Informativo Mensal: Balança Comercial da Região Metropolitana de Campinas

Volume. 3| N.08 | Agosto-2020 

Responsável:

Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Assistente:

Pedro Henrique Fidelis

Sumário Executivo

Este informativo apresenta e discute os principais dados da balança comercial da RMC para o mês de julho/2020. Os dados utilizados nas análises são da base do Ministério da Economia[1]. Além dos dados quantitativos, agregados e desagregados por município, apresenta-se a qualificação da pauta de exportação e importação da RMC, a partir de cruzamentos dos dados de comércio com os Índices de Complexidade Produtos, calculados pelo Observatório de Complexidade Econômica do MIT Média Lab[2].

Dentre as informações analisadas, destaca-se:

  1. queda -23,54% nas exportações e -20,19% nas importações da RMC, resultando em queda de -19,59% no déficit regional, para o mês de julho;
  2. participação nas exportações do Estado caíram para o patamar de 7,14%, o segundo pior em 10 anos;
  3. quedas generalizadas nas exportações, com destaque para medicamentos, peças e acessórios para veículos, peças para motores de ignição por combustão interna, carne preparada ou conservada, miudezas ou sangue;
  4. aumento de 39,80% nas exportações de automóveis no mês de julho, após vários meses de queda expressiva na exportação do setor;
  5. quedas generalizadas das importações com destaque para circuitos eletrônicos integrados, aparelhos elétricos, compostos heterocíclicos de nitrogênio, antissoros e vacina, peças e acessórios para máquinas de escritório;
  6. aumento das transações comerciais de produtos de mais baixa complexidade (ex. soja);
  7. que, desde janeiro, as importações somaram 6,75 bilhões de dólares, enquanto as exportações representam aproximadamente um terço desse valor, 1,87 bilhões de dólares;
  8. que, no acumulado do ano, há sinais de queda de atividade para todos os segmentos da indústria, entre eles a indústria química, farmoquímica, agroquímica, aparelhos telefônicos, eletrônicos e automobilística;  
  9. queda drástica das exportações e importações em relação a praticamente todos os parceiros comerciais.

Em suma, para além dos problemas estruturais do déficit comercial regional causados pela dependência da importação de insumos externos industriais, a conjuntura evidencia que a RMC passa pela pior crise externa da história recente. No acumulado do ano, o estado de São Paulo registrou queda de 20,1% nas exportações e 14,0% nas importações. No Brasil, houve queda de 6,7% nas exportações e 10,5% nas importações.

Balança Comercial julho

A Tabela 1 traz os dados da balança comercial da RMC para os meses de julho entre 2010 e 2020.


A partir dos dados daTabela 1, é possível verificar que as exportações de julho/2020 – 301,74 milhões dólares – apresentaram decrescimento de 23,54% em relação ao mesmo período de 2019. Este é o pior desempenho das exportações para o mês de julho em 10 anos. Além disso, a participação nas exportações do Estado de São Paulo (7,14%) corresponde ao segundo pior patamar da série, indicando que a RMC perdeu participação relativa nas exportações do Estado. As importações totalizaram 1.035,17 milhões de dólares, no mesmo período, um decrescimento de 20,19% em comparação a julho de 2019. A participação da RMC nas importações do Estado (25,42%) foi a maior da década. O saldo da balança comercial, 733,43 milhões de dólares, teve queda de 19,59%. É preciso destacar que, com os movimentos de queda relativa das exportações e aumento da participação nas importações estaduais, a RMC impediu que o superávit estadual fosse maior, no período.

As principais quedas nas exportações, considerando-se os principais produtos da pauta, foram de medicamentos (-25,89%), polímeros de propileno (-4,44%), peças e acessórios para veículos (-55,25%), peças para motores de ignição por combustão interna (-30,73%), carne preparada ou conservada, miudezas ou sangue (-23,45%).  A queda nas exportações só não foi maior devido ao aumento das exportações de automóveis (+39,80), agroquímicos (+7,19%), açúcar (+168,96%), algodão (+479,88%).

Nas importações, as principais quedas foram de circuitos eletrônicos integrados (-6,15%), aparelhos elétricos (-5,85%), compostos heterocíclicos de nitrogênio (-35,39%), antissoros e vacina (-8,10%), peças e acessórios para máquinas de escritório (-7,64%). A queda nas importações só não foi maior devido ao aumento das importações de agroquímicos (+0,03%), outros compostos orgânicos e inorgânicos (+15,04%), antibióticos (+9,36%), medicamentos (+41,54%), sulfonamidas (88,28%).

A Tabela 2 mostra as exportações da RMC para o mês de julho, agregados de acordo com o grau de complexidade dos produtos. Produtos considerados mais complexos são produzidos em países com maior grau de sofisticação tecnológica das estruturas produtivas[3], portanto com maiores níveis de produtividade e renda.  Esses produtos demandam mais conhecimento para serem produzidos e estão associados à demanda por mão-de-obra mais qualificada e maiores salários.

Houve queda nas exportações em duas categorias: média-alta (-27,20%) e alta (-32,53%). No entanto, houve alta nas categorias de média-baixa (+13,47%) e baixa complexidade (+127,82%).

A Tabela 3 mostra as importações da RMC para o mês julho de 2020, agregados de acordo com o grau de complexidade econômica dos produtos importados.

Houve queda nas importações em todas as categorias: baixa complexidade (-7,59%), média-baixa (-18,86%), média-alta (-16,41%) e alta complexidade (-28,41%).

Balança Comercial janeiro-julho

A  Tabela 4 traz os dados da balança comercial da RMC para os seis primeiros meses de 2020.

Em 2020, as importações atingiram a marca dos 6,75 bilhões de dólares, enquanto as exportações somaram 1,87 bilhão, isto é, praticamente ¼  do valor importado. O desequilíbrio entre importações e exportações já rendeu um déficit comercial regional de 4,87 bilhões de dólares maior que o déficit estadual, de -3,24 bilhões de dólares. O Estado de São Paulo teria logrado um superávit se não fosse pelo déficit da RMC. A Tabela 5 traz os principais produtos exportados em 2020.

Os produtos da Tabela 5, totalizam aproximadamente 36,59% das exportações totais do acumulado do ano. Houve queda em todos principais produtos de exportação, exceto soja (óleo e outros resíduos), em relação ao mesmo período do ano passado. A Tabela 6 traz os principais produtos importados em 2020.

Os produtos listados na Tabela 6 totalizam aproximadamente 50,11% das importações realizadas pela RMC em 2020. Houve queda nas importações em todos os produtos da lista. Esses produtos são, sobretudo, da indústria química e farmoquímica (agroquímicos, compostos heterocíclicos, outros compostos orgânicos e inorgânicos e antissoros e vacinas). Fora da indústria química, houve queda na importação de aparelhos telefônicos, e produtos relacionados a indústria automobilística.

Geralmente, a queda nas importações desses insumos representa desaquecimento das atividades à frente na cadeia produtiva, assim como o aumento das importações representa aquecimento.  Neste sentido, houve queda nas atividades da automobilística, sempre em relação ao mesmo período do ano passado. 

A Tabela 7 traz as exportações para os 10 principais destinos da RMC, acumulado para os meses de 2020, bem como a variação das exportações por destino em relação ao mesmo período do ano passado.

O valor das exportações caiu expressivamente em quase todos os principais parceiros. Tais quedas resultam, claramente, do desaquecimento da economia global, diante da crise do Corona vírus.

A Tabela 8 traz os dados para as 10 principais origens das importações da RMC, acumulado para os meses de 2020, bem como a variação das importações por origem em relação ao mesmo período de 2019.

A queda praticamente generalizada das importações, também indicam efeitos de desaceleração da economia global pela crise sanitária atual.  A Tabela 9 traz os dados da balança comercial para os municípios da RMC, para julho de 2020.

 Nota-se que, as exportações de Paulínia superaram as exportações de Campinas. Dentre os municípios que mais exportaram, Sumaré e Indaiatuba, onde operam grandes produtores de materiais de transporte (ex. montadoras), continuam se destacando pelos menores impactos que causam no agravamento do déficit da balança comercial regional. Vale destacar que, embora com participação pouco expressiva na balança regional, os únicos municípios com saldo positivo em julho são Cosmópolis, Santo Antônio de Posse e Pedreira.

Dentre os municípios que exportaram menos, destacam-se os casos de Hortolândia e Jaguariúna, dado o alto volume de importação de empresas localizadas nesses municípios.  Esses municípios são sede de grandes empresas multinacionais produtoras de máquinas automáticas para processamento de dados (ex. computadores) e de aparelhos de telefonia (ex. celulares), que importam grandes volumes de partes e componentes e exportam pequenos volumes de produtos acabados.

[1] http://www.mdic.gov.br/index.php/comercio-exterior/estatisticas-de-comercio-exterior.

[2] https://atlas.média.mit.edu/en/resources/about/ .

[2] Mais detalhes sobre o Índice de Complexidade de Produtos (PCI, em inglês) podem ser encontrados em https://atlas.média.mit.edu/en/. Nossa classificação em 5 categorias (Baixa, Média-baixa, Média, Média-alta e Alta complexidade) é resultado de aplicação metodológica original.


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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