COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N13|Semana 13 (28/03 a 03/04)

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 03/04, o Brasil notificou 12,9 milhões de casos e 330,1 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 66,1 mil novos casos e 2,8 mil novas mortes por dia [1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 28/03 e encerrada em 03/04 – semana epidemiológica de número 13, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo. Até 03/04, foram notificados 27.316 casos e 7,2 mil mortes no DRS Campinas – letalidade de 2,66%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 195,4 mil casos e 7,5 mil óbitos, até o momento – letalidade de 2,76%. Por fim, o município de Campinas registrou 68,5 mil casos até o momento, com 2,4 mil óbitos – letalidade de 3,58% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Nesta semana, apenas 3 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde, Grande São Paulo, Barretos e Baixada Santista, apresentaram taxas crescentes de novos casos, evidenciando a queda generalizada na taxa de novos casos no estado de São Paulo, por data de notificação. Por outro lado, as novas mortes continuam em alta em boa parte do estado. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava alto no DRS-Campinas, os novos casos tiveram queda, enquanto as mortes tiveram alta, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2


Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 11,4 mil casos no DRS-Campinas (variação de -8,0%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 8,0 mil foram registrados na RMC (var. -8,0%) e 2,0 mil em Campinas (var. -11,7%). Foram 548 mortes no DRS-Campinas (var. +12,3%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 376 ocorreram na RMC (var. +6,5%) e 157 em Campinas (var. -0,63%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 1.390 e 1.845 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Holambra e Jundiaí são os municípios com maior incidência, todos com mais de 7.522  casos por 100 mil habitantes.

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 209 e 200 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 168 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

De acordo com decreto do Governo do Estado, publicado no dia 11/03/2021, todos os departamentos regionais de saúde entraram na fase emergencial do Plano São Paulo, no dia 15/03. Com isso, o comércio, shoppings centers e serviços não essenciais não podem funcionar em todo o estado. Bares e restaurantes funcionam para entregas e drive-thru. Além disso, foi implementado o toque de recolher entre as 20h e as 5h. Hospitais, farmácias e atendimento dos serviços de saúde podem operar. O Governo ainda definiu que, a princípio, a fase emergencial deve durar até 11/04.

Da perspectiva da saúde, pela primeira vez nas últimas semanas, temos indícios de que a situação da epidemia na região de Campinas parou de piorar. É difícil falar em melhora na calamitosa situação atual, mas a diminuição na velocidade do aumento de internações no DRS-Campinas e a provável diminuição na procura por atendimento em Unidades Básicas de Saúde e unidades de Pronto Atendimento de Campinas sugerem que pode estar ocorrendo uma mudança de cenário.

Em todo o Estado de São Paulo, no dia 03/04, a média de novas internações por SRAG dos últimos sete dias era de 22.382[1]. Na semana anterior, esse dado era de 23.667, correspondendo a uma redução de cerca de 5%, enquanto entre a passada e a retrasada os números haviam apresentado aumento de 10%.  No DRS-Campinas, os números foram de 2.202 no dia 03/04 contra 2.140 na semana anterior, uma elevação de 4%, sendo que na semana anterior o aumento havia sido de 24%. Ou seja, a velocidade de aumento das internações foi menor. Se essa tendência se mantiver, o esperado é que as internações sigam aumentando e sobrecarregando o sistema de saúde, mas em um ritmo menor do que há duas semanas.

Em Campinas, o monitoramento dos atendimentos presenciais de sintomáticos respiratórios nos serviços de Pronto Atendimento e Centros de Saúde divulgado no último boletim, de 01/04/2021[2], apontou que, na semana epidemiológica 12 (entre os dias 21 e 27/03), essas unidades haviam atendido mais de 10.000 pacientes. Na semana epidemiológica 13 (28/03 a 03/04), dados parciais indicam a ocorrência de um pouco mais de 5.000 atendimentos, sendo pouco provável que tenha ocorrido um número maior do que na semana anterior.

O sistema de saúde segue bastante sobrecarregado, mas o número absoluto de pacientes internados em leitos de UTI-COVID do município apresentou uma leve diminuição nos últimos dias, registrando 417 pacientes em 01/04. Entretanto, a fila de espera para um leito de UTI ainda era grande, com 94 pacientes [9].

Hoje, com três semanas do início da fase emergencial no estado, os números parecem sugerir que a situação parou de piorar e que pode ocorrer uma estabilização, ainda que em patamares elevadíssimos. É importante frisar que, para o momento crítico que estamos vivendo, seria essencial uma inflexão mais acentuada dessas curvas, algo que não era esperado que ocorresse, uma vez que não foram adotadas medidas restritivas mais drásticas como um lockdown. Seguimos sem coordenação nacional, apesar da 4ª troca de ministro da Saúde. O governo federal insiste em propagar desinformação, e o ritmo de vacinação segue muito abaixo da capacidade que o sistema de saúde teria caso mais vacinas estivessem disponíveis. Com isso, a despeito dos esforços locais para reduzir a circulação de pessoas (e do vírus), uma parcela da população segue alheia ao que está ocorrendo a seu redor e continua promovendo aglomerações e não respeitando as medidas eficazes de prevenção. Na última semana tivemos um longo feriado (mais longo ainda em algumas cidades), em que certamente muitas aglomerações ocorreram, seja em casa nos encontros familiares, ou em viagens, inclusive com uma moradora de Campinas aparecendo nos noticiários após tentar furar um bloqueio sanitário, mesmo após receber um resultado positivo de teste para COVID-19 no litoral norte de São Paulo[10]. Já conhecemos bem o efeito de feriados e datas comemorativas nas curvas de contágio. Agora, resta-nos torcer para que não venha um novo aumento de casos sobre o já caótico contexto atual.

Do ponto de vista econômico e social, reforçamos que, embora os movimentos de recuo na liberalização das atividades econômicas possam causar perdas imediatas, sobretudo aos comerciantes e prestadores de serviços, a queda da demanda agregada da economia, com drástica redução dos auxílios e programas federais, deveria preocupar mais neste momento.

De acordo com os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre novembro/2020 e janeiro/2021, estima-se uma taxa de desocupação de 14,2%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Isso mostra que o desemprego está estável, embora alto, em relação ao trimestre móvel anterior, sem sinais de melhoras. A população desalentada (quando as pessoas desistem de procurar emprego) chegou a 5,9 milhões de pessoas, 25,6% acima do verificado no mesmo período de 2020[11].

As pesquisas de atividade do IBGE apontam para queda de -0,7% na produção industrial e -0,2% na atividade do comércio em fevereiro de 2021. De todo modo, a previsão para o PIB do 1T/2021 já é negativa para alguns analistas ( entre -0,5% e -0,8%), com base na mudança do contexto sanitário, atraso nas vacinas e ausência dos auxílios e benefícios pagos no ano passado. No Departamento Regional de Saúde de Campinas, aproximadamente 10% da população receberam a primeira dose da vacina, enquanto 3,3% receberam a segunda dose.

A PEC Emergencial (186/2019) que regulamenta o novo auxílio emergencial já foi promulgada, e a primeira de 4 parcelas, com valor médio de R$ 250,00 por família, deve ser paga a partir de amanhã (06/04).  Houve atraso na liberação do auxílio, mesmo diante da gravidade econômica, uma vez que os estudos do Banco Central apontam para efeito positivo do auxílio no consumo das famílias. O auxílio impactou o consumo, sobretudo, nos municípios onde o seu montante representa maior parcela da renda total do município. Com base em dados levantados pelo Observatório PUC-Campinas, a massa salarial da RMC é de aproximadamente 3 bilhões de reais por mês. A RMC recebeu de auxílio, entre abril e dezembro de 2020, 2,5 bilhões de reais – ou 278 milhões de reais por mês. Como o auxílio representou 9,3% da massa salarial mensal da RMC, é possível que uma parcela importante do consumo regional tenha sido sustentada pelo auxílio. Segundo as estimativas do Banco Central, 10,3 p.p. do total do consumo brasileiro no 3T/20 foram sustentados pelo auxílio emergencial. Com base nesses números, é possível inferir que o consumo do  1T/2021 foi impactado negativamente pela ausência do auxílio. Para o 2T/2021, o auxílio deve ter impacto relativamente reduzido como dinamizador do consumo, dada a redução do benefício em termos monetários e de cobertura.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 28,9% em 12 meses, em fevereiro/2021. Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento. No atual contexto, no entanto, o IPCA continua com expectativa abaixo da meta de 3,75% para 2021.

Seguimos afirmando que, sem medidas realmente efetivas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico, social e sanitário atual, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser lenta.

ANEXOS

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 29/03/2021)

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[7] Ver https://www.seade.gov.br/coronavirus/#

[8] Ver https://covid-19.campinas.sp.gov.br/boletim-epidemiologico

[9] Ver https://covid-19.campinas.sp.gov.br/sites/covid-19.campinas.sp.gov.br/files/situacao-epidemiologia-diaria/01_04_21_BoletimDiario_COVID19.pdf

[10] Ver https://correio.rac.com.br/_conteudo/2021/04/agencias/1081384-apos-teste-positivo-de-covid-turista-fura-bloqueio-e-e-perseguida-no-litoral.html

[11] Ver https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/30391-pnad-continua-taxa-de-desocupacao-e-de-14-2-e-taxa-de-subutilizacao-e-de-29-0-no-trimestre-encerrado-em-janeiro-de-2021







Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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