COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V1|N23|Semana 42(11/10 a 17/10)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 17/10, o Brasil notificou 5,2 milhões de casos e 153,6 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 20,2 mil novos casos e 496 novas mortes por dia.

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 11/10 e encerrada em 17/10 – semana epidemiológica de número 42, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

Neste momento, o DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos. Também em relação ao número absoluto de casos e óbitos por semana, o DRS-Campinas ficou atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 17/10, foram notificados 111,69 mil casos e 3,5 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 3,19%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[1]), foram 82,5 mil casos e 2,6 mil óbitos, até o momento – letalidade de 3,24%. Por fim, o município de Campinas registrou 32,8 mil casos até o momento, com 1.287 óbitos – letalidade de 3,92% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/ .


Em linhas gerais, 12 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. É importante ressaltar que as autoridades de Saúde do estado de São Paulo alegam que o aumento expressivo se deu pela testagem de casos mais leves da doença, recomendada desde 02/07, mas ainda em implementação por alguns municípios do estado.

Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram queda, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

A variação do DRS-Campinas em termos de novos casos foi de 2.729 casos (-6,70%); RMC, 2,09 mil casos (-2,32%); e Campinas, 552 casos (-17,24%). Em relação à semana anterior, as novas mortes diminuíram no DRS-Campinas, com 72 óbitos (-52,94%); na RMC, 51 (-62,5%); e Campinas manteve-se estável,  com 18 (-18,18%).

Como mostram as Figuras 2 e 3, os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes aumentaram consideravelmente em alguns municípios em relação aos níveis verificados nos últimos informativos divulgados pelo Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19-na-regiao-de-campinas-v1n08semana-27-28-06-a-04-07/).[6]


Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Serra Negra, com 720 e 779 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Santo Antônio de Posse são os municípios com maior incidência, todos com mais de 3.100 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 8 dos 42 municípios do DRS-Campinas e nove dos 7 municípios da RMC estão entre os 25% de maior incidência – corte em 2.519 casos por 100 mil habitantes.

 

Além disso, Jundiaí e Campinas continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 101 e 109 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.

Na RMC, Campinas e Engenheiro Coelho são, neste momento, os municípios com os mais altos coeficientes de mortalidade – 109 e 102, respectivamente, sempre por 100 mil habitantes. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 71 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

As últimas semanas foram marcadas pela reversão das iniciativas de flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no anúncio da “quarentena inteligente” do estado de São Paulo.  De acordo com último relatório do Governo do estado, publicado no dia 09/10, os Departamentos Regionais de Saúde de Campinas, Sorocaba, Piracicaba, Grande São Paulo e Taubaté avançaram para fase verde. Os demais mantiveram-se na fase amarela, com exceção do DRS-Barretos que retrocedeu para fase laranja. É importante ressaltar que as prefeituras podem estabelecer maiores restrições ao funcionamento das atividades econômicas do que as previstas pelo Plano de Flexibilização do Estado.

Da perspectiva da saúde, seguindo a tendência das últimas semanas, os registros de novos casos e óbitos voltaram a cair na RMC. Somente no município de Indaiatuba houve um novo aumento no registro de casos, mas com redução expressiva no registro de óbitos no município. Entre as outras cidades que estavam com números dissonantes do restante da região, somente Engenheiro Coelho apresentou um novo aumento no registro de óbitos. Nas demais cidades, Americana, Sumaré e Santa Bárbara d’Oeste, os registros diminuíram. Como não é possível, no momento, ter a informação sobre a data de início dos sintomas de todos esses registros, restam dúvidas sobre fidedignidade das curvas e a real situação da doença nos municípios. Seria interessante que, assim como ocorre no município de Campinas, fossem divulgados periodicamente boletins (ou ainda disponibilizadas plataformas para acesso aos dados em “tempo real”) com os dados mais precisos dos municípios, com as curvas de casos organizadas por data de início dos sintomas, separação entre síndrome gripal e síndrome respiratória aguda grave, bem como as curvas com taxas de ocupação de leitos intensivos e de enfermaria, além do número de leitos disponíveis e o número de indivíduos internados em cada setor. São dados simples que certamente os municípios já monitoram e que poderiam divulgar para proporcionar um melhor entendimento da situação epidemiológica da doença em cada localidade.

É esperado que haja alguma divergência de valores entre os dados divulgados pelos municípios e os dados do estado, devido a atrasos de notificações e eventuais instabilidades nas bases de dados, mas em geral são pequenas diferenças de valores. Em alguns casos, entretanto, essa diferença é muito significativa. No município de Indaiatuba, por exemplo, o número total de casos confirmados para Covid-19, até o dia 18/10, segundo os dados oficiais do estado de São Paulo, foi 4.164[1]; já segundo o Informativo epidemiológico do município, foram 7.588[2] casos, 82% a mais.

Do ponto de vista econômico e social, a pandemia ainda prejudica a atividade econômica e as oportunidades de geração de renda. O Departamento Regional de Saúde de Campinas está, neste momento, na segunda semana da fase verde do Plano São Paulo. Neste momento, podem funcionar, com menos restrições de capacidade, praticamente todas as atividades econômicas, à exceção de grandes eventos. A mudança mais expressiva na progressão para a fase verde é o aumento de 40% do limite de ocupações de bares, restaurantes e academias, para 60%.

A sustentabilidade dos avanços na flexibilização, ao que tudo indica, parece estar baseada na eficiência dos protocolos na contenção da crise sanitária. O aumento pontual nas mortes da RMC, na semana 41, parece estar mais associado a problemas na divulgação de casos e mortes do que real piora do quadro endêmico, como reforçado pela visão da saúde, neste relatório.

Em relação à atividade econômica nacional, os dados recém-divulgados do comércio apontam que, em agosto, houve crescimento de 3,4% da atividade em relação a julho/2020. A indústria, no mesmo período, apresentou crescimento de 3,2%. Os últimos dados para as atividades de serviço, divulgados nesta semana, e referentes ao mesmo de agosto, mostram uma queda de 2,9% na comparação mês a mês. No entanto, a comparação com os meses entre janeiro e agosto do ano passado mostra que a economia ainda não se recuperou do impacto da crise do coronavírus – indústria (-8,6%), comércio varejista (-0,9%) e serviços (-9,0%)[3]

Os dados do mercado de trabalho preocupam e podem indicar a debilidade da aposta em uma retomada que dependa do consumo das famílias, sobretudo com o fim ou redução dos programas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020. Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões, e 21,8 milhões (27%) de trabalhadores tiveram rendimento menor do que o normalmente recebido no mesmo período. O número de pessoas que não procuram emprego por conta da pandemia voltou a cair, o que, num contexto de baixa oferta de vagas, “aumenta” o número de desempregados, isto é, pessoas que procuram, porém não encontram emprego. Em agosto/2020, aproximadamente 34,8% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial, média de R$ 901,00 por domicílio.

As projeções para o PIB brasileiro no terceiro trimestre (3T/2020) são positivas. Tudo indica que a economia se aproxima, portanto, de uma queda mais próxima dos cenários menos pessimistas para 2020. O IBRE/FGV projeta um crescimento de 5,8% para o 3T/2020, em relação ao trimestre anterior, mas um decrescimento de 5,5% em relação ao 3T/2019. Apesar da “boa” notícia, é importante frisar que estamos recuperando níveis de atividade do pré-crise que já eram considerados ruins. Além disso, os efeitos de médio e longo prazo da crise sanitária podem dificultar ainda mais uma retomada, de fato, da economia brasileira e regional.

De forma pragmática, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. Os dados do mercado de trabalho mostram que as reduções de salários, o desalento e o empobrecimento da população atingiram níveis bastantes altos, o que pode prejudicar a retomada do consumo nos próximos meses. A retomada do consumo das famílias vai depender, criticamente, da manutenção do Auxílio Emergencial, agora reduzido para metade do benefício anterior, e do resultado do fim das reduções de carga horária e salários e suspensão de contratos. Caso os contratos sejam convertidos na manutenção dos postos de trabalho, com recuperação dos rendimentos, a retomada pode ser mais rápida. No entanto, há a possibilidade de que as reduções e suspensões convertam-se em demissões, caso a economia continue patinando, como ocorria antes da crise sanitária.  O setor externo tem mostrado sinais de recuperação, sobretudo nos países que melhor controlaram a pandemia, com viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. No entanto, é importante ressaltar que as exportações representam aproximadamente 14% do PIB brasileiro, isto é, parecem pouco suficientes para puxar taxas de crescimento significativas da produção nacional no curto prazo. Como complicador, há o aumento da preocupação com um possível movimento inflacionário, baseado em gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos, como aço, plástico, alimentos, entre outros. Com o dólar alto, dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos e os primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 17,94% em 12 meses, até setembro 2020.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento (IPCA), sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna ante a persistência do gargalo de oferta. Por outro lado, o Governo Federal insiste no diagnóstico de que os impactos econômicos serão de curto prazo e na manutenção do teto de gastos.




[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[6] Houve alterações na amplitude das faixas de incidência para comportar o crescimento generalizado dos casos no interior de São Paulo.

[7] https://www.seade.gov.br/coronavirus/?utm_source=portal&utm_medium=banner&utm_campaign=boletim-completo#

[8] https://www.indaiatuba.sp.gov.br/saude/vigilancia-em-saude/vigilancia-epidemiologica/novo-coronavirus/informativos-epidemiologicos/

[9] Os dados de serviço referem-se ao período de janeiro-julho.




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


Estudo Anterior

Próximo Estudo

Boletim Observatório

Assine nosso boletim e receba no seu e-mail atualizações semanais