COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N12|Semana 12 (21/03 a 27/03)

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 27/03, o Brasil notificou 12,4 milhões de casos e 310,5 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 72,1 mil novos casos e 2,5 mil novas mortes por dia[1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 21/03 e encerrada em 27/03 – semana epidemiológica de número 12, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 27/03, foram notificados 261,6 mil casos e 6,7 mil mortes no DRS Campinas – letalidade de 2,57%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 187,3 mil casos e 5,01 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,68%. Por fim, o município de Campinas registrou 66,5 mil casos até o momento, com 2,3 mil óbitos – letalidade de 3,46% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Em linhas gerais, apenas 1 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde, o de Barretos, apresentou taxa decrescente de novos casos, evidenciando o aumento generalizado e significativo dos casos no estado de São Paulo. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava alto no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram nova alta nesta semana, como mostram a Tabela 1 e as Figuras 1 e 2


Figura 1. Curva Epidemiológica Casos Região de Campinas

Figura 2. Curva Epidemiológica Óbitos Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 12,4 mil casos no DRS-Campinas (variação de +6,80%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 8,7 mil foram registrados na RMC (var. +8,21%) e, 2,3 mil em Campinas (var. +9,5%). Foram 488 mortes no DRS-Campinas (var. +26,6%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 353 ocorreram na RMC (var. +32,2%) e 158 em Campinas (var. +19,7%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 3. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 1350 e 1830 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Holambra e Piracaia são os municípios com maior incidência, todos com mais de 7284 casos por 100 mil habitantes.

Figura 4.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 195 e 181 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 156 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

De acordo com o 25º balanço do Governo do Estado, publicado no dia 11/03/2021, todos os departamentos regionais de saúde entraram na fase emergencial do Plano São Paulo, no dia 15/03. Com isso, o comércio, shoppings centers e serviços não essenciais não podem funcionar em todo o estado. Bares e restaurantes funcionam para entregas e drive-thru. Além disso, foi implementado o toque de recolher entre as 20h e as 5h. Hospitais, farmácias e atendimento dos serviços de saúde podem operar.

Da perspectiva da saúde, os números da pandemia em Campinas e região seguem alarmantes. Houve novo recorde de registro de óbitos em uma semana epidemiológica em Campinas e na RMC. Foram 158 óbitos registrados em Campinas na semana 12, entre os dias 21 e 27/03, contra 132 da semana anterior. Na RMC, foram 353 registros contra 267 da semana anterior[1]. São óbitos que ocorreram, em sua maioria, nas últimas duas semanas, refletindo a verdadeira tragédia que se instalou no país todo e não de forma diferente na região neste mês de março. Os dados que nos permitem ter alguma ideia do que ocorrerá nas próximas semanas também são muito preocupantes. A procura por atendimento em UBSs e PAs de Campinas segue em patamares elevados[2]. Na semana 11 (14 a 20/03), os números passaram dos dez mil atendimentos, mais do que o dobro do que foi registrado há cerca de um mês. Os dados da última semana ainda não estavam finalizados, mas já se aproximavam dos dez mil atendimentos também.

As internações no DRS-Campinas apresentaram novo aumento de mais de 20% em relação à semana anterior pela terceira vez seguida e também não dão indícios de qualquer arrefecimento. Foram mais de 2000 internações na semana, mais do que o dobro dos valores registrados na última semana de fevereiro. Quase 200 leitos de UTI-COVID foram abertos só no município de Campinas desde o dia 20/02, mas obviamente a velocidade do vírus é maior e, no dia 26/03, 108 pacientes aguardavam por um leito de UTI-COVID em Campinas[3]. Os serviços de saúde se esforçam para adequar as equipes, espaço físico e insumos, mas há limite em todos esses itens e é possível que alguns dos óbitos ocorridos nas últimas semanas pudessem ter sido evitados caso os pacientes tivessem acesso ágil a um serviço bem estruturado e com profissionais capacitados para a assistência a pacientes graves.

Em relação a medidas para tentar conter a transmissão, pouco mudou na última semana e não há qualquer indício do Governo do Estado ou de cidades da região para um endurecimento maior das medidas restritivas. Seguimos em uma fase, portanto, de maximizar os cuidados individuais e de tentar orientar as pessoas que querem ouvir quanto ao que é realmente eficaz para prevenir a doença. Hoje há grande risco de qualquer pessoa que adoeça não ter acesso a um leito de terapia intensiva de forma ágil ou, ainda, mesmo que tenha acesso ao leito, não ter acesso a uma assistência de boa qualidade, o que certamente impacta negativamente o risco de óbito em uma doença extremamente grave e que exige muito das equipes[4].

Do ponto de vista econômico e social, reforçamos que, embora os movimentos de recuo na liberalização das atividades econômicas possam causar perdas imediatas, sobretudo aos comerciantes e prestadores de serviços, a queda da demanda agregada da economia, com drástica redução dos auxílios, deveria preocupar mais neste momento.

Há algumas semanas, foram divulgados os números oficiais do PIB pelo IBGE. O PIB brasileiro teve queda histórica de 4,1% em 2020 em relação a 2019, pior resultado da série iniciada em 1996. Do lado da oferta, apesar de sinais de recuperação no terceiro e quartos trimestres de 2020, no fechamento anual, a indústria recuou 3,5% e serviços 4,5%, enquanto a agropecuária avançou 2%, em relação a 2019. Alguns setores apresentaram alta na comparação anual, como, por exemplo, a indústria extrativa (+1,3%), atividades financeiras (+4%) e atividades imobiliárias (+2,5%). Do lado da demanda, na comparação anual, o consumo das famílias recuou 5,5%, o consumo do governo 4,7% e os investimentos das empresas 0,8%, em 2020. A queda no consumo do governo evidencia a sua opção contracionista, mesmo diante do quadro de contração da demanda agregada.

No setor externo, as exportações caíram 1,8% e as importações 10%. A RMC fechou 2020 com queda de 22,2% das exportações, 9,9% das importações e 3,8% do saldo da balança comercial. Para uma região industrial, com alta dependência da importação de insumos, esses números indicam queda da atividade produtiva voltada para vendas externa e interna, em relação a 2019.

As pesquisas de atividade e a plataforma PNAD-COVID seguem sem novas atualizações. É possível que o atraso nas estatísticas seja reflexo da crise interna de orçamento e institucional pela qual passa o IBGE.

A PEC Emergencial (186/2019), que regulamenta o novo auxílio emergencial, já foi promulgada e a primeira de 4 parcelas, com valor médio de R$ 250,00 por família, deve ser paga nesta semana. O atraso preocupa, diante da gravidade econômica, uma vez que os estudos do Banco Central apontam para efeito significativo do auxílio no consumo das famílias. O auxílio impactou o consumo, sobretudo, nos municípios onde o montante do auxílio representa maior parcela da renda total do município. Com base em dados levantados pelo Observatório PUC-Campinas, a massa salarial da RMC é de aproximadamente 3 bilhões de reais por mês. A RMC recebeu de auxílio, entre abril e dezembro de 2020, 2,5 bilhões de reais – ou 278 milhões de reais por mês. Como o auxílio, que representou 9,3% da massa salarial mensal da RMC, é possível que uma parcela importante do consumo regional tenha sido sustentada por ele. Segundo as estimativas do Banco Central, 10,3 p.p. do total do consumo brasileiro no 3T/20 foram sustentados pelo auxílio emergencial. Com base nesses números, é possível inferir que o consumo do 1T/2021 foi impactado negativamente pela ausência do auxílio. Para o 2T/2021, o auxílio deve ter impacto relativamente reduzido como dinamizador do consumo, dada a redução do benefício em termos monetários e de cobertura. De todo modo, a previsão para o PIB do 1T/2021 já é negativa para alguns analistas (entre -0,5% e -0,8%), com base na mudança do contexto sanitário e da ausência dos auxílios e benefícios pagos no ano passado.

Ao mesmo tempo, tem se formado o consenso entre os analistas de mercado e os acadêmicos de que a vacina é a única solução definitiva para o fim das restrições impostas às atividades econômicas, como evidenciado na carta aberta assinada por banqueiros e economistas (ver https://static.poder360.com.br/2021/03/carta-aberta-medidas-de-combate-pandemia-com-assinaturas-21-mar-2021.pdf). Embora haja capacidade de produção local, a necessidade de importação de insumos farmacêuticos tem atrasado a produção de vacinas no Brasil. Neste momento, aproximadamente 9,13% da população paulista recebeu a primeira dose da vacina, de acordo com dados da Secretaria de Saúde de SP.

Os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre setembro e novembro de 2020, estimava uma taxa de desemprego de 14,1%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 28,9% em 12 meses, em fevereiro/2021. Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento.

Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico, social e sanitário atual, a retomada da atividade econômica nacional e regional vai ser lenta.

ANEXOS

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo.


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 29/03/2021)

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[7] Ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/

[8] Ver https://covid-19.campinas.sp.gov.br/boletim-epidemiologico

[9] Ver https://covid-19.campinas.sp.gov.br/epidemiologico/diario

[10] Ver https://oglobo.globo.com/sociedade/de-cada-dez-pacientes-intubados-com-covid-19-no-brasil-oito-deles-morrem-na-uti-24945459


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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