos registros.  Um recurso que pode ser utilizado nesse caso é o cálculo da média móvel dos últimos 14 dias, que ameniza essas distorções nos dados. Quando se observa a média móvel de 14 dias com os dados do município de Campinas, pode-se observar que a tendência de estabilização se mantém, com média móvel de 14 dias no dia 14/11 = 70, 13% menor do que a média móvel de 14 dias no dia 31/10 = 79.

Hospitais privados do município de São Paulo divulgaram informações apontando aumento de hospitalizações nos últimos dias[1]. Certamente as informações referentes a atendimentos de sintomáticos respiratórios em unidades de pronto atendimento e internações de suspeitos para COVID-19 podem sugerir uma mudança de cenário por ser um dado mais “em tempo real” do que as curvas de casos confirmados, que são sempre um pouco atrasadas devido a intervalos necessários para a realização da coleta do teste diagnóstico, a liberação do resultado e a alimentação desse dado nos sistemas de informação. Dados disponibilizados pelo Estado de São Paulo apontaram, de fato, uma elevação de 21% nas internações no município de São Paulo nesta última semana e 18% no estado todo. No DRS-Campinas, a elevação foi de 19%. Não há o dado disponível individualmente para os outros municípios do estado.

No município de Campinas, a prefeitura divulga quase diariamente as informações sobre os hospitais do município, o número de indivíduos internados em “leitos COVID-19”, bem como a taxa de ocupação dos serviços.

Como houve desmobilização de muitos “leitos COVID” no município, nos últimos meses, o número absoluto de pessoas internadas acaba sendo um dado mais interessante para comparação do que a taxa de ocupação. Até o dia 13/11, esse número vinha em queda em relação aos últimos 14 dias, mesmo entre os hospitais privados.

Após algumas semanas de estabilidade, há um movimento nos dados que precisaremos observar com máxima atenção. Uma base de dados municipal com dados de atendimentos diários a sintomáticos respiratórios em unidades de pronto atendimento e número diário de internações de suspeitos para COVID-19 certamente ajudaria no entendimento do cenário em tempo real. De qualquer forma, o aumento das internações no estado aumenta a preocupação com a evolução da epidemia nas próximas semanas e meses, tanto que a reclassificação das regiões no Plano São Paulo, que estava programada para 16/11, foi adiada para 30/11[2].  Devemos, portanto, seguir recomendando o máximo rigor na adesão às medidas de prevenção – distanciamento físico, utilização de máscaras, evitar ambientes fechados e com pouca ventilação, higiene adequada das mãos e superfícies.

Do ponto de vista econômico e social, a pandemia ainda prejudica a atividade econômica e as oportunidades de geração de renda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas está há mais de um mês na fase verde do Plano São Paulo. Neste momento, podem funcionar, com menos restrições de capacidade, praticamente todas as atividades econômicas, à exceção de grandes eventos. A mudança mais expressiva na progressão para a fase verde é o aumento de 40% do limite de ocupações de bares, restaurantes e academias, para 60%. 

A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, parece estar baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária.

Os últimos dados das pesquisas de atividade econômica, recentemente divulgados, apontam que, em setembro/2020, o índice de produção industrial cresceu 2,6%; o comércio, 0,6%; e serviços, 1,8%, em relação a agosto/2020. No entanto, a comparação com os meses entre janeiro e setembro do ano passado indica que serviços e indústria ainda não recuperaram os níveis de atividade do ano passado, para o período de janeiro a setembro de 2020 – indústria (- 7,2%) e serviço (-8,8%). A atividade de comércio não apresentou variação em relação ao ano passado, indicando a recuperação dos patamares de 2019. O IBC-Br, considerado uma prévia do PIB trimestral a ser divulgado pelo IBGE nas próximas semanas, teve alta de 9,47%, na comparação com o segundo trimestre. No entanto, o índice ainda está em queda de 3% na comparação com terceiro trimestre de 2019. 

O IBRE/FGV projeta um crescimento de 5,8% para o 3T/2020, em relação ao trimestre anterior, mas um decrescimento de 5,5% em relação ao 3T/2019. Apesar da “boa” notícia, é importante frisar que estamos recuperando níveis de atividade do pré-crise, que já eram considerados ruins. Além disso, os efeitos de médio e longo prazo da crise sanitária podem dificultar ainda mais a retomada, de fato, da economia brasileira e regional. 

Os dados do mercado de trabalho preocupam e indicam a dificuldade de uma retomada que dependa do consumo das famílias, sobretudo diante da possibilidade do fim ou redução dos programas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 19,7 milhões (27%) de trabalhadores estão com rendimento menor do que o normalmente recebido no mesmo período. Em setembro/2020, aproximadamente 34,3% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, dá os primeiros sinais de redução, atingindo R$ 894,00.

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. A retomada do consumo das famílias vai depender, criticamente, da manutenção do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim das reduções de carga horária e salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos na manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como ocorria antes da crise sanitária.  O setor externo tem mostrado sinais de recuperação, sobretudo nos países que melhor controlaram a pandemia, gerando um  viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. No entanto, é importante ressaltar que as exportações representam aproximadamente 14% do PIB brasileiro, isto é, parecem pouco suficientes para puxar taxas de crescimento significativas da produção nacional no curto prazo. Como complicador, há o aumento da preocupação com um possível movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 17,94% em 12 meses, até setembro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento (IPCA), sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Por outro lado, o governo federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos.




[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/11/apos-alta-de-internacoes-por-covid-em-hospitais-privados-rede-municipal-de-sp-mostra-mesma-tendencia.shtml

[8] https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/11/16/governo-alega-precaucao-e-adia-reclassificacao-do-plano-sp.htm




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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