COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas – V2|N15|Semana 15 (11/04 a 17/04)

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4] Beatriz Panciera [5] Giuliano Polli [6] 

Até o dia 17/04, o Brasil notificou 13,9 milhões de casos e 371,6 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 65 mil novos casos e 2,9 mil novas mortes por dia 7.  

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 11/04 e encerrada em 17/04 – semana epidemiológica de número 15, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.  

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana) 

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.   

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 17/04, foram notificados 296,2 mil casos e 8,3 mil mortes, no DRS-Campinas – letalidade de 2,81%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC8), foram 210,9 mil casos e 6,18 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,93%. Por fim, o município de Campinas registrou 73,1 mil casos até o momento, com 2,8 mil óbitos – letalidade de 2,8% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.  

Nesta semana, 14 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos, evidenciando uma redução generalizada de novos casos no estado de São Paulo, por data de notificação. As novas mortes continuam em alta em boa parte do estado.  Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os novos casos e mortes tiveram uma redução, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2.   

Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas 

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas 

Foram registrados, nesta semana, 10,6 mil casos no DRS-Campinas (variação de 13,8%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 7,3 mil foram registrados na RMC (var. -10,54%) e 2,3 mil em Campinas (var. +6,46%). Foram 508 mortes no DRS-Campinas (var. -8,96%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 386 ocorreram na RMC (var. -6,08%) e 168 em Campinas (var. -12,5%).  As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho  

Neste momento, os municípios com maior incidência são Paulínia, Holambra e Piracaia, com 10.528, 8.831 e 8.471 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. É válido lembrar que a incidência é fortemente influenciada pela amplitude da testagem em cada município.  

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho 

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 239 e 235 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Santa Bárbara d’Oeste também apresenta um alto índice, com 224 mortes por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 200 mortes por 100 mil habitantes. 

Análise dos especialistas 

De acordo com decreto do Governo do estado, publicado no dia 09/04/2021, todos os departamentos regionais de saúde evoluíram para a fase vermelha do Plano São Paulo, a partir do dia 12/04/2021. Em 18/04, foi feita uma reavaliação da situação da pandemia, na qual foi introduzida uma transição entre a fase vermelha e a laranja, em que há flexibilização na reabertura do comércio, das 11h às 19h, e retomada das atividades religiosas, com restrições. Com isso, lojas e shopping centers foram reabertos, embora as praças de alimentação continuem funcionando apenas pelo serviço de delivery. O toque de recolher permanece entre as 20h e as 5h, assim como a obrigação de teletrabalho para todas as atividades administrativas e recomendação de escalonamento na entrada e saída da indústria, serviços e comércio. A partir do dia 24/04, é esperada uma nova flexibilização, em que será incluída a retomada dos serviços gerais. Restaurantes e atividades culturais funcionarão das 11h às 19h, e academias poderão abrir das 7h às 11h e das 15h às 19h. As partidas de futebol do Campeonato Paulista voltaram a ser realizadas ainda com a ausência de público.

Da perspectiva da saúde, embora haja neste momento indícios de melhora na situação de Campinas e região, temos motivos para preocupação. Após a decisão do Governo do Estado de São Paulo de iniciar os movimentos de flexibilização já a partir de ontem, 18/04, a palavra que nos vem à mente é precipitação. Outras seriam falta de cautela ou ainda pressão intensa de setores econômicos. O modelo de controle das fases críticas da pandemia adotado pela maioria dos estados (visto que o Governo Federal segue absolutamente omisso em relação a estratégias de combate ao vírus, tendo, senão, promovido ações que aumentam a sua  transmissão) jamais foi aquele observado em outros países, que se demonstrou efetivo na redução rápida na incidência de casos e consequente alívio na sobrecarga do sistema de saúde. Ou seja, excetuando-se a iniciativa de algumas poucas cidades, nunca houve a implantação de lockdown no Brasil. Sendo assim, mesmo com a adoção de medidas restritivas pelo Plano São Paulo, não é esperada uma intensa quebra de cadeias de transmissão capaz de impor um controle mais efetivo da epidemia. Por conseguinte, seguiremos nas próximas semanas com a decisão já tomada pelo estado de adotar novas flexibilizações, o que muito possivelmente fará com que a circulação do vírus aumente em um cenário de extrema sobrecarga ao sistema de saúde, visto que a taxa de ocupação de leitos intensivos ainda segue acima de 80% no Estado.

No DRS-Campinas, houve redução no número de novas internações em quase 10% em relação à semana anterior – foram 1.585 novas internações contra 1.7539. Em Campinas, o número de pacientes internados em leitos de UTI-COVID era de 387 em 16/04, 7% menor que na semana anterior. Nessa mesma data, 16/04, a fila de espera por um leito intensivo, que chegou a ser de 122 pessoas em 25/03, era de 14 pacientes10. Entretanto, no sistema público de saúde, as UTIs seguem praticamente lotadas, com taxas próximas a 100% durante toda a última semana. O atraso para a obtenção de um leito intensivo pode ser decisivo no desfecho desses pacientes.

A aposta do Governo do Estado é que o ritmo de decréscimo das novas internações siga a tendência atual de queda. Entretanto, com o início precoce das flexibilizações, pode ser que essa tendência mude de direção.

Na coletiva de imprensa em que foi anunciado o avanço para a fase de transição11, ficou clara a intensa pressão sofrida pelo Governo do Estado, traduzida como “voto de confiança”, por parte de alguns setores econômicos, para adotar uma reabertura tão precoce e é possível que esse ponto tenha sido uma decisão do governo e não uma recomendação do centro de contingência12. O impacto econômico de medidas de restrição de circulação é grande e inegável. Ações de proteção aos setores mais afetados deveriam ser intensificadas pelo governo federal e estados. O grande risco agora, entretanto, é que a mensagem recebida pela população seja a de que a circulação do vírus está controlada, e a sensação de segurança gerada pela medida possa fazer com que uma parte da população se sinta confortável em relaxar com as medidas de prevenção.

Do ponto de vista econômico e social, é importante ressaltar que aberturas precoces tendem a dar início a movimentos de “abre-e-fecha”, também prejudiciais a administração dos negócios. Além disso, uma taxa de desemprego alta combinada com a drástica redução dos auxílios federais para atenuar os impactos negativos da crise sanitária deve evidenciar que a queda na demanda agregada vai ser o problema mais grave a ser enfrentado em 2021.  

Os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre novembro/2020 e janeiro/2021, estimam uma taxa de desocupação de 14,2%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Em relação ao trimestre móvel anterior, a taxa de desemprego se mantém estável, isto é, sem sinais de melhoras. A população desalentada (quando as pessoas desistem de procurar emprego), chegou a 5,9 milhões de pessoas, 25,6% acima do verificado no mesmo período de 20201.  

As pesquisas de atividade do IBGE apontam para queda de -0,7% na produção industrial, crescimento de 0,6% na atividade do comércio, e 3,7% na atividade de serviço em fevereiro de 2021. Ainda assim, a previsão para o PIB do 1T/2021 já é negativa, -0,5%, segundo a Carta de Conjuntura do IPEA 2, com base na mudança do contexto sanitário, atraso nas vacinas e ausência dos auxílios e benefícios pagos no ano passado. Segundo o mesmo documento, o PIB deve crescer 3% no ano de 2021, o que significa decrescimento dinâmico descontando-se a herança estatística.  

No Departamento Regional de Saúde de Campinas, aproximadamente 12,4% da população recebeu a primeira dose da vacina, enquanto 6,18% receberam a segunda dose.  

A PEC Emergencial (186/2019), que regulamenta o novo auxílio emergencial, permitiu o pagamento de 4 parcelas, com valor médio de R$ 250,00 por família, desde o dia 06/04. Houve atraso na liberação do benefício, mesmo diante da gravidade econômica e sanitária. Estudos do Banco Central apontam para o efeito positivo do auxílio no consumo das famílias, sobretudo nos municípios onde o seu montante representa maior parcela da renda total do município. Com base em dados levantados pelo Observatório PUC-Campinas, a massa salarial da RMC é de aproximadamente 3 bilhões de reais por mês. A RMC recebeu de auxílio, entre abril e dezembro de 2020, 2,5 bilhões de reais – ou 278 milhões de reais por mês.  Como o auxílio representou 9,3% da massa salarial mensal da RMC, é possível que uma parcela importante do consumo regional tenha sido sustentada por ele. Segundo as estimativas do Banco Central, 10,3 p.p. do total do consumo brasileiro no 3T/20 foram sustentados pelo auxílio emergencial. Com base nesses números, é possível inferir que o consumo do 1T/2021 foi impactado negativamente pela ausência do auxílio. Para o 2T/2021, o auxílio deve ter impacto relativamente reduzido como dinamizador do consumo, dada a redução do benefício em termos monetários e de cobertura.  

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos, diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 28,9% em 12 meses, em fevereiro/2021. Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. No atual contexto, no entanto, o IPCA continua com expectativa abaixo da meta de 3,75% para 2021.   Seguimos afirmando que, sem medidas realmente efetivas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico, social e sanitário atual, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser lenta. E, flexibilizações precoces, que exijam novas restrições em prazos muito curtos, não contribuem para retomada sustentada das atividades econômicas.

ANEXOS

Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Graduanda em Administração pela PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[6] Graduando em Economia PUC-Campinas (atualização de dados semanais)

[7] Dados do Ministério da Saúde

[8] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[9] https://www.seade.gov.br/coronavirus/#

[10] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/sites/covid-19.campinas.sp.gov.br/files/situacao-epidemiologia-diaria/01_04_21_BoletimDiario_COVID19.pdf

[11] https://www.youtube.com/watch?v=FKBaQ-XY3Xc

[12] https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,sp-discute-se-vai-estender-fase-emergencial-e-mensagem-a-populacao-preocupa-leia-bastidores,70003674311


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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