A transição demográfica na Região Metropolitana de Campinas

Dr. Cristiano Monteiro da Silva

Dr.ª Eliane Navarro Rosandiski
Dr. Paulo Ricardo de Oliveira

Campinas
Junho/2022

 

Introdução

A transição demográfica costuma ser analisada sob vários pontos de vista. Um deles, por exemplo, vê a construção analítica que correlaciona o poder explicativo do aumento da escolaridade das pessoas. Inclui-se nesse estado da arte a discussão que se volta às relações de causalidade com o padrão tecnológico associado à saúde pública. Enfim, há muitas autorias que assumem a discussão sobre supostas relações de causalidades dessa fenomenologia social.

Este trabalho centra seus olhares na transição demográfica em si, tendo como ponto de partida a leitura de importantes indicadores, tais como a evolução do padrão etário da população, a taxa de natalidade, a razão de dependência de jovens e idosos, o crescimento populacional e a taxa de fecundidade. Assim, discute a ideia principal de que as cidades da Região Metropolitana de Campinas estão demonstrando desaceleração das suas taxas de natalidade e crescimento populacional, compondo-se esse processo social de alto nível de urbanização e de sinais de estrutura etária da população envelhecida.

A fenomenologia da transição demográfica constrói seus nexos com as recentes mudanças nas atividades econômicas, tecnológicas e jurídicas. Sendo assim, assenta novos desafios estratégicos ao poder decisório unido à agenda do desenvolvimento social. Em síntese, tal realidade complexa expõe novos traços nas dimensões da economia e demandas associadas à urbanização. Por essa razão, este trabalho é complementado por um esforço analítico que cuida das relações entre a estrutura social e os aspectos adjuntos ao que se reconhece como mundo do trabalho, sendo este um propósito analítico recolhido da situação vivente na Região Metropolitana de Campinas.

Este estudo preocupa-se com uma seleção de interrogações que permeiam o debate da transição demográfica na Região Metropolitana de Campinas, tendo em vista contribuir com apreensões dos desafios estratégicos que aparecem como potencialidades nas dimensões da economia política das cidades componentes desta localidade regional.

O método analítico considera desde a forma geral até as especificidades da dimensão regional, concretamente, a Região Metropolitana de Campinas, sempre cuidadoso com os reais sentidos da transição demográfica. Tendo essa mediação, este trabalho busca conhecimentos sobre as principais tendências que despontam como potencialidades no domínio da agenda do desenvolvimento social.

Reitera-se que esse processo social é complexo, permeado por diversos fatores, portanto, o seu analítico requer a mobilidade de múltiplos conhecimentos, especialmente os saberes substanciados pelas relações entre as ciências sociais aplicadas, a ciência humana e o que se atribui como data science, tudo isso servindo à capacidade da construção de saberes, que, entre as tantas fontes teóricas, também são substanciados por aquilo que se apreende dos acontecimentos marcantes das localidades regionais e municipais. O conjunto temático foi pensado a partir das memórias de trabalhos analíticos consolidados pela equipe do Observatório PUC-Campinas, desde os últimos anos, as quais incorporam o exploratório de muitas bases de dados, o nível inferencial estatístico, as interações com lideranças ligadas à agenda do desenvolvimento social, entre outros motes de pensamento analítico.

A construção analítica também se apoia em um nível inferencial estatístico que extrai muitos indicadores dos sistemas produtivos locais. Esse procedimento permite a construção de saberes sobre a participação relativa desses sistemas produtivos nos processos prevalentes para a criação de excedentes econômicos nos municípios. A reflexão é ampliada para o interacional entre tecnologias e gestão de políticas públicas, como forma adequada para a melhor compreensão das especificidades do viver social nas cidades da Região Metropolitana de Campinas.

A estrutura deste trabalho, no primeiro instante, mostra a discussão sobre a forma social que expõe simultaneidade entre situações de avarias e potencialidades. Na segunda parte, captura a situação regional que aglutina os aspectos da densidade produtiva. E, na terceira parte, apresenta a ideia de que o movimento da densidade produtiva tem que ser associado a uma estratégia de valoração da seguridade social, construindo a sociabilidade humana pautada pela fraternidade e pelo bem comum.

 

  1. Os sentidos da transição demográfica

 

O primeiro gráfico apresenta o indicador da “razão de dependência dos idosos” na situação social das cidades componentes da Região Metropolitana de Campinas, considerando um período histórico que remete do ano de 2000 ao olhar preditivo para o ano de 2030. As diferentes cores ilustram a série histórica apreciada no gráfico: o cinza, para o caso do ano 2000, e o azul diz respeito ao ano de 2030. Pode-se perceber, no primeiro momento, que as cidades da Região Metropolitana de Campinas tinham a relação perto de 10 idosos para cada 100 pessoas da faixa etária de 15 a 59 anos. Porém esse número se aproximou de 20 idosos, em 2020. Convém destacar o olhar preditivo para o ano de 2030, ou seja, sendo um momento tão próximo, este indicador social aponta algo perto de 30 idosos para cada 100 pessoas adultas viventes nessas sociedades.

Gráfico 1 – Razão de dependência dos Idosos em cidades da Região Metropolitana de Campinas (2000-2030)

Fonte: SEADE (2022)

A leitura do indicador “razão de dependência dos idosos” pode ser complementada pelos conhecimentos advindos da relação preocupada com o agrupamento das pessoas com a faixa etária de 0 a 14 anos. A razão de dependência de jovens é notável para se refletir a reprodução social em municípios da Região Metropolitana de Campinas, pelo fato de que este é um agrupamento que, em muito pouco tempo, assumirá a fase adulta diante dos desafios da sociabilidade humana.

Gráfico 2 – Razão de dependência dos Jovens em cidades da Região Metropolitana de Campinas (2000 -2030)

Fonte: SEADE (2022)

 

O gráfico 2, posto logo acima, demonstra que as sociedades da Região Metropolitana de Campinas contavam com algo perto de 35 jovens para cada 100 pessoas adultas. Porém, de lá para cá, tal realidade mudou bastante. No período recente, em 2020, essa relação caiu para perto de 28 jovens, em face a 100 pessoas adultas. Por fim, convém observar que a análise preditiva remete para a forte redução dessa proporção.

A questão demográfica, em pauta neste trabalho, é apropriada distintamente no próximo gráfico, no qual se juntam os dois indicadores sociais, considerando a temporalidade que preenche de 2000 a 2040. O início da série apresenta a participação relativa mais alta dos jovens; porém, com o passar dos anos, o indicador desvela a superioridade da participação dos idosos. Em 2040, a relação entre 41 idosos para 100 pessoas adultas e, no caso dos jovens, o declínio que expõe a relação de 22 para 100 adultos. Chega-se ao ponto de vista de que se trata de uma transição demográfica que anuncia a estrutura etária da população envelhecida.

Gráfico 3 – Razão de dependência de Jovens e Idosos na Região Metropolitana de Campinas (2000-2030)

Fonte: SEADE (2022)

 

Este nível de saberes sobre a reprodução social na Região Metropolitana de Campinas pode ser substanciado por outros indicadores demográficos, como, por exemplo, o indicador da evolução do padrão etário da população e o das taxas de natalidade e crescimento populacional.

O gráfico 4 apresenta a população total das vinte cidades da Região Metropolitana de Campinas, sendo vista por meio de faixas etárias, no período que percorre de 2000 a 2040. Nota-se uma estrutura etária marcada pela evolução das faixas etárias acima de 40 anos, além da trajetória declinante das faixas etárias atribuídas a crianças e jovens. Sem dúvida, trata-se de um processo demográfico que implica a estrutura etária da população envelhecida.

Gráfico 4 – Evolução do padrão etário da população da Região Metropolitana de Campinas (2000-2040)

Fonte: SEADE (2022)

As estatísticas de registro civil, processadas pelo SEADE (2022), apontam trajetória de declínio do indicador de nascidos vivos, em diversos municípios do Estado de São Paulo. As publicações desse instituto mostram uma variação negativa, por volta de 8%, para a Região de Campinas. Esse indicador fica mais perceptível se contrastado com a taxa de crescimento populacional. A tabela 1 desnuda a trajetória deste último indicador mencionado, mostrando que também é declinante para o caso da Região Metropolitana de Campinas, principalmente a realidade que aparece a partir de 2030.

 

Tabela 1 – Taxa de crescimento populacional em cidades da Região Metropolitana de Campinas (2000-2050)

2000/2010 2010/2020 2020/2030 2030/2040 2040/2050
Americana 1,44 1,05 0,55 0,06 -0,33
Artur Nogueira 2,95 1,79 1,03 0,44 0,07
Campinas 1,09 0,86 0,4 0,06 -0,24
Cosmópolis 2,86 1,96 1,17 0,56 0,15
Engenheiro Coelho 4,59 2,75 1,46 0,77 0,35
Holambra 4,58 2,56 1,33 0,76 0,42
Hortolândia 2,4 1,82 1,25 0,56 0,15
Indaiatuba 3,22 1,91 0,86 0,38 0,01
Itatiba 2,26 1,53 0,81 0,26 -0,08
Jaguariúna 4,11 2,19 1 0,46 0,11
Monte Mor 2,76 2,01 1,39 0,79 0,37
Morungaba 1,74 1,2 0,73 0,28 -0,01
Nova Odessa 2 1,27 0,66 0,19 -0,17
Paulínia 4,81 2,53 1,38 0,59 0,21
Pedreira 1,68 1,15 0,66 0,23 -0,15
Santa Bárbara d’Oeste 0,58 0,48 0,23 -0,11 -0,41
Santo Antônio de Posse 1,33 1,03 0,68 0,28 -0,06
Sumaré 2,08 1,63 1,02 0,51 0,06
Valinhos 2,55 1,59 0,69 0,18 -0,24
Vinhedo 3,03 2,02 1 0,34 -0,04

Fonte: SEADE (2022)

 

A literatura constituída da temática da gestão de políticas públicas ensina que uma situação social pautada por taxas de natalidades baixas, combinada com sinais de estrutura etária envelhecida, implica a reprodução social na qual o poder decisório precisa se ater às prioridades em serviços públicos, empregos, em suma, prestar atenção nas demandas características da vida social urbana. Portanto, abre-se o desafio estratégico de compor as fontes que são e serão capazes de excedentes econômicos para este caminho propositivo do bem-estar social.

À primeira vista, a Região Metropolitana de Campinas vivencia o que se pode atribuir como uma transição demográfica marcada pela desaceleração das taxas de natalidade e crescimento populacional, condicionada a uma população economicamente ativa que está chegando à faixa etária reconhecida como pessoa idosa, tudo isso combinado com alto nível de urbanização. Certamente, uma situação que obriga novos olhares sobre as demandas da vida social urbana.

Para realçar este assunto, diz-se que, no Brasil, desde as últimas décadas, prevalece um debate estratégico sobre os caminhos da reprodução social. Por um lado, um quadro de forças que aponta a causalidade do envelhecimento humano, junto ao crescente número de agravos na vida social de jovens e adultos, como a razão primordial para se buscarem radicais mudanças no padrão distributivo da sociedade, especialmente no que diz respeito à posição exercida pelo setor público. Por outro lado, mais um quadro de forças, neste caso, apontando as instabilidades sociais desta etapa histórica, deste ponto de partida, promovendo os seus reclames pela construção de novas soluções ao atual conflito distributivo, pela via da ampliação do planejamento estatal. Diante deste contexto, a autoria deste trabalho, ciente dos limites de uma abordagem voltada para a localidade regional de Campinas, a partir desta empreitada, assume o ponto de vista de que a transição demográfica, vista como novas relações sociais, sendo determinante aos novos traços da forma valor, mostra-se como potencialidades inerentes aos processos da geração e distribuição da riqueza. Portanto, as conexões entre os novos traços das relações sociais e as atividades econômicas, tecnológicas e jurídicas aparecem como um vetor que pode assegurar uma estratégia de valoração da seguridade social.

 

  1. Densidade produtiva na Região Metropolitana de Campinas

 

A densidade produtiva é apreendida como as maneiras que as atividades da Indústria capturam os recursos que sustentam o desenvolvimento econômico (ARBACHE, 2014). A literatura que abarca o assunto da densidade produtiva ensina que esse processo social complexo depende de como a Indústria já constituída se relaciona com a situação do mercado de trabalho, o sistema de pessoas, as tecnologias, a produtividade do trabalho, a internacionalização produtiva e a centralidade na geração do valor.

Nesse sentido, os sistemas de serviços aparecem como atividades econômicas que podem estar conexas à Indústria, de várias formas, como, por exemplo, por meio da logística empresarial, da manutenção e do reparo, dos modais de transportes etc. Diante desta temática, cabe destacar o que se conhece como serviços intensivos em conhecimentos e tecnologias, como, por exemplo, os serviços de tecnologias de informação e comunicação, especialmente por conta do contexto da Revolução Digital, que avança em nível mundial. Diga-se de passagem, a dinâmica da economia política internacional, desde os últimos anos, mostra, por um lado, a subida dos serviços de agregação de valor – pesquisa e desenvolvimento, design, projetos, softwares, serviços avançados de tecnologia de informação, consultorias, serviços técnicos especializados e marketing – no desempenho macroeconômico de países desenvolvidos. Por outro lado, os serviços menos nobres vêm sendo terceirizados para empresas residentes em países localizados na periferia do sistema mundial (ARBACHE, 2014).

No Brasil, não são poucas as publicações científicas dedicadas ao tema da complementaridade envolvendo a Indústria e os Serviços. Sabe-se que essa discussão é bem desenvolvida pelas instituições alinhadas com as estratégias corporativas. No entanto, desde os últimos anos, o interesse vem crescendo junto às autorias instaladas nos meios acadêmicos.

A Região Metropolitana de Campinas pode ser caracterizada como um centro dinâmico do país, pelo fato que essa região possui estrutura social e econômica que coliga atividades produtivas de alto valor agregado, além de ter a grande capacidade de efeitos multiplicadores sobre o processo decisório empresarial de investimentos, produto, emprego e renda, inclusive nas perspectivas da inovação tecnológica e da internacionalização produtiva.

Diante do contexto da transição demográfica, nos termos usados para a caracterização da situação social vivente na Região Metropolitana de Campinas, discutidos na primeira parte deste texto, esta autoria clama pela atenção voltada para os dados sintéticos dos investimentos e dinâmica econômica regional.

O gráfico 5 contribui com a leitura feita nesta parte do texto, na medida em que exibe o valor dos investimentos confirmados para distintas regiões do Estado de São Paulo[1]. A série que vai de 2015 a 2021 destaca a posição singular da Região de Campinas. Os valores de investimentos confirmados, nesta localidade regional, situam-se bem acima do que se vê em outras regiões. Trata-se de investimentos de alto valor. A trajetória deste indicador sustenta o número médio perto de 6 bilhões de reais. A exceção para o ano de 2019, quando a Região de Bauru, em caráter único, mostrou uma decisão de investimento de altíssimo valor, acima de 7 bilhões de reais. Por fim, convém notar que o contexto pandêmico colocou uma retração nas decisões de investimentos, especialmente no primeiro momento, no ano de 2020, depois da recuperação dos gastos produtivos.

 

Gráfico 5 – Valor dos investimentos confirmados em regiões do Estado de São Paulo (2015-2021)

Fonte: SEADE (2022) – Em milhões de reais

 

A leitura dos valores dos investimentos possibilita a construção do indicador relacional da densidade produtiva, derivada da relação entre a Indústria e os Serviços. O gráfico 6 mostra os valores dos investimentos que são compostos por decisões de investimentos da Indústria junto com os valores efetivados apenas pelos segmentos de serviços que são atribuídos como “serviços de empresas”, ou seja, mais intensivos em conhecimentos e tecnologias. Assim, chega-se à conclusão de que a crescente trajetória de investimentos na Região de Campinas está sendo constituída pelo que se considera como vetor da densidade produtiva. Nesse quesito, a Região de Campinas se destaca muito mais do que as demais localidades regionais do Estado de São Paulo. O valor médio desse tipo de investimentos ultrapassou 3 bilhões de reais, no período de 2015 a 2021.

 

Gráfico 6 – Densidade dos investimentos confirmados em regiões do Estado de São Paulo (2015-2021)

Fonte: SEADE (2022) – Em milhões de reais

 

O gráfico 7 amplia os olhares sobre esta questão que permeia os investimentos, olhando mais para o que é exclusivo da Região de Campinas, desde os últimos anos. A principal leitura é que o valor investido no setor de Serviços, neste caso, levando-se em conta apenas o conjunto das atividades deste setor, tanto os serviços de famílias como os serviços de empresas, superou as atividades da Indústria, principalmente do período de 2017 para frente.

  

Gráfico 7 – Valor dos investimentos confirmados na Região de Campinas São Paulo (2015-2021)

Fonte: SEADE (2022) – Em milhões de reais

 

Sem dúvida, a discussão sobre os investimentos é muito pertinente, pois se trata de um indicador que mostra relações entre a estrutura social e a dinâmica da produtividade do trabalho. Sendo assim, na próxima parte, o desafio analítico passa a ser composto pelas interpretações dos indicadores que apontam os nexos entre o sistema produtivo da Indústria e a população economicamente ativa, além da relação entre este setor e o produto criado nos municípios, caminhando para uma leitura dos níveis de internacionalização produtiva e da concentração de capital.

Os resultados da primeira variável mostram que a população ocupada na Indústria se situa perto de 15% da população economicamente ativa[2]. O valor da transformação industrial mostra-se por volta de 27% do produto. Neste ínterim, convém destacar a situação da cidade de Campinas, que está abaixo deste valor. As cidades que estruturam a Indústria de alto valor possuem um nível de internacionalização, baseada em trocas comerciais, que pode ser melhorado. Enfim, a leitura é que a Indústria, nesta localidade regional, encontra-se bem concentrada, pois os três maiores segmentos produtivos deste setor concentram algo perto de 70% do valor da transformação industrial.[3]

 

Tabela 2 – Indicadores da Indústria em cidades da Região Metropolitana de Campinas

INDÚSTRIA
PO/PEA (%) VTI/PIB (%) EXP/PIB (%) TOP3 /VTI (%)
Americana 13,84 25,60 1,52 76,52
Artur Nogueira 7,93 17,29 1,13 68,83
Campinas 5,81 14,55 1,68 57,58
Cosmópolis 6,08 31,11 9,94 75,78
Engenheiro Coelho 8,38 14,50 1,01 96,69
Holambra 16,47 11,33 0,26 97,27
Hortolândia 8,75 27,75 0,38 76,15
Indaiatuba 15,00 29,10 2,79 69,64
Itatiba 13,87 27,27 2,18 61,05
Jaguariúna 33,75 28,73 0,24 72,83
Monte Mor 12,29 48,21 2,93 81,42
Morungaba 24,06 41,16 0,44 86,36
Nova Odessa 25,83 25,51 2,61 74,66
Paulínia 15,99 46,48 2,31 94,57
Pedreira 21,59 23,08 1,94 42,54
Santa Bárbara d’Oeste 12,87 26,53 3,2 68,77
Santo Antônio da Posse 13,00 17,18 8,62 32,45
Sumaré 8,50 26,72 3,09 81,4
Valinhos 13,56 22,60 2,02 60,25
Vinhedo 31,86 29,29 3,16 59,29

Fonte: SEADE (2019)

A mesma linha de raciocínio é aplicada para se compreender a situação do sistema de Serviços. Neste caso, convém destacar alguns pontos. A população ocupada representa por volta de 17% da PEA, porém este número é mais distribuído em pequenas e médias empresas. A participação dos Serviços na composição do produto situa-se perto de 45%. Por fim, talvez o indicador mais relevante desta tabela cuida da relação entre o valor dos Serviços e a população ocupada, sendo aqui designado como uma forma de produtividade deste trabalho, e chega-se à percepção de que as cidades com este indicador mais alto atuam com uma estrutura produtiva mais densa. Os dados são demonstrados na tabela 3, logo abaixo.

 

Tabela 3 – Indicadores do setor de Serviços em cidades da Região Metropolitana de Campinas

SERVIÇOS
PO/PEA (%) VAS/PIB (%) PRODUTIVIDADE
Americana 17,94 52,45 207.439,52
Artur Nogueira 7,98 44,78 186.018,91
Campinas 28,38 60,34 166.896,64
Cosmópolis 8,44 41,58 164.954,99
Engenheiro Coelho 14,18 52,76 132.044,82
Holambra 24,25 40,02 159.796,73
Hortolândia 10,19 46,37 393.912,11
Indaiatuba 18,10 43,34 226.228,32
Itatiba 16,11 38,32 176.546,68
Jaguariúna 38,85 45,76 368.285,58
Monte Mor 13,48 27,01 163.438,91
Morungaba 15,82 31,03 106.410,51
Nova Odessa 13,20 52,22 362.347,28
Paulínia 27,47 34,34 614.430,74
Pedreira 17,94 48,02 100.259,00
Santa Bárbara d’Oeste 12,68 47,33 168.574,62
Santo Antônio da Posse 13,23 47,94 259.492,35
Sumaré 10,33 44,86 314.105,61
Valinhos 23,15 50,35 156.577,67
Vinhedo 22,74 43,55 329.941,76

Fonte: SEADE (2019)

 

A Região Metropolitana de Campinas mostra um movimento sistêmico que conta com o crescimento das atividades de Serviços. Neste ínterim, cabe destacar a importância dos Serviços que se conectam com os processos produtivos da Indústria, no sentido dinâmico do produto, emprego e renda. Pode-se acrescentar que esta tendência, observada na dinâmica regional de Campinas, por sua própria natureza, conecta-se com o movimento internacional atribuído como a Revolução 4.0. Além de que, este processo permite as conexões entre a realidade regional e as recentes transformações nas cadeias produtivas globais.

Este caminho estratégico, apontado como a densidade produtiva, apresenta-se com muitas potencialidades para se provocarem inclusive mudanças na dimensão da empregabilidade associada aos setores dinâmicos da Indústria. A tabela 4 mostra o estado de coisas, em que se observa a participação relativa alta de grupos etários acima de 30 anos. Ciente do indicador que relaciona a população ocupada da Indústria com a PEA, mais o indicador da concentração do valor deste setor produtivo, ambos analisados no início desta segunda parte do texto, logo se percebe que o fenômeno da transição demográfica na Região Metropolitana de Campinas, que dá sinais da transição plena, provavelmente instalará novos agravos à produtividade do trabalho deste setor tão importante para a agenda do desenvolvimento social.

Tabela 4 – Participação dos grupos etários nos empregos da Indústria na Região Metropolitana de Campinas

Fonte: Elaboração própria. RAIS, Ministério do Trabalho e Previdência, 2022.

 

Por fim, dado o objetivo central deste trabalho, convém destacar as potencialidades deste processo, definido como densidade produtiva, exercendo força sobre o produto potencial e o padrão distributivo nas cidades da localidade regional de Campinas, ainda mais se apreendido no contexto das singularidades da transição demográfica e das demandas por serviços da vida social urbana.

 

  1. Tecnologias e valoração da seguridade social

 

Este estudo trouxe a leitura de que o fenômeno da transição demográfica, a partir das características próprias da Região Metropolitana de Campinas, tem que ser reconhecido pelos seus nexos com os atributos de valor das atividades econômicas, tecnológicas e jurídicas. Reitera-se que a economia política de serviços, peculiarmente os seus aspectos da densidade produtiva, pode assegurar novas bases para a geração de valor, sendo, assim, capaz de assegurar um padrão distributivo conectado com as aspirações de famílias e pessoas em situação de vulnerabilidade social.

A valoração do sistema da seguridade social passa pelo aumento do valor em investimentos e inovação em serviços públicos, especialmente os serviços especializados prestados à sociedade, o que, por sua vez, assegura a proteção aos direitos das famílias e pessoas. Convém observar que este movimento estratégico, se for mediado por saberes da dinâmica do que se atribuiu como transição demográfica e densidade produtiva, pode reunir chances muito boas de efeitos multiplicadores no viver social da localidade regional de Campinas.

O caminho estratégico da densidade produtiva pode se revelar como um processo criativo fortemente conectado às questões sociais, de modo que a sua oferta agregada venha a ser valorizada pelas famílias e empresas. A dinâmica inovadora de serviços precisa ser vista como um sistema complexo, que inclui o valioso analytics do processo da geração de valor na sociedade, sendo assim, melhor ainda se for planejado para se permitir o acesso de famílias e pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Recupera-se a temática da transição demográfica na Região Metropolitana de Campinas, de maneira a se chegar a uma compreensão, em termos práticos, sobre as possíveis relações entre a densidade produtiva, apoiada pela participação dos serviços intensivos em conhecimentos e tecnologias, e os assuntos que dizem respeito ao planejamento, à gestão e à valoração do sistema da seguridade social.

A transição demográfica provoca a queda da participação relativa da população em idade escolar. O gráfico 8 mostra essa trajetória para as cidades da Região Metropolitana de Campinas: no primeiro momento, no ano de 2000, há número médio de 36.708 mil pessoas em idade escolar e, mais à frente, em 2030, a estimativa de algo perto de 33.512 pessoas. O caso específico de cidades mostra quedas mais acentuadas.

 

Gráfico 8 – População em idade escolar na Região Metropolitana de Campinas (2000-2030)

Fonte: SEADE (2022)

Diante deste contexto, levanta-se, por um lado, a discussão de que a Região Metropolitana de Campinas, em função dos efeitos da transição demográfica, tão logo, talvez irá necessitar menos das construções físicas de escolas. Por outro lado, caso o fenômeno aconteça, a região vai precisar muito da capacidade da intensificação tecnológica, da dimensão do analytics, entre tantas outras mediações, como forma de inclusão das pessoas ao novo de alto valor reconhecido no sistema educacional. Dito isso, não implica a proposição de uma digitalização que sirva apenas para a redução dos gastos correntes e investimentos, apenas se está dizendo que se trata de novas formas, que talvez sejam viabilizadas por valores mais altos de investimentos. Ademais, este é apenas um exemplo do que se pode reconhecer neste novo estado de coisas: a dinâmica complexa é recheada de novas potencialidades associadas aos múltiplos aspectos do viver social.

Em face do exposto, fácil se torna a percepção de potencialidades envoltas ao processo da valoração dos serviços públicos, obviamente, que não seja limitado unicamente ao aspecto tecnológico, mas, mais do que isso, que possa ser mediado por um plano de inovação em serviços públicos, tornando possível a filiação de pessoas em situação de vulnerabilidade social, além de se alcançar a capacidade da oferta dos direitos em saúde, educação, segurança, lazer, cultura, habitação, entre outros direitos sociais, em conformidade com as necessidades reais dos agrupamentos da população.

Trata-se de uma economia política orientada pela valoração dos serviços especializados, inclusive pela valoração dos níveis de serviços públicos, tanto na dimensão que engloba a construção de conexões produtivas entre os segmentos de serviços especializados quanto na construção de uma sociabilidade do emprego e poder aquisitivo, que mais tarde se volta ao consumo desses próprios serviços. Enfim, acredita-se que este se mostra como um caminho factível para a recuperação da capacidade dinâmica sistêmica regional.

 

Considerações finais

Este trabalho discutiu a essencialidade da transição demográfica na Região Metropolitana de Campinas, por meio de um esforço analítico que fez uso de indicadores demográficos, tais como a razão de dependência dos idosos e jovens, a taxa de natalidade, a taxa de crescimento populacional. Essas medidas, associadas ao plano de abstração desta autoria, permitiram esta abordagem conclusiva, segundo a qual, as sociedades da localidade regional de Campinas vivenciam uma transição demográfica que anuncia a estrutura etária marcada pelo envelhecimento populacional.

Essa realidade social da Região Metropolitana de Campinas, tão logo, vai cobrar suas demandas pelos direitos sociais que estão nas dimensões do emprego, renda, educação, saúde, habitação, segurança, lazer, esporte, cultura, entre tantos outros aspectos relevantes da vida social. Em síntese, os indicadores dos níveis de serviços públicos, especialmente os serviços voltados para os agrupamentos das populações adulta e idosa, pedem por soluções inovadoras.

A tese discutida neste texto mostra argumentos segundo os quais a dinâmica regional está manifestando o crescimento da densidade produtiva, vista como as relações sociais que permeiam as distintas atividades da Indústria e dos Serviços, neste último caso, especialmente, os serviços de valor, que são mais intensivos em conhecimentos e tecnologias. Ademais, essa realidade desvela que alguns municípios já estão se apropriando deste novo padrão de geração e distribuição de riqueza.

A potencialidade deste processo social está no fato de que a sua própria natureza é capaz de consolidar uma economia política cuidadosa dos melhores interesses da população desprovida de direitos sociais, especialmente as famílias e pessoas em situação de vulnerabilidade social, pelo fato de ser intensiva em conhecimentos e tecnologias que podem ser acessados por esses agrupamentos sociais.

Este é um caminho estratégico, que requer a centralidade dos investimentos e gastos do setor público. Contudo pede-se a atenção para que esses dispêndios sejam orientados pela capacidade analítica e pela intensidade de valor, sobretudo o valor para as famílias e pessoas em situação social agravada, no sentido da valoração do sistema de seguridade social.

O sentido da construção da sociabilidade, pautada pelo princípio da subsidiariedade social, mostra-se como fundante para a fraternidade e para o desenvolvimento humano integral. O ser humano é o ator social capaz de olhares transcendentais sobre as coisas constituídas neste mundo, podendo esses olhares se manifestar por meio do amor próprio e do amor pelas diversas formas do bem comum. A solidariedade humana é sempre o amor recebido e dado, influindo, assim, sobre as relações entre as pessoas, as famílias, os agrupamentos sociais, e até mesmo sobre a institucionalidade constituída, alcançando, ainda, a capacidade de uma força contagiante sobre as relações formadas nas dimensões do econômico, social, político, jurídico e cultural…

 

Referências bibliográficas

ARBACHE, J. Serviços e competitividade da indústria no Brasil. Brasília: Confederação Nacional da Indústria. Brasília: CNI, 2014.

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IBGE. Portal dos municípios. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 30/05/2022.

JANNUZZI, Paulo M. Indicadores sociais no Brasil. São Paulo: Alínea, 2012.

RAIS, MINISTÉRIO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA. Disponível em: http://www.ministériodotrabalho.gov.br. Acesso em: 19/06//2022.

ROSENDO, Roberto. C. & BRITO, Jorge. Evolução da Densidade Industrial no Estado do Rio de Janeiro: análise comparativa com os estados do sudeste brasileiro (2000/2005). ANPEC: 39º Encontro Nacional de Economia. Disponível em: https://en.anpec.org.br/previous-editions.php?r=encontro-2011. Acesso em: 20/06//2022.

SEADE. Pesquisa de investimentos anunciados no Estado de São Paulo. Disponível em: http://www.piesp.seade.gov.br/. Acesso em: 14/06/2022.

 

[1] Esta autoria optou pela ilustração gráfica que não incorpora os valores de investimentos categorizados pela fonte da pesquisa como “inter-regionais”, e não leva em conta a “Região de São Paulo”, pelo fato que esses dois casos são constituídos por números muito desproporcionais às demais localidades regionais. Além disso, os dados sobre investimentos dizem respeito à categoria de Região Administrativa, tal como é publicado pelo SEADE (2022). A opção pelo uso dessa categoria analítica se explica pelo cuidado com o procedimento metodológico construído pela fonte dos dados. Contudo a discussão promovida no corpo do texto também incorpora leituras do que é específico das cidades. Ademais, o texto expõe, mais à frente, a leitura de indicadores das atividades da Indústria e dos Serviços, que são próprios da capacidade instalada nos municípios da Região Metropolitana de Campinas.

[2] Os indicadores foram montados a partir de dados publicados pelo SEADE. As informações que aparecem nas tabelas 2 e 3 dizem respeito ao ano de 2019, sendo a única exceção para o indicador de Valor de Transformação Industrial, neste caso, relativo ao ano de 2017. Convém dizer que o objetivo desta parte do estudo é chamar a atenção do leitor sobre as potencialidades associadas à estratégia da densidade produtiva, fato este que pode ser compreendido pela enorme base de fornecimentos que reserva a Indústria e a forma distinta da produtividade do trabalho que alcança o setor de serviços de empresas.

[3] O procedimento metodológico está apoiado pelo trabalho de ROSENDO, Roberto & BRITO, Jorge. Evolução da Densidade Industrial no Estado do Rio de Janeiro: análise comparativa com os estados do sudeste brasileiro (2000/2005). ANPEC: 39º Encontro Nacional de Economia, 2011.


Prof. Dr. Cristiano Monteiro da Silva

Pós Doutorado em Economia (2013,UNICAMP). Doutorado em Ciências Sociais (2010/PUC-SP), áreas de concentração: relações internacionais e ciência política. Mestrado em Economia (2002/PUC-SP). Graduação em Economia (2000/USF). Pós-graduação em Ciências de Dados. Pós-graduação em Marketing. Pós-graduação em Políticas Publicas. Inúmeros cursos de curta duração: linguagem R, gestão de vendas, marketing digital, finanças corporativas, gestão de custos, contabilidade básica e econometria aplicada, matemática, educação, gestão de negócios. Docente Extensionista da PUC/Campinas; Faculdades de Direito e Ciências Econômicas. (Fonte: Currículo Lattes).


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