COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N05|Semana 05 (31/01 a 06/02)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 06/02, o Brasil notificou 9,4 milhões de casos e 231 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 45,8 mil novos casos e  mil novas mortes por dia [1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 31/01 e encerrada em 06/02 – semana epidemiológica de número 05, no calendário das autoridades de Saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 06/02, foram notificados 198,6 mil casos e 4,9 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 2,47%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 144,2 mil casos e 3,6 mil óbitos, até o momento – letalidade de 2,56%. Por fim, o município de Campinas registrou 53,3 mil casos até o momento, com 1,7 mil óbitos – letalidade de 3,22% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Em linhas gerais, 5 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava praticamente estável no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram queda nesta semana, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1

Figura 1. Curva Epidemiológica Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 7,2 mil casos no DRS-Campinas (variação de -15,2%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 4,6 mil casos foram registrados na RMC (var. -22,76%); e 1,6 mil casos, em Campinas (var.  -20,5%). Foram 137 mortes no DRS-Campinas (var. -2,1%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas, 95 ocorreram na RMC (var. -7,7%) e 53 em Campinas (var. + 20,45%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 1010 e 1448 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Indaiatuba e Jundiaí são os municípios com maior incidência, todos com mais de 5400 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 11 dos 42 municípios do DRS-Campinas estão entre os 25% de maior incidência – corte em 4566 casos por 100 mil habitantes.  

Figura 3.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Além disso, Campinas, Jundiaí e Santa Bárbara d’Oeste continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 144,5, 140 e 137,2 por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 104 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

Na última semana, ainda vigoravam as medidas de reversão do avanço da flexibilização das medidas de isolamento social, baseadas no Plano São Paulo. Porém, de acordo com o 21º balanço do Governo do estado, publicado no dia 05/02/21, 3 departamentos encontram-se na fase vermelha, 8 na fase laranja e 6 avançaram para a fase amarela.

Da perspectiva da saúde, os dados consolidados da última semana epidemiológica apontam uma redução na notificação de casos novos em Campinas e na RMC. Os dados de atendimentos presenciais de sintomáticos respiratórios nos serviços de Pronto Atendimento e Centros de Saúde de Campinas¹ já indicavam lenta redução na demanda por atendimento desde a semana 2, finalizada em 16/01/2021, mas com números ainda bastante significativos, haja vista que a primeira semana epidemiológica de 2021, finalizada em 09/01/2021, fora aquela com o maior número de atendimentos nesses serviços de Campinas desde o início da pandemia, com mais de seis mil registros[1].

O número de internações de casos suspeitos e confirmados para COVID-19 na DRS- Campinas apresentou queda pela segunda semana consecutiva, mas dessa vez com redução de 20%, chegando a 748 internações na semana, mesmo número observado na primeira semana de dezembro.

Taxa de ocupação dos leitos de UTI-COVID em Campinas segue elevada, permanecendo acima de 80% ao longo da semana, mesmo com a abertura de novos leitos de UTI, e chegando a 79,9% no dia 05/02, a primeira vez abaixo de 80% desde o dia 10/01. Com a evolução dos indicadores, é esperado que esse percentual venha se reduzindo cada vez mais nas próximas semanas.

Na última sexta-feira, 05/02, houve uma nova reclassificação do Plano São Paulo, colocando a região de Campinas na fase amarela novamente, além da revogação das medidas mais restritivas nos períodos noturnos e fins de semana, algo que não estava previsto na atualização do dia 22/01, que dizia que “nenhuma regional de saúde será classificada nas fases amarela e verde até 08/02”. Claramente o Estado cedeu às intensas pressões dos setores envolvidos e flexibilizou tais medidas restritivas antes do período programado. Nesse contexto, é motivo de grande preocupação a disseminação pelo país de novas variantes do vírus Sars-Cov-2, potencialmente mais transmissíveis, que podem promover uma mudança de cenário, caso as medidas de proteção não sejam adotadas com rigor. Tivemos já uma demonstração clara da dificuldade que será implementar medidas mais restritivas neste cenário atual de “cansaço” com a pandemia e grandes incertezas no campo econômico.

Do ponto de vista econômico e social, certamente os comerciantes e donos de bares e restaurantes apoiam o relaxamento das medidas de isolamento físico, mas a discussão sobre aberturas e fechamentos é a ponta do iceberg quando se trata dos problemas econômicos que o país enfrenta e deve continuar enfrentando em 2021.

Houve, no entanto, mudança de posição do Governo e do Ministério da Economia sobre a reativação do auxílio emergencial. Paulo Guedes, ministro da Economia, afirmou que, caso necessário, um novo auxílio viria por meio de novo “estado de calamidade” e atenderia metade dos 64 milhões de brasileiros beneficiados em 2020.  

Ao mesmo tempo, tem se formado o consenso dentre os analistas de mercado e acadêmicos de que a vacina é a única solução definitiva para o fim das restrições impostas às atividades econômicas. Embora haja atrasos no processo de importação e produção de vacinas, os governos estadual e federal, em parceria com entidades públicas (Butantã e Fio Cruz), estão ampliando a oferta de vacinas, por meio da ativação da capacidade de produção interna instalada, ampliação da capacidade produtiva, importação de insumos farmacêuticos e preparação para produção desses insumos em território nacional. A ANVISA tem analisado a aprovação de novas vacinas, para além da CoronaVac e Astrazeneca.

Os últimos dados do PIB, referente ao 3T/2020, mostraram o crescimento de 7,7% em relação ao 2T/2020, quando houve um decrescimento recorde da atividade econômica (-9,6%). Quando se analisa o crescimento entre janeiro e setembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, observa-se uma queda de 5% do PIB.  A expectativa dos analistas do governo é que a economia brasileira feche o ano de 2020 com queda de 4,5%.

Os últimos dados da pesquisa de atividade mostram que a indústria cresceu 0,9% e comércio -0,1% em novembro de 2020. No acumulado do ano, em comparação com o mesmo período de 2019, a produção industrial e a atividade de serviços recuaram -5,5% e -8,3%, respectivamente, enquanto o comércio cresceu 1,2%.

Alguns dados do mercado de trabalho seguem sem atualização na PNAD-COVID. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões. Em novembro/2020, 19,6% dos trabalhadores estavam com rendimento menor do que o normalmente recebido e aproximadamente 32,1% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, atingiu R$558,00 em novembro de 2020, e, desde 31/12/2020, está sem previsão de continuidade.

Como temos reforçado, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender da retomada/sustentabilidade da capacidade de consumo das famílias, da política de gastos públicos e da recuperação da economia internacional. O auxílio emergencial teve papel substancial para manutenção do consumo das famílias mais pobres e mais afetadas pela crise. O setor externo dava sinais de recuperação, sobretudo pelo crescimento do volume de exportações, embora com viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. Porém, a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos deve afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC destinam-se aos Estados Unidos), até que a vacina passe a alterar os indicadores de controle da pandemia. A RMC fechou 2020 com queda de -22,2% das exportações, -9,9% das importações e -3,8% do saldo da balança comercial. Para uma região industrial, com alta dependência da importação de insumos, esses números indicam queda da atividade produtiva externa e interna, em relação a 2019.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 25,71% em 12 meses, em janeiro/2021. Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna, especialmente diante da persistência dos choques de oferta.

O “orçamento de guerra”, que permitiu a ampliação de R$ 577,55 bilhões no orçamento de R$3,6 trilhões para 2020, acabou no último 31 de dezembro. Sem a revogação do teto dos gastos ou novo pacote via novo “estado de calamidade”, os programas de preservação da renda e do emprego estão sem previsão de orçamento. O governo, no entanto, passou a sinalizar a possibilidade de novo pacote emergencial. Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico e social atual, os efeitos da pandemia podem ser devastadores para a economia brasileira e, consequentemente, para a economia regional nos próximos meses.

ANEXOS – Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 08/02/2021

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[7] Boletim Epidemiológico Semanal – Edição 2 –  https://covid-19.campinas.sp.gov.br/bolem-epidemiologico


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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