COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N06|Semana 06 (06/02 a 13/02)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 13/02, o Brasil notificou 9,8 milhões de casos e 238 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 44,5 mil novos casos e  1,07 mil  novas mortes por dia[1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 06/02 e encerrada em 13/02 – semana epidemiológica de número 06, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 13/02, foram notificados 206,4 mil casos e 5 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 2,46%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 149,2 mil casos e 3,8 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,55%. Por fim, o município de Campinas registrou 55 mil casos até o momento, com 1,7 mil óbitos – letalidade de 3,20% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Em linhas gerais, 9 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas decrescentes de novos casos. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em queda no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram alta nesta semana, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1


Figura 1. Curva Epidemiológica Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 7,7 mil casos no DRS-Campinas (variação de 6,6%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 5 mil foram registrados na RMC (var. +8,05%) e 1,6 mil casos em Campinas (sem variação). Foram 159 mortes no DRS-Campinas (var. +16%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas, 122 ocorreram na RMC (var. +28,42%) e 60 em Campinas (var. + 13,21%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 1060 e 1494 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Indaiatuba e Jundiaí são os municípios com maior incidência, todos com mais de 5600 casos por 100 mil habitantes. Em relação aos demais municípios paulistas, 9 dos 42 municípios do DRS-Campinas estão entre os 25% de maior incidência – corte em 4781casos por 100 mil habitantes.  

Figura 3.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 149 e 143 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 104 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

De acordo com 21º balanço do Governo do Estado, publicado no dia 05/02/21, na semana passada, três departamentos de saúde encontram-se na fase vermelha; oito, na fase laranja; e seis avançaram para a fase amarela.

Da perspectiva da saúde, após uma redução significativa de registros entre a semana 4 e semana 5, as notificações de casos novos na RMC permaneceram praticamente estáveis nesta semana (semana 6) em relação à semana anterior. As notificações de novos óbitos seguem aumentando, mas refletem infecções que ocorreram possivelmente em janeiro, ainda. As internações em UTI COVID em todo o DRS-Campinas apresentaram nova queda, desta vez de 5% em relação à semana anterior, chegando a 748 internações na semana, lembrando que esses números atingiram a marca de 961 internações na semana de 23/01/2021. Dessa forma, a percepção é de que o momento atual é de redução nas transmissões e na circulação do vírus. A estimativa realizada pelo site Info Tracker[1] é de que o R efetivo da região esteja em 0,55, abaixo de 1, portanto com clara tendência de redução no número de novas infecções.

Entretanto, a pressão sobre o sistema de saúde na cidade de Campinas continue elevada, embora, neste momento, haja uma clara desproporção entre sistema público e privado, uma vez que as ocupações de leitos SUS municipal estavam em 89% no dia 12/02, SUS estadual 94% e rede privada em 66%, trazendo a taxa de ocupação média na cidade para 77,3%. Vale ressaltar que o tempo de internação de pacientes com quadros graves da COVID-19, sobretudo aqueles com necessidade de ventilação mecânica, é longo, normalmente de cerca de três semanas, mas podendo chegar a meses. Assim, diante dos números atuais, o esperado é que esses números caiam também nas próximas semanas.

Devido ao dinamismo da epidemia, entretanto, de forma alguma podemos entender esse cenário como algo estanque. Vale ressaltar que iniciamos neste fim de semana o que seria o feriado de Carnaval, que, apesar de estar “oficialmente” cancelado, já foi possível observar nos noticiários diversas cenas de aglomerações pelo Brasil. É improvável que estes dias tenham o mesmo impacto devastador dos feriados de Natal e ano-novo nas curvas da epidemia, mas é possível que, no início de março, possamos observar algum efeito dessas aglomerações. Somado a isso, temos a questão da disseminação pelo Brasil de variantes potencialmente mais transmissíveis[2], sendo identificada, recentemente, na cidade de São Paulo, a presença da variante P1 em paciente sem histórico de viagem para Manaus, indicando que já há transmissão local dessa cepa. O município de Araraquara-SP, de forma prudente e oportuna, adotará a partir de hoje, 15/02, medidas mais restritivas de circulação de pessoas, tentando evitar justamente uma disseminação mais ampla dessa variante.

Apesar de mais transmissíveis, tais variantes podem ser plenamente controladas com a adoção rigorosa das medidas de proteção já conhecidas, como utilização correta de máscaras de boa qualidade, evitar presença em locais fechados e com pouca ventilação, manter distanciamento de 2 metros para outras pessoas e, de forma alguma, participar de aglomerações. Enquanto não é possível a adoção de um uma campanha de vacinação em massa para toda a população, essas são as principais armas contra o vírus.

Do ponto de vista econômico e social, reforçamos que a discussão sobre aberturas e fechamentos é a ponta do iceberg quando se trata dos problemas econômicos que o país enfrenta e deve continuar enfrentando em 2021.

Houve, no entanto, mudança de posição do Executivo e do Congresso sobre a reativação do auxílio emergencial. Um novo auxílio viria por meio de novo “estado de calamidade” e atenderia cerca de 40 milhões de brasileiros, ante os 68 milhões de beneficiados em 2020.  

Ao mesmo tempo, tem se formado o consenso entre os analistas de mercado e acadêmicos de que a vacina é a única solução definitiva para o fim das restrições impostas às atividades econômicas. Embora haja atrasos no processo de importação e produção de vacinas, os governos estadual e federal, em parceria com entidades públicas (Butantã e Fiocruz), estão ampliando a oferta de vacinas, por meio da ativação da capacidade de produção interna instalada, ampliação da capacidade produtiva, importação de insumos farmacêuticos e preparação para produção desses insumos em território nacional. A ANVISA tem analisado a aprovação de novas vacinas, além da CoronaVac e AstraZeneca.

Os últimos dados do PIB, referente ao 3T/2020, mostraram o crescimento de 7,7% em relação ao 2T/2020, quando houve um decrescimento recorde da atividade econômica (-9,6%). Quando se analisa o crescimento entre janeiro e setembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019, observa-se uma queda de 5% do PIB.  A expectativa dos analistas do governo é que a economia brasileira feche o ano de 2020 com queda de 4,5%.

Os últimos dados da pesquisa de atividade mostram que a indústria cresceu 0,9%, comércio retraiu 6,91%; e serviços, 0,2% em dezembro de 2020. No acumulado do ano, em comparação com o mesmo período de 2019, a produção industrial e a atividade de serviços recuaram 4,5% e 7,8%, respectivamente, enquanto o comércio cresceu 1,2%.

Alguns dados do mercado de trabalho seguem sem atualização na PNAD-COVID. Na quarta semana de setembro, a taxa de desemprego ficou em 14,4%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões. Em novembro/2020, 19,6% dos trabalhadores estavam com rendimento menor do que o normalmente recebido e aproximadamente 32,1% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, atingiu R$ 558,00 em novembro de 2020.

Como temos reforçado, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender do movimento do consumo das famílias, da política de gastos públicos, do investimento privado e da recuperação da economia internacional. O auxílio emergencial teve papel substancial para manutenção do consumo das famílias mais pobres e mais afetadas pela crise.  O setor externo dava sinais de recuperação, sobretudo pelo crescimento do volume de exportações, embora com viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. Porém, a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos deve afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC destinam-se aos Estados Unidos), até que a vacina passe a alterar de forma significativa os indicadores de controle da pandemia. A RMC fechou 2020 com queda de -22,2% das exportações, -9,9% das importações e -3,8% do saldo da balança comercial. Para uma região industrial, com alta dependência da importação de insumos, esses números indicam queda da atividade produtiva externa e interna, em relação a 2019.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 25,71% em 12 meses, em janeiro/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna sobretudo diante da persistência dos choques de oferta.

Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico e social atual, os efeitos da pandemia podem ser devastadores para economia brasileira e, consequentemente, para a economia regional nos próximos meses.

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo


[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 08/02/2021

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[7] Info Tracker – https://www.spcovid.net.br

[8] RS registra primeiro caso de variante mais contagiosa da Covid-19 – 12/02/2021 – https://www.correiodopovo.com.br/not%C3%ADcias/geral/rs-registra-primeiro-caso-de-variante-mais-contagiosa-da-covid-19-1.570254


Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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