COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N21|Semana 40(27/09 a 03/10)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 03/10, o Brasil notificou 4,90 milhões de casos e 145,9mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 26,9 mil novos casos e 654 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 27/09 e encerrada em 03/10 – semana epidemiológica de número 40, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 03/10, foram notificados 106,04 mil casos e 3,3 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,14%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 78,3 mil casos e 2,4 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,18%. Por fim, o município de Campinas registrou 31,6 mil casos até o momento, com 1.247 óbitos – letalidade de 3,94% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .


Em linhas gerais, 12 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram quedas em ritmo maior, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 2.549 mil casos (-37.24%); RMC, 1,8 mil casos (-37.56%); e Campinas, 517 casos (-38.30%). Em relação à semana anterior, as novas mortes decresceram no DRS-Campinas, contabilizando 78 óbitos (-36.58%); na RMC, 65 (-40.36%); e em Campinas, 22 (-48.83%). Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas.

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Serra Negra e Vargem, com 710 e 720 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Santa Bárbara d’Oeste são os municípios com maior incidência, todos com mais de 2.900 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 11 dos 42 municípios do DRS-Campinas e nove dos 20 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 2.348 casos por 100 mil habitantes.  

Até o momento, dois dos 42 municípios do DRS-Campinas não declararam mortes pela Covid-19.  Por outro lado, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 99 e 106 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Santa Bárbara d’Oeste são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 106 e 89, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 64 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “Quarentena Inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 11/09, todos os Departamentos Regionais de Saúde se encontram na fase amarela. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo Plano de Flexibilização do Estado.

Da perspectiva da saúde, registros de novos casos e óbitos seguem em queda no município de Campinas e RMC. Conforme informações adiantadas pela Prefeitura de Campinas, é provável que toda a região avance para a fase verde do Plano São Paulo, permitindo, de maneira geral, uma taxa de ocupação maior dos estabelecimentos, bem como um horário de funcionamento próximo do “normal” para a maioria dos setores. É necessário reforçar, entretanto, que todas as medidas de precaução devem continuar sendo adotadas de maneira cada vez mais rigorosa, uma vez que aumenta a probabilidade de ocorrerem aglomerações nos estabelecimentos.

A taxa de ocupação dos leitos de UTI COVID no município de Campinas, em 03/10, era de 52%, taxa que permaneceu durante quase toda a semana abaixo dos 60%, de modo que segue em andamento o processo de “reversão” dos leitos para atender outras patologias[1]. É importante, entretanto, que todos os serviços de Saúde sigam estruturados para conseguir absorver com segurança um novo eventual aumento de necessidade de leitos para atender pacientes com Covid-19.

Nesta semana, também houve o anúncio da Prefeitura de Campinas, adiando o retorno das aulas presenciais da Rede Municipal de Ensino para 2021, em consonância com uma consulta pública aos pais dos alunos da rede municipal, cujo resultado apontou que 80% deles não levariam os filhos de volta às escolas neste ano. Na Rede Particular, segue a liberação, com previsão de retorno às atividades presenciais para o próximo dia 07/10/2020[2]. O tema é polêmico e complexo, pois, apesar das inúmeras experiências já existentes em outros países e mesmo em outras regiões do país, é difícil prever qual seria exatamente o impacto dessa retomada para o controle local da epidemia. Além disso, há heterogeneidade na capacidade das escolas de seguir com rigor os protocolos de segurança estabelecidos em cada município, sobretudo em termos de recursos humanos (em decorrência de afastamentos) e estrutura física, bem como disponibilidade de insumos relacionados aos protocolos. Por outro lado, é absolutamente inquestionável a importância da escola e a consequente prioridade que as atividades escolares deveriam ter nas agendas de todas as esferas de governo. Na falta completa de qualquer plano do Governo Federal para uma retomada segura, cada estado e cada município seguem buscando soluções para resolver a questão da melhor maneira possível. Um debate de alto nível sobre o tema foi promovido pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas recentemente e está disponível para consulta[3].

Do ponto de vista econômico e social, a pandemia continua afetando a atividade econômica e as oportunidades de geração de renda, mas a economia caminha para um tombo menor do que esperado pelas previsões mais pessimistas. O Departamento Regional de Saúde de Campinas está, há dois meses, na “fase amarela”, e o Governo do Estado de São Paulo promete “promover” a região para a fase verde, ainda esta semana. Neste momento, podem funcionar, com restrições, bares e restaurantes, salões de beleza, academias, escritórios, cursos livres, aulas práticas de autoescolas, além do relaxamento das restrições ligadas à fase anterior para o comércio e shoppings. Além disto, já é permitida pelo Plano São Paulo a realização de eventos, convenções e atividades culturais como cinema e teatro. A mudança mais expressiva na progressão para a fase verde parece ser o aumento do limite de ocupações de bares, restaurantes e academias, para 60%.

A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, parece estar baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária. Além disso, a recuperação econômica, infelizmente, vai depender de outros fatores para além das permissões para funcionamento dessas atividades.

Em relação à atividade econômica nacional, os dados recém-divulgados da indústria revelam que, em agosto, houve aumento da atividade na comparação entre julho e agosto/2020, de 3,2%. Os últimos dados do comércio e serviços, ainda referentes ao mês de julho, mostram crescimento de 5,2%, para comércio, e 2,6% para os serviços, na comparação mês a mês. No entanto, a comparação com os meses entre janeiro e julho do ano passado mostra que, à exceção do comércio, a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do coronavírus – indústria (-9,6%), comércio varejista (+1,4%) e serviços (-8,9%). 

Os dados do mercado de trabalho preocupam, já que contrastam com os resultados relativamente positivos na recuperação da atividade econômica nacional e podem indicar a debilidade da aposta em uma retomada que dependa do consumo das famílias, sobretudo com o fim ou redução dos programas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial. Na segunda semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,1%, segundo patamar mais alto desde o início da série da PNAD-Covid.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 16,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 21,8 milhões (27%) de trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido no mesmo período. O número de pessoas que não procuram emprego por conta da pandemia voltou a cair, o que, num contexto de baixa oferta de vagas, “aumenta” o número de desempregados, isto é, pessoas que procuram, porém não encontram emprego. Em agosto/2020, aproximadamente 34,8% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial, média de R$ 901,00 por domicílio.

As projeções para o PIB brasileiro no terceiro trimestre (3T/2020) são positivas. Tudo indica que a economia se aproxima, portanto, de uma queda mais próxima dos cenários menos pessimistas para 2020. O IBRE/FGV projeta um crescimento de 5,8% para o 3T/2020, em relação ao trimestre anterior, mas um decrescimento de 5,5% em relação ao 3T/2019. Apesar do alívio, é importante frisar que estamos recuperando níveis de atividade de uma pré-crise que já eram considerados ruins. Além disso, os efeitos de médio e longo prazo da crise sanitária podem dificultar ainda uma retomada, de fato, da economia brasileira e regional.

A retomada do consumo das famílias vai depender, criticamente, da manutenção do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim das reduções de carga horária e salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos na manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como ocorria antes da crise sanitária.  

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. Por outro lado, o Governo insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos. O setor externo tem mostrado sinais de recuperação, sobretudo nos países que melhor controlaram a pandemia, com viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. No entanto, é importante ressaltar que as exportações representam aproximadamente 14% do PIB brasileiro, isto é, parecem pouco suficientes para puxar taxas de crescimento significativas da produção nacional no curto prazo. Como complicador, há o aumento da preocupação com um possível movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 14,47% em 12 meses, até agosto 2020.  Esse índice captura aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento (IPCA), sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Nesse contexto, a retomada da demanda interna, via consumo das famílias ou gasto do Governo, deverá ser acompanhada de políticas de mitigação do aumento dos custos de insumo, como  a valorização do real em relação ao dólar e mecanismos de política comercial. 



[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/campinas-inicia-revers-o-de-leitos-de-uti-para-atendimento-de-pacientes-n-o-covid – 30/09/2020

[8] https://covid-19.campinas.sp.gov.br/prefeitura-define-retomada-de-aula-presencial-na-rede-municipal-de-campinas-ser-em-2021 – 30/09/2020






Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


Estudo Anterior

Próximo Estudo

Boletim Observatório

Assine nosso boletim e receba no seu e-mail atualizações semanais