COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas  – V2|N25|Semana 25 (20/06 a 26/06) 

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4] Beatriz Panciera [5] Giuliano Polli [6]

Até o dia 26/06, o Brasil notificou 18,38 milhões de casos e 512,73 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 71,8 mil novos casos e 1,7 mil novas mortes por dia 7.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 20/06 e encerrada em 26/06 – semana epidemiológica de número 25, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana) 

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.   

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 26/06, foram notificados 401,6 mil casos e 11,6 mil mortes no DRS-Campinas – letalidade de 2,90%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC8), foram 280,9 mil casos e 8,4 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,00%. Por fim, o município de Campinas registrou 93,2 mil casos até o momento, com 3,6 mil óbitos – letalidade de 3,95% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.  

Nesta semana, 15 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos, indicando uma queda no número de novos casos no Estado de São Paulo em relação à semana passada, com média de -9.66%. As novas mortes apresentaram taxas decrescentes em 10 dos 17 departamentos do Estado, com média de -1,6%. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em avanço no DRS-Campinas, os novos casos apresentaram uma leve queda e o número de novos óbitos teve um aumento preocupante, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2.

Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas 

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas 

Foram registrados, nesta semana, 14,2 mil casos no DRS-Campinas (variação de -8,26%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 10,18 mil foram registrados na RMC (var. -3,81%) e 2,82 mil em Campinas (var. -3,26%). Foram 425 mortes no DRS-Campinas (var. 18,72%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 303 ocorreram na RMC (var. 22,67%) e 101 em Campinas (var. -4,72%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios. 

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho.

Neste momento, os municípios com maior incidência são Paulínia, Santo Antônio de Posse e Holambra, com 12.852,61, 12.140,57 e 12.026,49 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. É válido lembrar que a incidência é fortemente influenciada pela amplitude da testagem em cada município. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% daqueles com maiores taxas de incidência, no estado de São Paulo, com corte em 11.140 casos por 100 mil habitantes. 

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho.

Além disso, Santa Bárbara d’Oeste, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 333,78, 331,92 e 313,73 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% daqueles com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 307 mortes por 100 mil habitantes.  

Análise dos especialistas 

Dando continuidade ao que foi decretado pelo Governo do Estado no dia 09/06/2021, todos os departamentos regionais de saúde estão em fase de transição, da fase vermelha para a laranja do Plano São Paulo, desde o dia 18/04/2021. O Governo, que se sentia pressionado e que havia prorrogado a fase emergencial, até o final de junho, agora se encontra em um processo de manter as regras anteriormente ditas, que possuem uma previsão de duração até 15 de julho. O Governo do Estado não deu sinal de enrijecimento nas novas regras de combate à pandemia nem flexibilização, como: os estabelecimentos continuam podendo operar com ocupação máxima de 40% entre as 6h e 21h, com toque de recolher entre as 21h e 5h, e manutenção da obrigação de teletrabalho para todas as atividades administrativas e recomendação de escalonamento na entrada e saída da indústria, serviços e comércio, na maior parte do estado.

Apesar de o Governo do Estado não ter enrijecido as regras, os municípios têm autonomia para agir conforme a situação na região. A cidade de Campinas, na última semana, passou a operar com toque de recolher entre as 19h e 5h, devendo todos os estabelecimentos fechar às 19h, e as operações de fiscalização também foram intensificadas.

Do ponto de vista da saúde, o número de novas internações no DRS-Campinas apresentou leve redução em relação à semana anterior¹, sugerindo um cenário de estabilidade em patamares muito elevados. O monitoramento de atendimento a sintomáticos respiratórios em Campinas apresentou queda por duas semanas seguidas, sugerindo que a velocidade de aumento de casos está diminuindo na cidade. Entretanto, o sistema de saúde segue extremamente sobrecarregado, com o município apontando taxas de ocupação em UTI-COVID de praticamente 100% nos leitos públicos e de quase 90% nos privados, com fila de espera por UTI de mais de 30 pessoas na cidade9. Devido à clara mudança do perfil etário dos pacientes ocupando leitos intensivos (abaixo de 60 anos em sua grande maioria), o tempo de ocupação do leito tem aumentado nos últimos meses, ficando em 18,5 dias em média atualmente10, de modo que o impacto de novas medidas restritivas pode demorar mais tempo para conseguir, de fato, reduzir essa sobrecarga. É difícil compreender a posição da Prefeitura de Campinas de não adotar medidas mais restritivas diante do início da elevação de casos há algumas semanas. Mesmo a extensão de horário do toque de recolher poderia ter ocorrido em momento mais oportuno. É muito difícil para os profissionais da linha de frente lidarem com essa sobrecarga e com a desassistência por tanto tempo. Resta-nos “torcer” para que essa tendência de estabilização de novos casos se transforme em uma queda acentuada rapidamente. A implantação da fase emergencial no mês de março foi o que propiciou uma redução importante dos casos e “desafogou” os serviços de saúde em um momento extremamente crítico. Sem uma medida mais drástica como aquela é difícil imaginar que sairemos da situação atual com a mesma agilidade e é provável que permaneçamos nessa situação de sobrecarga por um tempo maior. 

Apesar do brilhante trabalho que o município de Campinas e diversas cidades da região vêm fazendo na campanha de imunização, com grande agilidade de aplicação de doses, o pequeno quantitativo que tem chegado aos municípios impede uma campanha mais robusta e com potencial de impactar, em curto prazo, a evolução da epidemia. O papel protetor das vacinas é nítido e claro, visto que hoje em dia é muito difícil encontrar pacientes acima de 70 anos nas UTIs-COVID, justamente as faixas etárias já imunizadas com duas doses de vacina. Entretanto, devido à negligência do governo federal em adquirir vacinas em tempo oportuno, há uma grande parcela da população ainda não imunizada com duas doses, o que deixa um enorme contingente de susceptíveis vulneráveis à infecção, adoecimento, internação e óbito. É possível que com a previsão de chegada de mais imunizantes no segundo semestre e a já evidente grande capacidade dos municípios em aplicar as doses com agilidade possamos sair definitivamente desta situação crítica nos próximos 3 ou 4 meses. Infelizmente, boa parte da população não segue e não respeita as boas orientações de prevenção e somente medidas mais restritivas (ainda que com grande custo econômico e político) poderiam derrubar com mais velocidade o aumento de novos casos. 

Do ponto de vista econômico e social, a taxa de desemprego alta e crescente (14,7%, 1T/2021), combinada com o recrudescimento dos casos e mortes, preocupa pela provável necessidade da implementação de novas medidas de distanciamento físico. O aumento de casos e mortes pode reverter a relativa positividade dos indicadores econômicos regionais e nacionais no segundo trimestre.   

Houve crescimento do PIB brasileiro no 1T/2021, de 1,2%. No entanto, a taxa de desemprego alta reforça a tese de ilusão contábil, causada pela reposição de estoques das empresas. Em outras palavras, as empresas não “investiram” na produção e, sim, na reposição de estoques, levando ao crescimento acima do esperado. Sem crescimento na demanda, o crescimento do 1T/2021 não deve se repetir no 2T/2021. Por outro lado, o IBC-Br, considerado uma prévia do PIB brasileiro mensal, mostra crescimento de 0,44% em abril, em relação a março/2021. Os índices de atividade do IBGE mostram queda na indústria em abril (-1,3%) e alta do comércio (+1,8%) e serviços (0,7%). Porém, os dados do setor externo da RMC continuam indicando que a economia regional segue se recuperando, com crescimento de 102,51% das exportações e 45,9% das importações.  Em relação ao emprego, os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre jan/2020 a mar/2021, estimam uma taxa de desocupação recorde no Brasil de 14,7% (alta de 0.3 pontos percentuais), patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Na RMC, de acordo com dados do Observatório PUC-Campinas, a criação de novos postos de trabalho tem desacelerado desde abril – foram 5,3 mil vagas em março/2021, com saldo positivo de 23,7 mil postos no 1T/2021.  

Os efeitos do BEm sobre a renda e o emprego regional ainda são incertos.   Em 2020, na RMC, foram efetuados aproximadamente 500 mil acordos de flexibilização (28% da mão de obra formal regional), sendo 60% dos acordos para suspensão total ou 70% de redução dos salários e da carga horária.  

Em relação aos preços, O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 37,04% em 12 meses, em maio/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. O IPCA acumulado de 12 meses atingiu 8,06% em maio/21, quando o centro da meta de inflação para o ano de 2021 é de 3,75%.  A subida do IPCA foi puxada, sobretudo, pelo aumento da energia elétrica.  

Por fim, as expectativas de retomada para boa parte dos analistas estão bastante ancoradas no avanço e eficácia da vacinação. Até o momento, no DRS-Campinas, aproximadamente 38,7% (var. semanal de +9,6 p.p.) da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto 12,6% (var. semanal de +0,3 p.p.)  recebeu a segunda dose. Seguimos afirmando que, sem medidas realmente efetivas de proteção da renda e do emprego e sem a aceleração na taxa de vacinação, a retomada da atividade econômica nacional e regional pode ser desnecessariamente lenta, apesar dos resultados positivos do primeiro trimestre.  

ANEXOS

Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Graduanda em Administração pela PUC-Campinas e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[6] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[7] Dados do Ministério da Saúde

[8] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[9] – https://www.seade.gov.br/coronavirus/#

[10] – https://covid-19.campinas.sp.gov.br/epidemiologico/diario 


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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