COVID-19 na Região de Campinas

Informativo Covid-19 Campinas V2|N07|Semana 07 (14/02 a 20/02)

Equipe:

Paulo Ricardo S. Oliveira (Coordenador) [1]
André Giglio Bueno [2]
Felipe Pedroso de Lima [3]
Nicholas Rodrigues Neves Le Petit Ramos [4]

Até o dia 20/02, o Brasil notificou 10,1 milhões de casos e 245,9 mil mortes pela Covid-19, com uma taxa absoluta média de 47 mil novos casos e 1,06 mil  novas mortes por dia [1].

Este levantamento apresenta as estatísticas de casos e mortes por 100 mil habitantes, bem como o comportamento das curvas de contágio e óbitos para a semana iniciada em 14/02 e encerrada em 20/02 – semana epidemiológica de número 07, no calendário das autoridades de saúde. A última parte do documento apresenta considerações sobre as questões socioeconômicas e de saúde por parte dos especialistas.

Números da Covid-19 em Campinas (DRS e Região Metropolitana)

A Tabela 1 apresenta as estatísticas semanais de casos e óbitos para os Departamentos Regionais de Saúde (DRS) do estado de São Paulo.  

O DRS-Campinas é o segundo em número de casos e óbitos, atrás, apenas, da Grande São Paulo.  Até 20/02, foram notificados 206,6 mil casos e 5,08 mil mortes, na região de Campinas – letalidade de 2,45%. Na Região Metropolitana de Campinas (RMC[2]), foram 153,9 mil casos e 3,9 mil óbitos até o momento – letalidade de 2,55%. Por fim, o município de Campinas registrou 56,5 mil casos até o momento, com 1,8 mil óbitos – letalidade de 2,79% — ver https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/.

Em linhas gerais, apenas 4 dos 17 Departamentos Regionais de Saúde apresentaram taxas crescentes de novos casos. Em relação à semana anterior, quando o ritmo de avanço da pandemia estava em alta no DRS-Campinas, os casos e mortes tiveram quedas nesta semana, como mostram a Tabela 1 e a Figura 1


Figura 1. Curva Epidemiológica Região de Campinas

Foram registrados, nesta semana, 6,4 mil casos no DRS-Campinas (variação de -16,4%, em relação aos casos registrados na semana anterior). Destes, 4,7 mil foram registrados na RMC (var. -5,9%) e 1,4 mil em Campinas (var. -9,12%). Foram 141 mortes no DRS-Campinas (var. -11,3%, em relação às mortes registradas na semana anterior). Destas mortes, 112 ocorreram na RMC (var. -8,2%) e 49 em Campinas (var. -18,3%).

As Figuras 2 e 3 mostram os coeficientes de incidência e mortalidade por 100 mil habitantes por municípios.

Figura 2. Mapa de Casos da Covid-19 nos Municípios do DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Neste momento, os municípios com menor incidência são Vargem e Tuiuti, com 1070 e 1494 casos por 100 mil habitantes, respectivamente. Na outra ponta, Paulínia, Jundiaí e Indaiatuba são os municípios com maior incidência, todos com mais de 5690 casos por 100 mil habitantes.

Figura 3.  Mapa da Mortalidade pela Covid-19 no DRS-Campinas e Engenheiro Coelho

Além disso, Campinas e Jundiaí continuam entre os municípios com maior índice de mortes do DRS-Campinas, com 149 e 143 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente. Esses municípios estão, inclusive, no grupo dos 25% dos municípios com maiores taxas de mortalidade, no estado de São Paulo, com corte em 104 mortes por 100 mil habitantes.

Análise dos especialistas

De acordo com 22º balanço do Governo do Estado, publicado no dia 19/02/21, na semana passada, 4 departamentos de saúde encontram-se na fase vermelha; 7, na fase laranja; e 6 estão na fase amarela, entre eles, o DRS-Campinas.

Da perspectiva da saúde, o município de Campinas, assim como outros da região, encontra-se em um momento crítico de superlotação de seus serviços de saúde. A pressão sobre o sistema de saúde aumentou em relação à última semana, com taxas de ocupação acima de 80% durante todos os dias, chegando a 100% de ocupação em leitos da rede pública no último sábado (21/02)[7]. O número de internações de pacientes suspeitos ou confirmados para a COVID-19 no DRS-Campinas voltou a aumentar depois de duas semanas de quedas, registrando alta de quase 12% em relação à semana anterior.

Apesar deste cenário, a região como um todo reuniu critérios para permanecer na fase amarela do Plano São Paulo. Neste ponto, é interessante ressaltar a distorção entre a classificação da região e da cidade e a realidade vivida pelo município. A taxa de ocupação de leitos intensivos para casos suspeitos/confirmados para COVID, talvez o indicador que com mais clareza expresse a situação do sistema de saúde na cidade, é compatível com a fase vermelha. Aliado a isso, temos um contexto extremamente preocupante de possível aumento de circulação de novas variantes mais transmissíveis[8], possível aumento de casos nessa semana devido a infecções ocorridas nos dias de Carnaval (e consequente aumento de internações e óbitos nas próximas semanas) e falta de força política para adotar medidas restritivas mais enérgicas. E, infelizmente, com a falta de vacinas determinando um ritmo de vacinações abaixo da capacidade que os municípios certamente teriam, é possível que ainda leve alguns meses para imunizar as populações mais vulneráveis, sobretudo idosos, e que o impacto da vacinação no número de internações e óbitos venha mais tardiamente.

Nesse contexto, seria essencial, além dos esforços para aumentar a capacidade do sistema de saúde (desafio cada vez maior devido à possível escassez de recursos para tal), promover ações capazes de diminuir a circulação do vírus, basicamente com medidas para reduzir a circulação de pessoas e evitar aglomerações (desafio aqui seria a falta de força política para a adoção de tais ações), assistência, testagem ágil e isolamento rígido de todos os suspeitos e uma estratégia robusta de rastreamento de contatos, com monitoramento e quarentena de 14 dias para todos os contactantes de casos confirmados, que é extremamente frágil na grande maioria dos municípios (e simplesmente inexistente em alguns).

Do ponto de vista econômico e social, reforçamos que a discussão sobre aberturas e fechamentos dos estabelecimentos com atividades consideradas não essenciais é a ponta do iceberg quando se trata dos problemas econômicos que o país enfrenta e deve continuar enfrentando em 2021.

As estimativas do Ibre-FGV apontam que a economia brasileira sofreu retração de 4,0% em 2020, com crescimento de 3,4% no 4 trimestre/20, em relação ao 3 trimestre/20, na série com ajuste sazonal. O consumo das famílias caiu 5,2% em relação a 2019. Com base nas estimativas, é possível verificar um deslocamento do consumo de serviços para o de bens duráveis. Os investimentos privados (Formação bruta de Capital Fixo – FBCF) recuaram 2,9% (em relação a 2019), puxados, sobretudo, pela queda na compra de máquinas e equipamentos. No entanto, houve aumento de 14,5% na FBCF em dezembro, na comparação interanual, indicando possível retomada de alguns segmentos como máquinas agrícolas. Por fim, no setor externo, as exportações caíram 1,9% e as importações 10,3%, com viés para simplificação da pauta comercial, isto é, maior participação relativa de produtos agrícolas e minerais.

Houve, no entanto, mudança de posição do executivo e do congresso sobre a reativação do auxílio emergencial. Um novo auxílio viria por meio de novo “estado de calamidade” e atenderia cerca de 40 milhões de brasileiros, ante os 68 milhões de beneficiados em 2020.  

Ao mesmo tempo, tem se formado o consenso entre os analistas de mercado e acadêmicos de que a vacina é a única solução definitiva para o fim das restrições impostas às atividades econômicas. Embora haja atrasos no processo de importação e produção de vacinas, os governos estadual e federal, em parceria com entidades públicas (Butantan e Fiocruz), estão buscando ampliar a oferta de vacinas, por meio da ativação da capacidade de produção interna instalada, ampliação da capacidade produtiva, importação de insumos farmacêuticos e preparação para produção desses insumos em território nacional. A ANVISA tem analisado a aprovação de novas vacinas, além da CoronaVac e AstraZeneca. Neste momento, aproximadamente 4% da população da RMC foi vacinada, de acordo com dados da Secretaria de Saúde de SP.

Os últimos dados da PNAD-Contínua, para os meses entre setembro e novembro de 2020, estimava uma taxa de desemprego de 14,1%, patamar que era de 10,5% na primeira semana de maio/2020.  Além disso, as reduções de carga horária e salários, bem como o desalento (quando as pessoas desistem de procurar emprego), camuflam a alta subutilização do trabalho na economia brasileira – 15,3 milhões de pessoas não procuram emprego devido à pandemia ou à falta de trabalho em suas regiões. Em novembro/2020, 19,6% dos trabalhadores estavam com rendimento menor do que o normalmente recebido e aproximadamente 32,1% dos domicílios paulistas receberam o Auxílio Emergencial. A média do benefício por domicílio, que era de R$ 901,00, atingiu R$ 558,00 em novembro de 2020.

Como temos reforçado, a sustentabilidade da retomada econômica vai depender do movimento do consumo das famílias, da política de gastos públicos, do investimento privado e da recuperação da economia internacional. O auxílio emergencial teve papel substancial para atenuar o efeito da crise sobre o consumo das famílias mais pobres e mais afetadas pela crise. O setor externo dava sinais de recuperação, sobretudo pelo crescimento do volume de exportações, embora com viés para importação de commodities agrícolas e minerais do Brasil. Porém, a segunda onda na Europa e nos Estados Unidos deve afetar as exportações do Brasil para esses destinos (17% das exportações da RMC destinam-se aos Estados Unidos), até que a vacina passe a alterar de forma significativa os indicadores de controle da pandemia. A RMC fechou 2020 com queda de 22,2% das exportações, 9,9% das importações e 3,8% do saldo da balança comercial. Para uma região industrial, com alta dependência da importação de insumos, esses números indicam queda da atividade produtiva voltada para vendas externa e interna, em relação a 2019.

Como complicador, preocupa o comportamento de alguns índices de inflação, resultantes dos gargalos de oferta em alguns setores importantes de insumos. A indústria brasileira depende consideravelmente de insumos importados, e com o dólar alto, e a dificuldade de ajuste rápido na oferta de alguns insumos diante dos primeiros passos da retomada da demanda internacional, os preços para os produtores internos têm subido, já causando alguns reflexos para o consumidor final. O IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), calculado pela FGV, atingiu 25,71% em 12 meses, em janeiro/2021.  Esse índice captura, também, aumentos nos custos de insumos que podem ser repassados para o consumidor final em algum momento, sobretudo diante do reaquecimento da demanda interna sobretudo diante da persistência dos choques de oferta.

Seguimos afirmando que, sem medidas de proteção da renda e do emprego e diante do cenário econômico e social atual, os efeitos da pandemia podem ser devastadores para a economia brasileira e, consequentemente, para a economia regional nos próximos meses.

ANEXOS

ANEXO – 1 Covid-19 nos DRS-São Paulo

[1] Professor Extensionista e Economista do Observatório PUC-Campinas, e-mail: paulo.oliveira@puc-campinas.edu.br

[2] Professor e médico infectologista da PUC-Campinas/Hospital e Maternidade Celso Pierro

[3] Graduando em Geografia e Extensionista da PUC-Campinas (mapas)

[4] Graduando em Economia e Extensionista da PUC-Campinas (curva epidemiológica)

[5] Dados do Ministério da Saúde, acessados em 08/02/2021

[6] Recorte menor do Departamento Regional de Saúde de Campinas, com 19 municípios do DRS-Campinas mais Engenheiro Coelho.

[7]https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2021/02/21/campinas-tem-100percent-de-ocupacao-em-utis-covid-da-rede-publica-e-depende-de-transferencia-de-pacientes-para-outras-cidades.ghtml

[8]https://www.acidadeon.com/campinas/cotidiano/coronavirus/NOT,0,0,1582415,Covid-19+Devisa+alerta+que+nova+variante+pode+estar+circulando+em+Campinas.aspx




Prof. Dr. Paulo Ricardo da Silva Oliveira

Graduado em Ciências Econômicas e Administração com Ênfase em Comércio Exterior pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), mestre e doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Sou professor extensionistas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), onde desenvolvo um projeto de desenvolvimento e acompanhamento de indicadores da produção industrial, agrícola e da inserção internacional da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Paralelamente, desenvolvo pesquisas nas áreas de economia internacional e industrial, mais especificamente em temas ligados aos impactos da inovação tecnológica e da regulação nos fluxos internacionais de comércio. (Fonte: Currículo Lattes)


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