COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N03|Semana 03 (17/01 a 23/01)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 23/01, o Brasil notificou 8,8 milhões de casos e 216,4 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 51,5 mil novos casos e 1.021 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 17/01 e encerrada em 23/01 – semana epidemiológica de número 03, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 23/01, foram notificados 182,8 mil casos e 4,6 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 2,53%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 132,5 mil casos e 3,4 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,61%. Por fim, o município de Campinas registrou 49,6 mil casos até o momento, com 1.602 óbitos – letalidade de 3,22% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .

Em linhas gerais, 11 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava praticamente estável no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram queda nesta semana, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1


A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 8,3 mil casos (-12,54%); RMC, 5,6 mil casos (-8,25%); e Campinas, 2.080 casos (+4,26%). Em relação à semana passada, as novas mortes tiveram queda no DRS-Campinas, 128 óbitos (-7,91%); na RMC, 90 (-8,16%), já em Campinas tiveram alta, 47 mortes (+11,90%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 910 e 1.281 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Indaiatuba e Jundiaí são os municípios com maior incidência, todos com mais de 5.000 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 12 dos 42 municípios do DRS-Campinas e nove dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 4.038 casos por 100 mil habitantes.  

Além disso, Santa Bárbara d’Oeste e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 131 e 136 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 104 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no Plano São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do Estado, publicado no dia 22/01/21, 7 dos 17 departamentos encontram-se na fase vermelha; os demais estão situados na fase laranja. Além disso, todo o estado estará intermitentemente na fase vermelha, entre as 20h e as 6h, todos os dias da semana, e durante finais de semana e feriados pelas próximas duas semanas (até 07/02).

Da perspectiva da saúde, conforme era esperado e noticiado de forma contundente, as três primeiras semanas do ano terminam em um momento de franca ascensão no número de casos e óbitos e com o sistema de saúde bastante pressionado. A estimativa atual do número de reprodução efetivo (Rt) está em 1,28[6], com tendência clara de aumento de casos, portanto. A reclassificação anterior do Plano São Paulo não fora compatível com o momento atual da região e, agora, finalmente, observamos medidas mais enérgicas do governo estadual com o objetivo de reduzir a transmissão, inclusive com revisão de indicadores, a fim de aumentar a sensibilidade do plano para a necessidade de regressão de fase. Certamente tais medidas foram “abrandadas” para, de alguma forma, tentar acomodar interesses e não carregar um custo político tão alto para o governo estadual, mas podem ajudar a interromper essa escalada da doença que poderia conduzir o estado a um colapso do sistema de saúde. Sem dúvida alguma, a abertura e mobilização de novos leitos são mandatórias nesse cenário, mas medidas para reduzir a intensidade da transmissão tinham que ser adotadas.

No último fim de semana, o município de Campinas chegou a ficar por algumas horas com 100% de ocupação em leitos SUS de UTI, numa semana em que a taxa de ocupação geral do município de leitos de UTI COVID esteve sempre acima de 80%. É um dado extremamente preocupante, visto que a cidade ocupa uma posição de referência regional, com muitos pacientes de outros municípios internados em Campinas.

Devido às dificuldades econômicas e ao “cansaço” com a pandemia, será necessário um grande esforço de fiscalização por parte dos municípios para que as regras estabelecidas pelo Plano São Paulo sejam de fato respeitadas, uma vez que as tentativas de manter estabelecimentos abertos e funcionando de maneira velada e irregular devem ser mais frequentes do que em momentos anteriores de fases laranja e vermelha na região.  

Do ponto de vista econômico e social, não só os efeitos da primeira onda ainda estão presentes no contexto econômico e social, mas vivemos, também, aumento das restrições ao funcionamento de atividades econômicas diante do recrudescimento dos casos. Destaca-se que, neste momento, o Estado está dividido entre regiões na fase laranja e vermelha, mas todo o território estadual estará na fase vermelha entre as 20h e as 6h, e aos finais de semana e feriado. Na prática, isso significa que, além das restrições de ocupação e horário da fase laranja, todas as atividades econômicas deverão encerrar as atividades a partir das 20h nos dias úteis, e não operar aos finais de semana.  

Até o momento, o governo federal insiste no encerramento do Auxílio Emergencial, embora tenha acenado a possibilidade de retomar o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. Ao mesmo tempo, tem se formado o consenso dentre os analistas de mercado de que a vacina é a única solução definitiva para o fim das restrições impostas às atividades econômicas. Nesse sentido, embora a vacinação tenha sido iniciada, o Governo Federal tem demonstrado despreparo para prosseguir com um amplo programa de vacinação nacional, abrindo espaço, inclusive, para atuação descoordenada de estados e municípios.

Os últimos dados do PIB, referente ao 3T/2020, mostraram o crescimento de 7,7% em relação ao 2T/2020, quando houve um decrescimento recorde da atividade econômica (-9,6%). Quando se analisa o crescimento entre janeiro e setembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, observa-se uma queda de 5% do PIB.  A expectativa dos analistas do governo é que a economia brasileira feche o ano de 2020 com queda de 4,5%.

Os últimos dados da pesquisa de atividade mostram que a indústria cresceu 1,2%, comércio -0,1% e serviços 2,6%, em outubro de 2020. No acumulado do ano, em comparação com o mesmo período de 2019, a produção industrial recuou -5,5%, a atividade de serviços recuou -8,3% e o comércio cresceu 1,2%.

Alguns dados do mercado de trabalho seguem sem atualização na PNAD-COVID. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego) camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões. Em novembro/2020, 19,6% dos trabalhadores estavam com rendimento menor do que o normalmente recebido e aproximadamente 32,1% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, atingiu R$558,00 em novembro de 2020, e, desde 31/12/2020, está sem previsão de continuidade.

Como temos reforçado, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada/sustentabilidade da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. O auxílio emergencial teve papel substancial para manutenção do consumo das famílias mais pobres e mais afetadas pela crise.  O setor externo dava sinais de recuperação, sobretudo pelo crescimento do volume de exportações, embora com viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. Porém, a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos deve afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC destinam-se aos Estados Unidos), até que a vacina passe a afetar os indicadores de controle da pandemia. A RMC fechou 2020 com queda de -22,2% das exportações, -9,9% das importações e -3,8% do saldo da balança comercial. Para uma região industrial, com alta dependência da importação de insumos, esses números indicam queda da atividade produtiva externa e interna.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto, e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 23,14% em 12 meses, em dezembro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta.

Por outro lado, o Governo Federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O “orçamento de guerra”, que permitiu a ampliação de R$ 577,55 bilhões no orçamento de R$ 3,6 trilhões para 2020, acabou no último 31 de dezembro. Sem a revogação do teto dos gastos, os programas de preservação da renda e do emprego ficam sem previsão de orçamento, de forma que a viabilidade fiscal dos mesmos vai depender, novamente, de outras medidas extraordinárias como um novo “orçamento de guerra”. O governo, no entanto, já tem sinalizado que não pretende continuar com esses programas. Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico e social atual, os efeitos da pandemia podem ser devastadores para economia brasileira e, consequentemente, para economia regional nos próximos meses.




[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Info Tracker – https://datastudio.google.com/u/0/reporting/5b72d54e-a0c2-4748-acf0-9688f42278aa/page/iLbbB




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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