Informativo Covid-19 Campinas – V1|N15|Semana 34 (16/08 a 22/08)
Equipe:
Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]
Até o dia 22/08, o Brasil notificou 3,6 milhões de casos e 114,7 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 37,8 mil novos casos e 1000 novas mortes por dia. Infelizmente, embora as mortes por milhão figurem entre as mais baixas, o país ainda é o primeiro no ranking mundial da Covid-19, em relação à taxa de crescimento diária do número de mortos.
Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 16/08 e encerrada em 22/08 – semana epidemiológica de número 34, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.
Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)
A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do Estado de São Paulo.
Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 22/08, foram notificados 79,3 mil casos e 2,5 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,15%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]) foram 59,3 mil casos e 1,8 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,03%. Por fim, o município de Campinas registrou 25,2 mil casos até o momento, com 950 óbitos – letalidade de 3,7% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .
Em linhas gerais, 16 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do Estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07 mas ainda em implementação por alguns municípios do Estado.
Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes decresceram a ritmo maior, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1.
A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 6,1 mil casos (-37,68%); RMC, 4,4 mil casos (-40,29%) e Campinas, 1,7 mil casos (-41,43%). Em relação à semana passada, as novas mortes decresceram no DRS-Campinas, 182 óbitos (-18,75%); na RMC, 150 (-14,77%), já em Campinas houve um decréscimo, 76 (-1,29%).
Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]
Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho
Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Serra Negra, com 440 e 466 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Itupeva são os municípios com maior incidência, todos com mais de 2.100 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 13 dos 42 municípios do DRS-Campinas e onze dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 1555.2 casos por 100 mil habitantes.
Figura 3. Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho
Até o momento, 5 dos 42 municípios do DRS-Campinas não declararam mortes pela Covid-19. Por outro lado, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 86 e 80 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.
Na RMC, Campinas e Paulínia são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 80 e 61 respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no Estado de São Paulo, com corte em 41 mortes por 100 mil habitantes.
Análise dos especialistas
As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do Estado de São Paulo.
A reclassificação do DRS de Campinas para a fase “amarela” permitiu que os municípios da região reabrissem o comércio e demais atividades previstas. De acordo com último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 14/08, apenas as regiões de Franca e Registro estão na fase vermelha. Os demais departamentos estão na fase amarela, com exceção dos DRS de Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Barretos eas regiões norte e oeste da Grande São Paulo, as quais continuam na fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo Plano de Flexibilização do Estado.
Da perspectiva da saúde, os números indicam uma queda expressiva no registro de casos novos no município de Campinas, Região Metropolitana e DRS (assim como no Estado como um todo), fato que pode indicar um novo represamento de amostras nos laboratórios de saúde pública, uma vez que não seria esperada uma queda tão significativa, da ordem de 40%, em um momento de ampliação de testagem das síndromes gripais e, claro, transmissão comunitária do vírus. Os registros de óbitos também apresentaram quedas, e parecem refletir, de fato, o momento epidemiológico atual com maior precisão. Observando as curvas divulgadas semanalmente pela Vigilância Epidemiológica de Campinas, que organizam os casos e óbitos a partir da data de início dos sintomas e data de ocorrência, fica bastante clara essa tendência de queda na ocorrência de casos graves (síndromes respiratórias agudas graves) e de óbitos, já de forma consistente. O número de pacientes internados em leitos de “UTI COVID” também segue em queda, bem como a taxa de ocupação destes leitos, que estava em 71,8% no dia 22/08.
Nesta última semana foram divulgados os dados do segundo inquérito sorológico realizado pelo município de Campinas, apontando que 3,68% dos indivíduos testados apresentavam anticorpos contra o vírus Sars-Cov-2. No estudo anterior, com coletas até 20/07, esse percentual era de 2,22%. Pelo atual momento da epidemia na cidade, poderíamos esperar um percentual até maior neste segundo estudo. Comparando com o município de São Paulo, por exemplo, que tem uma curva de óbitos em claro descenso e taxas de ocupação de leitos intensivos para COVID na casa dos 50%, os inquéritos sorológicos apontaram 9,5% de prevalência no primeiro estudo, em 21/06, e 10,9% no último estudo, com coletas até 06/08. Dados recentes do município de São Paulo também, com coletas até 10/08, indicaram 16,1% de positividade entre crianças e adolescentes entre 4 e 14 anos.
Não se sabe ao certo qual seria o percentual “ideal” de prevalência de anticorpos na população para indicar uma certa “imunidade coletiva”, mas os números do município de Campinas aparentemente estão bem abaixo do que seria qualquer estimativa razoável para esse percentual.
Outro fato a se observar nestes estudos é uma prevalência maior em adultos jovens, tanto nos inquéritos de São Paulo, como em Campinas, onde a prevalência em indivíduos de 30-39 anos chegou aos 5%, praticamente o dobro de indivíduos acima de 60 anos, demonstrando que a dinâmica da epidemia depende bastante do comportamento das pessoas dessa faixa etária, que provavelmente acabam “trazendo o vírus pra dentro de casa” e infectando pessoas mais velhas, com maior risco de evolução desfavorável.
Sendo assim, vale reforçar as orientações para evitar o contágio uma vez que, apesar de a circulação do vírus estar diminuindo no município, os casos continuam e continuarão a ocorrer por pelo menos alguns meses e todos os susceptíveis seguirão com risco de serem infectados e apresentarem quadros graves da doença.
Do ponto de vista econômico e social, esta foi a segunda semana do DRS de Campinas na fase amarela. Neste momento, podem funcionar, com restrições, bares e restaurantes, salões de beleza, academias, escritórios, cursos livres, aulas práticas de autoescolas, além de relaxamento das restrições ligadas à fase anterior para o comércio e shoppings. A sustentabilidade dos avanços na flexibilização vai depender da eficácia dos protocolos na contenção da crise sanitária, mas a recuperação econômica, infelizmente, vai depender de outros fatores para além das reaberturas.
Em relação à atividade econômica nacional, com base nos dados liberados recentemente pelo IBGE, houve aumento da atividade na comparação entre maio e julho/2020 — indústria (+8,9%), comércio (+8,0%) e serviços (5,0%). No entanto, a comparação com os meses entre janeiro-julho do ano passado, mostra que a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do Coronavírus – indústria (-10,9%), comércio varejista (-3,1%) e serviços (-8,3%).
A alta na indústria de transformação foi ainda maior na comparação mês a mês, registrando 9,9%. Em relação aos principais setores de atividade na RMC, a boa notícia é que o setor de fabricação de veículos cresceu 70%, enquanto outros produtos químicos cresceram 7,1%; fabricação de máquinas e equipamentos, 10,6%; produtos de borracha e material plástico, 17,3%; e têxteis, 34,2%, na comparação mensal. Juntos, esses setores respondem por aproximadamente 57% da massa salarial da indústria de transformação regional.
Por outro lado, os dados do mercado de trabalho preocupam, já que contrastam com os resultados relativamente positivos na recuperação da atividade econômica nacional. Após aumento a partir do final de maio, a taxa de desocupação chegou ao pior patamar desde a primeira semana de maio, atingindo 13,7% na última semana de julho/2020, para o Brasil, e 14,4% em São Paulo. Embora o número possa parecer baixo frente à dimensão da crise, as reduções de carga e salários, bem como o desalento, camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 18,5 milhões de pessoas não procuram trabalho devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 30,1% dos trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido em junho de 2020. Nesse mesmo mês, aproximadamente 35% dos domicílios paulistas receberam o auxílio emergencial, média de R$ 896,00 por domicílio.
De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender, em boa medida, da retomada da capacidade de consumo das famílias, sobretudo em um contexto de políticas econômicas avessas à ampliação do gasto público. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. É válido lembrar que a política fiscal expansionista tem sido apontada por muitos economistas como o mecanismo de política econômica mais adequado para superar a “segunda onda” da pandemia, isto é, os impactos econômicos derivados da crise sanitária[7]. A política fiscal expansionista, isto é, o aumento do gasto do governo, é defendido mesmo no contexto brasileiro, como aponta o manifesto de 380 economistas publicado na Folha de São Paulo, na semana passada[8].
ANEXOS
ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.
[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br
[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro
[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)
[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)
[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.
[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.
[7]http://www3.eco.unicamp.br/images/arquivos/nota_cecon_coronacrise_natureza_impactos_e_medidas_de_enfrentamento.pdf
[8] https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/teto-de-gastos-a-ancora-da-estagnacao-brasileira-e-da-crise-social.shtml