COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N14|Semana 14 (04/04 a 10/04)

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 10/04, o Brasil notificou 13,4 milhões de casos e 351,3 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 70,2 mil novos casos e 3,0 mil novas mortes por dia [1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 04/04 e encerrada em 10/04 – semana epidemiológica de número 14, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 10/04, foram notificados 285,5 mil casos e 7,8 mil mortes, no DRS-Campinas – letalidade de 2,74%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 203,6 mil casos e 5,8 mil óbitos, até o momento – letalidade de 2,85%. Por fim, o município de Campinas registrou 70,7 mil casos até o momento, com 2,6 mil óbitos – letalidade de 3,74% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Nesta semana, apenas 7 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos, evidenciando aumento generalizado de novos casos no estado de São Paulo, por data de notificação. As novas mortes continuam em alta em boa parte do estado. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os novos casos e mortes tiveram alta, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2

Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 12,3 mil casos no DRS-Campinas (variação de +8,3%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 8,1 mil foram registrados na RMC (var. +1,2%) e 2,2 mil em Campinas (var. +6,4%). Foram 558 mortes no DRS-Campinas (var. +1,8%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 411 ocorreram na RMC (var. +9,3%) e 192 em Campinas (var. +22,2%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Foram registrados, nesta semana, 12,3 mil casos no DRS-Campinas (variação de +8,3%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 8,1 mil foram registrados na RMC (var. +1,2%) e 2,2 mil em Campinas (var. +6,4%). Foram 558 mortes no DRS-Campinas (var. +1,8%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 411 ocorreram na RMC (var. +9,3%) e 192 em Campinas (var. +22,2%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 1400 e 1891 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Holambra e Piracaia são os municípios com maior incidência, todos com mais de 8 mil casos por 100 mil habitantes. É válido lembrar que a incidência é fortemente influenciada pela amplitude da testagem em cada município.

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho.

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 225 e 217 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 185 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

De acordo com decreto do Governo do Estado, publicado no dia 09/04/2021, todos os departamentos regionais de saúde evoluíram para a fase vermelha do Plano São Paulo, a partir do dia 12/04/2021. Inicialmente, essa condição deve permanecer até o dia 18/04, quando o estado deve reavaliar a situação da pandemia. Com isso, o comércio, shopping centers e serviços não essenciais ainda não podem funcionar em todo o estado. Bares e restaurantes funcionam para entregas.  O toque de recolher, entre as 20h e as 5h, foi incorporado definitivamente na fase vermelha, assim como a obrigação de teletrabalho para todas as atividades administrativas, proibição de celebrações religiosas e recomendação de escalonamento na entrada e saída da indústria, serviços e comércio. Hospitais, farmácias e atendimento dos serviços de saúde podem operar. As principais mudanças em relação à fase emergencial compreendem a permissão para realização de partidas de futebol e outros esportes profissionais (sem público), para retirada presencial de produtos e alimentos em shoppings, comércio, restaurantes e outras atividades e atendimento presencial em lojas de material de construção.

Da perspectiva da saúde, depois de praticamente dois meses de seguidas pioras nos indicadores de evolução da epidemia, temos neste momento indícios consistentes de melhora na situação de Campinas e região. Os dois principais indicadores que respaldam essa avaliação são o número de novas internações de pacientes suspeitos ou confirmados para COVID-19 e o tamanho da fila de pacientes aguardando um leito de internação em Campinas. O aumento de 22% no registro de óbitos em Campinas nesta semana, levando a um novo recorde, reforça o momento de intensa circulação do vírus nas últimas duas semanas do mês março, período que, aparentemente, poderá vir a ser identificado como o “segundo pico” da epidemia em Campinas até o momento.

O número de novas internações no DRS-Campinas nos últimos 7 dias pela primeira vez em 7 semanas foi inferior ao da semana anterior. Nesta semana epidemiológica 14, foram 1.753 internações nos últimos 7 dias contra 2.202 na semana 13[1]. É importante ressaltar que ainda é um patamar de novas internações muito elevado. Mas se essa tendência se mantiver nas próximas semanas, a pressão sobre o sistema de saúde irá diminuir progressivamente.

A fila de espera por um leito de UTI-COVID em Campinas chegou a 122 pacientes em 25/03/2021. No dia 01/04, eram 94 pacientes; e no dia 09/04, segundo último dado disponibilizado pela Prefeitura, 26 pacientes aguardavam leito de UTI[2]. As taxas de ocupação de leitos intensivos públicos seguem ainda próximas a 100%, mas a demanda por novos leitos vem diminuindo.

São números que trazem alguma esperança por dias melhores, mas de forma alguma são números que trazem conforto. Já aprendemos ao longo de mais de um ano de pandemia que não há espaço para relaxamento das medidas de prevenção, e seguimos apreensivos com a possibilidade de novo aumento de casos devido às aglomerações do feriado no início deste mês de abril. A sobrecarga aos serviços de saúde ainda é muito grande, e o número explosivo de óbitos que tivemos em março e que ainda aparecerá neste mês de abril pode ser explicado em parte por esse colapso no sistema de saúde. O atraso na obtenção de um leito intensivo para um paciente extremamente crítico pode ser decisivo em seu desfecho, além, é claro, da qualidade de assistência, que tende a piorar em situações de extrema sobrecarga dos serviços de saúde.

Na última sexta-feira, o Governo Estadual, diante dessa melhora nos indicadores, anunciou a progressão para a fase vermelha do Plano São Paulo em todos os municípios do estado a partir de hoje, 12/04. É essencial que a população não entenda esse movimento de flexibilização como um “passe livre” para se aglomerar. A campanha nacional de imunização segue caminhando muito aquém da capacidade logística do SUS e ainda não está no horizonte a possibilidade de termos boa parte da população imunizada, de modo que certamente há chance de novos retrocessos no Plano São Paulo. Esperamos, entretanto, que, caso necessário, a adoção de medidas mais restritivas ocorra de forma mais oportuna e intensa para impedir a ocorrência de óbitos evitáveis.

Do ponto de vista econômico e social, reforçamos que, embora os movimentos de recuo na liberalização das atividades econômicas possam causar perdas imediatas, sobretudo aos comerciantes e prestadores de serviços, a queda da demanda agregada da economia, com drástica redução dos auxílios e programas federais, deveria preocupar mais neste momento.

Os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre novembro/2020 e janeiro/2021, estimam uma taxa de desocupação de 14,2%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Isso mostra que o desemprego está estável, embora alto, em relação ao trimestre móvel anterior, sem sinais de melhoras. A população desalentada (quando as pessoas desistem de procurar emprego) chegou a 5,9 milhões de pessoas, 25,6% acima do verificado no mesmo período de 2020[3].

As pesquisas de atividade do IBGE apontam para queda de -0,7% na produção industrial e -0,2% na atividade do comércio em fevereiro de 2021. De todo modo, a previsão para o PIB do 1T/2021 já é negativa, -0,5%, segundo a Carta de Conjuntura do IPEA [4], com base na mudança do contexto sanitário, no atraso nas vacinas e na ausência dos auxílios e benefícios pagos no ano passado. Segundo o mesmo documento, o PIB deve crescer 3% no ano de 2021, o que significa decrescimento dinâmico descontando-se a herança estatística.

No Departamento Regional de Saúde de Campinas, aproximadamente 11,1% da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto 4,6% receberam a segunda dose.

A PEC Emergencial (186/2019), que regulamenta o novo auxílio emergencial, permitiu o pagamento de 4 parcelas, com valor médio de R$ 250,00 por família, a partir de 06/04.  Houve atraso na liberação do auxílio, mesmo diante da gravidade econômica e sanitária, uma vez que os estudos do Banco Central apontam para o efeito positivo do auxílio no consumo das famílias. O auxílio impactou o consumo, sobretudo, nos municípios onde o montante do auxílio representa maior parcela da renda total do município. Com base em dados levantados pelo Observatório PUC-Campinas, a massa salarial da RMC é de aproximadamente 3 bilhões de reais por mês. A RMC recebeu de auxílio, entre abril e dezembro de 2020, 2,5 bilhões de reais – ou 278 milhões de reais por mês. Como o auxílio representou 9,3% da massa salarial mensal da RMC, é possível que uma parcela importante do consumo regional tenha sido sustentada pelo auxílio. Segundo as estimativas do Banco Central, 10,3 p.p. do total do consumo brasileiro no 3T/20 foram sustentados pelo auxílio emergencial. Com base nesses números, é possível inferir que o consumo do 1T/2021 foi impactado negativamente pela ausência do auxílio. Para o 2T/2021, o auxílio deve ter impacto relativamente reduzido como dinamizador do consumo, dada a redução do benefício em termos monetários e de cobertura.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 28,9% em 12 meses, em fevereiro/2021. Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. No atual contexto, no entanto, o IPCA continua com expectativa abaixo da meta de 3,75% para 2021.

Seguimos afirmando que, sem medidas realmente efetivas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico, social e sanitário atual, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser lenta.

ANEXOS

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 29/03/2021)

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[7]https://www.seade.gov.br/coronavirus/#

[8]https://covid-19.campinas.sp.gov.br/sites/covid-19.campinas.sp.gov.br/files/situacao-epidemiologia-diaria/01_04_21_BoletimDiario_COVID19.pdf

[9]https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/30391-pnad-continua-taxa-de-desocupacao-e-de-14-2-e-taxa-de-subutilizacao-e-de-29-0-no-trimestre-encerrado-em-janeiro-de-2021

[10] https://www.ipea.gov.br/cartadeconjuntura/



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